Clark Hoyt, ombudsman do New York Times, escolheu como tema de sua coluna de domingo [13/4/08] o debate sobre a linha tênue entre notícia e opinião. No dia 30/3, Hoyt publicou em sua coluna uma carta da leitora Ellen Shire, onde ela reclamava dos artigos ‘geralmente pessoais e repugnantes’ dos colunistas Frank Rich e Maureen Dowd sobre Hillary Clinton. Segundo a leitora, os dois colunistas ‘não deveriam ter espaço em um jornal com reputação de ter um jornalismo equilibrado’. Michael Cleveland, editor de um semanário em Lyndeborough, New Hampshire, enviou uma mensagem criticando Hoyt por dar voz à leitora, ‘obviamente desinformada sobre como um jornal funciona’. ‘Você deveria ter colocado, no mínimo, uma nota explicando a diferença entre uma matéria e uma coluna de opinião’, aconselhou o editor.
O ombudsman não acredita, entretanto, que explicar esta diferença seja uma tarefa tão fácil assim. O NYTimes tem seções de opinião e de notícias, mas a divisão entre elas não é tão clara. O jornalão costumava, como a maior parte dos jornais, publicar artigos opinativos apenas nas páginas de opinião. Porém, atualmente, as páginas de notícias também contam com colunas, análises e críticas – o que envolve o risco de se confundir o que é notícia e o que é opinião. ‘Esta linha tênue, a longo prazo, pode ser prejudicial à credibilidade de qualquer organização de mídia’, opina Hoyt. O diário adotou diversos sinais para ajudar os leitores a entender que o que estão lendo é opinião ou notícia, como faixas com a palavra ‘opinião’ ou ‘ponto de vista’ e mudanças na tipografia de cada tipo de texto.
Precisão
Como não vê diferença entre os termos ‘opinião’ e ‘ponto de vista’, Hoyt pediu ajuda a Joe Nocera, colunista da seção de economia. ‘Para ser sincero, acho que é uma distinção indefinida, e não entendo muito bem’, confessou ele. ‘Acredito que meu trabalho é contar aos leitores minha opinião sobre assuntos de economia, então é isto que faço’. Nocera escreve apenas colunas – o que deixa claro que o que publica é opinião, ao contrário de outros colunistas que também escrevem matérias jornalísticas. Para o editor-executivo, Bill Keller, é importante manter a imparcialidade nas páginas de notícias. ‘Fazemos isto mantendo a precisão das reportagens e deixando explícito o material que é opinativo’, afirma ele.
Hoyt diz que, ainda que ocorram críticas como a de Ellen Shire, Maureen e Rich – assim como os outros colunistas do diário – são pagos para expressar suas opiniões e não para ponderar que tipo de opinião seria melhor para o jornal. Ele ressalta que nunca viu indicações de que os pontos de vista colocados no NYTimes influenciem na cobertura jornalística – que deve, por princípio, ser equilibrada.