Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Maria Feliciana, uma rainha sem trono

É bastante raro ouvirmos dizer que alguma cidade sergipana foi notícia nos telejornais a nível nacional. E por um lado isso é bom, já que normalmente esses programas não são famosos por divulgarem boas notícias. Como diz o velho jargão jornalístico, ‘notícia boa é notícia ruim’. Mas foi com bastante orgulho que os sergipanos assistiram ao programa Globo Repórter (04/04/08) cujo destaque foi para Aracaju, ‘a capital da qualidade de vida’.

Tudo bem que aqui não é o paraíso, conhecemos nossas deficiências (que não são poucas), mas é como aquela velha história, contada numa propaganda de sandálias, em que o ator Lázaro Ramos conversa com um conterrâneo sobre os problemas do Brasil. Quando chega um argentino intrometido, a história muda de rumo. E é assim por aqui também: queremos que o Brasil saiba que este é o melhor lugar do mundo para se viver; cabe a nós fazermos nossa parte sem jamais nos acomodarmos com o título, para deixar a administração municipal correr frouxa.

O problema é que na sexta-feira (31/10) voltamos a ser destaque no mesmo programa da Rede Globo. Eles mostraram que em Sergipe vive uma rainha, a Rainha das Alturas! Recebeu a faixa das mãos de Grande Otelo, no programa do Chacrinha. Fazia shows em todo o Brasil, se apresentava com Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Seria mais uma vez motivo de orgulho para os sergipanos, não fosse a triste situação em que vive essa lenda viva, figura histórica do nosso Estado.

Brilho e valor de seus filhos

Desde 1995, quando sofreu uma cirurgia no pé, não pôde mais trabalhar. Em seguida perdeu o marido e sua situação financeira se agravou. Além disso, dois dos seus três filhos também sofrem com a altura excessiva, o que lhes trouxe problemas de saúde. Desde o ano passado, ela recebe um auxílio da Universidade Tiradentes – Unit –, que lhe ofereceu um plano de saúde vitalício. Em 2003, vários artistas sergipanos fizeram um show com o objetivo de angariar recursos para melhorar a vida da nossa rainha. Não fossem essas iniciativas isoladas, de alguns poucos cidadãos comprometidos com a história viva da nossa terra, provavelmente Feliciana teria caído no esquecimento total.

Para a doce gigante, que tem um coração proporcional à sua altura, pior que o estado de pobreza em que vive seria sua queda rumo ao esquecimento. Também por iniciativa da Unit, a história da maior mulher do Brasil já está sendo contada no Memorial de Sergipe – museu pertencente àquela instituição de ensino. Mas Maria Feliciana dos Santos merece mais, merece ser tratada por sua terra pátria como a rainha que é, merece ser reconhecida e homenageada à altura. Para o acendimento de outra filha ilustre, a árvore de natal da Energisa, destaque na imprensa, fogos, apresentação de corais, presença de autoridades, desvio do trânsito. Enquanto isso, nossa rainha viva chora, com medo de ser apagada da memória de sua terra.

Uma humilde sugestão desta que vos escreve: que tal seria se a nossa bela árvore, a maior do mundo, recebesse oficialmente o nome de Maria Feliciana? E que a dona do nome fosse a sua madrinha e a acendesse todos os anos? E, por favor, que a partir de agora os poderosos da nossa terra se sensibilizem e tirem o nome ‘Edifício Estado de Sergipe’ do prédio Maria Feliciana. Com festa de batismo, fogos e faixa cortada pela Rainha das Alturas. Que a pequena Aracaju ajude a promover qualidade de vida a esta gigante, Rainha do Brasil, orgulhosamente moradora desta terra, para que esta terra só seja destaque na mídia por seu brilho e pelo valor que dá aos seus filhos ilustres.

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Jornalista, Aracaju, SE