Grandes empresas de mídia cortaram os gastos com demissões. Na atualidade, milhares de profissionais da comunicação estão desempregados. A falta de dinheiro acabou se transformando em panacéia que afetou drasticamente o orçamento da televisão brasileira.
No entanto, televisão não é feita somente de verbas, mas também de ousadia. O melhor exemplo de ousadia na televisão nacional foi uma novela, na extinta Rede Manchete, chamada Pantanal. Essa novela balançou as estruturas das emissoras concorrentes. Um excelente roteiro, primorosa direção e impecável fotografia foram fundamentais para o sucesso. Ousadia, ousadia e ousadia.
A palavra não é o único segredo do sucesso, mesmo porque sucesso não é ciência exata, nem existe fórmula milagrosa para solucionar os problemas de criatividade. Mas neste primeiro semestre de 2004 faltam novidades na programação televisiva. Toda emissora procura se preocupar e planejar uma estratégia na programação. Custo é crucial, e resultado imediato é regra básica de sobrevivência. Entretanto, esta regra estúpida de arriscar o mínimo possível em época de crise acaba castrando nossa capacidade de inovação.
A televisão brasileira é uma das melhores do mundo, e não pode continuar apática. A cúpula de uma emissora deve fazer avaliação melhor dos profissionais envolvidos, na criação e execução de novos programas, séries ou novelas. Valorizar financeiramente esses profissionais envolvidos na criação, incentivando e oferecendo estrutura de trabalho, é o melhor caminho de aumento da audiência e da receita publicitária. Diretores, produtores e redatores brasileiros são valorizados no exterior porque altamente qualificados. O que falta no Brasil é uma reavaliação salarial dos profissionais que trabalham por trás das câmeras.
Jornada de incentivo
O mercado da televisão nacional, do ponto de vista capitalista, é como uma loja de móveis e eletrodomésticos: não basta pagar bem e oferecer comissões maravilhosas aos vendedores, porque não é dessa forma que se conseguirá vender os produtos. O importante é incentivar a produção de novidades.
É complicado vender um sofá velho com designer da década de 50. Mais complicado ainda é vender um computador usado da década de 80. O consumidor é exigente em matéria de televisão, porque no passado todas as emissoras nacionais arriscavam.
Assim, é revoltante ler comentários de que no Brasil faltam bons dramaturgos. O universo do teatro brasileiro nunca teve tantos jovens escritores numa só safra. Quem costuma falar essa barbaridade, de que faltam talentos em teledramaturgia, com certeza não entrou em teatro neste século 21.
O que falta é acreditar em mão-de-obra nova e valorizar os bons profissionais atuais. Ousadia é o primeiro passo de uma longa jornada de incentivo. Nossa televisão é uma das melhores do mundo, e temos obrigação de continuar expondo nossa criatividade sem medo.
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Produtor de TV, roteirista de quadrinhos, co-autor da tira Cabeças Caninas