O tão aguardado debate entre os dois candidatos à vice-presidência dos EUA frustrou as expectativas de analistas políticos, comentaristas de mídia e telespectadores. Enquanto a republicana Sarah Palin, apesar de fugir de algumas questões, manteve uma postura minimamente sensata, o democrata Joe Biden não cometeu nenhuma gafe. As previsões eram de que o debate, realizado no Missouri, seria no mínimo um espetáculo curioso.
A inexperiência de Sarah em Washington e suas atrapalhadas entrevistas nas últimas semanas levavam a crer em uma performance insegura. A fama de indisciplina do experiente senador Biden dava brecha para possíveis tiradas machistas. A governadora do Alasca foi treinada, durante a semana, pela equipe de John McCain; Biden recebeu consultoria de três senadoras, entre elas Hillary Clinton. E os dois candidatos fizeram a lição de casa.
No fim, ficaram sem palavras os comentaristas dos canais de notícias americanos. Na CNN, alguns deles diziam, antes do debate, que Sarah Palin teria que provar o mínimo de competência e um pouco de compreensão da língua inglesa. Na MSNBC, defendia-se que a função de Biden naquela noite era subir no palco, responder às questões e descer ‘sem virar notícia’; era consenso entre âncoras e analistas políticos que o senador teria que ser cauteloso para não parecer agressivo demais.
‘Então que surpresa não foi quando nenhum dos candidatos adotou um estilo ‘programa de auditório’ com gritaria ou entrou em estado de catatonia? De fato, ambos exibiram o que pode ter sido sua melhor performance na campanha até agora’, sentenciou a crítica de TV do Los Angeles Times, Mary McNamara.
Sem filtro
Sarah Palin por vezes deu piscadinhas, sorriu em quase todas as frases e, ao entrar no palco e cumprimentar o senador, com o microfone ligado, disse ‘Prazer em conhecê-lo! Posso chamá-lo de Joe?’. Ele assentiu, mas a tratou por ‘governadora Palin’ durante todo o debate. Apesar de mudar de assunto e escapar de perguntas com que talvez não fique confortável, Sarah não soltou frases absurdas. Como as expectativas de que sua atuação seria catastrófica eram altas, saiu vitoriosa.
Biden, conhecido por ser extravagante, acabou se beneficiando do fato de os holofotes estarem voltados para sua oponente. Foi respeitoso e discreto e, com atuação comedida, pôde aproveitar bem o espaço para mostrar sua experiência em Washington. Na maioria das vezes em que partiu para o ataque, Biden evitou mirar diretamente em Sarah Palin; preferiu direcionar as críticas à John McCain. No fim, repetiu diversas vezes que ainda não conseguiu entender a diferença entre as promessas de McCain e o governo do presidente George W. Bush.
Também no fim do debate, em sua colocação final, Sarah não perdeu a chance de alfinetar a imprensa: antes de dizer ‘boa noite’, agradeceu a oportunidade de falar com o povo americano ‘sem o filtro da mídia’. Com informações do LA Times e do New York Times [3/10/08].