‘Abre-se, até que enfim, a ‘caixa-preta’ da viagem do governador Cid Gomes, de jatinho fretado, à Europa, entre 30 de janeiro e 9 de fevereiro deste ano. ‘Sogra, esposas de assessor e de secretário viajaram com Cid’, diz O Povo, timidamente, na primeira página (16/4, quarta-feira). Mas os leitores Pedro Albuquerque, Paulo Rocha, Ricardo Pamplona, através de e-mails, e Fábio Matos, por telefone, fazem severas críticas à cobertura do jornal sobre o assunto.
Do Canadá, Pedro Albuquerque é taxativo: ‘Além de improbidade, o caso coloca em questão a confiança da sociedade em seu governador. Ou ele pede desculpas concretas ou deve pensar em renúncia’.
Fábio Matos liga para o ombudsman e estranha o modo ‘benevolente’ como o seu xará, colunista Fábio Campos, tratou o assunto na coluna Política, não considerando ‘escândalo’ o fato de o governador ter levado a sogra e as esposas de um assessor e de um secretário em jatinho fretado à Europa.
Paulo Rocha, assim se manifesta: ‘Achei muito estranho o fato de O Povo não ter dado o destaque merecido à farra que o governador Cid Gomes fez com o dinheiro do contribuinte’, ressalta. ‘Por muito menos – comparando os valores envolvidos – já vi O Povo fazer sensacionalismo sobre assuntos da mesma natureza, só que, com `peixes menores´’, diz Rocha.
Ricardo Pamplona também protesta: ‘Lamentável, sob todos os aspectos, o desinteresse e a pequena cobertura dada por um jornal que se diz independente, ao degradante episódio da viagem do governador à Europa, com sogra & cia. ltda’.
Nenhum dos leitores, no entanto, faz restrição à presença da primeira-dama na comitiva governamental, mas, sim, à das demais acompanhantes.
Recuperação
De fato, O Povo quase esconde na primeira página do último dia 16 o título ‘Sogra, esposas de assessor e de secretário viajaram com Cid’. Mas o assunto é manchete da página 23 (Política): ‘Governo envia lista de passageiros’, com direito a coordenada (‘Aliados dizem que não há custo extra’), quadro com a relação de nomes da comitiva do governador Cid Gomes e outro quadro (E mais) com outras informações sobre o caso.
Na coluna Política, Fábio Campos tratou o tema com muita cautela, chegando a dizer que ‘o fato não representa um escândalo e é perfeitamente contornável’, embora também tenha dito que ‘é preciso que o governo deixe claro e comprove com documentos que a estadia do grupo de convidados não foi paga com recursos do cofre estadual’. Na quinta-feira, no entanto, o caso é completamente deixado de lado, tanto na primeira página quanto nas páginas de Política, inclusive na coluna de Fábio Campos. Mas, nesse mesmo dia, o assunto é destaque na imprensa nacional. Na sexta-feira (18), o jornal volta a tocar no assunto: na primeira página (‘Viagem de jatinho: Heitor Férrer pede ressarcimento de R$ 166 mil do Governo’, título mais destacado do que o inicial), na página 20 (Política) com a manchete ‘Heitor quer ressarcimento de R$ 166 mil’. Por sua vez, Fábio Campos muda o tom conciliador e dedica todo o espaço da coluna (quatro tópicos) com o tema da viagem do governador. É incisivo: ‘A sogra do governador é o componente que oferece ao caso o tom jocoso que passa a compor o anedotário do atraso político brasileiro’.
Mas a mudança de tom de Fábio Campos não satisfaz o insistente leitor Paulo Rocha que, noutro e-mail, diz: ‘Pelo visto, o colunista ficou ´uma arara` com a base governista (44 dos 46 parlamentares) pelo fato da mesma ter deixado o governador com a ´calça na mão´‘.
Requerimento
Em todo esse affaire, pouco se fala no autor do primeiro requerimento na Assembléia Legislativa que solicitou detalhamentos sobre as viagens nacionais e internacionais do governador Cid Gomes, o deputado Adahil Barreto (PR). Barros Alves, assessor legislativo, liga para o ombudsman para manifestar estranheza sobre o assunto. Na última sexta-feira, no entanto, o nome de Adahil Barreto veio à tona na matéria citada acima.
Morte do reitor
A comunidade universitária, principalmente a da Universidade Federal do Ceará, amanheceu sexta-feira última abalada com o falecimento do reitor Ícaro de Sousa Moreira. Os professores da UFC Ricardo Jorge de Lucena Lucas (Departamento de Comunicação Social) e Ana Teresa Martins (Departamento de Computação) lamentaram o pouco destaque (pequena chamada com foto na primeira página) dado pelo O Povo ao acontecimento. Diz Ricardo Jorge: ‘O prof. Ícaro de Sousa Moreira merecia muito mais do que um tímido canto inferior esquerdo na primeira página desse jornal, tanto pelo o que ele representava (a UFC) quanto por quem ele representava (professores, alunos e funcionários) e, finalmente, por quem ele era. Infelizmente, nem mesmo a correta matéria da repórter Mariana Toniatti corrige a falta de avaliação para o fechamento dessa primeira página’.
São João errado
‘Festa junina é a celebração dos santos: São João, Santo Antonio, São Pedro e São Quatro-Finais-de-Semana’ (página 18, Política, 15/4), diz o anúncio institucional da promoção do O Povo. O problema não é o trocadilho, digamos, de gosto discutível (‘São-Quatro-Finais-de-Semana’). É que, na página, há três imagens de santos: o que deveria ser São João Batista (cujo dia é comemorado em 24 de junho), Santo Antonio e São Pedro. Mas colocaram a imagem de São João Vianney, francês, morto no século XIX, no lugar da de São João Batista, contemporâneo e primo de Jesus Cristo, segundo os evangelhos. O erro foi detectado pelo atento leitor Hiram Moreira.
Em nota bem-humorada enviada ao ombudsman, a agência Radash, responsável pelo anúncio, admite o erro (‘Usamos a imagem do São João errado no layout’) e acrescenta: ‘As inúmeras ligações feitas pelos leitores são a prova estatística de que o anúncio deu resultado. No mais, como devotos fervorosos da boa propaganda, felizmente erramos na imagem de São João e não na festa’.’