Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Piauí traz reportagem sobre caseiro Francenildo

Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 10 de outubro de 2008


 


PIAUÍ
Folha de S. Paulo


Caseiro foi sondado para mudar versão, diz revista


‘O caseiro Francenildo dos Santos Costa, cujo depoimento prestado em março de 2006 à CPI dos Bingos teve como conseqüência a demissão do então ministro da Fazenda Antonio Palocci, foi sondado por emissários que teriam oferecido dinheiro para que ele mudasse sua versão.


As revelações são de reportagem da revista ‘Piauí’ deste mês, assinada pelo editor e cineasta João Moreira Salles.


O caseiro e seu advogado, Wlicio Chaveiro Nascimento, de acordo com a revista, se recusaram a continuar a negociação. O contato de um ‘conhecido’ do advogado teria ocorrido horas antes de uma entrevista coletiva convocada pelo caseiro, em 16 de março de 2006. Era a primeira vez que o caseiro poderia confirmar ou desmentir o que havia dito dias antes ao jornal ‘O Estado de S. Paulo’. Ele testemunhou que Palocci freqüentava uma casa de lobistas em Brasília, desmontando o depoimento prestado pelo ministro à CPI. Na coletiva, o caseiro manteve todas as declarações.


Dois dias depois daquela entrevista, o sigilo bancário do caseiro foi quebrado ilegalmente na Caixa Econômica Federal.


A revelação sobre a tentativa de suborno tem duas versões. Segundo a ‘Piauí’, o advogado do caseiro foi procurado por um ‘intermediário do dono de um restaurante onde, no passado, dirigentes do PT costumavam se reunir, Lula inclusive. O dono do restaurante mandava avisar. ‘O pessoal está querendo uma conversa. Nada de objetivo. Querem só trocar umas idéias’. Ouvido ontem pela Folha, o advogado disse que não revelará o nome do homem porque não sabe se ele de fato representava terceiros ou se estava blefando. O advogado negou ter discutido valores.


Francenildo Costa, segundo a ‘Piauí’, disse: ‘Eles falaram em um milhão de reais, mais uma casa, para eu negar tudo. O Wlicio me disse assim: ‘O conhecido falou em um milhão de reais. O dinheiro é bom: você arranja a tua vida e eu fico com a metade. Mas o dinheiro também é ruim: você vai ter que mentir e vai correr perigo. No teu lugar, eu não aceitaria’. A revista conta que nenhum dos dois levou a conversa adiante com os emissários.


O advogado negou ontem à Folha ter falado em valores com o caseiro. Sobre os emissários, declarou: ‘Vou me abster de fazer qualquer comentário a respeito, porque lendo a matéria você vê que não fui quem declarei. E mesmo se eu tivesse declarado, ou tivesse acontecido algum tipo de proposta, isso não mudaria nada. Não quero polemizar’.


A reportagem também descreve constrangimentos a que o caseiro foi submetido pela Polícia Federal. Teve que passar uma noite, em precárias condições, num barraco a que foi conduzido após ter sido incluído no programa de proteção a testemunhas do governo.


A revista discute as motivações da PF. Entrevistado, o delegado responsável, Wilson Damázio, disse que houve uma solicitação da CPI dos Bingos e negou qualquer irregularidade.


Em outro ponto da reportagem, o ex-senador Antero Paes (PSDB-MT) diz que foi o senador Tião Viana (PT-AC) ‘quem estimulou o governo a quebrar o sigilo do caseiro’. Ontem a assessoria de Viana informou: ‘O senador não vai comentar nada porque tem a consciência tranqüila. Jamais cometeu qualquer deslize ético’.


Por causa da quebra, Palocci, seu assessor de imprensa, Marcelo Netto, e o ex-presidente da Caixa Jorge Mattoso foram denunciados ao Supremo Tribunal Federal. Os três foram indiciados pela Polícia Federal pela violação do sigilo do caseiro.’


 


 


CAMPANHA
Folha de S. Paulo


Programa eleitoral volta a ser veiculado no próximo domingo


‘O horário eleitoral do segundo turno de São Paulo volta a ser transmitido no próximo domingo, dia 12, quando também acontecerá o primeiro debate entre Gilberto Kassab (DEM) e Marta Suplicy (PT), na Band.


Na TV, a propaganda vai ao ar às 13h e às 20h30. No rádio, às 7h e ao meio-dia -no primeiro dia, não haverá o programa de rádio de manhã.


Agora, diferentemente do primeiro turno, o programa eleitoral terá 20 minutos de duração, com 10 minutos para cada candidato. No primeiro turno, quando o tempo é proporcional à representação dos partidos na Câmara dos Deputados, Kassab levava vantagem: tinha 8min44s em cada programa, contra 6min40s de Marta. A petista, que apareceu com 17 pontos de desvantagem em relação ao democrata na pesquisa Datafolha divulgada ontem, aposta na paridade do tempo de propaganda para se recuperar.


Outra diferença em relação ao primeiro turno é que, no segundo, o horário eleitoral não deixa de ser veiculado aos domingos. Com isso, serão 13 dias de propaganda em rádio e TV, até o dia 24, data também do último debate, na Globo -o segundo será na Record, no dia 19. A eleição ocorre no dia 26.


Além de dois blocos diários na televisão e de dois no rádio, os concorrentes contarão ainda com inserções comerciais ao longo da programação normal. Cada candidato terá direito a 15 minutos diários em rádio e mais 15 minutos em TV, com comerciais de até 60 segundos.


No Rio, o horário eleitoral recomeça na segunda-feira, dia 13. A data é determinada pelos Tribunais Regionais Eleitorais.’


 


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Aos 10, Rede TV! muda para produzir séries


‘Quando completar dez anos no ar, em 15 de novembro de 2009, a Rede TV! inaugurará aquele que, promete a emissora, será ‘o maior e mais moderno centro de televisão digital do Brasil’. O anúncio da mudança para uma nova sede será feito hoje pelos donos da emissora.


A mais jovem rede de TV do país finalmente deixará o galpão que ocupa em Barueri (Grande SP). Acaba de alugar, por dez anos, uma área de 36 mil metros quadrados no início da rodovia Castelo Branco, em Osasco, também na Grande SP. Os funcionários das produções, já acostumados a trabalhar em um porão, passarão a ter janelas e até quadras esportivas.


Segundo Kalled Adib, superintendente de operações, as instalações da emissora serão três vezes maior do que as atuais. O crescimento físico integra projeto da Rede TV! de dar um salto em sua programação em 2009. A emissora planeja estrear novos programas (uma nova linha de shows será criada após o ‘Superpop’) e começar a produzir seriados. ‘Um sonho é fazer uma sitcom’, diz Mônica Pimentel, superintendente-artística.


Na nova sede, um ex-centro de operações da Telefônica, a Rede TV! montará sete estúdios e poderá construir uma pequena cidade cenográfica. A mudança começa em dezembro próximo, nas férias coletivas, com os profissionais de jornalismo. A emissora ainda não revela investimentos.


CASA NOVA


Adriane Galisteu poderá ser uma das atrações da programação de 2009 da Band, que promete muitas novidades. Anteontem, a apresentadora recebeu uma proposta oficial da emissora, para um programa semanal no horário nobre.


CASA VELHA


Segundo Sérgio Dantino, advogado de Galisteu, a oferta da Band é financeiramente superior à do SBT. Por contrato, vencido em 30 de setembro, o SBT tem prioridade na renovação com Galisteu (pode cobrir as propostas das concorrentes), mas estaria disposto a abrir mão dessa prerrogativa.


ALDO VS ALDA


A TV Gazeta exibe na próxima sexta um debate de meia hora entre os candidatos a vice-prefeito de São Paulo.


INCRÍVEL


A campanha Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania, sempre questionada pelas TVs, está divulgando o 15º ranking da baixaria. Por incrível que pareça, o líder é a mesa-redonda ‘Terceiro Tempo’, da Band, por ‘desrespeito às torcidas de futebol’ e ‘apologia à violência’. A Band discorda.


CHUTE


No ‘Fala que Eu Te Escuto’ de anteontem, a Igreja Universal usou jornalistas da Record, como Paulo Henrique Amorim, para atacar a Globo.


LIQUIDAÇÃO


Nas cidades em que não haverá segundo turno, na Globo o espaço do horário eleitoral será ocupado por 20 minutos extras do ‘Jornal Nacional’. Jornalistas da rede já apelidaram o espaço de ‘bloco podre’.’


 


 


Folha de S. Paulo


‘Larica Total’ ri de estereótipos ‘chiques’


‘Sabe qual é o estereótipo do homem solteiro das grandes cidades? É o personagem de ‘Larica Total’, o novo ‘pseudo-programa-de-culinária’ que estréia hoje no Canal Brasil. Resumidamente, ele é tosco, acorda todos os dias de ressaca -e em dúvida entre tomar café da manhã ou partir direto para o almoço-, abre embalagens com a ajuda de um saca-rolhas (faca para quê?), tem uma cozinha imunda e uma dispensa na qual nunca podem faltar ‘água, cerveja, sal, alho e cebola’.


O argumento de ‘Larica Total’ é muito bom: ‘satirizar os programas de culinária ‘descolados’ e ensinar ‘receitas simples e de fácil preparo’. Mas o personagem, Paulo Oliveira (Paulo Tiefenthaler), um solteirão atordoado entre o porre e a pia entupida de louça suja e praticante da ‘culinária de guerra’, é um mar de clichês. De tanto se esforçar para ser engraçado, acaba perdendo a naturalidade e a graça.


Ele estraçalha o peito do ‘frango totalflex’ com uma faca de cortar pão; joga óleo na água em que será cozido o macarrão (‘prato um pouco mais sofisticado que o miojo’) e prepara comidas e receitas que dispensam a necessidade da louça limpa: salsicha e queijo-coalho ‘flambados’ na boca do fogo. Só mesmo em estado de larica total…


LARICA TOTAL


Quando: hoje, à 0h30


Onde: Canal Brasil


Classificação indicativa: não recomendado para menores de 14 anos’


 


 


Mônica Bergamo


Papel jornal


‘Marcelo de Carvalho, dono da Rede TV!, diz que notificou o empresário João Doria Jr. avisando que o programa dele, ‘Show Business’, não será mais apresentado nas noites de domingo na emissora. ‘O João é muito arrogante. Não queria que seu programa sofresse atraso no dia da divulgação do resultado das eleições. E o jornalismo não pode ceder a interesses empresariais’, diz Carvalho, que até a manhã de ontem mantinha a decisão de afastar Doria da programação.


TUDO BEM


Doria diz que já aceitou abrir mão de uma multa de R$ 20 mil por minuto de atraso em seu programa. Segundo ele, está ‘tudo bem’ e o programa continuará a ser exibido.’


 


 


CANSEI
Mônica Bergamo


Coroa fúnebre


‘A polícia de São Paulo está investigando crimes de calúnia, injúria, difamação e ameaça que teriam sido cometidos contra Eduardo Ramos, ex-empresário da banda Cansei de Ser Sexy, que foi ‘sumariamente demitido’ no ano passado pelos músicos por ter, de acordo com explicação divulgada à época pelo grupo, cuidado ‘muito mal de alguns assuntos relacionados à banda’. Depois da polêmica, Ramos foi xingado na internet. E recebeu uma coroa fúnebre de flores em sua casa.


CÓPIA


Eduardo Ramos não acusa o Cansei de Ser Sexy de ter cometido os crimes, mas seus advogados juntaram no inquérito ‘cópia de agressões publicadas no site oficial da banda’ e em blogs. No dia 24 de outubro do ano passado, por exemplo, uma ‘pessoa que assina como Adriano Cintra’, de acordo com o inquérito, dizia num blog que Eduardo Ramos é ‘burro, retardado, mentiroso e doente mental’. Adriano Cintra é o nome de um dos integrantes da banda. Os advogados de Eduardo Ramos querem saber se é ele o autor do texto ofensivo. Em outro episódio, um torpedo enviado para um telão que exibia mensagens no Tim Festival, no Rio de Janeiro, dizia: ‘Eduardo, devolva o nosso dinheiro. Cansei de Ser Sexy’.’


 


 


LITERATURA
Eduardo Simões e Sylvia Colombo


Le Clézio, francês viajante e ecológico, ganha Prêmio Nobel


‘Contrariando as apostas que se concentravam em nomes consagrados, como o norte-americano Philip Roth, o peruano Mario Vargas Llosa ou o israelense Amós Oz, a Academia Sueca decidiu conceder o Nobel de Literatura ao francês Jean-Marie Gustave Le Clézio, 68. Pouco conhecido no Brasil, é um dos escritores mais traduzidos de seu país.


É, também, o 14º autor da França a receber o prêmio, com as ressalvas de que Gao Xingjian (2000) tem origem chinesa, Albert Camus (1957), argelina, e que Jean-Paul Sartre recusou o galardão em 1964.


Além de voltar as costas, mais uma vez, à lista de favoritos, a distinção a Le Clézio marca a tendência do Nobel a escolher, nos últimos anos, autores europeus (leia mais à pág. E4).


O reconhecimento internacional do escritor francês começou em 1980, com o romance ‘Désert’, que ganhou prêmio da Academia Francesa. A obra descreve as agruras de uma mulher nascida no Saara tentando adaptar-se à imposição da colonização francesa no começo do século 20.


O comitê sueco declarou que Le Clézio foi escolhido por buscar a ‘aventura poética e o êxtase sensual, por explorar a humanidade além e abaixo da civilização reinante’.


Entre seus temas mais freqüentes estão histórias de aventuras baseadas em sua experiência em viagens por desertos (uma de suas predileções), cenários africanos e americanos. A academia também distingue sua ‘sensibilidade ecológica’.


Entre Nice e Novo México


Le Clézio nasceu em Nice em 1940, mas mudou-se ainda criança para a Nigéria, onde seu pai foi médico durante a Segunda Guerra Mundial. Voltou à França em 1950.


No começo dos anos 70, decidiu abandonar as grandes cidades e permanecer por um período na América Central. Nos últimos anos, vive entre Nice e o Novo México, nos EUA. Casado com uma marroquina, passa parte de seu tempo viajando.


Suas obras de tom ecológico incluem ‘Terra Amata’ (terra amada, 1967), ‘La Guerre’ (a guerra, 1970) e ‘Les Géants’ (os gigantes, 1973).


No Brasil, foram lançados três títulos. ‘A Quarentena’ (1997) -que teria sido inspirado nos ‘Sertões’, de Euclides da Cunha, segundo entrevista do autor, no ano do lançamento, a ‘O Estado de S.Paulo’.


Também saíram aqui ‘O Africano’ (2007) e ‘O Peixe Dourado’ (2001).


Depois do anúncio, Le Clézio declarou que escrever ‘não é só estar sentado em sua mesa, é escutar o ruído do mundo’. Também disse que ler romances é uma boa forma de interrogar o mundo. ‘O escritor não é um filósofo, um técnico da língua, é alguém que faz perguntas, e, se há uma mensagem que quero enviar, é que é necessário fazer perguntas.’


Curiosamente, na última quinta-feira, numa entrevista a uma rádio francesa para promover seu novo livro, ‘Ritournelle de la Faim’ (os refrãos da fome), Le Clézio falou sobre a possibilidade de ganhar o Nobel. À rádio francesa Inter, o escritor, questionado sobre a possibilidade de ser premiado, respondeu: ‘Com certeza, por que não? Quando você é um escritor, sempre acredita em prêmios literários’.


O prêmio, de US$ 1,4 milhão (cerca de R$ 3,4 milhão), será entregue em cerimônia em Estocolmo, no dia 10 de dezembro, junto com os demais prêmios da academia (medicina, química, física e economia).


Com agências internacionais’


 


 


Marcelo Rezende


Obra de Nobel traduz culpa européia


‘Entre o Prêmio Nobel de Literatura dado para a França em 1985, e este, entregue ontem a Jean-Marie Gustave Le Clézio, há uma distância que se mede não apenas em décadas, com o tempo, mas a partir de uma alteração de ritmo no discurso sobre a cultura, a política e seus sistemas. Na década de 1980, o ganhador foi Claude Simon, morto em 2005, aos 92 anos.


O nome de Simon é acompanhado pela experiência, guerra, dificuldade e pelo ‘Novo Romance’, surgido na década de 1950 com a proposta de construir uma literatura na qual tudo está no domínio da liberdade, do risco e da invenção. Com Le Clézio há o retorno da história, de personagens com psicologia clara e de um presente comentário sobre as relações entre centro e metrópole, diferenças culturais e o passado de colonizadores e colonizados. Le Clézio aparece (uma aparição fulgurante) em 1963, quando seu romance ‘Le Procès-Verbal’ faz todo o percurso necessário para a permanência de um autor: a aprovação crítica, o interesse de uma nova geração de leitores e a excitação da mídia, pela juventude do escritor -23 anos- e sua beleza.


O livro é o retrato de um período. Seu romance surge um ano após o fim da guerra entre a Argélia (então colônia) e a França, o colonizador que convocou uma legião de jovens para lutar em nome de uma causa que poucos conseguiam se identificar. Em ‘Le Procès-Verbal’, um homem (Adam Pollo) não sabe se deixou uma clínica psiquiátrica ou o Exército, tem apenas o desejo de permanecer solitário, numa casa, com seus sombrios pensamentos.


A experiência da guerra, das colônias, marca profundamente a trajetória de Le Clézio. Nas décadas seguintes, e ao longo de seus mais de 40 livros, entre ensaios e ficção, ele se torna obcecado pela palavras ‘nômade’, ‘errância’ ou ‘evasão’, colocando-se no lugar de um escritor em constante fuga. Viaja, mora em diferentes países.


Le Clézio mantém em sua fala, escrita e posicionamentos diante das relações entre nações um enjôo do Ocidente e a aflição permanente diante da história européia. ‘O mundo estava realmente doente? Esse arrepio, essa náusea, isso vinha de muito longe, de um tempo há muito passado’, escreve em ‘Ritournelle de la Faim’, romance que acaba de publicar na França.


Mais do que Le Clézio ter encontrado o Nobel, a operação parece ser de outra ordem: o Nobel encontra Le Clézio ao ver em sua obra uma representação da culpa diante do excluído, da narrativa a serviço de uma mensagem, do escritor como agente do ambiente multicultural e profeta de um bem-estar provocado pela aproximação dos povos em algum lugar do futuro. Le Clézio é o Nobel que deseja, ou precisa, que as partes fiquem em completo acordo. O planeta se parece ainda com Claude Simon, mas a vontade quase infantil é que se torne um dia Le Clézio.


MARCELO REZENDE é autor do romance ‘Arno Schmidt’ (ed. Planeta, 2005) e do ensaio ‘Ciência do Sonho – A Imaginação Sem Fim do


Diretor Michel Gondry’ (ed. Alameda, 2005).’


 


 


ACORDO ORTOGRÁFICO
Carlos Heitor Cony


Um acordo bestial


‘NO MEU entender, discutir o acordo ortográfico assinado há dias pelo presidente da República parece que não levará a nada. Pode prevalecer por um algum tempo, como as nossas Constituições anteriores, mas de tempos em tempos, além de modificá-las, fazemos uma nova.


Em primeiríssimo lugar, pergunto se há realmente necessidade cultural e prática para estabelecer regras ortográficas a serem usadas pelos países de língua lusófona.


Em geral, cita-se o respeito que devemos ter pela matriz, que é o português. Mas daí a dúvida: que português e que ortografia devem ser respeitadas agora e no futuro? O português e a ortografia de Camões ou Frei Luiz de Souza? Ou de Pero Vaz Caminha que escreveu a certidão de nascimento de um país recém-descoberto? Para não ir muito longe, como adotar a ortografia de nossos clássicos, de José de Anchieta ou de Machado de Assis?


Como aquela ‘dona’ da ópera de Verdi, a linguagem ‘è mobile’, e a ortografia também. Agora mesmo, quando se procura unificar a maneira de escrever palavras, está surgindo uma nova ortografia, até certo ponto radical, usada inicialmente pelos internautas, mas que está vazando para textos literários e do uso cotidiano. ‘Bj’ e ‘tb’, para citar os mais freqüentes, substituem ‘beijo’ e ‘também’.


Uma simplificação? Ou uma agressão à norma dita erudita? Temos o caso de simplificação mais radical na expressão ‘Vossa Excelência’, que foi reduzida para ‘vosmicê’ e terminou na forma simpática e não contestada de ‘você’. Bem verdade que a própria redução foi reduzida e há tempos que usamos o simples ‘v’ para a mesmíssima coisa.


São respeitáveis os argumentos a favor do acordo. Houve outros, no passado, que foram desacordados pelo uso e abuso. No espaço de minha geração, enfrentei várias ortografias, inclusive aquela que aboliu o ‘w’, o ‘y’ e o ‘k’. Houve jornais que passaram a escrever Cubisticheque, quem menos gostou da idéia foi o próprio Kubistchek. ‘Brincadeira tem hora’, disse-me ele.


Eu próprio fiquei chateado quando até uma enciclopédia grafou o meu nome sem o ‘y’. No meu caso, não se tratava de uma pinimba, como em Gilberto Freyre, mas do nome de meus antepassados.


Os adeptos daquela ortografia diziam que o camarada tinha o direito de escrever o próprio nome como bem entendesse, mas os outros não. Esqueceram o fundamental: o nome é, digamos, a marca industrial, a ‘trademark’ de um indivíduo. Em termos de norma culta, a marca do carro Simca devia ser Sinca. E a Telefonica devia ser Telefônica, para estar de acordo com a acentuação das palavras proparoxítonas.


Considerar o acordo como um instrumento poderoso para a unificação cultural e espiritual dos povos lusófonos é apenas uma boa intenção. Esta unificação deve existir sem necessidade de obrigarem os portugueses a escrever ‘facto’ e ‘fato’ com sentidos diferentes. Pensando bem, e analisando historicamente as palavras, há mais sentido em Portugal quando ali escrevem ‘súbdito’ em vez de ‘súdito’. O prefixo ‘sub’ inclui a idéia de submissão e não de ‘sumissão’.


Autores brasileiros reclamam quando seus livros são traduzidos para o português de Portugal. Por acaso, tenho dois livros ali publicados: um foi traduzido literalmente, trem virou comboio e diretor virou director. Honestamente, não me senti insultado. Na versão francesa do mesmo romance, ‘pacote’ virou ‘paquet’. E daí?


O outro, mais recente, foi transcrito tal como o escrevi, mas com abundantes notas ao pé de página. ‘Dar sopa’ foi explicado como ‘proporcionar’ e ‘torcer’ como ‘desejar’. Nos dois casos, o da tradução e o da nota ao pé de página, não foi prejudicada a essência -se é que meus livros têm alguma essência.


Insisto no respeito e na admiração aos abnegados amantes da língua, aqui e em Portugal, que gastaram anos de pesquisa e trabalho na tentativa de unificar a ortografia a ser usada oficialmente no Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Alvíssaras para o nosso idioma, que segundo Fernando Pessoa, deve ser a nossa pátria. Foi um enorme esforço que os portugueses poderiam classificar de ‘bestial’.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 10 de outubro de 2008


 


CAMPANHA
O Estado de S. Paulo


DEM e PT cancelam debate Estadão/TV Cultura


‘As coordenações das campanhas dos candidatos Gilberto Kassab (DEM) e Marta Suplicy (PT) cancelaram o debate previamente acertado com o Estado e com a TV Cultura que seria realizado na próxima segunda-feira, dia 13.


O projeto foi divulgado pelo jornal e pela TV no começo desta semana porque havia um acordo com os dois partidos para a realização do evento. Mas os comandos das duas campanhas informaram que, diante do elevado número de solicitações para realização de debates, haviam optado por atender apenas aos convites de três emissoras de TV comerciais: Globo, Record e Bandeirantes.


Diante das negativas, e tendo já assumido compromissos públicos com seus leitores e espectadores, com o intuito de contribuir com a discussão qualificada dos problemas da maior cidade do País, as organizações propuseram uma alternativa: a gravação de dois programas especiais Roda Viva. As entrevistas, em que Kassab e Marta seriam sabatinados por uma bancada formada por jornalistas do Estado e da Cultura, iriam ao ar nos dias 20 e 21 de outubro, a partir das 22h10.


Essa segunda proposta foi aceita pela coordenação da campanha de Kassab, mas não pelo comando da campanha de Marta. Com a impossibilidade de tratar de forma igual os dois candidatos, o Estado e a Cultura optaram por cancelar a iniciativa.’


 


 


DA PAZ
Andrei Netto


Ingrid convoca entrevista para o caso de ganhar Nobel


‘Duas organizações não-governamentais de apoio à ex-refém Ingrid Betancourt convocaram ontem dezenas de jornalistas em Paris para uma entrevista coletiva, ‘antevendo’ a concessão à política colombiana do Prêmio Nobel da Paz, que será anunciado hoje. A convocação causou estranheza, uma vez que o Comitê Nobel não divulga favoritos entre os indicados.


A especulação de que a ex-refém das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) seria um dos nomes fortes ao prêmio circula em Paris desde sua libertação, em 2 de julho, após seis anos de cativeiro na selva. Nesta semana, a expectativa cresceu.


‘No caso de Ingrid Betancourt receber o Prêmio Nobel da Paz amanhã, uma coletiva será organizada às 13 horas, no Hotel Meurice. Nenhuma declaração será feita além da entrevista coletiva’, diz o texto de uma das ONGs.’


 


 


TELEMARKETING
Marcos Burghi


‘Lei contra telemarketing vai causar desemprego’


‘A lei que cria o Cadastro Estadual para Bloqueio do Recebimento de Ligações de Telemarketing vai causar desemprego no setor. Essa é a opinião de Jarbas Nogueira, presidente da Associação Brasileira de Telesserviços (ABT), organização que representa as empresas de telemarketing. Por essa lei, os titulares de linha fixa ou móvel inscritos não poderão mais receber oferta de produtos e serviços por telefone.


Em nota divulgada pela ABT, Nogueira afirmou que ‘o único resultado prático (da lei) é uma possível migração dos empregos do setor de telemarketing do Estado de São Paulo para os demais Estados da federação, colocando em risco o emprego de milhares de trabalhadores’. De acordo com a ABT, o setor iniciou 2008 com 750 mil trabalhadores, 250 mil só na cidade de São Paulo.


Já apelidada de lei antitelemarketing, a nova regra foi sancionada na última terça-feira pelo governador José Serra e deve ser regulamentada na próxima semana, segundo Carlos Coscarelli, assessor jurídico da Fundação Procon de São Paulo (Procon-SP), órgão que ficará responsável por fiscalizar o cadastro e multar as empresas infratoras. Coscarelli afirma que a lei protegerá todos os consumidores paulistas que não desejem receber mensagens desse tipo. Bastará que as pessoas incluam seus telefones no cadastro que será aberto no site do Procon-SP. Os números deverão ser consultados pelas empresas antes das ligações.


Na opinião de Coscarelli, a regra não impede a prestação do serviço de telemarketing, apenas o transforma de quantitativo em qualitativo. ‘As empresas poderão fazer contatos com consumidores que estejam, de fato, interessados nos produtos’, afirma.


Segundo ele, hoje o setor faz telefonemas indiscriminadamente, o que incomoda grande parte dos consumidores. Coscarelli lembra, ainda, que a lei, após a regulamentação, valerá para todas as companhias que tenham setor de telemarketing, independentemente de ser a atividade principal da empresa. ‘Quaisquer chamadas do tipo para telefones do Estado estarão sujeitas às regras’, afirmou.


O consumidor poderá bloquear algumas ligações e permitir outras, concessão que deverá ser registrada por escrito no Procon-SP. Para reclamar de alguma ligação indevida, o consumidor terá de autorizar o Procon-SP a fazer o rastreamento. Após a publicação do decreto, as empresas terão prazo de 30 a 90 dias para adaptação.’


 


 


Gerusa Marques


Anatel não quis se pronunciar


‘A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) não quis comentar a lei sancionada ontem pelo governo de São Paulo que proíbe as operadoras de telemarketing de telefonarem para quem não deseja receber ligações. A agência disse, por meio de sua assessoria, que ainda está examinando a lei e, portanto, ‘não dispõe dos elementos necessários para emitir opinião a respeito’.


A lei, chamada de ‘Não importune!’ em outros Estados, como o Distrito Federal, prevê a criação de um cadastro estadual de telefones de pessoas que querem bloquear as ligações de telemarketing. Pela lei, as operadoras de call centers não poderão mais fazer ofertas de produtos e serviços pelo telefone aos proprietários dessas linhas, sejam de telefones fixos ou celulares.


A Anatel disse ainda que a discussão sobre a constitucionalidade ou não da lei ‘é tema que extrapola o âmbito das atribuições legais da agência’. No Distrito Federal, uma lei semelhante foi aprovada em junho pela Câmara Distrital e sancionada em julho pelo governador José Roberto Arruda. O governo do DF ainda tem de regulamentar a lei.’


 


 


PUBLICIDADE
O Estado de S. Paulo


Google cria anúncio para videogames


‘O Google lançou uma tecnologia de inserção de anúncios publicitários em videogames online para fisgar o setor de jogos eletrônicos. O software AdSense for Games, ainda em fase de testes, permite que anúncios sejam colocados no início, final ou em mudanças de estágios dos jogos. Anunciantes são cobrados com base em cliques nos anúncios e a receita é dividida entre Google, produtores e desenvolvedores dos jogos.’


 


 


TELES
O Estado de S. Paulo


Prazo apertado para operação Oi/BrT


‘A Agência Nacional de Telecomunicações deve levar mais de um mês para apreciar o pedido de autorização da compra da Brasil Telecom (BrT) pela Oi. Segundo a conselheira Emília Ribeiro, a agência tem cerca de 30 dias após a edição do Plano Geral de Outorgas para votar. Segundo fontes, as empresas fixaram a data de 20 de dezembro para concluir a compra, sob pena de a Oi ter de pagar multa à BrT.’


 


 


INTERNET
Vitor Sorano


Crianças na web assumem risco real


‘Eles se encontram na rua com quem conhecem na internet e não avisam os pais. Das 875 crianças e adolescentes que responderam pesquisa da organização não-governamental SaferNet, 28% admitiram essa conduta, que transfere para a vida real os riscos de um mundo virtual, em que a vigilância é baixa e a criminalidade quase dobra a cada ano, segundo o Ministério Público Federal.


Mas outro dado mostra que a prática pode ser mais disseminada. O dobro dos menores (56%) disseram ter amigos reais que já marcaram contatos com pessoas que conheceram online. Os encontros ocorrem apesar de a maioria dos pais reprovar a conduta. Dos 451 responsáveis que responderam à SaferNet, 61% afirmam orientar os filhos a nunca praticar essa conduta. Mas 25% dizem nem saber se as crianças têm amigos virtuais.


RISCO ASSUMIDO


G., de 15 anos, abriu o Orkut e viu um recado deixado no seu perfil: o rapaz se identificava como um adolescente de 15 anos e pedia para ser ‘adicionado’ ao MSN. Ao ver o álbum de fotos do novo contato, deparou-se com imagens eróticas de um adulto. ‘Ele estava de cuecas e parecia bem mais velho.’ Depois de alguma insistência, o homem desistiu de manter contato com G.. O adolescente se livrou de um possível encontro com um pedófilo.


O esquema é quase sempre igual: a aproximação é feita a partir de sites de relacionamento, evolui para conversas online e num bate-papo se faz um convite mais ousado. Uma adolescente de 14 anos diz ter passado por isso. Medo de que o menino fosse um adulto? ‘Não, eu já conhecia metade da vida dele quando nos encontramos.’


A ‘intimidade’ foi construída a partir de várias conversas no MSN. Dessa forma, Melissa de Souza Lima, de 15 anos, que passa duas horas por dia na internet (sem a presença dos pais), conheceu o namorado. Era um ‘amigo de uma amiga’.


A transferência das relações iniciadas online para a vida real é uma das preocupações ressaltadas pelos integrantes da SaferNet, que desde 2006 atua com o Ministério Público Federal em São Paulo no combate ao crime na rede. Nesse período, já recebeu mais de 1,5 milhão de denúncias anônimas. ‘A criminalidade vem crescendo 90% ao ano desde 2004’, diz a procuradora da República Ana Scordamaglia.


O criminoso que tenta cooptar crianças pela internet orienta a vítima a digitar uma ‘senha’ para saber quando um adulto entra no recinto onde o computador está. ‘Ele (criminoso) combina com as crianças para que, quando os pais estejam no recinto, coloquem uma frase (no comunicador em que a conversa ocorre, para alertá-los)’, descreve a procuradora Ana Scordamaglia.


COLABOROU HUMBERTO MAIA JUNIOR’


 


 


Renato Cruz


Só educação e diálogo podem dar segurança


‘A SaferNet publica, em seu site, uma lista com os dez mandamentos do jovem internauta. O primeiro deles diz: ‘Seja prudente, você não sabe o que está por trás da tela do computador.’ A segurança das crianças que navegam na internet é mais uma questão de educação do que técnica. Os pais devem mostrar aos filhos que existem perigos a serem evitados na rede mundial, assim como ensinam aos filhos quais cuidados devem tomar nas ruas.


Um grande problema nessa área é que muitas vezes os filhos sabem mais de internet do que os pais. Normalmente, sabem mais sobre como usar a rede e quais são os serviços disponíveis, mas isso não os torna mais preparados para enfrentar as ameaças que existem online, como pedófilos ou golpistas. É importante que os pais, mesmo que não conheçam muito a respeito da rede, conversem com seus filhos e acompanhem o uso que fazem da internet.


Esse diálogo pode ser usado pelos pais até para conhecer um pouco mais sobre a rede mundial. O computador no quarto das crianças (presente em 64% das casas, segundo a pesquisa SaferNet) é um problema, só superável pelo diálogo com os pais. ‘Nunca aceite propostas de encontro sem informar aos seus pais’ e ‘se alguma foto te perturba, saia do site e avise os seus pais’, alerta a ONG.


Vários dos mandamentos aconselham a criança a não divulgar suas informações pessoais: ‘Não diga nem o seu nome nem a sua idade’, ‘nunca divulgue a sua senha (password)’, ‘não dê o seu endereço’ e ‘nunca envie qualquer foto sua’. Essas dicas servem também para sites de relacionamento, como o Orkut, e para blogs. A internet é um espaço público. Às vezes é difícil, até mesmo para adultos, entender que um álbum de fotos aberto na rede, criado para os amigos, está exposto a todos os internautas do mundo. Informações que indiquem onde a criança mora, onde estuda ou quais seus hábitos podem torná-la vulnerável a pedófilos e outros criminosos.


Existem programas que bloqueiam conteúdo impróprio. Eles não podem ser encarados, no entanto, como uma solução para a segurança da criança na internet. Nenhum deles é infalível e, dependendo de como são configurados, podem impedir o acesso a conteúdo educativo sem garantir o bloqueio de todo o conteúdo impróprio. A navegação segura é mais uma questão de educação do que técnica.


A criança precisa saber como se comportar na rede e entender que isso é importante. Não adianta criar várias barreiras no computador de casa, se a criança estará desprotegida em outras máquinas, como na escola, na lan house ou na casa de amigos.


Um conselho importante é ensinar a criança a desconfiar das pessoas e das informações que encontra na internet. Isso pode ser útil até numa pesquisa escolar. A SaferNet recomenda: ‘Quando estiver na sala de bate-papo (chat), desconfie’, ‘não acredite em todas as informações que você recebe’ e ‘não responda aos e-mails que te ofendam.’


Em 2007, havia cerca de 45 milhões de internautas no Brasil. Segundo o Ibope/NetRatings, o País tinha 36,3 milhões de pessoas com internet em casa no trimestre passado. Em agosto, eram 24,3 milhões de usuários ativos (que usaram a rede pelo menos uma vez no mês).


CUIDADOS


Filtros: Há programas que bloqueiam conteúdo. No entanto, eles não são garantia de navegação segura. O software que usa palavras-chave pode acabar impedindo o acesso a conteúdos educacionais, sem garantir o bloqueio de todo o conteúdo impróprio. É possível impedir o acesso a alguns sites, mas não há como fazer uma lista de todos os endereços impróprios


Espaço: A internet é um espaço público. As imagens e informações podem ser acessadas por todo mundo. Os jovens não devem revelar dados pessoais na internet nem publicar fotos suas. As informações podem ser usadas por pessoas mal-intencionadas


Educação: Os pais precisam ensinar aos filhos como se comportar na rede mundial assim como ensinam a eles como se comportar nas ruas. As crianças devem evitar contatos com estranhos e recusar encontros com desconhecidos. Devem desconfiar das informações que recebem e conversar com os pais sobre suas atividades na rede. É melhor que o computador não seja instalado no quarto. Colocar como página principal uma que a criança sempre acessa dificulta que ela fique navegando desnecessariamente’


 


 


Vitor Sorano e Humberto Maia Junior


Mais da metade das crianças viu conteúdo impróprio


‘Fernanda Alves, de 14 anos, não tem perfil no Orkut. ‘Meu pai não deixa.’ Menos mal que pode utilizar o MSN. No entanto, o acesso é restrito – o computador da casa está instalado no quarto dos pais. Foi a forma encontrada para limitar o acesso à internet. ‘Minha mãe prefere que eu entre só quando ela está em casa’, diz. ‘Meu pai? Por ele eu nem entrava.’


Os pais ouvidos pela SaferNet, aliás, afirmam discutir com os filhos sobre jamais colocarem no ar informações pessoais. Eles, porém, afirmam dar o sobrenome (51%), publicar fotos (72%), fornecer nomes de escolas ou clubes (21%) que freqüentam e compartilhar até a data de aniversário (61%). Tais informações, em um terço dos casos, já foram ‘roubadas’ (mais informações ao lado) e em 10% dos casos os jovens internautas relataram já terem sido vítimas de chantagem online.


Pior: mais de metade (58%) das crianças que utilizam a internet conta já terem tido contato com algum conteúdo que elas mesmas consideram agressivo ou impróprio. Além disso, 38% dizem ter sido atacadas por ciberbullying – envio repetido de xingamentos. A maioria dos menores de idade afirma já ter buscado algum tipo de proteção e reclama da falta de discussão dessas estratégias com o público jovem.


Cerca de 40% dos pais informaram que seus filhos já explicitaram incômodo ou constrangimento em relação ao que vivenciaram pela Internet. No entanto, é possível notar que a falta de informação sobre como agir resulta na falha em proteger. Embora considerem a internet um espaço público inseguro – e 71% receiem que algum adulto possa fazer mal aos filhos por meio dela -, a maioria dos responsáveis não coloca nenhuma restrição ao seu uso. E 18% já se aventuraram a vivenciar um encontro com alguém que conheceram online, o que pode inibi-los na hora de coibir essa prática.


Entre os pesquisados, 74% disseram ainda temer que as crianças tenham acesso a conteúdos impróprios. Mas, mesmo entre os que impõem regras, só um terço acredita que as crianças e adolescentes cumpram todas elas.


Os números de uso, aliás, comprovam a dificuldade de controle. Segundo a SaferNet, 77% dos jovens afirmam que não possuem limite nenhum no tempo que podem ficar na internet e 55% deles reconhecem que ficam tempo demais na web – porcentual igual de adultos que reclamam de excesso de conexões por parte dos jovens internautas. Esse ‘tempo demais’ também foi quantificado pelos pesquisadores: 44% dos menores de idade dizem que passam quatro horas por dia conectados.


Também foi feito um raio X dos endereços eletrônicos visitados: 80% dos jovens internautas preferem os sites de relacionamento e 72% comunicadores instantâneos. Quando se cadastram nos sites de relacionamento, 66,71% deles dizem que o fazem sozinhos em casa, sem supervisão de um responsável, mesmo que os sites sejam proibidos para crianças e adolescentes.


DENÚNCIAS


Um dado da pesquisa, segundo a SaferNet, que mostra uma preocupação maior com os crimes virtuais é o das denúncias de crimes online. Dentre os pais, cerca de 42% já fizeram ao menos uma denúncia sobre crime na internet; entre as crianças e adolescentes, esse porcentual também chegou a 40%.’


 


 


Vitor Sorano e Humberto Maia Junior


Pais compram software para gravar conversas dos filhos na internet


‘A empresa InspyBox, de São Paulo, afirma vender, em média, 70 unidades por mês de um programa que grava tudo o que acontece no MSN – 90% dos compradores são pais que querem vigiar os filhos. A espionagem é uma das estratégias vistas com maus olhos pelos integrantes da SaferNet, pela possibilidade de minar a relação de confiança entre pais e filhos – considerada mais benéfica. ‘Os adultos entrevistados afirmam que têm dificuldade em proteger os seus filhos na internet’, diz Rodrigo Nejm, diretor da ONG.


A publicitária Cristiane Almeida, de 45 anos, e o marido até criaram um perfil num site de relacionamentos para vigiar o comportamento dos filhos, que tem 11 e 13 anos. ‘A gente está sempre olhando. Esse site é muito perigoso.’ Outra medida foi instalar o computador na sala. ‘Fica mais fácil ver o que os filhos fazem na internet.’


Além de colocar o computador numa área comum, o programador Manoel Campelo, de 32 anos, orienta a filha de 12 anos a acessar a internet só quando ele e a mulher estão em casa. Campelo também atua como ‘espião’ e pesquisa os sites acessados pela filha, que ficam registrados no computador. ‘Tenho medo.Não dá para deixar os filhos sem fiscalização.’’


 


 


ACERVO
Clarissa Thomé


Cinemateca vai digitalizar mais uma parte do acervo


‘A Cinemateca Brasileira ampliará seu acervo de filmes digitalizados. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou a liberação de R$ 2 milhões para a compra de equipamentos que permitirão a transformação de película para meio digital e a catalogação das obras. A instituição já iniciou os trâmites para a importação e começa a selecionar as primeiras obras que passarão pelo processo.


‘O material da TV Tupi e os cinejornais certamente estarão entre os primeiros. (O cineasta) Humberto Mauro também é forte candidato, mas ainda não fizemos esse recorte do que será digitalizado’, disse a diretora da Cinemateca, Patrícia de Filippi.


Também passará para meio digital a produção de filmes silenciosos brasileiros (filmes mudos), realizados até a década de 1930. Essas obras já foram restauradas. ‘A Cinemateca é depositária de acervos particulares e vamos ter de procurar os detentores dos direitos desses filmes para negociar os direitos autorais’, explicou Patrícia.


A Cinemateca Brasileira já tem um laboratório que permite a digitalização de filmes, mas com capacidade reduzida. Os equipamentos que serão importados de países como Alemanha, Inglaterra, França e Estados Unidos vão agilizar o processo.


Os originais danificados receberão limpeza técnica e, se necessário, serão duplicados (em alguns casos, a película está tão deteriorada que já não pode ser exibida). A partir de então, os filmes passarão pelo processo da telecinagem (transformados de película para vídeo) e só então serão digitalizados. Em outros casos, poderão ser escaneados diretamente.


O plano da Cinemateca é disponibilizar essas obras online para consulta – o pesquisador se registrará no site, terá uma senha, informará o tema do trabalho e terá acesso ao conteúdo. As imagens estarão disponíveis em baixa resolução. ‘É importante fazer esse trabalho para que as imagens fiquem à disposição do público de forma mais fácil e mais ágil. A proposta é que esses filmes sejam exibidos numa mostra na sala Cinemateca/BNDES’, comentou a gerente de cultura para a área de Patrimônio do BNDES, Isis Pagy.


Patrícia de Filippi lembra que a missão da Cinemateca é a preservação e a difusão. ‘Muitas vezes fica difícil fazer a difusão por causa das más condições do filme. Se a cópia está deteriorada, nós restringimos o acesso a ela. Nesse sentido, a digitalização ajuda muito na nossa missão de difundir’, afirmou a diretora.’


 


 


LITERATURA
Ubiratan Brasil


E o Nobel vai para Le Clézio


‘O tom político voltou a nortear o prêmio Nobel de literatura deste ano, anunciado ontem na Suécia – se não veio com a pesada carga que marcou a eleição do turco Orhan Pamuk em 2006, a escolha do francês Jean-Marie Gustave Le Clézio, de 68 anos, não escondeu um viés anti-segregacionista da Academia Sueca, que justificou a decisão por ser Le Clézio um ‘escritor da ruptura, da aventura poética e do êxtase sensual, explorador de um humanismo que está além da sociedade dominante’. Ele estava em Paris, quando foi comunicado da vitória. O telefonema, aliás, dos membros da Academia Sueca foi atendido por sua mulher, pois Le Clézio estava lendo e escrevendo.


De fato, os personagens de Le Clézio, o primeiro autor nascido na França a ganhar Nobel desde 1985 quando venceu Claude Simon (o escolhido de 2000, Gao Xingjian, nasceu na China mas se naturalizou francês), vivem em meio a preconceitos e intolerâncias, buscando espaço em mundo em que a globalização não é usufruída por todos.


Tal opção faz jus à sua própria história – descendente de uma família da Bretanha que emigrou para a Ilha Maurício, no Oceano Índico, no século 19, Le Clézio nasceu em Nice, na França, em abril de 1940, mas viveu em diversos lugares, sempre atrás dos pais. Essa movimentação incentivou também uma precoce carreira literária: quando o pai, que era médico, foi designado para a Nigéria, ele escreveu, no barco que os conduzia, suas duas primeiras obras, Un Long Voyage e Oradi Noir. Detalhe: ele tinha apenas 7 anos.


A estréia profissional aconteceu mais tarde, aos 23 anos, quando publicou Le Procès-Verbal. Nessa época, Le Clézio já era formado em literatura e filosofia e se preparava para morar em diversos lugares do mundo, onde daria aulas. O estilo aventureiro, portanto, marcou sua obra, como no período em que viveu em meio a índios no México e Panamá, em 1970. ‘Essa experiência mudou minha vida, minhas idéias sobre a arte, minha maneira de ser, de andar, de comer, de dormir, de amar e até de sonhar’, disse.


Não é de se estranhar, assim, a influência de Os Sertões, de Euclides da Cunha, especialmente na obra A Quarentena (Companhia das Letras), baseada em uma história verdadeira. ‘Euclides também narra uma experiência extrema passada na vida real’, disse ao Estado, em 1997.’


 


 


TELEVISÃO
Etienne Jacintho


Meirelles em SVU?


‘‘Por favor, (Fernando) Meirelles, venha dirigir minha série!’ Esse foi o apelo do produtor-executivo Neal Baer, da série Law & Order: Special Victims Unit, durante uma entrevista por telefone anteontem, com jornalistas da América Latina, inclusive com o Estado. Para Baer, que participou dos anos dourados da série E.R. – com George Clooney – e está há oito anos na equipe de Law & Order: SVU, os melhores filmes hoje são feitos por cineastas da América Latina.


‘Adoraria trabalhar com o diretor Fernando Meirelles que é hoje o melhor cineasta, o mais interessante visualmente’, disse Baer. ‘Adorei Cidade de Deus, O Jardineiro Fiel… Ainda não vi Ensaio Sobre a Cegueira, mas assisto a seus filmes e ?uau!?, ele tem uma visão, sabe como filmar, como contar uma história. Ele é um cineasta incrível!’


Meirelles não seria o primeiro latino na direção de SVU. ‘Já trabalhei com o diretor argentino Juan José Campanella, que dirigiu alguns episódios da série, incluindo o que deu o Emmy a Leslie Caron (de melhor atriz convidada em série dramática em 2007).’ Law & Order: SVU está no ar desde 1999. Já recebeu 18 indicações para o Emmy e venceu quatro vezes.’


 


 


 


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