A menos de uma semana da despedida de Byron Calame do cargo de ombudsman do New York Times, o jornalão nova-iorquino fez mistério sobre o sucessor e só anunciou seu nome nesta quinta-feira (3/5). O contrato de Calame termina em 8/5, mas ele assina sua última coluna no próximo domingo, dia 6.
O escolhido para o posto de representante dos leitores é o jornalista Clark Hoyt, de 64 anos. Hoyt foi editor da Knight-Ridder em Washington de 1999 até o ano passado, quando a companhia foi vendida. Ele supervisionava a sucursal de Washington, os escritórios internacionais do grupo e o serviço de notícias que a Knight-Ridder tinha em parceria com a Tribune Company. Antes disso, ele foi chefe da sucursal de Washington e vice-presidente para notícias, com a responsabilidade de contratar e promover editores top de linha nos jornais da companhia, entre eles o Miami Herald, o Philadelphia Inquirer, o San Jose Mercury-News e o Detroit Free Press.
Postura independente
No período pré-guerra do Iraque e no início do conflito, a Knight-Ridder adotou postura diferente da maioria dos veículos de imprensa tradicionais ao questionar, de maneira consistente, as alegações do governo Bush de que Saddam Hussein teria armas de destruição em massa e ligações com a al-Qaeda. Bill Keller, editor-executivo do Times, afirmou que isso contribuiu para a escolha de Hoyt. ‘É sempre difícil ir contra a sabedoria convencional. Eu acho que isso provavelmente deu a ele uma medida de credibilidade que serve de ajuda ao se começar um trabalho como este [de ombudsman]’, afirmou.
Hoyt assumirá oficialmente o cargo de ‘editor público’ – como é chamado o posto no diário – em 14/5. O jornalista diz que não consegue prever sobre o que irá escrever como ombudsman. ‘[Os assuntos] deverão ser guiados por aquilo que os leitores se importam e reclamam’. No ano passado, ele expôs publicamente suas preocupações sobre o futuro da indústria jornalística, alegando que aspectos como a crise financeira, uma atmosfera partidária tóxica e a aproximação de profissionais de imprensa com funcionários governamentais ameaçavam a integridade e a coragem jornalísticas.
Segredo desvendado
Formado pela Universidade Columbia, Hoyt trabalhou como repórter para o Ledger, na Flórida, para o Detroit Free Press e para o Miami Herald, antes de passar a atuar na rede inteira da Knight-Ridder. Em 1973, ele ganhou um Prêmio Pulitzer ao revelar os problemas mentais sofridos pelo então senador do Missouri Thomas Eagleton e o fato de que o político havia passado por terapia de choque.
Não se sabe o que levou o Times a fazer tanto mistério sobre o nome de Hoyt. Procurado no início desta semana por Joe Strupp, da Editor & Publisher [2/5/07], Calame afirmou que o Times já havia escolhido a nova pessoa para o posto e que o anúncio deveria ser feito em breve, mas evitou dar detalhes. O quase ex-ombudsman revelou que Bill Keller havia contado a ele o nome do novo ombudsman, mas pediu segredo. ‘Eu quero manter minha palavra’, brincou. Antes do anúncio oficial, o próprio Keller não foi encontrado para comentar o assunto. Já a porta-voz do jornal, Catherine Mathis, não revelava de jeito nenhum quando a escolha seria anunciada.
Representante dos leitores
Calame é o segundo editor público do Times. A posição de representante dos leitores foi criada há quatro anos, logo após o escândalo do repórter-plagiador Jayson Blair. O primeiro editor público, Daniel Okrent, ficou 18 meses no posto – pelas regras, este período não pode ultrapassar dois anos. O atual ombudsman diz que não se envolveu na escolha de seu sucessor.
Até quarta-feira (2/5), Calame ainda não tinha terminado sua última coluna. Questionado se escreveria sobre a decisão do Times de não mais participar do jantar anual da associação de correspondentes da Casa Branca, disse que achava que não, mas poderia acabar abordando o assunto. Com informações de Richard Pérez-Peña [The New York Times, 4/5/07].