Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O Estado de S. Paulo

GOVERNO LULA
João Domingos

Agência da reeleição não terá conta do governo, diz Franklin

‘Desde que assumiu a Secretaria de Comunicação Social, no fim de março, o jornalista Franklin Martins tem dado expediente diário, das 8h30 às 22h30. Considera indispensável a jornada noite adentro para tocar as tarefas que o presidente Lula lhe deu. Entre outras, cuidar da publicidade do governo, tocar o polêmico projeto de criação da rede pública de TV e melhorar as relações do governo com a mídia.

Para evitar desgastes como o de 2005, em que a área de publicidade do governo se viu envolvida no escândalo do mensalão, Franklin tomou uma atitude radical. Enquanto for ministro, a agência que fez a campanha da reeleição de Lula não terá contas no governo. Ele terá R$ 140 milhões para fazer publicidade institucional este ano.

Franklin defende a rede pública de TV e é contra que ela tenha qualquer tipo de publicidade, seja comercial ou governamental. Ele fala ainda de seu passado político e da participação no seqüestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, em 1969, trocado por presos políticos, entre eles o ex-ministro José Dirceu.

Como fará para garantir que o setor de publicidade não seja de novo envolvido em fatos como o escândalo do mensalão, em 2005?

Acho que a publicidade tem de ser totalmente transparente. Defendo que agências que participaram da campanha de um candidato que tenha vencido a eleição não tenham conta do governo federal. Asseguro que do governo a vencedora não terá nenhuma conta. O próprio marqueteiro que fez a campanha da reeleição, João Santana, acha que não deve participar. Acho que esse critério deveria ser adotado por todos os Estados. Uma forma de aparelhar o Estado é usar uma agência para fazer sua campanha e depois lhe passar contas do governo. Isso tem que acabar.

Isso inclui as empresas estatais?

Elas também deveriam seguir o critério de não entregar contas de publicidade às agências do vencedor. Mas aí o governo pode apenas supervisionar.

E como será a distribuição da publicidade estatal na mídia?

A orientação é que o critério seja técnico. Isso quer dizer que jornais terão participação compatível com sua circulação e TVs, com sua audiência. Não cabe ao governo regar ou plantar jornais favoráveis nem criar problema para ninguém. Vai olhar para o objetivo que quer atingir e decidirá onde vai concentrar a divulgação.

Como vê a crítica de que a comunicação do governo é deficiente?

Todos tivemos deficiência de comunicação nos últimos tempos. Passamos por uma crise política brutal, momentos de absoluta selvageria. O governo reagiu à crise – no mandato anterior – se colocando em posição defensiva. E boa parte dos órgãos de imprensa partiu para uma posição muito agressiva. Falavam, escreviam o que queriam, o que é próprio da democracia, da liberdade de imprensa, mas muitas vezes não correspondia a fatos. Todos foram julgados pela sociedade. Isso é inevitável. Todos somos julgados. A lição que o governo tirou é de que deve ter relação mais profissional e mais tranqüila com a imprensa. Acho que a imprensa está tirando também lições. Procura ter postura menos agressiva, voltando àquele velho e bom jornalismo, de se apoiar nos fatos e não em opiniões ou preconceitos. E está fazendo isso porque a sociedade está pedindo.

Por isso o presidente está falando mais com a imprensa?

Por isso. Neste ano o presidente Lula já deu mais de 30 entrevistas coletivas. Não é só aquela com a bandeira do Brasil ao fundo. O presidente está com relações mais fluidas, mais tranqüilas com os jornalistas. Não sou eu quem digo, são os setoristas do Planalto.

O senhor é filiado ao PT?

Não. A nenhum partido.

Por que Lula o chamou para cuidar da comunicação do governo?

Tem que perguntar para ele. Mas acho que ele me chamou porque queria uma relação mais tranqüila com a imprensa e achou que um profissional como eu poderia ajudar nisso.

O senhor está envolvido no projeto de criação da rede de TV pública.

O que se quer é implantar uma rede nacional de TV pública. É diferente da comercial, que produz conteúdo para atrair audiência e vender publicidade. E é diferente da estatal, em que a programação é basicamente de comunicação de governo. A lógica da TV pública é fazer programação de qualidade, com controle social e público. É uma TV pública, não de governo, é plural, não partidária, aberta à diversidade. A programação é de caráter cultural, educativo, com jornalismo isento. Procura abrigar as diferenças culturais e regionais do País. É aberta à produção independente. A idéia do governo é, partindo das estruturas de que dispõe – Radiobrás e TVs Educativas do Rio e do Maranhão -, constituir a espinha dorsal dessa rede.

Não há risco de que emissoras possam ser usadas politicamente por governantes ou partidos?

Pode-se construir um modelo em que só participarão da rede as que evoluam para um modelo de gestão pública. Se for um modelo em que o palácio do governador manda na emissora, na cobertura, e não tem nenhum tipo de controle público, não fará parte dessa rede.

Se o governo pagar, poderá fazer propaganda institucional?

Em princípio não terá comercial, porque a idéia é não ter nada. Do meu ponto de vista, não dá para ter uma TV que em parte é comercial, em parte pública, em parte estatal.

O sr. foi importante adversário da ditadura. Pegou em armas, participou do seqüestro do embaixador Elbrick. Ao tomar posse, o sr. disse que lutou pela democracia…

Acho que todo mundo que lutou contra ditadura no Brasil estava do mesmo lado. Alguns queriam ir além do fim da ditadura; outros achavam que bastava o fim da ditadura; outros que bastava dar uma melhoradinha na ditadura. Tenho muito orgulho de minha militância. Eu lutei contra a ditadura e pelo socialismo. Não penso mais o que eu pensava antes. Mas, na questão central naquele momento, que era acabar com a ditadura militar, não tenho grandes autocríticas. Eu lutei por uma coisa que para mim era fundamental, a democracia. Acho que hoje sou mais democrático do que na época. Tenho uma visão de democracia mais completa. Mas ao mesmo tempo continuo lutando por inclusão social. Acho que é impossível você ter democracia estável num país com a injustiça social que existe no Brasil. E acho que uma das grandes conquistas é que o Brasil botou a inclusão social na sua agenda e não sai mais. Nós temos uma agenda comum, de todas as correntes políticas, que é uma das maiores conquistas da democracia, algo que construímos quase sem perceber. E que poderíamos ter perdido na recente crise sem perceber que a tínhamos construído.

Qual?

Em primeiro lugar, a democracia: queremos resolver nossos problemas pela via democrática. Quem ganhou eleição leva, quem tem menos voto vai para a oposição, os direitos da minoria devem ser respeitados, os direitos e garantias individuais devem ser respeitados. Segundo: devemos ter moeda, porque aquela fórmula mágica de driblar a inflação se revelou um desastre para o País. Terceiro: queremos ter responsabilidade fiscal. Quarto: queremos voltar a crescer. E, quinto, não basta só crescer. É preciso distribuir renda, diminuir desigualdade. Esses pontos hoje são aceitos por 70%, 80% das forças políticas. Eles têm espaços para as divergências, mas balizam a luta política. Se nós mantivermos isso aí, a luta política será muito mais eficiente do que a maluquice de cada um disparando para um lado, desqualificando o outro.

Depois do seqüestro de Elbrick, o sr. foi marcado para morrer. Entre o episódio e a anistia passaram 10 anos. Como conseguiu escapar?

Tive sorte. Fui preso em 1968, no congresso da UNE, antes do AI-5, num momento em que a tortura e a execução dos opositores não tinham virado ainda prática corrente do Estado. Saí da prisão um dia antes do AI-5, fui libertado por habeas-corpus. Depois disso, fiquei metade na clandestinidade no Brasil e metade no exílio. Por que sobrevivi? Um pouco por sorte, um pouco porque tive disciplina pessoal para aceitar certos sacrifícios e cuidar de minha segurança com muito afinco. Mas, no fundamental, acho que tive muita sorte.

Pelo que se sabe, o sr. não pode entrar nos Estados Unidos por causa do seqüestro do embaixador. Se o presidente o chamar para uma viagem para lá, como vai fazer?

Acho que o Itamaraty pediria o visto.

E se for negado?

Costumo brincar com isso dizendo que tanto eu quanto os Estados Unidos sobreviveremos a esse detalhe.

Quem é:

Franklin Martins

É jornalista e foi comentarista político da TV e da Rádio Bandeirantes e da TV Globo

Militante político durante a ditadura, participou em 69 do seqüestro do embaixador Charles Burke Elbrick, trocado por presos políticos, entre eles o ex-ministro José Dirceu’

PUBLICIDADE
O Estado de S. Paulo

‘Estado’ anuncia finalistas do Mídia do Ano

‘Escolhidos atuam na BorghiErh, McCann-Erickson e Talent

O conselho consultivo do 10º Prêmio de Mídia Estadão, realizado pelo jornal O Estado de S. Paulo, divulgou o nome dos três concorrentes ao prêmio Mídia do Ano. Os profissionais foram escolhidos pelo destaque que seus trabalhos obtiveram no meio publicitário ao longo de 2006. São eles: Ângelo Franzão Neto, vice-presidente-executivo de Mídia da McCann-Erickson; Rosana Ribeiro, diretora de Mídia da BorghiErh; e Paulo Stephan, diretor de Mídia da Talent.

A escolha do vencedor do Mídia do Ano será feito pelos próprios profissionais de mídia durante o mês de maio, no site do prêmio. O vencedor será revelado na cerimônia de entrega do Prêmio de Mídia Estadão, realizada este ano no dia 2 de julho, com as comemorações do Dia do Mídia. No ano passado, Hilda Cajade, da Lowe, foi a vencedora.

O objetivo da premiação é incentivar o desenvolvimento técnico da área, valorizar soluções para fortalecer a carreira no setor e descobrir novos talentos.

‘O Prêmio de Mídia faz parte da estratégia de apoiar e desenvolver todas as iniciativas e atividades que dão sustentabilidade ao mercado publicitário, e o trabalho do mídia é um dos principais. Com exceção do Caboré, este é um dos únicos que promovem o melhor desempenho do mídia’, afirma Cláudio Santos, diretor-corporativo de Mercado Anunciante do Grupo Estado. ‘O vencedor é escolhido através do voto dos próprios profissionais de mídia, que valorizam quem apresenta criações e projetos diferenciados.’

VALORIZAÇÃO

Além do Mídia do Ano, no dia 2 de julho serão entregues outros 19 prêmios – 12 para profissionais, seis para estudantes e um para o profissional do ano, escolhido pelo conselho consultivo do evento.

O Prêmio de Mídia Estadão foi criado há dez anos pelo departamento de Marketing do jornal O Estado de S.Paulo. O objetivo era desenvolver um prêmio que se diferenciasse dos demais, geralmente voltados a contemplar somente os anúncios mais criativos.’

TELECOMUNICAÇÕES
Ethevaldo Siqueira

Telecomunicações correm risco de estagnação

‘‘Sem políticas públicas de telecomunicações e sem novas metas de universalização, como as que tivemos entre 1998 e 2002, a tendência é a estagnação’ – afirma Ronaldo Iabrudi, presidente da Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil). Além disso, o governo brasileiro vem impondo barreiras crescentes ao desenvolvimento das telecomunicações, inclusive elevadas alíquotas de tributação. Por essas e outras razões, o setor vive um período de pré-estagnação, que se caracteriza por cinco aspectos negativos:

O setor parou de crescer.

Os investimentos setoriais estão caindo.

Faltam políticas públicas e metas de universalização para o setor.

Os planos de inclusão digital não passam até aqui de discursos, com a vaga promessa de que todos os municípios brasileiros deverão ser cobertos por acessos de banda larga até 2010.

A carga tributária sobre serviços de telecomunicações chega a 41% do total das receitas setoriais. Nenhum país do mundo cobra mais de que 20% sobre o total das receitas desse setor. No ano passado, os tributos sobre serviços de telefonia sugaram R$ 33 bilhões do bolso dos usuários.

Esses aspectos e mais de uma centena de indicadores estão mostrados em um dos melhores e mais profundos estudos sobre a realidade atual brasileira nessa área, com o título de O Desenvolvimento do Setor de Telecomunicações no Brasil – Ano de 2006, elaborado por uma consultoria para a Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil).

O trabalho faz uma radiografia do setor e mostra os riscos que o País corre nessa área. Embora o Brasil tenha progredido de forma significativa até 2001 nessa área, os investimentos vêm caindo ano a ano.

O setor de telecomunicações faturou R$ 144 bilhões, em 2006, o que representou um crescimento 7% sobre 2005. Desde a privatização, suas taxas de crescimento anual têm sido maiores do que as do Produto Interno Bruto (PIB). Em conjunto, a telefonia fixa e a celular representam 83% do faturamento total do setor. A indústria representa 12% e a TV por assinatura, 4%.

TRIBUTOS

O maior fator de encarecimento das tarifas, no entanto, são os níveis de tributação sobre os serviços de telecomunicações pagos pela população, pois, de cada conta telefônica, 41% são impostos. Dos R$ 33 bilhões de tributos arrecadados, R$ 21,3 bilhões foram de ICMS, o que representou um aumento de 10,5% sobre o ano anterior. Enquanto o setor investe de R$ 12 bilhões a R$ 15 bilhões anualmente, os assinantes pagam R$ 21 bilhões em impostos.

TELEFONIA FIXA

Das 42 milhões de linhas telefônicas fixas instaladas no Brasil, 6,5 milhões estão ociosas – o que permite instalação rápida de telefone para qualquer novo assinante. Segundo Aluizio Byrro, presidente da Siemens-Nokia, já ocorreu em São Paulo um caso de atendimento de novo assinante, apenas 3 horas depois de ter pedido o telefone.

As receitas de telefonia fixa, que representam 49% do faturamento setorial, estão estabilizadas. À semelhança do que ocorre em todo o mundo, as que mais cresceram em 2006 no Brasil foram as receitas de serviços de banda larga (25%), gerando R$ 10,6 bilhões.

Para os dirigentes da Telebrasil, apesar de uma relativa estabilização nas receitas de telefonia, local e de longa distância, ainda há margem para crescimento significativo dos negócios em mobilidade, em banda larga e em TV por assinatura.

Para que as telecomunicações continuem crescendo o mínimo previsto para 2007 em telefonia fixa e móvel, o investimento esperado é da ordem de R$ 12,5 bilhões. ‘Mas, para que isso aconteça – ressalta Ronaldo Iabrudi – é essencial que o País também cresça’.

TELEFONIA CELULAR

A telefonia móvel quebrou a barreira dos 100 milhões de celulares em funcionamento em 2006. Esse segmento rendeu R$ 49 bilhões ou 34% das receitas setoriais no ano passado. Com a competição e a expansão do número de assinantes pré-pagos, cai a receita média por usuário (Arpu, do inglês Average Revenue Per User).

A taxa de crescimento da base de assinantes a partir de 2007 tende a ser bem menor do que nos anos anteriores, provavelmente abaixo de 10%. No ano passado, foi de 14%.

Segundo João Cox, presidente da Claro, a rentabilidade do segmento celular no Brasil é não apenas mais baixa do que no restante da América Latina, mas também do mundo. O tempo médio de duração de uma chamada celular no Brasil é o menor do mundo.

Por decisão do governo estadual, Minas Gerais será o primeiro Estado brasileiro a ter cobertura celular em todos os seus municípios. Na opinião do governador Aécio Neves, a introdução do serviço de telefonia móvel num município é um agente de desenvolvimento econômico.’

SÍTIO DO PICAPAU AMARELO
Ubiratan Brasil

Reinações de Monteiro Lobato

‘Maior escritor infanto-juvenil brasileiro, grande incentivador do desenvolvimento do progresso do País, polemista brilhante, modernizador sem ser modernista – poucos duvidam que Monteiro Lobato foi uma figura singular do século 20. Personalidade de múltiplas facetas, movido por sonhos e utopias, ele ainda continua uma fonte de surpresas. Afinal, o mesmo homem que defendeu a exploração do petróleo e incentivou uma verdadeira revolução editorial no Brasil era um apaixonado por doces, fotos e pinturas e, no fim da vida, aproximou-se do espiritismo.

As revelações constam em Juca e Joyce (Moderna), livro de memórias da neta de Lobato, Joyce Campos Kornbluh, que será lançado quinta-feira, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Fatos deliciosos registrados por uma menina mimada pelo avô. No dia anterior, serão lembrados os 125 anos de nascimento do criador do Sítio do Picapau Amarelo, comemoração que começa amanhã, quando se inicia a semana de atividades infantis na Biblioteca Monteiro Lobato, na Vila Buarque – até sexta-feira, o espaço será ocupado por contação de histórias, exibição de filmes e espetáculos de dança.

Ao mesmo tempo, os herdeiros readquiriram, depois de uma batalha judicial, os direitos de republicação da obra do escritor, o que vai iniciar uma disputa editorial por uma jóia tão valiosa.’

***

Herdeiros do autor preparam reedição da obra

‘Juca cultivava hábitos e manias: escrevia durante a madrugada e gostava de guardar pedaços de rapadura no bolso do paletó. Orgulhava-se também de habitualmente ler o dicionário, do primeiro ao último verbete, como fonte de ensinamento e, nos dias frios, vestia a roupa de trabalho por cima do pijama. ‘Meu avô mantinha uma agulha, não me lembro se com linha, enfiada na lapela do paletó para o caso de alguém precisar. Tinha também uma tesourinha que ele adorava e a pinça com a qual arrancava pêlos do nariz sem espelho nem nada. E se a conversa estivesse chata, e ele fosse obrigado a ficar, pegava qualquer coisa, até jornal, dobrava e começava a cortar’, conta Joyce Campos Kornbluh, neta de Monteiro Lobato (1882-1948), carinhosamente conhecido por Juca e que lhe reservava um tratamento especial. É o que se conclui com a leitura de Juca e Joyce.

Ouvinte privilegiada das histórias que Lobato ia criando e, não raro, autora de idéias mirabolantes que acabavam incorporadas aos textos do avô, Joyce contou suas memórias à pesquisadora Marcia Camargos, que preferiu reuni-las ao sabor da lembrança, despreocupando-se em seguir a linha do tempo. O doce-de-coco é o conjunto de imagens que ilustra as histórias, a maioria inédita e feita por Lobato, tanto as fotos captadas por sua Rolleyflex, como aquarelas e pinturas.

Lobato era muito cioso com o trabalho, a ponto de ninguém poder importuná-lo. Joyce conta que o avô levantava entre 3 e 4 horas da madrugada para escrever até as 10. Respondia a cartas e fazia traduções. ‘Quando as crises financeiras se agravavam, todo mundo traduzia, menos vovó, que não sabia inglês’, escreve Joyce, que nasceu nos Estados Unidos.

Quando permanecia em casa, porém, Lobato era um docemaníaco – adorava bolinhos de chuva, biscoito de polvilho, sequilhos, curau, pamonha e mais uma lista infindável de iguarias, que comia e beliscava o dia inteiro. ‘Ele tinha o paladar esquisito e gostava de coisas estranhas’, nota Joyce, lembrando do avô se deliciando com saúvas.

Em casa, Lobato dedicava-se também a responder às cartas escritas pelas crianças. ‘Sempre pediam fotografia e ele mandava.’ O motivo de tanta admiração, os personagens do Sítio do Picapau Amarelo, também é explicada por Joyce: Benta era avó de um colega de Lobato chamado Pedro, na escola primária de Taubaté, e acabou inspirando Pedrinho e Dona Benta. Nastácia veio de uma ama do escritor, um reforço para o matriarcado que dominava o Sítio. ‘Dizem que Emília foi inspirada em mim, mas não tenho certeza’, conta Joyce. ‘Acho que foi pura criação, que ele foi bolando aos poucos. Só sei que meu avô, às vezes, incorporava alguma invencionice minha nas histórias que estava escrevendo.’ Como as torneirinhas substituindo as tetas da vaca, mais práticas e higiênicas.

Lobato era fã de Walt Disney (apaixonou-se pelo filme Fantasia), que conheceu pessoalmente quando foi visitar os estúdios. Ele pretendia fazer com o Sítio um desenho animado semelhante ao do Mickey, com os colaboradores de Disney, mas não conseguiu.

Principal provedor da casa, Monteiro Lobato dedicava-se a diversos afazeres. Quando foi preso, porém, em janeiro de 1941, por condenar a postura do governo, que liberava a exploração do petróleo para companhias estrangeiras, o escritor deixou a família passar por momentos apreensivos. Na cadeia, mantinha uma atitude altiva, dividindo a comida com os colegas.

Solto, passou a arrumar emprego para os que também ganhavam liberdade. ‘Eles apareciam de repente na porta da minha avó. Ela ficava apavorada, mas meu avô escrevia aos amigos: ‘Olha, estou apresentando tal pessoa, espero que lhe arranje um emprego porque é gente boa, honesta, só matou a família, etc.’ Ele nunca deixou ninguém na mão.’

Joyce conta que Lobato não praticava nenhuma religião, mas, depois da morte dos filhos, aproximou-se do espiritismo. ‘Começou a ler sobre o tema e a realizar algumas sessões em casa com uma espírita que punha o copo no centro da mesa, cada um o tocava e, de repente, ele andava.’ Prudente, Lobato combinou com a mulher que, se aparecesse em algum centro espírita depois da morte, ele diria uma frase que só ela sabia. ‘Supostamente, ‘baixou’ em umas 800 sessões, mas nunca repetiu a tal senha. Por isso, minha avó sempre disse que não era ele.’

Tamanha aproximação com Lobato tornou Joyce uma das herdeiras naturais de sua obra, cujos direitos sempre pertenceram à editora Brasiliense. Descontente com a forma como vinham sendo editados os livros (‘com o mesmo aspecto visual desde a década de 1970, sem ilustrações coloridas’), buscou uma negociação. ‘Tentamos, entre 1996 e 1997, fazer com que a editora reformulasse os livros. Como não conseguimos, entramos na Justiça com um pedido de rescisão do contrato de edição. Mesmo porque não poderíamos permanecer em silêncio quando constatamos que a editora tinha deixado de publicar os livros de Lobato no formato de coleções, como estipula o contrato. Ou que não mantinha o estoque mínimo contratual de cada título. Ou, ainda, que não recebemos informações essenciais, desde 1998, tais como as planilhas sobre tiragens, vendas e pagamentos de direitos, sem falar dos demonstrativos anteriores a 1998 nos quais foi constatado um festival de erros.’

Em 2006, os herdeiros conseguiram uma decisão seminal, permitindo a rescisão provisória do contrato. ‘Temos certeza de que os livros voltarão a ser publicados em edições à altura do escritor. E bem mais cedo do que se pensa.’’

Patrícia Villalba e Ubiratan Brasil

O sítio do Picapau amarelo, na tv e no rádio

‘A temporada 2007 do Sítio do Picapau Amarelo na TV Globo começou na segunda-feira como todas as outras, mas há algo bem diferente no ar. Roteiristas da série pretendem se afastar das princesas e dos enredos novelescos que tomaram conta do sítio nos últimos anos e se voltar com mais intensidade ao texto original de Monteiro Lobato.

Nos últimos tempos, em especial no ano passado, a série abusou de recursos folhetinescos para tentar prender o telespectador. Virou praticamente uma Malhação matinal, em que as intrigas amorosas eram pintadas com verniz de pirlimpimpim. Não era exatamente inadequado, mas dava pena de ver como as crianças não pareciam mais interessadas no velho sítio, assim tão descaracterizado e muitas vezes misturado a personagens manjados da Disney.

Carlos Magalhães, diretor de sucessos como TV Pirata além de seis edições do Big Brother Brasil, assumiu o programa com a missão de recontar as histórias de Lobato e cativar ao mesmo tempo crianças pequenas, de 4 e 5 anos, e pré-adolescentes de 12 e 13. A estética é a dos anos 50, mas o contexto não.

Tucanos parece agora uma cidade parada no tempo, apesar de aparelhos modernos em cena. É uma alternativa lúdica ao caos da cidade, onde vive Pedrinho (Vitor Mayer).

Nesta primeira semana, o menino esteve às voltas com o Barão Tremembé (Nelson Xavier), um vilão que, disfarçado de folclorista, quer capturar um saci. Emília (Tatyane Goulart) sai em busca dos índios, ‘primeiros habitantes do Brasil’. São valores ecológicos prosaicos, que soam inocentes perto das aulas de ciências em que as crianças aprendem sobre aquecimento global – para ter pesadelo depois. Mas pode ser vista também como uma forma de tratar o assunto com leveza. Quem vai decidir são as crianças.

Projeto totalmente distinto foi conduzido por Carlos Lacerda e Edgard Cavalheiro que, em maio de 1943, levaram ao ar, pela Rádio Gazeta de São Paulo, o programa No Sítio do Picapau Amarelo. Se a TV hoje busca as origens da obra de Lobato, Lacerda e Cavalheiro aproveitavam a boa aceitação dos personagens para fugir justamente do imaginado pelo escritor para tratar de assuntos que palpitavam no momento.

Assim, o Sítio, em determinado momento é motivo para a dupla falar sobre a 2ª Guerra Mundial, que atingia seu auge na época. No valioso material conseguido pelo pesquisador Vladimir Sacchetta, originais do roteiro do programa, há um curioso diálogo entre os dois locutores.

Em um determinado momento, Cavalheiro afirma: ‘Se as crianças pudessem mandar, o mundo seria um vasto sítio do picapau amarelo.’ E Lacerda responde: ‘E ninguém faria injustiça a ninguém.’ ‘Imagine se a Emília pegasse o Hitler!’, diz Cavalheiro. ‘E se Mussolini ouvisse os conselhos de dona Benta!’, retruca Lacerda. E o bate-bola continua: ‘Eu só queria ver o Hirohito aflito.’ ‘Com as rabicadas do Rabicó…’ ‘Positivamente, é urgente levar para o rádio o pessoal do sítio.’

Em seguida, os personagens do Sítio ganham voz, embora suas aventuras sejam constantemente interrompidas para a leitura de anúncios publicitários que, como atualmente, interferem na ação de forma a parecer natural sua presença.’

TELEVISÃO
José Roberto Sadek

Por favor, deixem as novelas em paz

‘No dia 1º de abril, o professor Renato Janine Ribeiro chamou a atenção, em artigo publicado neste caderno, para o tratamento equivocado que as empregadas domésticas recebem das telenovelas. Para ele, são retratos inadequados, que demonstram preconceitos, longe daqueles que seriam recomendados em uma sociedade justa. Alguns desses mesmos fatos, porém, podem ter outra versão. A correção política no tratamento de categorias profissionais ou de várias minorias é assunto que cada vez mais vem complicando a vida dos autores e sua liberdade de criação. Os comentários do professor parecem ser a ponta de um iceberg que gera cobranças indevidas a filmes, músicas e telenovelas. Embora alguns personagens possam ser lidos com os óculos da militância, podem também ser olhados como partes integrantes da arquitetura dramática de uma história que se conta, nas quais distintos personagens precisam exercer funções diferentes, independentemente de quem sejam.

A entrada dos temas sociais nas telenovelas surgiu praticamente ao mesmo tempo em que o merchandising entrou nas tramas. Talvez uma reação consciente dos autores, que passaram a incluir também no texto dramático temas que lhes eram caros. Trabalhavam causas ligadas à cidadania e, ao mesmo tempo, atraíam mais espectadores. Tanto o merchandising de produtos como os temas sociais são informações extradramáticas, dispensáveis do ponto de vista da história que se conta, mas acabaram bem-aceitos pela audiência. Em meio a beijos e traições, cenas nos falam das vantagens de bancos, lingeries, aparelhos celulares, restaurantes, carros, e, intercalados a elas, outras cenas tratam de aborto, tráfico sexual de menores, migração ilegal, exclusão de portadores de deficiência, falta de órgãos para transplantes.

Historicamente, o público dá importância ao amor, às intrigas e aos desdobramentos que esses dramas poderão ter. O amor é o tema principal das histórias desde a Odisséia. A diversão e o interesse parecem vir daí e não da possibilidade de ascensão social de algum personagem ou do tratamento mais ou menos digno que outros possam ter. Vilões sempre tratam mal os demais personagens, pertençam eles ou não a alguma minoria. Os bonzinhos tratam bem a todos.

O comportamento politicamente correto é necessário e muito cabível nas práticas políticas, no exercício da cidadania, nos confrontos democráticos. Mas as telenovelas não são responsáveis pelo equilíbrio social ou pelas mudanças da sociedade. Se delas esperamos tudo isso é porque talvez nossas práticas políticas tenham sido malsucedidas. Mas nas telenovelas (e demais histórias) há outros componentes a serem considerados, principalmente de natureza dramática. Vejamos o caso de Regina da Glória, a simpatissíma empregada da família Murat em Belíssima. Ela é uma personagem de comédia (peço não confundir comédia com os grosseiros programas de humor da TV), responsável em grande parte pelo sucesso da telenovela. Enquanto muitos personagens se amarguravam com a interminável luta pelo poder e pelas ações da fábrica Belíssima, Regina e outros personagens tratavam tudo com boa dose de humor inteligente, fazendo o contraponto dramático necessário para manter o interesse da audiência. Ela era uma das protagonistas daquela telenovela, participou ativamente de muitos desenvolvimentos, e foi tratada como tal. Era mandada para a cozinha quando dava palpites supostamente impertinentes, o que pode ser entendido como autoritarismo.

LÓGICA CRISTALINA

Por outro lado, tratava-se de um recurso dramático dos autores para valorizar a inquestionável lógica cristalina da personagem que desconcertava seus interlocutores, que atestava um forte contraste entre seu raciocínio claro e o barroco pensamento da família de imigrantes. Mandá-la para a cozinha é um atestado de inteligência dado a ela pelos autores e reconhecido pelos demais personagens que, sem argumentos, não a podiam contestar. Ademais, era sempre mandada para a cozinha com humor, o que era recebido por ela também com humor.

O bordão ‘Resina da Glória – Cocina’ caiu no agrado dos espectadores e foi repetido incessantemente Brasil afora. Um fenômeno de comunicação, assim como ‘Copiou Farinha’, de Seu Gomes (América), ou do quase ancestral ‘Quem matou Odete Roitman?’, de Vale Tudo, que, depois de quase 20 anos, ainda é repetido. Uma telenovela não pode se dar ao luxo de dispensar um trunfo tão grande como este para satisfazer a cobrança politicamente correta. Com o sucesso do personagem, naturalmente os autores se viram obrigados a usar o refrão ainda mais, aumentando a graça das cenas em que ela estava presente. A telenovela mostrou extremo respeito com Regina, como por exemplo, numa situação afetivamente delicada, quando ela se declarou a Narciso, e ele, carinhosamente, explicou já estar noivo de Tais. Ou quando Regina disse querer se casar e foi acolhida imediatamente por Katina. Era uma personagem redonda, com vida, alma, desejos e contradições. Foi interpretada com enorme qualidade técnica por Lívia Falcão que, com seus diretores, soube dosar ironia, descaso, consciência e humor nas medidas adequadas para cada cena. Gozou de status superior a Matilde, a empregada de Bia Falcão, saco de pancadas da patroa. A função de Matilde no drama era bem diferente da função de Regina. Matilde era apenas uma personagem-escada, que servia para mostrar a agressividade de Bia. Regina, como uma das protagonistas da telenovela, atuava e alterava os andamentos dramáticos. Não se pode considerá-la menosprezada porque era mandada para a cozinha quando suas falas eram pertinentemente incômodas. Ela teve posição privilegiada no conjunto de personagens.

As histórias precisam de vilões, de personagens secundários, e até de personagens esquemáticos, cada um com sua tarefa dramática, independentemente de serem empregadas, patroas, prostitutas ou freiras. As duas empregadas de Ana Luisa, mulher do todo-poderoso Antenor em Paraíso Tropical, têm a função clara de mostrar como ela é generosa e ama o marido. Quando falam entre si, dirigem-se aos espectadores com a clara missão dramática de assegurar que a audiência perceba que Ana é enganada pelo marido, que ela não o merece, e que faz papel de boba. Não é tarefa menor, é uma função dramática. As duas empregadas são personagens rasos, assim como é raso Xavier, um dos diretores do grupo comandado por Antenor. Este executivo tem a função de explicitar os desagradáveis comportamentos machistas e preconceituosos. Cabe ao colega a função de deixar bem claro aquele tipo de conduta. Ambos, a dupla de empregadas e o executivo, são personagens sem desenvolvimento, secundários, com explícitas funções dramáticas (até este momento da telenovela), independentemente de suas posições sociais.

O mesmo tipo de cobrança politicamente correta é seguidamente feita quando há personagens homossexuais. Ou aparecem como heróis impecáveis ou seus autores são criticados. Um casal heterossexual pode ter crises, um personagem heterossexual pode ter dúvidas ou ficar deprimido, mas se isso ocorre a um casal homossexual vem a argumentação primária de que o autor é preconceituoso e que afirma (sem de fato afirmar) que a causa é o homossexualismo, como se todos os problemas do mundo viessem da opção sexual do personagem, e que, ridiculamente, a causa dos males do mundo é sua escolha.

Os autores de Paraíso Tropical encontraram uma boa maneira de contornar as críticas dos politicamente corretos: Rodrigo e Tiago formam um casal harmônico, sem grandes crises de convivência, o que permite a Hugo, também homossexual, ter seus problemas. Havendo um casal exemplar, o outro pode ter conflitos. É uma no cravo e outra na ferradura. Rodrigo tem muito mais peso como personagem do que seu parceiro, que é apenas um esquema de personagem que serve apenas para indicar que Rodrigo não esta só. Rodrigo, por seu lado, tem conflitos consideráveis, sem qualquer relação com sua homossexualidade. Ele sabe que o patrão Antenor ilude sua amiga Fabiana, mas goza da confiança do chefe. O personagem está entre contar para a amiga a verdade, ser leal a ela, e desleal ao patrão, ou não contar a ela e manter o emprego. Hugo, este sim com conflitos familiares por sua homossexualidade, desponta como um personagem importante, não por sua opção sexual, mas por associar-se a Taís, que promete ser uma das maiores trambiqueiras das telenovelas.

É bom para os dramas (e para a audiência) ter gente complicada nas tramas, é bom ter gente trapaceira, gente capaz de manobras de qualquer espécie para ser bem-sucedida. Dão mais interesse e graça às tramas, fazem as histórias ficarem mais divertidas. Sem problemas não há boas histórias, independentemente da minoria a que pertencem ou da ideologia que defendem.

As cobranças politicamente corretas, às vezes pertinentes, começam a criar entraves criativos para que se conte boas histórias, pois, se todos os personagens são corretos e se o mundo é tão antisséptico, não haverá problemas, e, sem problemas, as histórias ficam insossas, sem interesse.

MIL ANOS

As Mil e Uma Noites, uma espécie de bisavó das telenovelas e talvez a primeira matriz das histórias divididas em capítulos, é composta por muitas aventuras diferentes, várias delas com escravos, que muitas vezes são açoitados e outras tantas são mortos sumariamente. Não se pode acusar o livro de defender maus-tratos aos escravos. Tampouco se pode esperar que proponha uma revolução contra o islamismo. O livro conta histórias e encanta as pessoas há mais de mil anos. Os escravos lá estão porque fazem parte de histórias passadas no tempo em que ter escravos era normal. Ninguém supervalorizava isso. Em outras histórias do mesmo livro, os escravos são os seres inteligentes que resolvem os problemas ou que salvam a vida de seus senhores, quase como super-heróis.

Na vida real, é muito saudável que se cobre correção política das ações e daqueles que fazem e executam as políticas. Que não se cobre das telenovelas ou das músicas uma responsabilidade que não lhes é pertinente. A elas, basta entreter os espectadores com boas obras, e, quando possível, que levantem algum tema que a prática política não consegue trabalhar. Liberdade de criação também é marca da democracia.

José Roberto Sadek é doutor em Comunicações pela ECA-USP, com tese sobre a relação entre filmes e telenovelas’

Bruna Fioreti, Silvia Campos e Taíssa Stivanin

A tv pública que funciona

‘No momento em que o Brasil ensaia o lançamento de uma nova TV pública na esfera federal, o TV & Lazer foi buscar, entre outros países, informações sobre esse negócio de televisão que, financiada em parte pelo governo, não chega a ser ‘chapa branca’ – só para mencionar um termo refutado pelo presidente Lula, que convocou o jornalista Franklin Martins para tocar a idéia. Ao contrário: algumas das TVs públicas no estrangeiro exibem até programas com críticas ao governo que de alguma forma as financia. A conta também é paga, em várias nações, e em especial na Europa, pelo contribuinte, que desembolsa uma taxa anual para ver TV pública.

Na Europa, a televisão foi, desde os primórdios do negócio em vários países, incluindo a Inglaterra da BBC, uma taxa pública. No Brasil, esse vício já nasceu abastecido pela publicidade – cabe ao telespectador consumir ou não. O hábito de não pagar para ver TV já surge como a primeira distância entre uma TV pública brasileira e a BBC, citada pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa, como referencial do novo projeto.

Daí porque o modelo da TV pública britânica não pode ser simplesmente transposto para a realidade brasileira. ‘Canais públicos internacionais são referenciais a serem considerados na ampla discussão que o momento exige’, fala a pesquisadora da Universidade de São Paulo e ex-TV Cultura Tereza Otondo.

Esse ‘momento’ inclui o anúncio de que a transmissão digital começa a acontecer ainda em 2007 na região metropolitana de São Paulo. Na prática, a implantação da TV digital traz uma mudança a mais nos hábitos do telespectador: cada canal no controle remoto corresponderá a quatro sintonias.

E será um desestímulo à audiência nos canais da rede pública, que pela lei deverão ficar entre o número 60 e 69, bem distante dos primeiros canais, destinados à TV comercial. ‘Assistir à TV é hábito e por isso a mudança de canal deve ocorrer de forma mais natural possível’, explica o pesquisador da USP Laurindo Leal Filho. ‘Com os canais públicos distantes dos comerciais fica difícil angariar a audiência das grandes redes de comunicação.’

Audiência sempre foi problema para os canais públicos de televisão nacionais. Nem de longe, eles conseguem arranhar o ibope das emissoras comerciais. A TV brasileira mais bem-sucedida no quesito audiência, a TV Cultura, dificilmente passa dos 4 pontos, mesmo sendo invariavelmente a mais bem cotada quando o assunto é qualidade na programação, em pesquisas do Meio & Mensagem.

De onde vem o dinheiro

Falta de verba ou objetivos distintos? Cada especialista tem uma tese para explicar o fenômeno da baixa audiência da TV pública nacional. Mas muitos concordam que a supremacia das TVs comerciais no Brasil tem a ver com ambos: falta de programação atrativa e de dinheiro. ‘O ritmo da TV comercial é o de clipe e o povo já se acostumou, além disso, ela tem dinheiro e consegue, com isso, produção com muita qualidade técnica’, diz o professor Laurindo.

O presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci, sentenciou em artigo publicado em novembro de 2006, depois do primeiro fórum das TVs públicas: ‘Para a TV pública, só um caminho é possível: não competir com a televisão privada.’ Seria, segundo Bucci, uma questão de foco. Sob esta lógica, caberia à TV privada entreter e à pública, os conteúdos ditos ‘chatos’, que não cabem na TV comercial.

Mas isso não significa abdicar da audiência? ‘É possível fazer uma TV pública interessante, cheia de conteúdo concernente à sua missão, num ritmo diferenciado do modelo comercial, mas interessante, capaz de alavancar ibope’, defende Laurindo Leal. Para isso, diz, bastaria se apropriar da produção cultural já existente e divulgada em algumas TVs públicas do País, acrescentar faixas de vídeo e notícias de forma o mais isenta possível. Tudo com um financiamento misto, parte vindo do Estado e parte por apoio cultural, mas sem anúncios no intervalo.

O financiamento das TVs públicas é uma decisão peculiar a cada país. No caso do Brasil, a rigor, todas as TVs são estatais, conforme diz Tereza Otondo, porque são parcial ou totalmente financiadas pelo governo. Nos anos 90, quando, no governo Mário Covas em São Paulo, aventou-se a possibilidade de se pagar uma taxa vinculada à energia elétrica destinada à TV Cultura, a proposta foi mal recebida pela sociedade.

No exterior, essa espécie de imposto para a rede pública de comunicação vai bem em muitos países, até porque, em alguns, a audiência dos canais comerciais e públicos se equipara, tendo como referência dados de 2003. No caso do Reino Unido, a audiência da TV pública (46%) ultrapassa a da TV comercial (30%) e os outros modelos (24%). A rede pública britânica BBC é financiada por um imposto pago por todos os cidadãos. O pagamento pelo povo funciona no Canadá, nos Estados Unidos, na Alemanha, na França e na Itália, entre outros. Bem diferente do Brasil, diz Leal: ‘Dificilmente se pode aplicar modelos que exijam o pagamento de mais um imposto pelo povo em países menos abastados, como o nosso.’’

Bruna Fioreti

Anuidade do povo paga BBC

‘O exemplo mais conhecido de TV pública no mundo é a britânica BBC. Mais que a tradição, a rede se tornou um fenômeno de mídia no Reino Unido, onde foi criada em 1922, e em todo mundo, pelos canais que levam o nome da rede para vários países.

Enquanto a BBC World depende de publicidade, o dinheiro da matriz britânica vem de uma taxa anual de 116 libras cobrada por domicílio com aparelho de TV. Isso equivale a 12 centavos de libra por habitante e dá um orçamento de 2,5 bilhões de libras. ‘Esse sistema é bem aceito porque é a proposta desde o início, e existe mesmo participação da sociedade e controle sobre o que deve ser exibido na TV pública’, diz o professor da USP, Laurindo Leal Filho, autor do livro A Melhor TV do Mundo, o Modelo Britânico de Televisão.

As constantes comunicações com a audiência também ajudam na identificação do povo do Reino Unido com a emissora: em 2003, 46% do ibope estava nos canais públicos e 30%, nos comerciais. Os 24% restantes de audiência iam para outros modelos de televisão.

Com oito canais de TV e cerca de 50 emissoras regionais, a BBC do Reino Unido é hoje uma rede que se propõe a ‘entreter, educar e informar’ e é usada de alguma forma por 90% da população, segundo informações institucionais. São dois canais infantis, um do Parlamento, um de notícias e a BBC do 1 ao 4.

O controle é feito com uma administração bem definida: diretor-geral mais 12 diretores, todos se reportando a um Conselho Curador que representa o povo. Esse Conselho monitora o que é feito na BBC e faz um relatório anual apresentado à população e ao Parlamento. Modelo bastante eficiente, segundo a pesquisadora Tereza Otondo: ‘Se o Brasil quiser se inspirar na BBC pode começar por sua rigorosa prestação de contas anual.’’

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Infantil é o forte na PBS

‘A Voz da América é o canal de TV estatal dos Estados Unidos veiculado apenas no exterior. O povo americano mesmo tem acesso à PBS, sigla de Public Broadcasting Service, rede de televisão pública com 354 emissoras nos Estados Unidos, Porto Rico, Ilhas Virgens, Guam e Samoa Americana. A penetração no território norte-americano é financiada por um orçamento que em 2003 esbarrava em US$ 324 milhões, segundo divulgou a então vice-presidente de programação da PBS Alyce Myatt.

A maior faixa da audiência nos EUA migrou há tempos para os canais pagos, presentes em mais de 80% dos lares no país. Segundo o Nielsen Media Research, a PBS não figura entre os canais mais vistos dos Estados Unidos, como Fox, CBS e ABC. Mesmo assim, a TV pública retém o dobro do ibope que a maior parte dos canais comerciais.

Fundada em 1969, a PBS tem um sistema de financiamento misto: parte vem do governo e a maior parcela é de origem privada. De um lado, a rede se mantém com dinheiro do espectador, não por uma taxa anual, mas por campanhas de arrecadação de três a quatro vezes por ano. A verba do governo, menos expressiva que a quantia arrecadada pelo sistema popular, vem de um fundo chamado Corporation for Public Broadcasting (CPB). Na década de 1970, cerca de 30% do orçamento da TV pública vinha do CBP, hoje o governo responde por 15%.

No quesito conteúdo, a PBS se presta ao papel educativo nos programas infantis, que a tornam uma espécie de babá para crianças de até 10 anos. Também é conhecida pelos documentários, noticiários e programação local. Mas como a TV pública não financia programa, ela aceita patrocínio.’

Silvia Campos

No Canadá, sátira ao governo

‘Imagine se a TV aberta brasileira exibisse programas como American Idol ou Grey’s Anatomy ao mesmo tempo em que eles são vistos nos Estados Unidos, e gastando metade do que consome um programa nacional, com lucro cinco vezes maior?

Essa situação é real no Canadá, país que sofre com a influência da máquina cultural americana desde o início das comunicações de massa. Na parte francesa do país o problema é bem menos grave, mas pergunte a qualquer canadense de língua inglesa qual o seu programa de TV preferido e quase sempre a resposta vem da terra do Tio Sam. No horário nobre, cerca de 80% da programação das duas principais redes de TV privadas é estrangeira – principalmente americana.

Assim, a rede pública de televisão da Canadian Broadcasting Corporation (CBC) foi a solução encontrada para resguardar e promover a produção e cultura canadense. Pela legislação, ela deve ter programação predominantemente nacional e de alta qualidade cultural. ‘Nossa responsabilidade é diferente daquela das TVs comerciais. Enquanto elas têm um compromisso com os acionistas, os nossos acionistas são o povo canadense’, afirma a porta-voz da CBC Katherine Heath-Eves.

Segundo ela, cada canadense paga cerca de 30 dólares canadenses em impostos por ano para ajudar a financiar os 28 serviços de comunicação oferecidos pela CBC, que, além de redes de televisão e rádio em francês e inglês, incluem portal na internet e até uma gravadora e distribuidora de música. Só as TVs da CBC receberam 946 milhões de dólares canadenses do governo no ano passado, ou quase metade de seu orçamento total, de 1.704 bilhão. A venda de espaço publicitário e a exportação de programas contribuem para fechar o orçamento.

Apesar do grande financiamento vindo do Estado, Jeff Keay, outro porta-voz da CBC, garante que o governo não tem influência alguma na programação. ‘A CBC é uma organização sem fins lucrativos completamente independente’, diz. ‘Não há ninguém do governo na administração da emissora e muitas vezes os governantes não gostam das críticas feitas em nossos programas.’

Para constatar, basta assistir à CBC numa sexta-feira à noite, quando comédias como This Hour Has 22 Minutes, The Royal Canadian Air Farce e The Rick Mercer Report ridicularizam os políticos canadenses como faz o Casseta & Planeta. As comédias são um sucesso na CBC, assim como o noticioso CBC News The National, um dos telejornais mais assistidos do país. A emissora é famosa também pela produção de séries dramáticas, muitas com temas canadenses, e documentários.’

Taíssa Stivanin

Equação francesa

‘Por 30 anos, existiam apenas três canais na França, totalmente controlados pelo Estado, inclusive financeiramente. Esse modelo de TV também estipulava cotas de anúncio, condenando a publicidade livre. Em 29 de julho de 1982, vem a lei que autoriza as licitações que permitiriam empresas privadas de explorar o serviço. ‘Quando o monopólio acabou, todo o conceito da TV francesa mudou. Ela passou a ter três objetivos: informar, educar e distrair. O objetivo é tornar os canais mais autônomos e imparciais. Hoje a TV não é uma TV do governo’, diz o pesquisador francês Denis Ruellan, do Instituto de Informação Comunicação da Universidade de Rennes.

Desde então, a França possui cinco canais públicos : Telefrance 2, 3, 4 e 5, além do RFO (Réseau France Outre Mer), dedicado a assuntos de colônias francesas. A Telefrance 1, a princípio canal público, foi vendida em 1987 a um grupo de seis acionistas. É o canal mais popular do país, com 32% de audiência (os índices do Audimat, o Ibope francês, variam entre 0,5% e 35%). TF1, comparável à Globo, exibe Star Academy, versão francesa do Fama, e tem os apresentadores mais populares da TV francesa, que hoje conta com 18 canais abertos.

A TV pública francesa não difere tanto das redes privadas. Ambas fazem concorrência ponto a ponto. ‘É uma hipocrisia ter uma TV pública que precisa concorrer com a TV privada para se manter financeiramente’, diz a diretora do departamento de Jornalismo da Sciences Po, Agniès Chauveau.

Cada canal público tem uma cartilha a seguir. ‘A concessão na França não é eterna’, diz Denis. A renovação acontece a cada oito anos. ‘Certos princípios devem então ser respeitados’, explica Ruellan. São princípios como a cota de língua francesa, o que significa incluir na programação atrações que contribuam para a difusão da francofonia. O órgão responsável pela vigilância dos canais, privados ou públicos, é o CSA (Conseil Supérieur de l’Audiovisuel), formado por conselheiros indicados pelo governo, geralmente especialistas do setor. ‘É o CSA que pode decidir se um canal tem direito a renovar a concessão’, explica o pesquisador. Isso está longe, entretanto, de ser instrumento de censura.

O acordo entre governo e canais também inclui a definição de uma linha editorial: Telefrance 2 e 3 são canais públicos e populares. A TF2 deve ter programas voltados para jovens (do gênero do extinto Disney Club, do SBT) ou séries engraçadinhas à la MTV. TF2 ainda exibe séries importadas como a americana Amour, Gloire et Beauté. Quanto à TF3, um de seus carros-chefes é o jogo Questions Pour un Champion, uma espécie de Show do Milhão. TF4 e TF5 são essencialmente mais culturais, mas nem por isso TVs educativas.

O francês é um aficcionado por jogos, bem ao estilo SBT. É uma preferência tão declarada, que todos os canais produzem programas do gênero, exibidos normalmente em horário nobre, depois do Telejornal das oito. O mais antigo, na TF3 de segunda a sexta, é o Des Chiffres et de Lettres e está no ar desde 1965 (!)

E onde fica a cota de língua francesa exigida pelo governo ? Em detalhes sutis, muito sutis. Os jogos incluem questões de ortografia, vocabulário ou cultura francesa. É verdade que o jogo na rede pública tem ares mais ‘culturais’. ‘Existem diferenças de conteúdo, ainda que ela não seja tão evidente’, diz a diretora.

Quem sustenta

A TV pública francesa sobrevive de publicidade e do Redevance Audiovisuelle, imposto criado em 1935 para o rádio e depois utilizado para a TV. A taxa, de 120 euros anuais, em média, é cobrada de cada cidadão que possui um televisor. Cada vez que alguém compra uma TV em uma loja, deve preencher um formulário enviado em seguida ao Tesouro Público francês. O imposto é enviado com a taxa de habitação, o que evita a fraude.

Para que a TV pública possa ser mais autônoma, sem depender da audiência que atrai anunciantes, há um debate sobre o aumento dessa taxa entre os dois principais candidatos à presidência, Nicolas Sarkozy e Segolène Royal. Sarkozy, o favorito, é contra o aumento. Royal ainda não se pronunciou, mas, por tradição, o Partido Socialista francês defende o financiamento da TV pública. ‘O problema é que sustentar o público vai contra os princípios da economia liberal’, explica Chaveau. ‘Por isso a TV pública francesa vive essa situação, tendo que concorrer com as privadas.’’

Bruna Fioreti

No Chile, a líder

‘Ela é pública, mas adota o sistema comercial. Tem por dever zelar pela formação do cidadãos chilenos, mas não cai no paradoxo do conteúdo educativo que patina no discurso didático. É com essa fórmula que a Televisão Nacional do Chile é líder de audiência.

A TV Nacional existe desde o início dos anos 90 como um canal público e capaz de ser transmitido mundialmente por seu braço internacional, a TV Chile. Claro que não por acaso a data é vinculada à abertura política pós-general Augusto Pinochet (1973-1990). ‘Houve uma ampla discussão acerca do projeto de comunicação que a população queria’, diz a pesquisadora da USP Tereza Otondo, ex-TV Cultura.

Incluindo quatro canais, a TVN tem transmissões diretas da Ilha de Páscoa e da Antártida, somando 140 transmissoras no país. Tudo isso vem da verba conseguida com o modelo comercial, totalmente independente de financiamento estatal. A Nacional está inserida no mercado competitivo, mas tem missão definida por lei: ter programas de qualidade e mostrar a ‘pluralidade’ do Chile.

É um jeito de ter dinheiro sem ser ‘chapa-branca’ nem se render totalmente aos interesses comerciais. Há espaço para um programa de grandes reportagens e documentários, noticiários, esporte, cinema, música, séries, telenovelas, infantis…

O resultado da variedade se reflete na audiência: no dia 9 de abril, por exemplo, os cinco programas mais vistos no Chile foram da TVN, segundo o Time Ibope. A líder é a novela Corazón de Maria, no horário nobre, seguida do jornalístico 24 Horas exibido logo depois. Situação de audiência similar à brasileira, só que não com a Cultura, mas com a Globo.’

Leila Reis

A arte do fazer

‘Ao assistir Maria Esperança, remake nacional do sucesso mexicano Maria Mercedes, que rendeu muito ibope no passado, a sensação é a de que o SBT desaprendeu a fazer novelas. O drama estrelado pela boa atriz Bárbara Paz é mais cucaracho do que as legítimas mexicanas.

Texto, figurino, interpretação, iluminação, tudo é exageradamente tosco, caricato mesmo, o que explica a pequena audiência de 4 pontos de média (Grande São Paulo). Afinal, o público do SBT gosta de dramalhões, mas com um mínimo de qualidade. O que está no ar anula um passado de produções corretas. Éramos Seis (1994), dirigida por Nilton Travesso, representa o auge dessa boa teledramaturgia que marcou audiências inéditas para emissora no gênero: 20 pontos de média.

Mas como TV se aprende fazendo, a intermitência do canal de Silvio Santos na ficção em capítulos acabou prejudicando a produção. Há um outro exemplo em sentido contrário dentro da própria emissora. O reality show Ídolos, que acaba de começar a segunda temporada, cresceu em comparação à edição do ano passado.

Formato importado e sucesso nos Estados Unidos (American Idol) há alguns anos, o concurso de talentos apresentado pelos saltitantes Lígia Mendes e Beto Marden parece ter amadurecido.

A fase inicial – em que o programa mostra a seleção dos 30 candidatos que vão para as semifinais disputar a condição de ‘ídolo brasileiro’ e um contrato com a gravadora Sony – perdeu o ritmo enfadonho da primeira edição, em que a explicação do funcionamento da competição ocupou quase uma hora de programa. Convencida de que o público já dominou a dinâmica, a direção conseguiu valorizar as audições classificatórias – em Florianópolis, Belo Horizonte e Salvador – com uma boa edição.

Como no Estados Unidos, aqui também o maior trunfo do programa é o corpo de jurados. Tanto que mal Ídolos entrou no ar, o Pânico na TV montou uma seleção escrachada de candidatos ao estrelato com uma imitação bem caracterizada de Arnaldo Sacomani, Cys, Thomas Roth e Eduardo Miranda.

Mais tarimbados, eles interpretam melhor o papel que lhes cabe, dando mais credibilidade a seus ataques de irritação, à discordância dos colegas e aos conselhos e repreensão aos candidatos. A melhor performance de todas é a do produtor Miranda, que tem um tipo de humor mais contemporâneo e parece se divertir mais dos que os outros.

O maior atributo do programa nesta fase é delinear bem o perfil dos aspirantes a acontecer no show biz. Ídolos tem conseguido agregar mais entretenimento ao show pinçando entre os candidatos algumas figuras muito pitorescas.

Com algumas delas, monta uma seção fashion para destacar as tendências da moda escondida na grande fila de espera. Improvisa um desfile, com jurados e notas, de participantes vestidos da maneira menos convencional.

Mas a parte mais interessante é quando dá destaque a tipos que, mesmo não sendo portadores de qualidade artística, são figuras engraçadas e criativas na empreitada de destacar-se na multidão.

São professores, estudantes de medicina, escriturários, desempregados ou pobres diabos que acham que podem mudar sua biografia por mágica. E cujo talento – que todos acreditam piamente que têm – poderá levá-los ao Olimpo, ou seja, à tela da televisão.’

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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