A imprensa está perdendo uma extraordinária oportunidade de discutir preconceito e, especialmente, o uso que se faz dele durante campanhas eleitorais. O noticiário sobre a campanha de rádio e TV para o segundo turno em São Paulo é um prato feito para pautar o assunto. É só conferir as manchetes do noticiário político de São Paulo da segunda-feira (13/10):
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‘Marta mira vida pessoal de Kassab e o vincula à ditadura’ (O Estado de S.Paulo)**
‘Marta explora vida pessoal de Kassab, que recorre à Justiça’ (Folha de S.Paulo)Para não correr o risco de questionamentos judiciais, os jornais tiveram o maior cuidado com a notícia sobre a propaganda de Marta, acreditando que para bom entendedor meia-palavra basta. Afinal, o simples fato de dizer que um homem de 48 anos é solteiro, já é suficiente para levantar suspeitas sobre sua sexualidade. Talvez por isso os jornais não tenham dito que, além de ser de baixo nível, a propaganda de Marta Suplicy desmente toda a trajetória da política que, em 1995, fez dos direitos dos homossexuais a sua grande bandeira, com o projeto que propunha dar a eles os mesmos direitos civis concedidos aos casais heterossexuais.
Os jornais preferiram lembrar as queixas de Marta sobre a eleição de 2004, quando, segundo ela, a separação acabou tendo papel decisivo na sua derrota ao candidatar-se à reeleição. O tema foi tratado em livro lançado às vésperas desta eleição e nele a candidata diz:
‘Ninguém me defendeu. Eduardo mostrou seu sofrimento em público e eu remoí minhas aflições em particular. Com isso, tornei-me a megera da história’.
O exemplo de McCain
Publicou o jornal O Estado de S.Paulo: ‘A propaganda petista ultrapassou a política, procurando atingir a imagem pessoal do oponente. Exibindo uma foto de Kassab em branco e preto, o locutor, num tom sombrio, fez indagações sobre o seu passado e a última pergunta era: ‘É casado? Tem filhos?’ E concluiu: ‘Para decidir certo, é preciso conhecer bem.’
A Folha de S.Paulo comenta que outro comercial de TV critica o passado político de Kassab e encerra com a questão: ‘Será que ele esconde mais coisas?’ Segundo o jornal, antes do debate da Band, a Folha perguntou a Marta se a propaganda não era contraditória com a sua biografia. ‘O que você está querendo insinuar?’, rebateu a petista. ‘São direitos de informação que todo mundo tem que ter.’
Os marqueteiros de Marta talvez tenham buscado inspiração na campanha do candidato republicano à presidência dos Estados Unidos que, em situação de inferioridade nas pesquisas, começou a vincular anúncios dizendo que Obama dá medo. Mas, o candidato republicano é mais esperto do que a petista. Enquanto ela responde à imprensa dizendo que falar mal dos outros é apenas exercer o direito à informação, o republicano defende seu opositor, dizendo que o medo de que fala sua campanha é medo das políticas propostas, e não do candidato em si o qual, segundo McCain é ‘um homem de família, uma pessoa decente’.
Quem sabe o próximo repórter a entrevistar Marta Suplicy leve o exemplo do republicano e pergunte a ela se este é o comportamento que se espera de uma candidata que sempre se orgulhou de lutar contra os preconceitos.
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Jornalista