Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Uma nova visão do eleitorado feminino

O visual de Sarah Palin, a candidata à vice-presidência dos Estados Unidos pelo Partido Republicano, foi notícia, em toda a imprensa, na semana passada. Isso porque o partido gastou 150 mil dólares em tailleurs, sapatos, bolsas, cabeleireiro e maquilagem para tornar a candidata mais fascinante para o eleitorado feminino. A notícia foi divulgada aqui, com direito a várias fotos, em todos os jornais e revistas.

Mas nenhum jornal ou revista – aqui ou lá – questionou a eficiência dos gastos nem se deu ao trabalho de perguntar às mulheres se elas mudariam seu voto em função do visual de um candidato. Tentando imitar o estilo Hillary Clinton, o Partido Republicano mais uma vez subestimou as mulheres. Não enganou as mulheres, mas conseguiu agitar a imprensa, que adora falar de mulheres quando o tema é futilidade.

Enquanto Sarah era notícia pelas roupas, as mulheres que decidem foram notícia com menos destaque no artigo da France Press, divulgado pela Folha de S.Paulo: (‘Mulheres podem definir a eleição em favor de Obama’):

‘A história mostra que as mulheres votam mais em função das propostas do que das pessoas… As mulheres e os homens têm prioridades claramente diferentes e essas diferenças se expressam além das linhas partidárias… As mulheres são economicamente mais vulneráveis do que os homens, envolvidas com maior freqüência nos problemas cotidianos. E, por causa disso, elas têm necessidade de segurança social e aspiram a programas mais baseados nesse tema’ (Folha de S.Paulo, 22/01/2008).

Um recado que pode mudar o panorama

A análise é de Allyxon Lowe, diretora do Centro para as Mulheres, a Política e as Políticas Públicas da Pensilvânia, da Universidade Chatham, de Pittsburgh, ao explicar a vantagem do democrata Barak Obama nas pesquisas. Uma análise que deveria servir de referência para os partidos e para a imprensa ao analisarem eleições.

Quem sabe está aí a explicação para o fato de aqui mesmo, nas eleições municipais de domingo, as mulheres terem tido resultados tão fracos na disputa das capitais? Será que algum jornal vai tentar explicar a derrota de Marta Suplicy, que apelou até para o apoio do ex-marido na reta final da campanha, depois de ter se queixado publicamente por ele ter tornado a separação um assunto público? Como se explica que em Porto Alegre três mulheres não conseguiram derrotar o candidato à reeleição? Isso, numa cidade que tradicionalmente não dá um segundo mandato a prefeitos?

Se Allyxon Lowe está certa ao dizer que ‘as mulheres votam mais em função das propostas do que das pessoas’, está na hora de partidos políticos e da imprensa começarem a tratar as eleitoras com mais respeito. Não basta dizer que as mulheres já são a maioria do eleitorado. É preciso mostrar em que pontas as eleitoras diferem dos homens na hora de fazer sua escolha. As mulheres brasileiras, talvez mais até do que as norte-americanas, ‘são economicamente mais vulneráveis do que os homens, envolvidas com maior freqüência nos problemas cotidianos’. E por causa disso têm necessidade de segurança social e aspiram a programas mais baseados nesse tema. Um recado que, se bem entendido, pode mudar o panorama nas próximas eleições. E mudar, principalmente, a forma como a imprensa discute candidaturas, especialmente as candidaturas femininas.

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Jornalista