De janeiro até outubro deste ano, 74 jornalistas morreram em todo o planeta vítimas de assassinatos, mísseis, minas, carros-bomba e outros acidentes. O país no topo do ranking é o Iraque, registrando a morte de 15 jornalistas. Na Índia, seis profissionais faleceram, enquanto Paquistão e Geórgia registram cinco mortes. O Brasil acumula desde 1996 índices superiores aos de países em guerra. Em 2008, o país tem um caso sob análise: o assassinato de Walter Lessa de Oliveira, operador de câmera da TV Assembléia de Alagoas, baleado em um ponto de ônibus em Maceió, no dia 05 de janeiro. Ex-diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Alagoas, Lessa havia participado de reportagens sobre o tráfico de drogas local.
Desde 1996, o Instituto Internacional para a Segurança da Imprensa (International News Safety Institute – INSI) organização não-governamental em defesa dos profissionais de imprensa, contabiliza incidentes contra jornalistas em parceria com a Universidade de Cardiff, no Reino Unido. Em dez anos, os estudos registram mais de 1.000 mortes, a maior parte delas no Iraque – só após a invasão norte-americana, em 2003, foram 252. O Brasil ocupa a décima primeira posição entre os países com mais incidentes, 27 casos, na frente de países como Sri Lanka, em guerra civil há 15 anos e com 16 mortes, ou Afeganistão, com 13 mortes.
‘Barômetro de liberdade de imprensa’
Curiosamente, a maior parte dos registros de mortes de jornalistas é verificada em tempos de paz, em países sem situação de conflito armado decretada. Foram 731 mortes de 1996 até 2006 em nações em paz. Países com situações de conflito internacional registram 167 mortes e com conflitos nacionais contabilizam 102 casos. As maiores vítimas são profissionais locais, em sua maioria envolvidos com a cobertura jornalística de casos de corrupção em governos ou tráfico de drogas, como o caso do brasileiro Walter Lessa.
A organização não-governamental internacional Repórteres Sem Fronteiras apresenta dados menores para mortes de jornalistas, pois contabiliza apenas casos de vítimas no exercício da profissão. Em 2008, até o mês de outubro, foram 34 mortes de jornalistas. A organização conta ainda, em seu ‘Barômetro para a liberdade de imprensa’, que atualmente há 127 jornalistas e 70 ‘cyber-dissidentes’ presos no mundo.
Cobertura de guerra
Correspondentes de guerra respondem por cerca de 10% dos casos de mortes. Para o jornalista João Paulo Charleaux, da editoria Internacional do jornal O Estado de S.Paulo, por sete anos responsável pela comunicação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) no Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile, uma das principais razões para a morte de jornalistas é a falta de organização e planejamento. ‘Tem repórter que vai para a guerra e não sabe usar rádio, não sabe usar nada.’ Charleaux acredita que muitas vezes falta preparo, tanto por parte dos jornalistas quanto por parte das empresas: muitos colegas não se preocupam com segurança, em obter informações ou buscar fontes interessantes em um país em guerra. ‘Eles não se preparam e vão pensando na carreira’, condena.
O repórter especial do Estadão Lourival Sant´Anna defende que planejamento é fundamental. O jornalista, que já realizou coberturas de guerra no Líbano, Iraque, Afeganistão e, mais recentemente, na Geórgia, busca sempre um guia ou intérprete para conhecer a cultura, as pessoas e os riscos do país onde acaba de chegar. ‘Cobrir guerra é questão de logística. Tudo é mais difícil. Você precisa conseguir boas fontes, combustível, carro, comida.’ Para Lourival, o mais importante é não tentar modificar o ambiente. Na cobertura de guerra, o primeiro erro pode ser o último.
******
Jornalista, São Paulo, SP