O Departamento de Defesa dos EUA investirá até US$ 300 milhões, nos próximos três anos, para que empresas americanas privadas que atuam no Iraque produzam matérias jornalísticas, programas de entretenimento e publicidade para a mídia iraquiana. A idéia é ‘inspirar’ a população local a ‘se engajar’ nos objetivos dos EUA e do governo iraquiano.
Quatro empresas – SOSi, Lincoln Group, MPRI e Leonie Industries – irão ‘expandir e consolidar’ o que o Exército americano chama de ‘operações psicológicas e de informação’ no Iraque. O papel militar na guerra de idéias foi sendo transformado nos últimos anos, baseado em recursos generosos do Pentágono e na crença de que o controle da informação é essencial para o sucesso. Oficiais especialistas em comunicação são, hoje, parte integrante das operações militares americanas da Europa Oriental ao Afeganistão.
Contra o terror
O Pentágono luta para se impor sobre o poder de propaganda do grupo terrorista al-Qaeda, cujas operações midiáticas incluem sítios sofisticados e vídeos produzidos profissionalmente com discursos anti-EUA de Osama bin Laden e seus seguidores. ‘Estamos sendo ofuscados por um cara que se comunica de uma caverna’, chegou a desabafar o secretário de Defesa americano, Robert M. Gates. O Exército lembra que há regras rígidas para que não sejam disseminadas informações falsas. ‘Nossos inimigos têm o luxo de não precisar contar a verdade’, dispara o subsecretário de Defesa, Eric Edelman.
As transmissões de rádio e TV financiadas pelos EUA já contribuíram, acreditam críticos, para a melhoria nos serviços do governo, além de promoverem reconciliação política e encorajarem cidadãos iraquianos a denunciar atividades criminais. Quando a euforia nacional atingiu seu auge, no ano passado, após um cantor iraquiano ter vencido um concurso no Líbano, o Exército americano chegou a considerar produzir uma versão do show de calouros American Idol. A idéia foi vista, no entanto, como muito cara.
Polêmicas
Para disseminar as idéias dos EUA no Iraque, o Exército americano pode ter passado dos limites em algumas ocasiões. Em 2006, gerou controvérsia o trabalho realizado pelo Lincoln Group, em que a mídia iraquiana recebia dinheiro para publicar, sem o devido crédito, artigos favoráveis aos EUA. Uma investigação militar concluiu que o trabalho do Lincoln não foi supervisionado de maneira correta, mas não pode ser considerado ilegal. No início deste ano, o New York Times denunciou que analistas militares contratados para comentar a guerra em programas de TV estariam sendo influenciados pelo Pentágono, que fornecia, em troca de comentários positivos, informações privilegiadas e viagens para o Iraque. A Comissão Federal de Comunicações, que regula o setor de telecomunicações nos EUA, abriu inquérito para apurar o caso.
Ainda que a lei americana proíba, oficialmente, o uso de recursos governamentais para propaganda voltada à audiência nacional, os contratos que fazem parte da estratégia de propaganda militar ressaltam que há a necessidade de se ‘comunicar com públicos estratégicos para ganhar aceitação global de mensagens e temas-chave’ do governo. Informações de Karen DeYoung e Walter Pincus [Washington Post, 3/10/08].