Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um cargo conservador e polêmico

A primeira coluna do ano do ombudsman do New York Times, Clark Hoyt, teve como tema um cargo polêmico no jornal: o de ‘colunista conservador’ das páginas editoriais, comumente recheadas de opiniões liberais. Por isso, a coluna conservadora constitui uma voz dissonante que atrai diversas críticas de leitores do diário.

Hoyt lembra que a coluna é polêmica desde sua criação, em 1972. Naquele ano, o publisher do NYTimes, Arthur Ochs Sulzberger, procurava por alguém que pudesse ocupar o posto de ‘colunista conservador’. Em um jantar beneficente, ele sentou-se ao lado de William Safire, que na época escrevia os discursos do presidente Richard Nixon. A partir deste encontro, os dois entraram em negociação – sem envolver, no entanto, John Oakes, primo do publisher e editor das páginas editoriais. Quando Oakes tomou conhecimento do fato, ficou surpreso e sugeriu outras opções. Uma delas era Irving Kristol, um dos fundadores da corrente política neoconservadora, que combina posições mais liberais em questões sociais, com posições mais conservadoras em outras, como a importância da família e da religião. Na época, a escolha por Safire gerou muitas críticas. Nicholas von Hoffman, então comentarista do Washington Post, chegou a afirmar que o NYTimes poderia ter economizado muito dinheiro se, no lugar de Safire, tivesse colocado um office boy recolhendo os releases na Casa Branca.

Escolha de Sofia

Ainda hoje, a escolha de alguém para escrever esta coluna conservadora é complexa. Em 2005, Safire, então com 74 anos, optou por deixar o cargo para se dedicar em tempo integral à Dana Foundation, organização não-lucrativa que apóia pesquisas neurocientíficas e iniciativas nas áreas de arte e educação. Ele ainda escreve uma coluna para a revista de domingo do diário, mas seu lugar na página editorial foi ocupado pelo colunista David Brooks.

No final do ano passado, coube ao filho de Sulzberger, Arthur Jr. (atual publisher do jornal), a responsabilidade de escolher um segundo ‘colunista conservador’ – desta vez, com o apoio do editor das páginas editoriais, Andrew Rosenthal. Segundo eles, era preciso mais um nome, já que o NYTimes conta com seis colunistas liberais, mas apenas um conservador – que não sustenta posições tão conservadoras assim. Sulzberger optou por contratar o filho de Irving Kristol, William, para o cargo. Quando a notícia foi divulgada, no começo de 2008, as críticas foram semelhantes às da época da contratação de Safire. ‘O pior nome possível’, dizia o blog Gawker, que publica comentários sobre a mídia novaiorquina.

Defensor da guerra do Iraque

Hoyt recebeu quase 700 e-mails sobre a escolha de Kristol e apenas um elogiava a indicação. A maioria criticava o fato de ele apoiar a guerra do Iraque; alguns diziam que ele já é muito exposto por ocupar o cargo de editor da revista Weekly Standard e ser comentarista da emissora Fox News, e por isso não traria nada de relevante ao diário. Kristol foi contratado por um ano e continuará na Weekly Standard e na Fox. O ombudsman revela que não escolheria Kristol para juntar-se a Brooks como uma segunda voz conservadora do diário. Mesmo assim, algumas reações a seu nome foram extremamente exageradas, reconhece. Sulzberger confessou sua surpresa com o nível dos comentários – um deles recomendava pendurar Kristol em um poste para ser agredido por uma multidão.

Kristol defende alguns pontos de vista republicanos em relação a questões econômicas e sociais e é visto como um grande defensor da guerra do Iraque. Hoje, grande parte dos americanos vê a guerra como um erro. Em sua estréia, na semana passada, o colunista alertou sobre o perigo do país eleger um presidente democrata diante da situação iraquiana. Ele apostou ainda na derrota de Hillary Clinton na véspera da primária de New Hampshire, onde ela obteve a vitória.

Gota d’água

Para Hoyt, entretanto, o que mais incomoda em Kristol é uma declaração dada por ele na Fox News, em junho de 2006. O comentarista afirmou, na ocasião, acreditar que o procurador-geral do país tinha a obrigação de considerar a condenação do NYTimes por publicar um artigo que divulgava um programa governamental secreto na luta contra o terrorismo; pelo programa, o governo havia vasculhado dados de transações bancárias internacionais de milhões de americanos. O vazamento gerou polêmica em 2006. Na época, o então ombudsman Byron Calame chegou a defender a divulgação do programa secreto, mas depois mudou de posição.

O ombudsman acredita que a afirmação de Kristol não levou em conta a Primeira Emenda e nem o papel de uma imprensa livre para monitorar o governo. Por este motivo, ele não o teria escolhido para o cargo. Procurado por Hoyt, o colunista recusou-se a falar sobre o assunto – atitude estranha, afirma o ombudsman, para alguém que presumidamente gostaria que outros o procurassem para discutir sua coluna. Sobre os comentários de Kristol, Rosenthal admite que ficou incomodado. ‘Foi uma acusação dura que o colocou numa categoria que não é a de jornalista’, disse. ‘Mas os colunistas de opinião não são necessariamente jornalistas tradicionais e uma opinião não deve ser a base para selecionar ou rejeitar um colunista’.

Já Sulzberger mantém a posição de que o NYTimes precisa de um colunista que traga para as páginas do diário um ponto de vista bem articulado e profundo em consonância com o movimento conservador republicano. ‘Nossas páginas editoriais são um mercado de idéias. Ele irá fortalecer a discussão’, opina. Para Hoyt, só o tempo dirá se Kristol poderá ser um novo Safire – que começou criticado, mas depois se tornou leitura obrigatória mesmo para aqueles que discordavam dele.