O diário Atlanta Journal-Constitution cortou recentemente o cargo de editor literário de seu quadro de funcionários, levando muitos leitores a se questionarem sobre a qualidade futura da cobertura sobre o tema: passará ela a se restringir a republicações de matérias de jornais nacionais ou artigos enviados por agências de notícias? A decisão em Atlanta de colocar a revisão das críticas literárias a cargo do editor já responsável pela cobertura de cinema, teatro e artes em geral, reflete uma mudança comum em diversos jornais dos EUA, noticia Motoko Rich [The New York Times, 2/5/07].
No Los Angeles Times, por exemplo, a seção dominical de crítica de livros uniu-se à seção de opinião publicada aos sábados, diminuindo o número de páginas de crítica literária de 12 para 10. No ano passado, a seção literária do San Francisco Chronicle também reduziu a quantidade de páginas de seis para quatro.
Do papel para a rede
Enquanto vários jornais americanos estão reduzindo ou eliminando as seções de crítica literária, na internet surgem diversos sítios de críticas a livros, que oferecem novidades sobre publicações, entrevistas com autores e resenhas – principalmente sobre livros menores que geralmente não encontram espaço na grande imprensa.
Para os que estão acostumados com as mídias tradicionais, é uma dura mudança. ‘Como tudo novo, é difícil para autores e seus empresários entenderem quando nós dizemos: ‘Desculpe, você não estará no New York Times ou no Chicago Tribune, mas sim no Curledup‘, diz Trish Todd, publisher da Touchstone Fireside, selo da editora Simon & Schuster. ‘Mas achamos que esta é a tendência do futuro’.
‘Serviço público’
Obviamente, as mudanças refletem outras maiores enfrentadas por jornais em geral, como declínio na receita publicitária e migração de leitores para a rede. Mas alguns escritores – e leitores – se questionam se, no caso dos livros, o fator econômico deve ser o único a ser considerado. Para Richard Ford, escritor que já ganhou o Prêmio Pulitzer, jornais como o Atlanta Journal-Constitution deveriam publicar críticas literárias ‘como um serviço público’. Ele é um dos mais de 120 escritores que assinaram uma petição para tentar salvar o posto de Teresa Weaver, a editora de livros do diário de Atlanta.
A petição, organizada pelo National Book Critics Circle (ONG com mais de 700 críticos de livros), é parte do esforço da organização para manter uma cobertura crítica de qualidade. O jornal defende-se e garante que a qualidade será mantida. ‘Continuaremos a usar freelancers, agências de notícias e nossa equipe para fornecer matérias sobre livros de nosso interesse para nossos leitores e para a comunidade local literária’, afirma Mary Dugenske, porta-voz do jornal. Mas os profissionais do mercado editorial ainda têm preocupações. ‘Temos muitas opiniões no mundo. O que precisamos é de mais mediação e reflexão, por isso os jornais são tão importantes’, opina John Freeman, presidente da National Book Critics Circle.
Para alguns críticos, o problema dos blogs é que eles não são mídia de massa e não atraem, por exemplo, um leitor casual do jornal de domingo a ler uma crítica literária que lhe desperte o desejo de comprar um livro. Já os defensores dos blogs alegam que há mais liberdade para se criticar na rede. ‘Sei que todos os que vêm a meu blog têm interesse em livros’, conta Mark Sarvas, editor do The Elegant Variation.