Há situações hilárias. Há situações patéticas. Há situações ridículas. E há situações absolutamente absurdas, inaceitáveis e revoltantes.
O caso da ‘vovó cineasta’, que ao longo de dois anos registrou em vídeo a rotina da criminalidade nas encostas de Copacabana, é emblemático sobre esse último tipo de situação. Foi nada menos que vergonhosa a cobertura da imprensa a respeito do caso. Todas as notícias que vi sobre o assunto se limitaram a enaltecer a bravura da ‘velhinha justiceira’ sem observar o que de mais importante havia ali.
Não contesto nem desmereço o trabalho e a demonstração de cidadania da vovozinha. Pelo contrário. Uma dose de senso de coletividade como o dela é artigo raro no Brasil. Fixamos o olhar em nosso próprio umbigo, fazemos de conta que o mundo e os problemas ao nosso redor são meras abstrações e assim tocamos a vida, colaborando com a perpetuação da realidade terceiro-mundista que não larga do nosso pé.
Muito trabalho…
Só que o que a imprensa não percebeu (ou teve preguiça de perceber) é que a ação da vovó é a prova mais cabal da falência de qualquer tipo de política de segurança pública no Brasil. O Estado definitivamente abriu mão da sua responsabilidade e atribuiu ao cidadão o papel de polícia, de investigador e, claro, o de eterna vítima (por isso, duvido muito que o desarmamento vingue por aqui).
As palavras do secretário de Segurança do Rio, Marcelo Itagiba, na coletiva sobre o caso deveriam ter sido duramente questionadas, ou mesmo combatidas, pelos jornalistas que ali estavam, e não meramente reproduzidas em tom ufanista.
Mas isso daria muito mais trabalho e, certamente, não renderia uma chamada tão interessante quanto a da ‘vovócop’.
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Jornalista, Brasília