Não é sem razão que as pessoas evitam questionar a imprensa, pois sabem que há muitos interesses nesse tema. A origem da expressão ‘imprensa marrom’ vem do termo inglês yellow press – imprensa amarela –, pois os jornais americanos mais populares e sensacionalistas eram também os menos confiáveis, já que a guerra pela notícia e pelo mercado não tinha limites. No Brasil cunhou-se o termo ‘imprensa marrom’, mas não perdeu o estigma de pouco confiável, apesar do esforço de eminentes jornalistas de pautarem seus textos na máxima ética e independência.
Ninguém duvide de sua existência, pois as notícias, em considerada cota, são manipuladas. Verdadeiros ‘diabinhos’, de uma hora para outra, viram ‘santos’. Autoridades corruptas conseguem espaço positivo – ou desaparecem – na mídia impressionantemente, tão notável que, acredito, até eles pensam que são honestos. Há jornalistas que escrevem em seus blogs na internet temas que normalmente não saem nos jornais – coincidência ou não, sempre temas relevantes e envolvendo autoridades, empresários e banqueiros que quase nunca contestam nem tampouco processam esses eminentes jornalistas por injúria, calúnia ou difamação, ou mesmo pela inconstitucional e anacrônica Lei de Imprensa.
Compromisso inegociável
O general Jorge Félix, ministro do Gabinete de Segurança Institucional da presidência da República, disse recentemente que aparecerão nas investigações da Polícia Federal muitos jornalistas envolvidos no esquema criminoso do encrencado banqueiro Daniel Dantas. O negócio é sério e merece reflexão de todos pois, se confirmada essa informação, podemos estar sabendo somente o que os ‘tubarões’ querem que saibamos, ferindo de morte assim o sacrossanto direito à informação. O corporativismo entre os jornalistas é algo inexplicável e eles nem percebem que os leitores não são tão ingênuos assim como parem ser. O jornalismo brasileiro é endógeno, ou seja, mostra somente o que quer ou interessa ao mesmo.
A imprensa vive defendendo a ‘liberdade de expressão’, mas não a exerce na sua plenitude, pois há fatos que são maquiados ou alijados das redações por motivos inconfessáveis. No Ceará, por exemplo, já houve caso de jornalista que se dizia ‘vítima’ do Judiciário e vivia criticando acidamente o egrégio Tribunal de Justiça e hoje, como num passe de mágica, é assessor de desembargador daquela Corte (!). Assim não dá. Tem muita gente séria e independente no jornalismo, mas é preciso abrir o debate acerca do compromisso inegociável com a verdade dos fatos e o respeito aos leitores, pois a imparcialidade parece não ser alguma coqueluche no jornalismo.
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Advogado, Fortaleza, CE