Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Rússia perde mais uma rádio independente

Em sua primeira reunião com os editores que assumiram a maior rede noticiosa de rádio da Rússia, a até então independente Russian News Service (RNS), os jornalistas que lá trabalham receberam uma ordem incomum: no mínimo 50% das notícias sobre a Rússia devem ser ‘positivas’, líderes de oposição não podem ser mencionados no ar e os EUA devem ser retratados como inimigos. ‘Quando falamos de morte, violência ou pobreza, por exemplo, isto não é positivo’, tentou explicar um editor. ‘Se o mercado de ações estiver em alta, isto é positivo. A previsão do tempo também pode ser positiva’.

Recentemente, os acionistas pediram a renúncia de Mikhail G. Baklanov, então editor da RNS, e indicaram dois novos editores, Aleksandr Y. Shkolnik e Svevolod V. Neroznak, que também trabalham em um canal de TV estatal. A atual gerência é aliada do Kremlin, o que diminui ainda mais o número de veículos longe da administração do governo – seja diretamente ou através do grupo de gás Gazprom, principal proprietário de empresas de mídia no país. As três redes nacionais de TV russas já são controladas pelo Estado. Apenas alguns poucos jornais de baixa tiragem continuam independentes e a Eco de Moscou é agora a única rádio independente de alcance nacional.

Ouvintes já começaram a reclamar do novo conteúdo da RNS. ‘Eu quero notícias de manhã e não ficar com sono’, disse um deles. ‘Vocês já não torturaram o bastante a audiência da RNS? Abaixo ao conteúdo não intelectual’, protestou outro.

Controle da mídia

A censura do governo à mídia é a mais forte desde o fim da era soviética. Se antes os veículos de comunicação eram preliminarmente censurados, Masha Lipman, pesquisador do Centro Carnegie em Moscou, esclarece que a tática agora é outra: impor propriedade estatal às empresas de mídia e substituir editores considerados independentes por partidários do presidente Vladimir Putin.

Com a proximidade das eleições parlamentares, em dezembro, o Parlamento considera ampliar o controle estatal a sítios noticiosos, devido à crescente importância da internet no país – com cada vez mais russos adquirindo computadores. Na semana passada, a polícia invadiu a Educated Media Foundation, ONG patrocinada pelos EUA e doadores europeus que ajuda a promover a mídia independente. Foram levados documentos e computadores usados como servidores para sítios de grupos semelhantes. Isto resultou no fechamento do sítio da Fundação da Defesa da Glasnost (abertura, em russo), grupo que publica boletins sobre violações da liberdade da imprensa. ‘A Rússia está caindo na lista dos países que respeitam a liberdade de imprensa. Temos propaganda, não informação’, desabafou Boris Timoshenko, porta-voz da fundação.

No ano passado, o procurador-geral e o ministro da Informação foram ao Parlamento pedir aos deputados uma lei para banir a distribuição na rede de conteúdo ‘extremista’. Na semana passada, o Parlamento aprovou uma lei permitindo prisão em caso de ‘vandalismo’ motivado por ideologias políticas. Em ambos os casos, ‘vandalismo’ e ‘conteúdo extremista’ dão margem a várias interpretações. Informações de Andrew E. Kramer [The New York Times, 22/4/07].