Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Por trás das eleições municipais

O festival de lugares-comuns que marcou a cobertura das eleições municipais deste ano, especialmente nas capitais da região Sudeste, finalmente chegou ao fim com a cobertura das apurações do segundo turno. Floresceram velhos estereótipos, como o do candidato-poste, aquele que se elege graças a bons padrinhos – caso atribuído pelos analistas ao candidato Márcio Lacerda, conduzido pela aliança entre o governador de Minas, Aécio Neves, do PSDB, e o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, do PT. Esses estereótipos não servem para explicar a complexidade do momento político e ocupam o espaço de reflexões que poderiam ajudar o leitor a entender o Brasil que sai das urnas neste ano e se prepara para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os analistas prediletos dos jornais e das emissoras de TV são os ‘especialistas’ convidados e os antigos repórteres de política que, por méritos variados – entre os quais se destaca certamente a capacidade de se manter dentro do círculo de tolerância ideológica de seus patrões –, conquistaram o direito de colocar mais explicitamente suas opiniões.

A seleção dessas fontes de opinião resulta em análises muito homogêneas, o que chama mais atenção quando se leva em conta o especial momento político em que vive o Brasil. Mas mesmo a homogeneidade não consegue evitar contradições.

Fichas em jogo

Discute-se, por exemplo, se e quanto a popularidade do presidente da República influenciou as escolhas nos municípios. Nesse ponto, aparece a contradição quando um mesmo jornalista ou agregado afirma que o presidente não carregou votos para os candidatos a prefeito. Mas a mesma questão tem resposta diversa no caso citado de Belo Horizonte, do governador de Minas e do atual prefeito apoiando um ‘poste’, que é como deselegantemente foi qualificado o candidato Lacerda.

Os dois temas contraditórios – a suposta não-influência de Lula e a suposta influência de Aécio Neves – convergem em São Paulo, onde o governador José Serra varreu do cenário político seu antecessor, Geraldo Alckmin. Como se sabe, ambos – Serra e Neves – são apontados como o principal patrimônio do PSDB para a disputa sucessória de 2010.

Dando repercussão a declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os jornais e seus analistas assumem que a vitória do candidato de Serra em São Paulo estabelece o governador paulista como o inevitável candidato da oposição à presidência da República. Mas, curiosamente, embora afirmem que Aécio Neves poderia eleger um ‘poste’, sua chance como postulante à candidatura pelo PSDB não é tão claramente admitida pela imprensa.

Detalhes como esse, perceptíveis nas análises que acompanharam a cobertura da disputa nas capitais, podem revelar mais do que simples distração. Podem ser sinais de que a imprensa está colocando suas fichas no jogo para 2010.

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Jornalista