Depois de meses de campanhas, de ataques, calúnias e demais simulacros projetados e criados como numa linha de montagem fordista, os jornais de Manaus – pelo menos a maioria – conseguiram o que mais queriam: eleger seus representantes para os próximos quatro anos. Democrático, não? Seria, e eu já fiz outros textos sobre isso, mas não foi porque os fait-divers travestidos de jornais de referência ainda não amadureceram como os jornalões dos EUA, que tradicionalmente escolhem publicamente um candidato e lhe dão apoio.
Mas não aqui, em Manaus, não aqui, no Brasil. Por estas bandas, ainda é crime escolher um candidato, como se repórteres e donos de jornais não votassem; como se não participassem do processo democrático que muitos jornais – esses sim, de referência – ajudaram a tornar realidade. Mas o que aconteceu de errado nesta eleição, assim como em tantos outros pleitos desde a redemocratização? A escolha disfarçada, velada e ocultada como um criminoso faz com o cadáver que acabou de criar.
Modus operandi permanece o mesmo
Isto cria um regime contrário ao processo democrático, já que no afã desesperado de ‘eleger’ seu candidato, alguns desses jornais trabalham arduamente não para apoiá-lo diretamente, mas para ‘eliminar’ o adversário. Para isso, fazem reuniões de fim de expediente nas redações com a presença de políticos (a maioria parte integrante dos fichas-sujas), apresentadores de TV (alguns foragidos da Justiça por tráfico de drogas), ‘jornalistas’ e muitos pacotes de dinheiro vivo. Jornalistas se calam para os fatos e dão foco ao universo da especulação, como se especulação fosse um fato concreto em si.
É muito fácil especular, acusar e levantar suspeitas sobre alguém, principalmente quando este alguém é o adversário a ser eliminado. Difícil é provar, trazer documentos e elementos concretos de crime. Quando não se tem um documento, cria-se um; quando não se têm números exatos, disfarça-se e se distorce os que se têm; quando não se tem uma testemunha, paga-se uma. Ou várias. ‘Dinheiro pra isso tem.’ E muito dinheiro circulou por estas redações. O modus operandi dos jornais e dos coronéis de barranco permanece o mesmo, em pleno século 21.
Emissários do ‘novo’ governo
Alguns dizem que esta inversão de valores ‘é por uma boa causa’. Mas são várias causas em jogo e a pergunta que fica é: estamos falando das causas de quem? Já ficou bem claro que muitas dessas causas não são nada altruístas. ‘Agora nosso jornal vai crescer, vai ter apoio finalmente’, já disse um(a) certo(a) dono(a) de jornal a um ex-sócio inconformado com a truculência dos donos da mídia para com a verdade e para com o jornalismo, que há meses partiu desta cidade em um avião fretado e não-identificado rumo ao exílio político.
Mais uma vez, portanto, o ciclo se fecha. Como na tradição hindu de Shiva, o universo é destruído para ser reconstruído mais uma vez. O universo, nesse caso, é o jornalismo, que a esta altura já deve ter sido avisado por emissários secretos do ‘novo’ governo e da Agência de Comunicação do Estado do Amazonas (Agecom) que o período de seu exílio político já tem data certa para acabar: dia 1º de janeiro de 2009. Daqui a dois anos, começará tudo novamente, quando Shiva, ou melhor, os donos da mídia e do poder, vão mais uma vez reservar uma passagem na classe econômica para o eterno exilado, o jornalismo.
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Estudante do 6º período de Jornalismo, Manaus, AM