Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A comunicação empresarial e a terceirização

O debate sobre a terceirização de trabalhadores para atividades em geral, seja meio ou fim, movimenta opiniões variadas a favor e contra, depois da aprovação pela Câmara dos Deputados. Eu poderia dizer que não sou a favor, nem contra, muito pelo contrário. Mas existe nesse imbróglio uma certeza caso a terceirização passe pelo Senado Federal e seja aprovada pela Presidência da República: o que será da comunicação empresarial e seus dogmas em relação à comunicação interna e sua participação nos desdobramentos de planos estratégicos e credos empresariais e demais conceitos de pertencimento a partir daí?

A valorização e o comprometimento das pessoas, bem como o foco em resultados, empreendedorismo e inovação, são valores que estão listados em quase todos os credos empresariais. Gestão de pessoas e políticas de recursos humanos, da mesma forma, são inerentes a qualquer empresa moderna. Transparência e ética são palavrinhas modernas que abrem qualquer código de conduta no mundo empresarial público e privado, ainda mais nos dias de hoje.

Ora, com a terceirização como é que nós, comunicadores empresariais, continuaremos a desenvolver ações para fortalecer o pensamento sistêmico de uma organização, ou o sentido de pertencimento, ou mesmo para o café com o CEO ou publicar notícias de interesse comum a uma classe unida em torno de um mesmo objetivo estratégico? É simplesmente o fim do endomarketing!

Falta de aplicabilidade

A quem o empregado terceirizado entregará sua paixão de trabalhar? A quem paga seu salário e benefícios ou a quem ele presta serviços sem qualquer vínculo emocional, profissional – de seguir carreira ou contar com um plano de cargos e salários ou promoção? A quem ele pertencerá de fato? O que interessará a ele conhecer, se informar? Como agirá no dia a dia, ou em situações de crise, sabendo que ali onde trabalha jamais poderá conquistar com seu esforço um cargo de supervisor, gerente, ou diretor? Muito menos na empresa que o terceiriza. É simplesmente o fim da carreira!

Hoje, os serviços terceirizados, normalmente, abrangem atividades como limpeza e segurança nas empresas, e outras como TI. Agora me digam: vocês já viram empregados de fato tratar o pessoal da limpeza e segurança como colegas de trabalho? Na maioria das vezes são pessoas invisíveis, que não recebem nem um bom dia das pessoas empregadas ali. Caso se terceirize todas as atividades meio e fim quem vai vestir a camisa da empresa que contrata esses serviços? Quem vai se esforçar para cumprir metas e planos de ação? É simplesmente o fim do trabalho em equipe, do coleguismo!

Penso que, pela primeira vez na história da comunicação empresarial, algo tão importante como a comunicação interna vai desaparecer, pelo simples fato de que não haverá interesse de públicos distintos convivendo num mesmo ambiente, mas com origens de diferentes outros ambientes empresariais, não quererão saber de credo empresarial, planejamento estratégico, camisa ou coisa que o valha. Os cursos e treinamentos de comunicação terão que abolir os cursos de endomarketing pela simples falta de aplicabilidade. É simplesmente o fim da picada!

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Alexandre Accioly é jornalista, especializado em comunicação empresarial