Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Filósofo debate TV e ética no Roda Viva

Determinadas pessoas tornam-se fontes regulares de consulta e opinião para a mídia. Assim é o filósofo Renato Janine Ribeiro, professor de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo e autor de 11 livros. Convidado do programa Roda Viva, da TV Cultura (segunda, 2/5), ele debateu questões sobre ética, cultura, sociedade, política e religião – uma conversa ampla que abordou do governo Lula até a função dos shoppings na vida dos cidadãos.


Um dos principais assuntos, porém, foi a televisão. O mais recente livro lançado pelo professor, O Afeto Autoritário: Televisão, Ética e Democracia [ver remissão abaixo], reúne ensaios já publicados na imprensa sobre o tema. Janine falou sobre o papel da TV na realidade brasileira, considerada por ele instrumento civilizador. Segundo ele, as telenovelas e programas como o do apresentador Ratinho exercem grande influência sobre a população. A televisão passa a ser ‘o lugar onde as pessoas aprendem a lidar com certas coisas’, afirmou, deixando claro que ‘civilizar’ nem sempre pode ser visto como uma ação estritamente positiva.


Ético, mas nem tanto


Questionado se o fato de a população brasileira viver dividida entre a realidade e a ficção – no sentido de que a influência de gostos e costumes sobre as pessoas é significativa – vai de encontro às questões éticas, o professor ressaltou a simpatia parcial pelo tema ético no Brasil. Para o brasileiro, é importante ser ético apenas até determinado ponto.


Ele ilustrou a explicação com dois programas da Rede Globo: nesta última edição do reality show Big Brother, formou-se uma corrente de apoio ao participante Jean, professor homossexual. Não custava torcer por ele, diz Janine, pois isso teria influência direta na vida do telespectador – o prêmio em dinheiro iria cair nas mãos de algum dos confinados, no fim do programa. Já em um episódio do finado Você Decide em que uma pessoa encontrava uma maleta cheia de dinheiro e tinha que escolher se ficava com ele ou doava para um orfanato, o público decidiu que o dinheiro deveria ficar com quem o achou. No país onde a máxima do ‘se dar bem’ é exaltada, o público se transporta para o lugar do personagem que encontrou o dinheiro e revela o que faria em uma situação que poderia acontecer em sua vida.


Educar para reivindicar


Renato Janine Ribeiro criticou a falta de uma política pública sobre a TV e defendeu o fortalecimento do público. Ele diz que esta é uma tarefa extremamente difícil, pois os telespectadores são pulverizados; não existem associações que os unam e nem, entre a maioria deles, a consciência de que a qualidade da programação televisiva é algo a ser questionado. Ajudaria se as emissoras abrissem canais para o público fazer críticas ou reclamações, por números de telefone gratuitos e ombudsman. Mas o essencial, diz o professor, é o enriquecimento cultural da população – por meio da educação, maior acesso à leitura, às artes e ao cinema.


‘Temos hoje, na mídia, uma grande ágora’, afirmou, referindo-se à praça principal das antigas cidades gregas, que muitas vezes abrigava as assembléias do povo. A televisão é o assunto comum da sociedade. Em pontos de ônibus, filas de banco, supermercados ou com o taxista discute-se o fim da novela, o jogo de futebol, a violência mostrada pelo telejornal na noite anterior.


Entrevistaram Janine Ribeiro, além do apresentador Paulo Markun, Gabriel Priolli, diretor presidente da Associação Brasileira de Televisão Universitária; Oscar Pilagallo, da revista EntreLivros; a filósofa Olgária Matos; o jornalista Caio Túlio Costa, do Instituto DNA-Brasil; Oscar Hipólito, da Universidade da Cidade de São Paulo; e o consultor da TV Cultura Dario Vizeu.