Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A hora da verdade

O grande desafio do jornalismo econômico começa agora. Passado o pânico, o que restou do mercado financeiro deve retomar a vocação de gangorra e retornar ao habitual despenca-dispara especulativo.


Na quinta-feira (30/10), o índice Bovespa fechou em alta pelo terceiro dia consecutivo, com um ganho de quase 19% na semana. Significa que o perigo passou? Ao contrário, o perigo é exatamente o mesmo, agravado pela perigosa aparência de normalidade.


A armadilha que ameaça a imprensa e o jornalismo econômico em particular esconde-se justamente sob essas fugazes bonanças. Eventuais melhorias nos pregões, índices ou taxas serão efêmeros. Já estamos num processo recessivo, embora em alguns países seus efeitos levem mais tempo para manifestar-se – caso do Brasil.


Radar do processo


Depois de anos fomentando bolhas e surfando em miragens, a imprensa precisa aprender a ser veraz. Ser veraz significa ser infenso a espasmos de euforia. Qualquer arroubo otimista será enganoso. É bom lembrar que enquanto muitos atores do processo econômico já bateram no peito e ensaiaram seus pedidos de desculpa, até o momento a imprensa ainda não teve a humildade para retomar sua vocação de serviço público e reconhecer sua nefasta contribuição na construção da irracionalidade.


Não será fácil: a indústria jornalística vive principalmente das vibrações que emite em direção do consumismo, dos modismos e dos apelos para o prazer. O jornal ou jornalista que assumir plenamente suas responsabilidades como radar do processo econômico será punido não apenas pelos anunciantes, mas por aqueles que apostam numa pronta reversão do quadro, inclusive os governos.


Esta é a hora da verdade da imprensa. Se repetir a enganação anterior estará condenada à descartabilidade definitiva.