’29/04/05
Folha e ‘Estado’ destacam em suas manchetes as mudanças anunciadas na equipe econômica do governo Lula.
Folha – ‘Palocci nomeia ex-assessor de Malan’.
‘Estado’ – ‘Palocci põe conservador como o 2º da Fazenda’.
‘Valor’ também chama a atenção para as mudanças, mas tem como título principal o surpreendente desfecho do caso Telecom Italia/Opportunity: ‘Dantas vende participação à Telecom Italia e sai da BrT’. O assunto, badaladíssimo em tantas ocasiões e acompanhado de perto pela Folha quase como uma novela, sequer mereceu uma referência na capa do jornal.
‘O Globo’ abre um grande espaço na sua capa para tratar da América Latina. Sob o selo ‘Os capitães da América’, o jornal publicou a manchete e uma seqüência de chamadas, todas ignoradas pela Folha: ‘Plano Colômbia não detém narcotráfico após cinco anos’ (a manchete), ‘EUA ignoram apelo de Lula e voltam a ameaçar Venezuela’, ‘Dirceu: amizade com Hugo Chávez é ‘de outra natureza’ e ‘Amorim busca consenso para a crise no Equador’. O jornal do Rio, assim como o ‘Estado’, tem foto de Fidel Castro com Hugo Chávez.
Manchete do ‘Agora’ e do ‘Extra’ tratam de um assunto importantíssimo e também ignorado pela primeira página da Folha: ‘INSS erra, e 1,3 milhão deve corrigir o IR’ (‘Agora’) e ‘INSS erra no Imposto de Renda de 2,8 milhões de aposentados’.
América Latina
Não dá para entender o que aconteceu hoje com o noticiário a respeito da América Latina (Brasil e Mundo) da Folha.
Depois de dias seguidos acompanhando de perto as crises e notícias da região, a ponto de ontem, acertadamente, chamar a atenção para a instabilidade na Nicarágua, o jornal hoje praticamente esquece o assunto.
Há dois textos em Brasil (‘Não pedi o recuo a Chávez, diz Dirceu’ e ‘Lula sugeriu a Rice não endurecer o diálogo com Chávez’, pág. A4) e o acompanhamento da crise no Equador (‘Amorim não mais pedirá eleição já no Equador’, ‘Gutiérrez oficializa a condição de asilado’ e ‘Kirchner veta ida de Bielsa em missão a Quito’, pág. A13).
As crises no México e na Nicarágua estão reduzidas a duas notinhas de pé de página. E há o registro de um militar brasileiro ferido no Haiti.
O jornal simplesmente ignora o encontro de Fidel Castro e Hugo Chávez em Cuba para o lançamento da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas) e a continuação da visita da secretária de Estado Condoleezza Rice à Colômbia.
Os dois fatos estão ligados e deveriam ter tido a atenção do jornal.
Os títulos do ‘Estado’ talvez ajudem a perceber a importância do que se omitiu:
‘Contra a Alca, a Alba de Chávez e Fidel’,
‘Últimas medidas acirram conflitos’,
‘Venezuela limita os juros a 28%’ [ao ano], ‘Assembléia [da Venezuela] aprova lei sobre latifúndios e divisão de terras’,
‘Polícia reprime protesto estudantil em Manágua’,
‘Condoleezza promete mais ajuda à Colômbia’,
‘Plano Colômbia não reduz fluxo de cocaína para EUA’ e
‘Fox recua e prefeito da Cidade do México festeja’.
Janio de Freitas sugere, na coluna de hoje (‘Mensageira da crise’, pág. A5), que o jornal continue a perseguir relatos confiáveis de como foram as conversas fechadas de Rice com as autoridades brasileiras:
‘O noticiário dos últimos dias foi pródigo em produções ficcionais. Ainda se sabe muito pouco dos pormenores conversados entre Condoleezza Rice e os representantes do governo brasileiro. Mas o pouco que se sabe, sobre o clima geral, é simples e indicativo: as amenidades da secretária ficaram para suas exposições externas’.
Imposto de Renda
A Folha trata com a maior normalidade, como se fosse algo corriqueiro e sem efeito prático, o erro cometido pelo INSS que prejudicou mais de um milhão de aposentados. É a manchete do ‘Agora’ (‘INSS erra, e 1,3 milhão deve corrigir o IR’), primo popular da Folha, e de todos os jornais de banca. E é destaque em todos os jornais que raciocinam como prestadores de serviço. O erro do INSS é um absurdo e provocou uma onda de indignação que o título da Folha, ‘Novo informe do INSS poderá gerar problema’ (pág. B13 de Dinheiro), não percebeu.
É claro que a notícia do dia não era o registro de agenda de que termina hoje o prazo para a declaração do Imposto de Renda, mas os transtornos para os aposentados.
Telecomunicações
O jornal trata do novo episódio da disputa pela Brasil Telecom em duas páginas distantes: na B9, onde está o noticiário (‘Italianos voltam ao controle da Brasil Telecom’), e na pág. B2, onde publica um bastidor importante sobre a briga (‘Citi pode barrar acordo de Dantas’). Faltou uma remissão para facilitar a vida do leitor e valorizar a edição.
Aviso
Participo segunda-feira, dia 2, do seminário ‘Mídia e violência’ organizado pelo Cesec da Universidade Cândido Mendes. Por esta razão não haverá a Crítica Interna.
28/04/2005
A economia e seus indicadores voltam a ocupar as manchetes dos jornais. Não são boas notícias. Aos poucos muda o humor dos jornais.
Folha – ‘Mais brasileiros ganham até um salário mínimo’. O título poderia ter uma formulação mais direta, como está no ‘Valor’: ‘Cresce número dos que ganham menos’.
‘Estado’ – ‘Indústria e emprego mostram desaceleração da economia’.
‘Valor’ – ‘Queda do crédito reforça a desaceleração da economia’.
‘JB’ – ‘Cresce pressão sobre Banco Central’.
‘Correio Braziliense’ – ‘Brasileiro corre, sim, atrás do juro baixo. Difícil é encontrar’.
‘Estado de Minas’ – ‘Alencar e Severino querem tirar poder do BC sobre juro’.
O ‘Globo’ é uma exceção – ‘Maioria do STF já apóia aborto de feto sem cérebro’.
A foto ‘Águas mais sujas’ e a qualidade de sua impressão (nos exemplares que recebi) são decisivas para a composição feliz da capa da Folha de hoje.
Estranho que, com tantas notícias sobre a América Latina, o jornal dê chamada na primeira página da Edição Nacional para a internação da ex-primeira-dama do Equador, em Brasília. Na Edição SP, substituiu pela crise que cresce na Nicarágua.
Rumo a 2006
O texto que anuncia a decisão do PFL de recorrer à Justiça contra a intervenção da União nos hospitais do Rio (‘PFL que impeachment de Lula, diz Cesar’, pág. A10) deveria lembrar a posição dúbia do próprio prefeito do Rio, que inicialmente disse que apoiava a medida. As circunstâncias da intervenção são mais complexas do que a reportagem resume.
Brasil
O jornal está com um repórter em Roraima acompanhando a crise gerada no Estado pela demarcação da reserva Raposa/Serra do Sol. Era de se esperar que houvesse espaço no jornal para mais reportagens sobre o ambiente que encontrou.
A Edição Nacional de hoje tem apenas a reação irritada do governador do Estado, que está em Brasília, e nenhuma linha sobre os policiais feitos reféns pelos índios em Flechal (‘Governador de RR pede apoio contra decreto’, pág. A12). A Ed. SP tem notícia sobre o refém, mas curta: ‘Roraima não consegue soltar refém’. O ‘Estado’ traz a notícia do fracasso das negociações já na sua primeira edição, a de circulação nacional.
Um assunto que sumiu é o das denúncias contra o ministro Romero Jucá.
Segundo o ‘Estado’, o ministro José Dirceu foi designado por Lula para coordenar a elaboração do projeto para a Lei de Comunicação Social Eletrônica.
Mundo
O jornal destina, com acerto, duas páginas no caderno Mundo para a América Latina, além das que edita em Brasil sobre a visita da secretária de Estado Condoleezza Rice. Escolado com o desfecho da crise no Equador, dá visibilidade hoje para a crise na Nicarágua.
A cobertura da visita de Rice e os textos sobre a diplomacia brasileira em relação aos EUA e América Latina publicados em Brasil deveriam ter feito remissão para as páginas de Mundo. É lá que os leitores encontrarão as notícias sobre o Equador, a Nicarágua e sobre a chegada de Rice à Colômbia.
Administração
A Folha informou ontem que o Banco Mundial faria uma auditoria nas contas da gestão Marta Suplicy a pedido do prefeito José Serra. O assunto teve chamada na primeira página da Edição São Paulo. Hoje, o jornal informa que ‘Serra nega auditoria externa na prefeitura’.
Segundo a reportagem, a notícia de ontem fora confirmada por fontes do jornal na prefeitura e no Banco Mundial. A publicação da notícia e a forte reação que provocou no PT teria gerado uma crise entre o banco e a prefeitura. A crise levou a prefeitura a negar o pedido de auditoria e a informar que a missão estará restrita à avaliação da situação econômica e social da prefeitura e dos seus programas sociais.
Embora a nota divulgada pela prefeitura afirme que a notícia da Folha de ontem estava errada, as informações publicadas hoje indicam que o jornal deve estar certo.
É necessário, no entanto, que o assunto tenha continuação, ou seja, que o jornal encontre evidências ou provas de que o pedido era realmente de uma auditoria das contas da prefeita Marta Suplicy e que a notícia não era mentirosa.
27/04/2005
A visita da secretária de Estado Condoleezza Rice é o principal assunto dos maiores jornais.
O ‘Estado’ tem a única manchete que ressalta o questionamento à política externa do Brasil em relação à Venezuela. O jornal entendeu que Rice mandou um recado para o governo brasileiro: ‘Condoleezza critica apoio a governo Chávez’.
A manchete da Folha é insossa: ‘Rice vê Estados frágeis na América do Sul’.
Outras manchetes:
‘Globo’ – ‘Brasil e EUA fazem pacto em defesa da democracia’.
‘Valor’ – ‘Superávit na área externa alcança recorde histórico’.
A Folha altera a capa de sua Edição SP para incluir a foto de Lula com a modelo Naomi Campbell, o pedido do prefeito José Serra para que o Banco Mundial audite as contas da prefeitura e a morte do escritor Roa Bastos.
Painel do Leitor
O editorial ‘Democracia Inacabada’, publicado domingo na Folha, não se referia especificamente a indicadores de desenvolvimento do governo Sarney. Não faz sentido, portanto, a carta do ex-presidente publicada hoje no Painel do Leitor (‘Democracia’). Imagino que seja uma deferência do jornal com o ex-presidente, mas ele tem coluna própria às sextas-feiras na página A2 que dispensa a ocupação do espaço do leitor.
Pressão americana
A visita da secretária de Estado Condoleezza Rice, o ‘risco’ Chávez (Brasil) e a crise no Equador (Mundo) são os principais assuntos do jornal hoje e há um evidente esforço de cobertura. A Folha dá mais espaço que os outros jornais para a visita de Rice, tem informações próprias (‘EUA ligam Venezuela a armas no Haiti’), reproduz o artigo do ‘NYT’ que virou referência ontem em todas as coberturas, tem artigos analíticos e destaca o discurso de FHC sobre a atual política externa.
Acho, no entanto, que a cobertura está incompleta em dois aspectos:
– Como o triângulo Brasil/Venezuela/Estados Unidos serviu como fio condutor da cobertura, o jornal deveria ter dado espaço para reportagem ou artigo que expressasse o ponto de vista da Venezuela. As análises se fixam no ‘risco’ Chávez, sem que, certas ou erradas, as razões que orientam hoje as políticas externa e interna de Caracas estejam explicitadas.
– O jornal tem poucas informações sobre a viagem do ministro José Dirceu a Caracas e sobre o seu encontro com Rice. O jornal tem um texto pequeno e com título de relatório: ‘Dirceu recebe Rice após viagem a Caracas’ (pág. A13).
Segundo o ‘Estado’, ‘Dirceu falha em aproximar Chávez e EUA’, ‘Lula deixa ‘eixo do mal’ com chefe da Casa Civil’ e ‘Ministro a Condoleezza: ‘O Chávez não me ouve’.
A entrevista com o historiador Francisco Carlos Teixeira da Silva (‘Brasil é parceiro dos EUA por exclusão’) trata da ‘novidade que é a participação de Dirceu na política externa, o jornal ‘Valor’ tem longa análise sobre esta participação (‘papel corretor de certas posturas do Itamaraty’) e o ‘Estado’ tem editorial bastante crítico, ‘Diplomacia quadricéfala’.
Segundo o ‘Globo’, o Brasil disse não a dois pedidos de Rice: ao apelo para mediar a crise dos EUA com a Venezuela e ao pedido de enviar um observador para a cúpula que reunirá países da América do Sul e da Liga Árabe. A Folha tem um texto em que o assessor Marco Aurélio Garcia nega que o Brasil possa intermediar a relação entre os EUA e a Venezuela, mas não faz menção a um pedido explícito de Rice neste sentido.
Quanto ao Equador, o artigo ‘O risco Chávez’, de Rosendo Fraga (pág. A13 de Brasil), fala no reconhecimento do Brasil, dos EUA e da União Européia ao novo governo de Palácio. Tinha lido que não houve ainda o reconhecimento formal, e que a OEA relutava em fazê-lo. O jornal poderia esclarecer estas filigranas diplomáticas.
Quem é o atual presidente do Equador? A cobertura da crise naquele país tem três reportagens e um artigo (pág. A14 de Mundo). Nenhum cita o nome de Alfredo Palácio, que assumiu a presidência do país com a destituição de Lucio Gutierrez.
O ‘Estado’ conseguiu entrevistar e fotografar a cadete Karina Gutierrez, a filha do presidente destituído do Equador. Ela preferiu ficar em Quito servindo no Exército a acompanhar a família asilada no Brasil. O drama da escolha entre o Exército e a família transformou-a numa ótima personagem.
Questão indígena
O jornal não informa a localização de Flechal, onde quatro policiais federais são mantidos reféns pelos índios (‘Índio diz que só solta refém se reserva cair’, pág. A6). Estas reportagens que retratam as fronteiras do país deveriam ter sempre a preocupação de tentar situar o leitor. Flechal fica dentro de Uiramutã, cidade de onde o repórter enviou seu relato? É longe da cidade, próximo?
A localização também deveria estar no mapa que acompanha a arte ‘Protestos contra a homologação’. E esta arte deveria conter a ficha técnica da nova reserva.
A reportagem ‘Professores na reserva denunciam ameaças’ informa que a reserva abriga 15 mil índios de cinco etnias. Já o texto ‘Descontentes são minoria, afirma Funai’ fala em 2.000 índios. Uma das informações está errada.
25/04/2005
Embora os jornais continuem empenhados em decifrar o enigma Ratzinger, o assunto deixou as manchetes dos jornais no final de semana. Folha e ‘Globo’ se voltam, no DOMINGO, para um problema cada vez mais grave, os planos de saúde:
Folha – ‘Governo vai socorrer planos de saúde’.
‘Globo’ – ‘Médicos fraudam planos de saúde reutilizando material’.
Não senti firmeza na manchete da Folha. Uma coisa é a preocupação do governo com a situação explosiva do setor. Outra, é a forma como pretende encarar o problema. A criação de linhas de créditos com recursos oficiais é uma ‘intenção’, uma vontade de parte do governo e não depende exclusivamente dele. Acho que a ‘intenção’ valia um registro no jornal e era um bom motivo (gancho, na linguagem jornalística) para uma reportagem de mais fôlego sobre os planos de saúde. Mas não sustenta uma manchete. O jornal reporta com mais cuidado outras ‘intenções’ do governo, como a vinculação de recursos para o Fundo de Desenvolvimento do Ensino Básico, muito bem dada no Painel (A4).
Manchete do ‘Estado’: ‘Empresários pressionam por mais comércio com EUA’.
A cobertura intensíssima, pelas TVs, rádios, Internet e jornais, do resultado do conclave, anunciado terça-feira, parece ter envelhecido as revistas, que circularam na sexta e no sábado:
‘Veja’ – ‘A Igreja congelada’.
‘Época’ – ‘A Igreja se fecha’.
‘IstoÉ’ – ‘Papa Bento XVI’.
‘Carta Capital’ – ‘Miserere Nobis (Tende piedade de nós)’·
O interesse principal dos dois maiores jornais de São Paulo nesta SEGUNDA é com a operação de resgate do presidente deposto do Equador e sua chegada ao asilo brasileiro.
Folha – ‘Operação tira Gutiérrez do Equador’.
‘Estado’ – ‘Gutiérrez sai escondido do Equador e está no Brasil’.
O ‘JB’ tem informação além da operação de resgate – ‘Extradição ameaça ex-presidente’.
No ‘Globo’, manchete local: ‘Bandidos invadem faixa de rádio exclusiva da polícia’.
O ‘Valor’ mostra que mudou o humor na economia: ‘Ritmo de crescimento da importação começa a cair’, ‘Queda recorde nas captações no exterior’ e ‘Dólar põe direção da GM em ‘pânico’.
DOMINGO
A Folha tem vários investimentos jornalísticos bem sucedidos neste domingo.
Destaco:
– O envio de um repórter para Pacaraima (Roraima) para acompanhar de perto a crise que envolve o Estado desde a homologação da reserva Raposa/Serra do Sol (‘Homologação de reserva faz cidade de RR virar ‘chavista’, em Brasil, pág. A13).
– Os artigos (em Mundo) e o debate (Mais!) que continuam a se debruçar sobre o significado da eleição do novo papa e sobre suas idéias.
Observação: a Folha publicou, enfim, entrevista com o teólogo Leonardo Boff. Deve ter sido o último jornal a fazê-lo.
– O fim do setor da geral do Maracanã (‘Após 55 anos, Maracanã fecha a geral e fica menor’, capa de Esporte).
– A reportagem sobre a nova linguagem dos jovens influenciados pela Internet (‘Pq us jovens tc axim?’, em Cotidiano).
– A pesquisa e a análise feitas por Sérgio Dávila da cobertura jornalística do julgamento de Michael Jackson (‘Jackson é condenado (ao descaso da mídia)’ na Ilustrada).
Planos de saúde
Sempre que o governo tem uma idéia nova que exige gastos sem retorno lembra-se do BNDES e do Banco do Brasil. Para sentir a repercussão, lança a idéia nos jornais. Raramente estas idéias vingam. Mas os jornais as publicam como se fossem políticas de governo implantadas.
É o caso, hoje, das manchetes do jornal e do seu caderno Cotidiano. Embora o texto deixe claro que é ‘intenção’ do governo criar linhas de crédito com recursos do BNDES e do BB para socorrer as empresas de planos e seguros de saúde, o jornal trata como um fato: ‘Governo vai socorrer planos de saúde’. A manchete do caderno é ainda pior: ‘Governo Lula cria programa de apoio financeiro para os planos de saúde’ (Ed. SP) e ‘Lula cria socorro financeiro a plano de saúde’ (na Ed. Nacional).
Segundo o texto da Folha, a ‘intenção’ é criar duas linhas de crédito, originadas ‘a princípio de duas instituições estatais’ (BNDES e BB). O texto informa ainda que o BNDES desconhece a proposta. Mesmo assim o jornal é categórico: ‘Banco estatal elabora linhas de financiamento para aquisições e fusões de empresas’.
O assunto é importante. O fato de alguém no governo estar cogitando de socorrer os planos de saúde é notícia e deve estar no jornal. Mas não da forma como saiu na Folha.
Outro senão: o jornal poderia ter aproveitado o gancho jornalístico para uma reportagem aprofundada sobre o tema, o papel do governo nesta história, como tudo chegou a este ponto, o desmanche do sistema de saúde pública, enfim, poderia ter explorado vários aspectos, mas não o fez. A reportagem que segue, na página C3 da Ed. SP, também é um plano, um projeto, uma vontade, uma intenção: ‘Planejamento quer dar plano a servidor’.
Importância do BNDES na edição de domingo dos três maiores jornais:
Folha: ‘Governo vai socorrer planos de saúde’ (manchete do jornal e do caderno Cotidiano) e ‘BNDES reduz juro de empréstimos’ (‘Mercado Aberto’, em Dinheiro)
‘Estado’: ‘BNDES vai voltar a ser sócio de empresas’, entrevista com o vice-presidente Demian Fiocca.
‘Globo’: ‘BNDES vai reduzir os juros de financiamentos’.
SEGUNDA
O ‘Estado’ já trazia na edição de ontem, domingo, foto dos quatro policiais federais presos e vigiados por índios com arcos e flechas em Uiramutã (RR).
O jornal aproveita bem o espaço da ‘Entrevista da 2ª’ com uma análise sobre a crise no Equador e em outros países da América do Sul, embora o título ((‘É preciso ensinar novas elites latinas a governar, diz analista’) use de forma imprópria o termo ‘elites latinas’. A observação da diretora da Latinobarómetro se refere aos países do continente.
O jornal usa La Tacunga e Latacunga para se referir ao local perto de Quito onde o ex-presidente do Equador embarcou rumo ao Brasil.
A Folha tem um texto sobre os investimentos brasileiros no Equador (‘Empresas brasileiras têm fortes interesses comerciais no Equador’, pág. A9), mas não relata os contenciosos em curso e potenciais. Segundo o ‘Valor’, as empresas brasileiras como Petrobras e Ambev já enfrentam problemas e são previstas mais dificuldades para outras empresas que investem no país. O jornal também apenas registra o descontentamento do governo argentino, mas não explora o assunto.
Aviso
Participarei amanhã, em São Paulo, do programa com os trainees. Não será feita a Crítica Interna.’