Uma das qualidades da internet é sua natureza livre e democrática. Mas, em alguns casos, esta liberdade possibilita manifestações racistas e agressivas entre os internautas, como vem ocorrendo com freqüência em alguns sítios americanos, noticia Howard Kurtz [The Washington Post, 16/3/07].
O blog de tendência conservadora Little Green Footballs, por exemplo, recebeu recentemente comentários de internautas que expressaram o desejo de que o paquistanês Khalid Sheikh Mohammed, que diz ser o responsável pelo ataque de 11/9/01, tivesse conseguido concretizar seu plano de matar o ex-presidente Jimmy Carter. Já no blog liberal Huffington Post, outros usuários afirmaram lamentar que o vice-presidente Dick Cheney não tivesse sido atingido por um homem-bomba em sua visita a uma base militar no Afeganistão. O sítio do Washington Post também costuma receber comentários ofensivos, diz Kurtz.
Restrições
Este tipo de discurso vem de uma minoria. Mesmo assim, pode prejudicar o debate online. A fundadora do Huffington Post, Ariana Huffington, alega que ‘eles [os comentários ofensivos] são inaceitáveis e são tratados de tal modo ao ser apagados’. Charles Johnson, fundador do Little Green Footballs, viu o caso sobre Mohammed como algo pontual e afirma que os posts no blog refletem ‘apenas as opiniões de poucos indivíduos’.
Para tentar minimizar o problema, o sítio do Post optou por permitir que apenas usuários registrados estejam aptos a escrever comentários sobre qualquer artigo ou coluna. Mesmo assim, os textos mais polêmicos acabam recebendo observações agressivas. Uma matéria sobre o prefeito de Nova Orleans, Ray Nagin, que afirmava que a recuperação lenta da cidade era parte de um plano para mudar a liderança racial do local, foi alvo de diversos leitores furiosos.
Filtro
Jim Brady, editor-executivo do sítio do Post, alega que não tem como pré-filtrar os cerca de dois mil comentários que o sítio recebe diariamente. Um membro de sua equipe é responsável por apagar as participações consideradas ofensivas depois que elas são postadas e por proibir alguns internautas de divulgar comentários, com base em reclamações de outros leitores.
Brady afirma que planeja colocar mais pessoas para fazer isto e usar tecnologia para ajudar na tarefa. ‘As novas mídias permitem uma interatividade entre jornalistas e leitores, e afirmar que não vamos tirar vantagem disto não faz sentido’, opina. ‘Prefiro pensar em algum modo de fazer isso de uma maneira melhor do que simplesmente não fazê-lo’.
Darryl Fears é um dos repórteres do Post que discordam deste ponto de vista. Ele acredita que não deve haver espaço para comentários se não houver filtragem. ‘Se você é um afro-americano e ler que alguém foi chamado de ‘macaco’, isto sobressai sobre qualquer outro comentário positivo’.
Este debate agressivo na rede, opina Kurtz, só ocorre porque é possível postar sem se identificar. ‘Se fosse requisito colocar nome e sobrenome, mesmo que as pessoas recorram a nomes falsos, seria um passo para os bons modos’, acredita.