Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Obama, presidente dos EUA

Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 5 de novembro de 2008


 


ELEIÇÕES NOS EUA
Fernando Rodrigues


A peculiar democracia dos EUA


‘PHOENIX – Mesmo sem a diferença de cinco horas entre Phoenix e São Paulo, seria difícil analisar hoje o resultado definitivo da complexa eleição de ontem nos EUA. A apuração entraria noite adentro.


O processo norte-americano é diferente em cada um dos 50 Estados do país. Não há órgão centralizador, como o TSE brasileiro. As cédulas nunca são as mesmas. Vota-se também neste ano, entre outros assuntos, sobre a legalização do aborto e até a respeito de gaiolas para confinar animais em cativeiro. Os norte-americanos elegem diretores de parques, xerifes, promotores, juízes. Ao todo, cerca de 545 mil pessoas são escolhidas para ocupar cargos públicos pelo voto direto (não todas ontem), conforme a última conta do cientista político David King, de Harvard. ‘Nós gostamos de votar’, diz ele.


No Brasil, são eleitos apenas vereadores, prefeitos, deputados (estaduais e federais), senadores, governadores e presidente. Ao todo, perto de 53 mil cargos públicos são preenchidos pelo voto direto -menos de 10% do número da peculiar democracia norte-americana.


Como nos EUA o princípio federativo existe de verdade, cada Estado faz sua eleição do jeito que bem entender. Seria inconstitucional o Congresso tentar padronizar.


Há, de fato, atrasos na apuração.


Além de uma incapacidade crônica para atender aos eleitores com rapidez. Mas talvez seja um equívoco considerar a democracia daqui defeituosa por causa da lentidão no escrutínio. Os norte-americanos muitas vezes vão dormir sem saber quem elegeram. É verdade. Estão nesse mesmo passo há mais de 200 anos. Produziram assim, pelo menos até agora, a nação mais próspera da história da humanidade.


‘O sr. perdeu a eleição?’, ouviu McCain dos repórteres ontem, aqui em Phoenix. Ele franziu a testa, ficou em silêncio e foi embora.’


 


 


Sérgio Dávila


Projeções indicam que Obama venceu McCain e é o novo presidente dos EUA


‘Barack Hussein Obama Júnior, de 47 anos, é o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos, indicam projeções da CNN e outras emissoras de TV norte-americanas. A vitória sobre o republicano John McCain, 72, foi anunciada depois que pesquisas de boca-de-urna apontaram que o candidato democrata vencera nos importantes Estados-chave de Ohio, Pensilvânia e Iowa, entre outros.


Se confirmada, a vitória marca uma mudança de partido, geração e orientação política no comando do país mais poderoso do mundo. Marca também a chegada ao poder de um político que nasceu nos anos 60, se apresenta como ‘pós-racial’ e promete restaurar a imagem dos EUA no mundo, arranhada após oito anos de desmandos de George W. Bush.


Acontece num momento em que os EUA atravessam sua pior crise financeira em décadas e enfrentam duas guerras, do Iraque e do Afeganistão. Havaiano, filho de um queniano negro com uma branca do Meio-Oeste norte-americano, Obama será o primeiro senador desde JFK a assumir o cargo.


Sem experiência executiva, prenuncia um governo mais à esquerda em questões sociais e econômicas, mais diplomático em política externa e mais protecionista em comércio internacional que o atual.


Até a conclusão desta edição, às 2h15 de Brasília de hoje, nem Obama nem McCain tinham se pronunciado sobre os resultados. Havia um acordo para esperar que as urnas da Califórnia encerrassem a votação. Estudos indicam que depois que um presidente é anunciado vencedor, o comparecimento dos eleitores nos Estados da Costa Oeste cai entre 2% a 3%.


A derrocada da candidatura de McCain começou com o anúncio da vitória de Obama na Pensilvânia, importante Estado de maioria branca no qual o republicano havia investido nos últimos dias da corrida.


Consolidou-se com a conquista de Ohio, sem o qual nenhum republicano foi eleito presidente do país. Por fim, Iowa encerraria o argumento, sempre segundo as projeções.


Em comício recente em Ohio, o mais visitado pelos dois candidatos nos últimos dias, o próprio McCain dizia: ‘Conheço a história. Sei que nenhum republicano venceu a Casa Branca sem ganhar aqui. Por isso que preciso de vocês’. Pois a crise econômica atual parece ter empurrado esse Estado industrializado do nordeste norte-americano e outros para os braços de Obama.


Nas projeções, o democrata tinha 297 votos no Colégio Eleitoral e 23 Estados ganhos, além de Washington. E McCain vencia em 16 Estados, o que lhe dava 139 votos no Colégio, todos esperados. São necessários 270 votos no Colégio Eleitoral para ser eleito presidente.


Segundo números preliminares de pesquisa de boca-de-urna divulgada pela CNN, a economia foi a maior preocupação de 62% dos eleitores. Em segundo lugar, veio a Guerra do Iraque, com 10%, seguida de terrorismo e saúde pública (9%). O instantâneo do humor popular favorecia Obama.


Na reta final da campanha, com a deterioração do mercado nos EUA, o democrata era apontado pela maioria dos ouvidos em pesquisas como o mais indicado para conduzir o país durante a crise. Já as questões de segurança nacional, prato forte do ex-herói de guerra John McCain, despencaram na lista de prioridades, segundo a boca-de-urna de ontem.


Ainda assim, de acordo com o mesmo estudo de ontem, dos que disseram que a Guerra do Iraque era o problema principal, 63% afirmaram ter votado em Obama, ante 36% que declararam voto no republicano.


Comparecimento


Já o Comitê para Estudo do Eleitorado Americano, da American University, em Washington, estimava que compareceriam às urnas ontem pelo menos 65% dos 200 milhões de cidadãos aptos a votar nos EUA, onde o voto não é obrigatório. Esse contingente de 130 milhões é o maior em número de eleitores na história do país.


A porcentagem bateria o recorde histórico recente, de 1960, quando 64,9% do eleitorado compareceu para escolher entre JFK e Richard Nixon, e poderia alcançar a marca de 66% de 1908 (eleição de William Taft), quando restrições legais não davam a todos os americanos o direito de votar.


‘Nós não temos um sistema que é organizado, planejado ou financiado para funcionar com índices de votação que se afastem muito dos 50% de comparecimento em direção aos 100%’, disse Doug Chapin, do Electionline.org, ligado ao renomado instituto Pew.


Os sinais da falha do sistema eram vistos em diversos Estados ao longo do dia. Iam de relatos de filas de até oito horas até problemas com os diversos modos de votação do país, que envolvem fichas de papelão perfuradas, cabines eletrônicas e a boa e velha cédula de papel.


As irregularidades levaram uma organização européia que monitora eleições em países com democracia frágil a mandar seu primeiro time de observadores aos EUA. Segundo relatório do grupo despachado pelo Office for Democratic Institutions and Human Rights, de Viena, ‘o alto número de novos eleitores, 10 milhões, levanta dúvidas sobre a capacidade dos postos de votação’.’


 


 


FUSÃO
Painel do Leitor


Itaú + Unibanco


‘‘A imprensa e o governo enaltecem a fusão entre o Itaú e o Unibanco. Mas acho necessário lançar um olhar mais crítico, sobretudo do ponto de vista dos pequenos clientes e comerciantes. A nova instituição será a controladora total da Redecard (detentora no Brasil das bandeiras Mastercard, Maestro e Diners) e, além do monopólio das operações, decidirá as taxas de juros a serem pagas pelos pequenos comerciantes que necessitam antecipar o recebimento de suas vendas com tais cartões.


Hoje, o Unibanco, por exemplo, chega a cobrar 12% ao mês para realizar uma antecipação. Além disso, é bom frisar que o Banco Central não fiscaliza as companhias de cartões de crédito, apesar de serem todas ligadas a instituições financeiras.


A única esperança seria o Cade, mas, depois das notícias veiculadas na seção ‘Painel’ de ontem, não acredito muito nisso. Nós, pequenos comerciantes e correntistas, não seremos beneficiados.’


ANTÔNIO PANCIARELLI (São Caetano do Sul, SP)’


 


 


MÍDIA
Folha de S. Paulo


Texto da Folha recebe prêmio no Nordeste


‘A Superintendência Regional do Trabalho do Rio Grande do Norte e o Fórum Estadual de Erradicação do Trabalho da Criança concederam ontem a comenda ‘Amigo da Infância’ à Folha pela reportagem ‘Crianças trabalham em matadouros do Rio Grande do Norte’ (5/6), de Pablo Solano.


A coordenadora do Fórum, Marinalva Cardoso Dantas, disse que a reportagem provocou ‘a mobilização das autoridades’ para resolver o problema.’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Fox News ‘chama’ Obama


‘Uma vez mais, a maior tensão no dia da eleição, que foi possível acompanhar e vivenciar no Brasil por CNN e Fox News, se concentrou diante dos canais -e das redes- que seguiam ‘chamando’ os Estados para este ou aquele candidato. A Pensilvânia, que poderia pender para John McCain, saiu para Barack Obama na MSNBC e na ABC. E nada de Ohio, que também já havia fechado as urnas. Até que Britt Hume e Karl Rove, pouco depois da meia-noite na Fox News, ‘chamaram’ Ohio para Obama. Depois CBS. Depois NBC e ABC. Por fim, a CNN.


O PARADIGMA MUDOU


Adam Nagourney e Arianna Huffington proclamaram um outro vencedor na campanha americana, a internet. O primeiro, repórter político de referência do ‘NYT’, vê repercussões que vão da mobilização do eleitor à manipulação da mídia -e afirma que as eleições jamais serão as mesmas. Cita, de um estrategista, que ‘as campanhas alavancaram a web de maneiras jamais imaginadas, o paradigma virou de cabeça para baixo’.


A segunda, ‘publisher’ do Huffington Post, usa os mesmos argumentos para identificar ‘a primeira corrida presidencial do século 21’. E para afirmar que a internet deixa para trás, desta vez, a própria televisão.


REALIDADE VIRTUAL


A projeção holográfica da repórter Jessica Yellin, em Chicago, conversa com o âncora Wolf Blitzer, no estúdio da CNN em Nova York


A TV americana, que sempre usa eleições e guerras para estrear tecnologias de cobertura, escorregou ontem. Como anunciado para sites e jornais, a CNN surgiu com sua aposta por volta das 22h30: um link com uma correspondente levada ao próprio estúdio, como holograma. O efeito especial, cercado por uma aura branca na tela, evocou ‘Star Wars’, mas o primeiro filme, de 1977, com a princesa Lea. Foi ironizado até na home do ‘NYT’.


Da campanha, a maior inovação ficou ainda com a ‘parede mágica’ da mesma CNN em fevereiro -e já imitada por Fox News, com seu ‘Billboard’, e até Globo.


BOCA-DE-URNA


CNN e Fox News começaram a dar as pesquisas de boca-de-urna logo após as 20h, mas restritas a opiniões e grupos demográficos, não o voto geral. Como citaram ‘Financial Times’ e outros, as emissoras chegaram à noite de eleição ainda assombradas por 2000 na Flórida.


Os sites ousaram mais. Por volta das 21h30, o HuffPost, depois Drudge e TPM, postaram dados com ampla vitória de Obama em Pensilvânia, Ohio etc. Mas avisando sempre para não confiar.


O FIM DE TRÊS ERAS


Se as redes e os próprios sites de jornais foram cuidadosos, os colunistas não se constrangeram. David Brooks, no ‘NYT’, deu o dia como histórico porque ‘marca o fim de uma era econômica, uma era política e uma era geracional, ao mesmo tempo’.


Encerra o ‘grande boom’ econômico que começou em 1983; a ‘dominação conservadora’, que vem de 1980; e a supremacia de presidentes nascidos no ‘baby boom’ do pós-guerra. Agora seria a vez da ‘geração de Obama’.


NO FIM


Um mês atrás, a revista ‘Vanity Fair’ deu que Rupert Murdoch se aproximava de Barack Obama.


Pelo contrário, logo em seguida o ‘New York Post’, de Murdoch, deu apoio em capa e editorial a John McCain. Mas ontem, dia da eleição, o apoio mudou de repente, ainda que envergonhadamente, com a primeira página acima e a manchete ‘A um passo da história’.


O biógrafo do ‘publisher’, Michael Wolff, avaliou em seu blog: ‘O que aconteceu foi que Murdoch e o ‘Post’ cometeram um erro. Um erro que machuca, porque ele queria endossar Obama’. Nos encontros que tiveram, diz ter vislumbrado até ‘entusiasmo’ pelo democrata.


O POLITICO


A semana da eleição comemora o segundo aniversário de criação do site Politico, que reuniu meia dúzia de jornalistas de ‘Wall Street Journal’, ‘USA Today’, ‘Time’ -e virou agora um dos principais vencedores na cobertura da campanha eleitoral.


Para celebrar, os editores enviaram e-mail à agora ampla redação, com quase cem pessoas, e ele foi parar no site do instituto de mídia Poynter. Em meio à crise, desenha um futuro de crescimento.


A BOLHA


Por outro lado, a Slate, ligada ao ‘Washington Post’, avisa que a ‘bolha eleitoral da mídia está para explodir’, após quase dois anos em que as organizações viveram da campanha -e agora se vêem diante da crise global.


Foram meses de audiência recorde, tráfego recorde na internet, até de vendas de revistas. Mas o período pós-eleitoral promete ser ‘muito diferente’. O site ouve o editor do ‘NYT’, que fala em poupar, mas não cortar vagas.’


 


 


INTERNET
Julio Wiziack


Justiça obriga a contratação de provedor


‘Decisão da Justiça Federal determinou ontem que todos os assinantes de banda larga no Estado de São Paulo voltem a contratar provedores se o serviço de conexão hoje for oferecido por uma operadora de telefonia fixa. Caso não haja recurso até sexta-feira, os internautas que não aderirem a um provedor, ainda que gratuito, ficarão sem internet. A decisão não vale para as companhias que oferecem banda larga via cabo ou MMDS, por exemplo, como a NET e a TVA, mas afeta os 2,5 milhões de assinantes do Speedy, da Telefônica.


Esse imbróglio começou em 2002, quando o Ministério Público Federal de Bauru, no interior de São Paulo, entrou com uma ação contra a Telefônica, que detém 68% desse mercado com o Speedy, e a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) sob a alegação de que a venda do Speedy atrelada a um provedor de acesso funcionava como venda casada, algo considerado lesivo ao consumidor.


A Telefônica e a Abranet (associação dos provedores) recorriam desde então. Em 14 de julho deste ano, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região suspendeu a decisão da Justiça de Bauru, fazendo valer o que determina a LGT (Lei Geral de Telecomunicações), que regulamenta o setor. Essa decisão tem de ser cumprida até sexta-feira. Mas cabe recurso.


De acordo com a LGT, as teles devem vender a infra-estrutura de conexão à internet (o Speedy, no caso da Telefônica), mas o acesso propriamente dito é um serviço de valor adicionado prestado por outras empresas (provedores).


Isso foi definido para que as teles não concentrassem os serviços de acesso à internet no país.


Segundo a Abranet, existem cerca de 500 empresas provedoras em São Paulo, 150 delas oferecem o ADSL, compatível com o Speedy. Alguns oferecem o serviço gratuitamente.


Pelo site www.speedyvantagens.com.br/provedores estão os provedores compatíveis com a operadora. Os assinantes que tiverem dúvidas podem ligar para 10315, telefone da central de atendimento ao cliente da Telefônica.


Quem não for assinante da Telefônica deve entrar em contato com a operadora telefônica contratada.


Segundo Eduardo Parajo, presidente da Abranet, o não-cumprimento da LGT em São Paulo levou provedores à falência e boa parte dos que restaram registraram queda de receita. Estima-se que cerca de 500 mil assinantes deixaram de gerar receita nesse período aos provedores. Ele acredita que agora os provedores dêem início a promoções para recuperar a clientela.’


 


 


Bruno Romani


Controle da internet é um desafio


‘A crise econômica mundial e as guerras no Oriente Médio não são os únicos desafios que aguardam o novo presidente dos EUA. No mundo da tecnologia, o homem que ocupar o cargo mais importante do mundo deverá estabelecer um ambiente favorável à inovação. De acordo com especialistas consultados pela Folha, essa é a única maneira para o país se manter competitivo no novo cenário global que se desenha.


Para voltar a fazer dos EUA um país inovador, o novo presidente terá que cuidar do sistema educacional. Tom Foremski, blogueiro que acompanha de perto as empresas do Vale do Silício na Califórnia, diz que as escolas precisam formar os talentos de que a indústria da tecnologia necessita.


Jonathan Zittrain, professor de direito na internet em Harvard e autor de vários livros sobre a rede, concorda e diz que as instituições de ensino precisam incentivar o pensamento criativo e a experimentação.


Neutralidade da rede


Zittrain também cita a importância da manutenção da neutralidade da rede para um ambiente de inovação. O tópico gera polêmica nos EUA e se refere ao acesso à banda larga sem que haja interferência dos provedores de internet. Em outras palavras, em uma rede neutra todos têm o direito de consumir banda sem distinção.


Um dos medos dos defensores da neutralidade da rede é que as grandes companhias de internet, como AT&T e Comcast, passem a cobrar dos usuários por arquivos carregados na rede, como fotos e vídeos.


Howard Rheingold, autor que inventou a expressão ‘comunidade virtual’ e grande defensor da neutralidade, diz que uma rede não-neutra poderia acabar com indústrias inteiras que surgem em alojamentos universitários. O YouTube seria um exemplo de revolução na indústria que teria dificuldades em prosperar num ambiente de rede não-neutra.


Já Matthew Chapman, fundador do Science Debate 2008, iniciativa que visa a colocar a tecnologia e a ciência no centro dos debates eleitorais, diz que os EUA precisam adotar uma postura de ‘humildade’ e fazer investimentos não apenas em pesquisas.


O novo presidente teria que mudar a percepção dos americanos em relação à ciência. Para Chapman, as atividades intelectuais do país foram desprezadas por uma cultura que valoriza o mundo dos esportes e o entretenimento ‘banal’.


Ação colaborativa


Outras maneiras citadas pelos especialistas para fomentar um ambiente favorável à inovação são leis de propriedade intelectual que incentivem contribuições e permitam o que chamam de ‘uso justo’ de patentes, análises de casos de patentes mais velozes, premiações e incentivos financeiros a pesquisa e alianças globais no campo tecnológico/científico.


A questão energética


A maneira como a tecnologia será usada para criar formas alternativas de energia é apontada pelos especialistas como outro grande desafio ao novo presidente norte-americano.


Robert Merges, diretor do Centro de Lei e Tecnologia da UC Berkeley, diz que a tecnologia de informação deverá ser usada para acabar com a dependência do país em petróleo. Para ele, o presidente terá que dar atenção desde o monitoramento de fontes de energia solar e eólica à melhora do uso da iluminação e aquecimento das casas. Merges diz que a noção de ‘propósito nacional’ dos EUA depende da energia.


Programa Apolo


Jon Lebkowsky, escritor e autoridade em mídias sociais, diz que a resposta para as questões energéticas talvez estejam num novo Programa Apolo -projeto de viagens ao espaço desenvolvido entre 1961 e 1975.


Lebkowsky diz que um programa intenso com foco nacional nas áreas de engenharia, ciência, tecnologia e outras fontes de conhecimento é obrigatório para os EUA se reestruturarem com sucesso.’


 


 


Rafael Capanema


MTV coloca acervo de clipes na rede


‘Para o site de tecnologia Ars Technica (www.arstechnica.com), foi ‘uma pancada no YouTube’: a MTV norte-americana colocou na internet praticamente todo o seu acervo de videoclipes.


O MTV Music (www.mtvmusic.com), lançado no mês passado, remete aos tempos remotos em que a emissora transmitia quase exclusivamente vídeos de música.


Apesar de a qualidade da imagem dos vídeos ser quase igual à do YouTube -ou seja, ruim- a quantidade de material disponível no site impressiona.


Uma busca por ‘Nirvana’ retorna praticamente todos os videoclipes produzidos pela banda liderada por Kurt Cobain.


Hospedado nos Estados Unidos, o site não oferece quase nada de música brasileira -de Caetano Veloso, por exemplo, há apenas um vídeo.


É possível fazer comentários sobre os vídeos e avaliá-los, além de conhecer artistas relacionados. Dá também para adicionar os vídeos a redes sociais como o MySpace e publicá-los em outras páginas, copiando o código de embed.


Além de videoclipes, há entrevistas com músicos.


‘Rickroll’


Até a conclusão desta edição, o vídeo mais bem avaliado no site era ‘Never Gonna Give You Up’, sucesso do cantor britânico Rick Astley -tudo indica que seja um derivado da pegadinha de internet ‘rickroll’, que consiste em direcionar notícias quentes, como o lançamento de um novo game, para o mesmo link: o clipe cafona de Astley, feito em 1987.


Na lista dos mais vistos, ‘Never Gonna Give You Up’ só perdia para ‘Womanizer’, clipe novo de Britney Spears, com quase 60 mil visualizações.’


 


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Ministério obriga Record a mudar programa


‘‘O Melhor do Brasil’, exibido pela Record aos sábados, das 16h às 20h30, terá que mudar. Ato do Ministério da Justiça, publicado no ‘Diário Oficial’ de ontem, o reclassificou como impróprio para menores de 12 anos. A rigor, a partir deste sábado, as gincanas apresentadas por Rodrigo Faro só poderão ir ao ar após as 20h. É a medida mais drástica já tomada contra um programa de auditório.


Ontem à tarde, o departamento jurídico da Record estudava as sanções em caso de desrespeito à determinação. A emissora vai recorrer e não descarta apelar à Justiça comum. ‘Estão tentando acabar com a liberdade de expressão e de escolha’, reagiu Alexandre Raposo, presidente da Record.


O ministério reclassificou ‘O Melhor do Brasil’, antes livre, porque viu nele ‘linguagem metaforizada, obscena e chula’, além de ‘conteúdo sexual, valorização da beleza física e/ ou do corpo como condição imprescindível para uma vida mais feliz e/ou para a aceitação social’. Considerou ainda ‘como agravantes’ a exposição de ‘minorias políticas (mulheres e homossexuais) a situações humilhantes e degradantes’.


O órgão provavelmente se refere a um quadro em que atores têm que adivinhar se determinada pessoa é gay, casada ou solteira. ‘O programa não tem nada de impróprio. Ainda que tivesse, que se reclassificasse apenas o quadro. Isso é radicalismo’, disse Raposo.


SOL E CHUVA


Adriane Galisteu dividirá com Daniella Cicarelli a programação de verão da Band. Antes de estrear um programa semanal, provavelmente em março, também participará da cobertura de Carnaval. Liberada pelo SBT, Galisteu assina com a Band amanhã, às 12h.


DESCARTE


A negociação de Galisteu com o GNT não evoluiu. O canal exigiu que ela ficasse fora da TV aberta durante dois anos.


FIM DE LINHA


O jornalista Marcelo Rezende e a Rede TV! rescindiram contrato ontem, um ano antes do vencimento. Nos bastidores da emissora, comenta-se que o motivo seria uma proposta, por parte da Rede TV! de redução de salário, de mais de R$ 300 mil. Advogados negam.


FURACÃO


A Band demitiu mais de 200 profissionais da área de teledramaturgia, que só não foi extinta porque permaneceram o diretor e a produtora-executiva. A emissora desistiu de produzir uma versão de novela colombiana, mas diz que voltará a ter teledramaturgia em março. Afirma que não foi demissão, mas vencimento de contrato.


Todos os orçamentos estão sofrendo cortes de 15%.


BOLA PRETA


Mais do que a crise financeira global e a reavaliação de sua teledramaturgia, o que estaria por trás dos cortes na Band seria a renovação do futebol com a Globo. Avalia-se no mercado que a emissora pagará muito caro à Globo (entre R$ 30 milhões e R$ 50 milhões). Com as cotas de patrocínio, deverá faturar R$ 50 milhões líquidos.’


 


 


Folha de S. Paulo


Segundo ano de ‘Gossip’ chega ao Brasil


‘Com Nova York como cenário e uma trama protagonizada por adolescentes endinheirados, ‘Gossip Girl’ estréia hoje à noite sua segunda temporada no Brasil, via Warner Channel.


‘Gossip…’, baseada na série de livros homônima de Cecily von Ziegesar, chegou à televisão pelas mãos do produtor Josh Schwartz, responsável por outro sucesso adolescente, a extinta ‘The O.C.’.


A primeira temporada terminou com os rompimentos do casal-protagonista Serena (Blake Lively) e Dan (Penn Badgley) -que estendeu o romance para fora das telas- e do casal-coadjuvante Blair (Leighton Meester) e Chuck (Ed Westwick) -a parte mais cínica e interessante da trama.


O segundo ano começa no luxuoso balneário nova-iorquino de Hamptons, onde Serena amarga o rompimento com Dan, que trabalha com um escritor em Nova York.


Recém-chegada de férias européias, Blair vai ao balneário com um providencial namorado a tiracolo, que exibe ao arrependido Chuck -o playboy a abandonou em seu jatinho quando eles embarcariam à Europa. Enquanto isso, Nate (Chace Crawford), outro amigo endinheirado, se diverte em um carro com uma mulher mais velha e casada. É mais da mesma trama, irônica e divertida para teens.


GOSSIP GIRL


Quando: hoje, às 21h


Onde: no Warner Channel


Classificação: não informada’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 5 de novembro de 2008


 


ELEIÇÕES NOS EUA
Patricia Campos Mello e Lourival Sant’Anna


Obama é eleito o primeiro presidente negro dos EUA


‘Há apenas quatro décadas, os negros lutavam para garantir na prática o direito de voto no Sul dos EUA. No dia 20 de janeiro, o senador democrata Barack Obama, de 47 anos, tomará posse como o primeiro presidente negro da história americana. De acordo com projeções sobre os votos apurados até 2h30 de hoje em Brasília, Obama havia conquistado 333 votos no Colégio Eleitoral, contra 155 para o seu adversário, o senador republicano John McCain. São necessários 270 votos do total de 538 para se eleger presidente. Com um terço dos votos apurados, Obama, um senador em primeiro mandato desconhecido pela maioria dos americanos até recentemente, vencia na contagem nacional por 51% a 49%.


McCain apareceu diante de milhares de simpatizantes às 21h18 em Phoenix (2h18 em Brasília) para reconhecer a derrota. ‘O povo americano se posicionou claramente’, disse ele, ao lado de sua candidata a vice, Sarah Palin. ‘Tive a honra de ligar há pouco para o senador Obama para felicitá-lo’, continuou, elogiando a ‘habilidade e perseverança’ do rival. Com a voz embargada, McCain exaltou o ‘especial significado’ da vitória de Obama para os negros, e o ‘especial orgulho que eles sentem esta noite’.


Obama e os candidatos democratas a deputados e a senadores venceram em quase todos os seus redutos e ainda avançaram sobre antigos bastiões republicanos, ampliando os resultados de 2004. McCain, de 72 anos, herói da Guerra do Vietnã e senador há 26 anos, sofreu derrotas de alto valor simbólico. Segundo as projeções, ele perdeu em Ohio e Iowa, dois redutos conservadores do Meio-Oeste. Nenhum republicano foi eleito presidente sem vencer em Ohio. McCain foi derrotado também na Virgínia, onde um democrata não vencia desde 1964. Obama conquistou ainda a Pensilvânia, um Estado democrata que os republicanos consideravam crucial para sua vitória, pela qual McCain se engajou fortemente. O republicano também foi derrotado em New Hampshire, que conta com quatro votos, mas onde também fez um esforço pessoal extra para ganhar. Com exceção de Nebraska e Maine, todos os votos de cada Estado no Colégio Eleitoral – proporcionais à sua população – vão para o vencedor.


A eleição de ontem foi marcada por um comparecimento recorde. E esse dado pode ajudar a explicar a vitória de Obama. Durante a campanha, os democratas conseguiram registrar o dobro de eleitores novos em comparação com os republicanos. A dúvida era se eles compareceriam para votar. Pesquisa de boca-de-urna realizada pela CNN mostrou que 72% dos eleitores que foram às urnas pela primeira vez votaram no candidato democrata.


A crise econômica e sua relação com a impopularidade do presidente George W. Bush – que sofre de uma desaprovação de mais de 70% – podem ter sido centrais na eventual vitória democrata. Para 62% dos eleitores ouvidos pela boca-de-urna, a economia era a questão mais importante nessa eleição.


O Iraque veio em segundo lugar distante: 10% dos eleitores o consideraram a questão principal. Desses, 64% votaram em Obama e 36%, em McCain, o que demonstra que o candidato republicano não se saiu bem em uma de suas principais bandeiras, a da segurança nacional, além de ela não ser tão decisiva nessa eleição. Outros 9% escolheram o terrorismo, outro tema-chave para McCain. Desses, 86% votaram em Obama, que prometeu retirar as tropas do Iraque e concentrar as forças no combate à Al-Qaeda e aos taleban no Afeganistão.


O sistema de saúde foi a principal questão para outros 9% dos votantes. Obama prometeu criar um sistema público de saúde com adesão opcional, enquanto McCain ofereceu um crédito tributário de US$ 5 mil para famílias de baixa renda pagarem pelo convênio privado de sua escolha.


Outro dado interessante é que 52% dos eleitores com renda anual acima de US$ 100 mil votaram em Obama; 47% escolheram McCain e 1%, outros candidatos.’


 


 


Patrícia Campos Mello


Partidários de Obama festejam por antecipação


‘A obamania está em todas as esquinas da cidade de Chicago. Ambulantes vendem camisetas já anunciando a vitória de Barack Obama. Milhares de pessoas vestem camisetas, bonés ou buttons do democrata. À noite, os arredores do Parque Grant recebeu 100 mil pessoas para ouvir o discurso de Obama após a votação. A maioria estava histérica e foi à loucura quando o democrata foi declarado eleito pelas redes de TV.


O parque estava cheio de policiais e várias ruas haviam sido bloqueadas. As filas para entrar na ‘festa da eleição’ no parque se estendiam no começo da noite por 20 quarteirões. Muita gente havia vindo de longe para ver o candidato, que falaria na madrugada de hoje cercado por uma proteção blindada.


Terry McLane oferecia passagens aéreas ou livros autografados por Obama em troca de um ingresso para a festa no Grant. Ela circulava pela fila como um mulher-sanduíche, vestida com a placa: ‘De Seattle e sem o ingresso dourado para o comício – por favor, leve-me como seu convidado.’


Terry é uma obamaníaca. Ela tem um emprego no departamento de assistência ao consumidor da Alaska Airlines, mas passa a maior parte de seu tempo indo a comícios de Obama. Em fevereiro, ela teve uma crise de choro ao ver Obama falar em sua cidade. ‘Eu entendi como ele é importante’, contou. Desde então, já foi a 18 comícios do democrata. ‘Ganhei três abraços, 16 apertos de mão e ele já autografou dez livros para mim’, disse Terry, que tem 41 anos e nunca tinha se importado com política.


Mesmo no meio do frenesi que tomou conta de Chicago no dia da eleição, os irmãos Tom e Daniel Krieglstein destacavam-se. Eles foram os primeiros a entrar na fila para o grande comício de Obama, às 19h30 do dia anterior. ‘Estou esperando há 18 horas’, contou Tom.


Até quem não conseguiu ingresso precisava ficar na fila para entrar no espaço designado aos sem-ingresso. Maureseta Hawkins trouxe um cobertor e suprimentos: ‘Não fui na Marcha a Washington (de Martin Luther King) e resolvi que não ia perder mais um momento histórico’, disse. Mary Ann Smith vai fazer uma festa da eleição para 15 pessoas em sua casa, a poucos quarteirões do parque: ‘Comprei um champanhe de US$ 45 para comemorar.’


Obama votou às 7h35 numa escola perto de sua casa, no bairro de Hyde Park,em Chicago, acompanhado de sua mulher, Michelle, e de suas filhas, Sasha e Malia, enquanto o candidato a vice-presidente, Joe Biden, votou em Wilmington, Delaware. Obama, que costuma acordar às 6 horas para se exercitar, parecia bem disposto. Ao redor da escola, cerca de 50 pessoas tiravam fotos com seus celulares.


Obama e Michelle votaram ao mesmo tempo em urnas vizinhas. Ao dar sua cédula de papel para a fiscal passar pelo leitor ótico da urna, o senador brincou: ‘Espero que funcione. Vou ficar muito envergonhado se não funcionar.’ Questionado se estava emocionado por causa do final da campanha, ele respondeu que saberia esperar. ‘Tenho certeza de que vou ficar emocionado hoje à noite, quando fecharem as urnas’, disse.


Obama brincou que estava preocupado com o voto de sua mulher. ‘Notei que a Michelle demorou muito – tive de checar para ver em quem ela estava votando.’


Às 7 horas, o radical William Ayers, ex-integrante do grupo Weather Underground, votou na mesma escola. A ligação de Obama com Ayers – os dois participavam do conselho de uma entidade filantrópica e Ayers fez uma festa para Obama – serviu de base para um dos ataques republicanos contra o democrata.


Depois de votar, Obama voou para Indianápolis, onde ficaria por duas horas para um comício rápido. Ele passou a tarde dando entrevistas e jogou basquete com amigos em Chicago antes de ir para o Parque Grant.’


 


 


Reuters e AP, Washington


Disputa foi a mais cara de todos os tempos


‘A eleição presidencial americana terminou ontem com vários recordes quebrados. Foi o processo eleitoral mais longo da história – o presidente eleito Barack Obama lançou-se candidato em fevereiro de 2007 e passou 633 dias em campanha – e o mais caro de todos os tempos. Os nove candidatos democratas e os nove republicanos gastaram mais de US$ 1,5 bilhão.


Apenas Obama e o republicano John McCain gastaram a metade desse valor. Excluindo os dados sobre a arrecadação de outubro, que ainda não foram divulgados, Obama faturou US$ 660 milhões. McCain, US$ 238 milhões.


Ao todo, foram 21 debates entre os pré-candidatos democratas, a maioria entre Obama e a senadora Hillary Clinton, que duelaram até junho pela indicação do Partido Democrata. Obama ficou com a vaga, vencendo em 29 Estados, enquanto Hillary levou 19 – em Michigan e na Flórida não houve disputa.


A corrida presidencial foi desgastante também do lado republicano. McCain passou 559 dias em campanha e teve de enfrentar 15 debates durante as prévias. Para ficar com a vaga do partido, ele venceu as primárias em 31 Estados. O restante das disputas estaduais ficou com Mitt Romney, que venceu 11, e Mike Huckabee, 8.


DINHEIRO


Para levar a sua campanha a todos os 50 Estados americanos, durante quase dois anos o candidato democrata gastou US$ 40 milhões em viagens, US$ 46 milhões em salários de assessores e US$ 240 milhões em anúncios publicitários.


Os gastos de McCain foram mais modestos: US$ 20 milhões em despesas de viagem, US$ 20 milhões em salários e US$ 116 milhões em propaganda – sem contar os já famosos US$ 150 mil torrados com o guarda-roupa de Sarah Palin, a vice da chapa republicana.


Segundo a Universidade George Mason, do Estado de Virgínia, 137 milhões de americanos estavam aptos a votar este ano. Se for confirmado o comparecimento de 64,3% de eleitores, será o mais alto desde as eleições de 1908.


De acordo com estimativas da mesma universidade, 44 milhões de pessoas teriam votado antecipadamente, cerca de 32% do eleitorado. Em 2004, foram 25 milhões de votos antecipados (22%). Em 2000, cerca de 18 milhões (18%).


O melhor sinal da empolgação dos eleitores este ano foi o alto comparecimento em comícios, principalmente quando a estrela era Barack Obama. O democrata atraiu 75 mil pessoas para ouvi-lo em Portland, Oregon; em maio, pouco mais de 90 mil em St. Louis, Missouri, em outubro; e bateu seu recorde de público em eventos dentro dos Estados Unidos na semana passada, quando levou 100 mil pessoas a um comício em Denver, Colorado. O maior público de Obama, no entanto, foi em Berlim, quando ele discursou para 200 mil pessoas diante da Coluna da Vitória, em julho.


ÚLTIMA META


Depois de um começo sonolento, em que chegou a discursar para algumas centenas de pessoas na Louisiana, em junho, a platéia de John McCain cresceu com a escolha de Sarah Palin como vice. Graças à presença dela, o republicano bateu seu recorde de público e atraiu 23 mil pessoas para um comício na cidade de Fairfax, na Virgínia, em setembro.


Ontem, após o fim da votação, a expectativa de muitos analistas que já davam a vitória de Obama como certa era saber se o democrata superaria uma última barreira: os 50% dos votos. Antes dele, o último presidente democrata eleito com mais da metade dos votos foi Jimmy Carter, em 1976. Mesmo assim, foi por pouco, com 50,1% dos votos.’


 


 


INTERNET
O Estado de S. Paulo


Telefônica volta a exigir provedor no Speedy


‘A Telefônica informou ontem que vai voltar a exigir provedor de acesso aos clientes do Speedy, a partir de sexta-feira, por causa de uma decisão judicial. A partir dessa data, o login ‘internet@speedy.com.br’ e a senha ‘internet’ deixarão de funcionar. As opções incluem pacotes gratuitos de três provedores: Terra, Inter.net e Link Br. A regulamentação das telecomunicações exige a contratação de um provedor. Em setembro de 2007, uma decisão da 3ª Vara Federal de Bauru suspendeu a exigência. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) conseguiu suspender a sentença anterior em julho.’


 


 


ARTE
Camila Molina e Maria Hirszman


Artista perambula nu pela Bienal de Arte


‘Pelado, o artista Maurício Ianês iniciou ontem, pela manhã, sua performance, A Bondade de Estranhos, como parte da 28ª Bienal de São Paulo. Até o dia 16 deste mês, ele ficará no pavilhão, sobrevivendo apenas de doações dos visitantes e sem dizer uma palavra. Ontem, logo que foi aberta a visitação, às 10 horas, Ianês começou a vagar sem roupa pelo prédio, chegando ao terceiro piso do edifício, onde está a parte expositiva desta Bienal, que ficará em cartaz até 6 de dezembro.


A primeira doação recebida foi uma garrafa d?água e, logo após, uma camiseta. Pouco depois das 14 horas, o artista ainda se apresentava nu da cintura para baixo, causando espanto entre os poucos visitantes no local, a ponto de os guardas responsáveis pelo setor perguntarem: ‘Ninguém pode dar uma cueca para ele?’


Também não faltaram piadas maliciosas em relação àqueles que observavam mais atenciosamente a cena. O incômodo foi potencializado pelo fato de Ianês ficar absolutamente imóvel, de pé, sem comunicação nenhuma com o público, contrariamente ao título geral desta edição: Em Vivo Contato. O único movimento do artista era se sentar, esporadicamente, ao lado dos poucos pertences recebidos. Até o fim da tarde, ele já havia ganho comida, mais duas camisetas, uma manta e uma cueca.


Ianês não vai sair do edifício por 13 dias – nem na segunda-feira, quando a Bienal estará fechada. No prédio, o artista vai dormir e se banhar em um vestiário. Como não é permitido entrar com bolsas e pertences depois do piso térreo, as pessoas que quiserem alimentar o artista terão de se identificar na portaria, onde receberão uma senha para poder levar comidas e bebidas.


No primeiro dia, Ianês apenas permaneceu no terceiro piso do prédio, mas ao longo desse período deve mudar de local. Ontem, a Bienal estava bastante vazia durante a tarde e as pessoas ainda não tinham ouvido falar da performance e, por isso, não reconheciam o que estava acontecendo. É provável que ao longo dos dias as doações se ampliem. Além do tobogã de Carsten Höller, outro ponto de movimentação foi a gravação de um programa de televisão no segundo piso, que, propositalmente, fica vazio, sem obras.’


 


 


CINEMA
Luiz Carlos Merten


O nome é Bond (mas Daniel não diz a frase)


‘Daniel Craig chega para a entrevista com o braço na tipóia. O que aconteceu? ‘Oh, apenas uma luxação, um acidente doméstico.’ O repórter brinca. ‘Não fica bem para um intérprete de James Bond ficar caindo à toa.’ Ele acha graça e emenda. ‘Antigamente, podia chegar todo quebrado e tenho a impressão que ninguém ia se importar muito. Agora, é uma preocupação geral. Todo mundo quer saber os detalhes.’ É uma das conseqüências do sucesso. Sexto ator a interpretar o papel do agente secreto criado pelo escritor Ian Fleming na série oficial – após Sean Connery, George Lazenby, Roger Moore, Timothy Dalton e Pierce Brosnan -, Daniel Craig protagonizou a maior mudança de perfil de 007 desde que o personagem irrompeu nas telas. Na verdade, toda essa mudança consistiu num movimento básico – o retorno às origens.


Embora seu tipo físico seja diferente dos atores que mais marcaram no papel – e Connery havia sido o melhor 007, antes dele -, Daniel (ninguém o chama de Mr. Craig) é o que mais se aproxima da descrição do escritor. E ele também é o mais violento dos James Bond da tela. Uma nota de produção, confirmada pelos produtores Barbara Broccoli e Michael G. Wilson, garante que 007 – Quantum of Solace foi o filme que mais acidentes teve durante a filmagem. Nunca tantos figurantes se machucaram – e tudo em nome de um realismo que transforma as cenas de ação em grossas pancadarias. Na tela, Daniel bate e arrebenta. Sua luta com o vilão Green (Mathieu Amalric) é brutal, mas o ator, mesmo com braço na tipóia, é um homem elegantíssimo. Daniel não é muito alto, tem aquele físico de lutador, cheio de músculos. Se o terno não fosse bem cortado, poderia parecer meio bronco. Mas ele não revela quem é o estilista. ‘É da minha coleção particular.’


Daniel está relaxado, para quem enfrenta o desafio de ter de superar a receita do mais bem-sucedido – nas bilheterias – 007 de todos os tempos. Mas ele realmente não está muito preocupado. ‘Assinei contrato para quatro filmes, ainda terei mais duas chances se este não der certo’, diz. Quantum of Solace, que ganha o acréscimo de 007 no Brasil, não é um título fácil. O que vai chamar o público é o duplo zero, com a licença para matar. Quantum é o nome da organização criminosa que o herói combate, e que tem a fachada da defesa ecológica, embora Mr. Green esteja mais interessado em controlar reservas de água. Quantum of Solace quer dizer alguma coisa como ?um certo consolo?. Tem tudo a ver com o filme, ainda marcado pela dupla perda que o herói sofreu no anterior, Cassino Royale.


Pela primeira vez na franquia, o filme é uma seqüência e começa apenas uma hora depois da morte de Vesper, a bondgirl interpretada por Eva Green em Cassino. Vesper não apenas morria, como o herói descobria sua traição. Ela o amava, ou não? 007 é um homem torturado pela dúvida que lhe produziu a quebra de confiança. É um personagem complexo. Exige um ator que represente de verdade. É onde entra a experiência teatral de Daniel Craig. Ele confessa que tem sentido falta do palco, e diz que vem do teatro a obsessão perfeccionista que o leva a querer repetir as cenas, dramáticas ou de ação, mesmo depois que o diretor já se deu por satisfeito. Daniel transformou o sucesso em liberdade de escolha. ‘Na verdade, é disso que se trata. Podia até errar, mas sempre escolhi o que fazer. O problema é que não tinha muitas opções, porque não me ofereciam grande coisa. Agora, é o contrário. Recebo todo tipo de scripts e o meu contrato como 007 não exige exclusividade.’ Ah, sim, as mudanças na série atingem uma coisa tão pequena, mas tão essencial, quanto o fato de ele, desta vez, não dizer uma só vez a fala – ?Meu nome é Bond.?’


Serviço


007 – Quantum of Solace (Reino Unido-EUA/2008, 106 min.). Ação. Dir. Marc Forster. Cotação: Bom. Estréia 6.ª (7/11)’


 


 


CULTURA
Livia Deodato


Encontro mapeia atuação de revistas culturais


‘Em reuniões do programa Cultura e Pensamento realizadas no ano passado pelo Ministério da Cultura, constatou-se que era necessário e urgente criar um mecanismo que favorecesse a produção cultural independente. O jornalista Antonio Martins, com outros membros dessa comissão, realizou intensa pesquisa e observou a existência de centenas de publicações destinadas a tratar sobre cultura em diversos pontos do País – e que dificilmente alcançam a esquina mais próxima de uma banca de jornal.


‘Elas divergem bastante no que diz respeito à qualidade. Algumas já estão estabelecidas, outras são efêmeras e caminham em um circuito pequeno, mas todas representam grupos de universos distintos e relevantes e que não fazem idéia do que está sendo produzido ao seu redor’, diz o jornalista, editor do jornal online Le Monde Diplomatique Brasil desde sua criação, em 1999.


O primeiro passo, então, foi estabelecer a conexão entre alguns desses jornais e revistas, sejam eles impressos ou virtuais. Antonio frisa que esse, por enquanto, ainda é um levantamento inicial e, por isso, não teve a capacidade de abarcar ou ao menos mencionar todas as publicações existentes atualmente. A idéia é começar a tecer a rede que vai colocar todos em contato, fortalecê-la e assim buscarem apoios a fim de manter os projetos por um longo prazo sob um padrão de qualidade.


Entre os representantes ou colaboradores das publicações que participam do Encontro Nacional de Revistas Culturais Independentes, cuja realização acontece entre hoje e sexta-feira, estão Ademir Assunção (Revista Coyote, PR), Regis Bonvicino (Sibila, SP), Ana Maria Maia (Dois Pontos, PE), Adalberto Paranhos (ArtCultura, MG), Taísa Palhares (Número, SP), Oona Castro (OverMundo, RJ) e Cléber Eduardo (Cinética, SP). Críticos das mais diversas áreas também marcam presença amanhã, das 14h30 às 17 horas, na mesa que pretende propor reflexões sobre o atual papel dessa profissão ingrata. Vilma Arêas, Rubens Machado, Irineu Franco Perpétuo e Glória Ferreira participam do debate que será mediado por Priscila Figueiredo, idealizadora do encontro ao lado de Martins.


Duas mesas do encontro estão destinadas ao debate sobre a internet. Com poucos recursos e sem quaisquer restrições, a rede que permite estreitar relações com o que quer que se deseje, onde quer ele esteja, será tema de um bate-papo entre Eugênio Bucci (jornalista, escritor e professor da ECA-USP) e Carlos Seabra (editor e produtor de conteúdos de multimídia e internet), com mediação de Antonio Martins. Um outro assunto, que será debatido sob o mesmo tema e que deve levantar certa polêmica, diz respeito à perspectiva em lidar com uma ‘ditadura de não-especialistas’, na sexta-feira, das 14h30 às 17 horas.


Como resultado desse encontro e para firmar o entrelaçamento entre as publicações, Martins adianta sobre a criação de um blog que está sendo desenvolvido, ainda sem nome. ‘O blog tem um caráter informal, mas já é um sinal de um trabalho inédito e interessante que visa estimular contato.’’


 


 


TELEVISÃO
Gustavo Miller


É série ou é game?


‘A produtora holandesa de TV Endemol, conhecida mundialmente por ter criado o reality show Big Brother, lançou no fim de semana a sua primeira série para a internet: Kirill. Realizada em parceria com a versão britânica do portal MSN, a atração é uma ficção científica estrelada por David Schofield (Piratas do Caribe).


Na história, ele é um cientista sobrevivente de um terrível experimento nuclear ocorrido há 50 anos. Isolado da humanidade, ele se comunica com o mundo apenas por meio de um blog.


Os blogs são justamente uma ferramenta essencial para quem for assistir à série. Cinqüenta funcionários da Endemol trabalharam nos últimos seis meses a fim de desenvolver na web elementos interativos à trama.


O internauta pode descobrir mais informações de Kirill em várias ferramentas do MSN, como a rede social Windows Live Spaces. Blogs ‘secretos’ de outros dois personagens trazem informações cruciais para a história.


Co-produzida pela Pure Grass Films, famosa pela websérie de terror Beyond the Rave, Kirill será exibida de segunda a sexta-feira no site http://kirill.uk.msn.com pelas próximas quatro semanas.’


 


 


 


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