O gênero pode estar sob risco constante, incapaz de se adaptar ao ambiente digital, mas a estreia de “I Love Paraisópolis” mostra que ainda há o que explorar nas telenovelas, ao menos em seus primeiros capítulos.
É uma comédia romântica, com atores convincentes no triângulo central, jovens que nasceram e vêm se desenvolvendo no próprio gênero, apoiados por atores plenos nos papéis cômicos.
Caio Castro causou revolta ao falar em 2014 que não faz nem gosta de teatro, mas o traficante que interpreta não é um malvado de folhetim, dando esperança de uma novela menos maniqueísta do que de costume.
Como ele, Bruna Marquezine impressiona, remetendo a Regina Duarte na naturalidade que confere ao papel pouco verossímil da jovem muito trabalhadora, muito frágil, muito bonita.
Mauricio Destri, cujo personagem deverá disputar a protagonista com o de Castro, não alcançou o nível dos outros dois na estreia, mas funciona como o arquiteto rico porém preocupado com os pobres.
Nada é novo na história, do eixo romântico aos alívios cômicos de Tatá Werneck e atores como José Rubens Chachá –e ao próprio cenário: o contraste em torno de Paraisópolis foi central até no videogame Max Payne 3 (2012).
Mas o dramaturgo Alcides Nogueira e seus coautores costuram bem todas as influências, com uma mescla de paixão e consciência social que já se conhecia das peças de Nogueira.
Na direção, também trabalhando com codiretores, Wolf Maya mostrou no primeiro capítulo o que seria possível alcançar, caso a Globo se dedicasse a fazer séries de meia hora como redes as americanas.
Personagens foram apresentados de maneira sucinta, sem gordura. O humor foi pontual, evitando atrapalhar a trama. A edição foi de cenas rápidas, sem tempo a perder. A trilha tem o rapper Projota.
Mas vêm aí centenas de episódios arrastados, conflitos rodando no mesmo lugar até a morte digital. Quando isso acontecer, será bom lembrar o primeiro capítulo.
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Nelson de Sá, da Folha de S.Paulo