A decisão de permitir que os 15 militares britânicos detidos no Irã vendessem suas histórias à imprensa – posteriormente anulada pelo Ministério da Defesa – foi bastante criticada no Reino Unido. O curioso é que entre alguns dos maiores críticos estavam jornais que fizeram, eles próprios, ofertas polpudas aos marinheiros.
Segundo artigo de Richard Norton-Taylor e Will Woodward para o Guardian [13/4/07], o Daily Mail teria enviado por e-mail uma oferta de ‘quantia substancial’ aos militares, mas atacou a posição dos ex-reféns e do ministro da Defesa, Des Browne, depois te der a oferta rejeitada. Na semana passada, o jornal trouxe a manchete ‘Eles não venderão suas histórias, ministro’, com fotos dos caixões dos quatro soldados britânicos mortos no Iraque há duas semanas.
De acordo com o editor-assistente Charles Garsuide, qualquer investida do diário ‘foi feita antes do Ministério da Defesa decidir que os militares poderiam lucrar pessoalmente com seus depoimentos’. ‘Naturalmente, nós estávamos interessados, por questões jornalísticas, em descobrir o que tinha acontecido com eles; e em função deles servirem às Forças Armadas, era muito mais provável que esta informação viesse apenas de suas famílias. Nós não chegamos a oferecer alguma quantia específica’, declarou.
Pelo menos dois dos militares presos no Irã receberam dinheiro em troca de seus relatos. Faye Turney, a única mulher do grupo, teria cobrado 60 mil libras ao tablóide The Sun, e o Sunday Mirror teria pagado 20 mil libras ao marinheiro mais novo dos 15, Arthur Batchelor, de 20 anos.
Abaixo assinado
A polêmica em torno do pagamento aos militares continua no Reino Unido. Não se sabe ao certo a extensão do envolvimento do Ministério da Defesa. Orientação datada de 2004 dá conta de que qualquer autorização para falar à mídia ‘sobre questões nacionais’ deve ser obtida através do Ministério.
Downing Street, sede do governo britânico, permitiu que fosse colocada uma petição em seu sítio onde se pede que o ‘primeiro-ministro identifique e demita a pessoa responsável por declarar que membros das forças armadas podem vender seus relatos’. O documento já conta com mais de quatro mil assinaturas.