No caso da menina Isabella, no qual a mesma foi morta após ter sido jogada da janela de um prédio em São Paulo, a imprensa perdurou por vários dias na cobertura do evento e, com razão, foi criticada por explorar tudo o que podia, ficando evidente a busca pela audiência com o uso persuasivo da emoção. Nos dias subseqüentes foram noticiados casos parecidos de crianças atiradas pelas janelas.
O mesmo comportamento da imprensa pôde ser observado no caso de uma menina torturada pela madrasta em Goiânia e em casos de pedofilia. O mesmo acontece quando, por exemplo, a queda de um avião vira notícia. De repente, começam a cair aviões por todos os lados e até teco-teco que cai em sítio vira notícia.
Isto ocorre porque a imprensa usa o mecanismo da lembrança recente do telespectador. Como o assunto está em voga, casos similares entram na pauta e também começam a ser interessantes para a audiência. A mídia percebe quando o público gosta do assunto e oferece ao mesmo casos parecidos. Perceba que um único caso policial é capaz de deflagrar vários outros similares que são trabalhados e amplificados pela imprensa.
O caso Lindemberg, com certeza, não era o único caso de seqüestro que estava ocorrendo naquele momento. Mas um órgão de imprensa o escolheu para noticiá-lo. Por contaminação, minutos depois, outras mídias com o mesmo interesse também o noticiaram, gerando uma bola de neve de audiência.
Detalhes pela televisão
Assim, o instigante caso Isabella ficou para escanteio. Agora, a onda na imprensa é o caso Lindemberg, o garoto que seqüestrou a ex-namorada e a matou num apartamento em Santo André, na Grande São Paulo.
O caso Lindemberg foi mais um ‘circão’ em que a imprensa estava lá com toda sua pompa de seriedade aparente, afirmando fazer jornalismo, mas um jornalismo que explora, pois fica muito tempo causando frisson no telespectador, aumentando o clima de terror e de insegurança, podendo mesmo atrapalhar os trabalhos dos policiais.
Inclusive, neste caso, se havia energia elétrica no apartamento, o assassino bem poderia estar vendo pela televisão detalhes de toda a movimentação dos policiais que estavam do lado de fora.
Nova moda na imprensa
Para um público mais esclarecido que condena o sensacionalismo evidente, a imprensa oferece especialistas e peritos de renomadas universidades para comentar o caso. Até artistas são chamados para comentar. Por exemplo, quem é fã do Roberto Carlos poderá se sentir melhor após uma declaração dele. Assim, não importa o grau de instrução que tenha o telespectador, a imprensa procura aproveitar o caso para satisfazer a todos os públicos que, de certa maneira, se sentem envolvidos emocionalmente após terem recebido uma alta carga de informação através das mídias.
Seguindo a lógica previsível do sensacionalismo emocional, a imprensa, nos próximos dias, vai fazer chorar todos os pacientes que receberam os órgãos doados pela menina assassinada.
Em Sorocaba, na região de Brigadeiro Tobias, no último domingo, um rapaz também assassinou a ex-namorada – tomara não tenha ele se inspirado em Lindemberg. A mesma história: a namorada não aceitou reconciliação, o rapaz foi à casa dela e a matou. Isto prova que casos similares entraram na pauta da imprensa local. Assim, em cada cidade, algum órgão de imprensa deverá trazer algum caso parecido, aproveitando a ‘onda Lindemberg’.
Portanto, a moda na imprensa agora é noticiar seqüestro de ex-namorada, de preferência seguido de morte.
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Web-jornalista, sócio-diretor do site VIVAcidade, e especialista em Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, Sorocaba, SP