Em visita ao município de Itajaí (SC), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou bem claro que a culpa de não crescermos como poderíamos é do meio ambiente. Isso mesmo. O pior é percebermos que este discurso está sendo reproduzido por boa parte de nossa mídia, distorcendo desta forma uma visão ampla e verdadeira dos fatos.
É interessante observar que o Brasil vende uma política de preservação de nossos ecossistemas para o mundo, principalmente Amazônia, e internamente tenta adotar uma política de crescimento a qualquer custo. Para isso, tenta de forma organizada com determinados setores – e com apoio de parte da mídia – promover o descrédito de nossa legislação ambiental, imputando a ela os problemas de crescimento e êxodo rural em nosso país. Tenho certeza que em breve nossos políticos vão dizer que é a legislação ambiental também a culpada por toda desigualdade social encontrada no Brasil.
Parece que transcendemos os anos e os discursos de nossos representantes continuam os mesmos. Basta pensar que na Conferência de Estocolmo, em 1972 (primeira conferência das Nações Unidas com a temática do meio ambiente), o Brasil tinha uma posição de crescimento a qualquer custo. O que mudou é que externamente vendemos a imagem de um país que preserva, mas internamente o que vemos na prática é exatamente o inverso.
Deparamos-nos constantemente com iniciativas que tentam modificar a legislação ambiental. Com que objetivo? A resposta é difícil, pois os argumentos utilizados em sua maioria não são técnicos, mas políticos.
Cenário assombroso
A falta de critérios técnicos nas tomadas de decisões e a falta de interesse pela preservação ambiental fazem com que tenhamos de assistir interesses difusos sobressaindo aos preceitos/critérios técnicos e interesses coletivos. E basta um observação atenta para perceber que usualmente é utilizado o mesmo discurso para justificar as decisões: temos que continuar crescendo e desenvolvendo, mesmo se para isso colocar em risco todo um ecossistema e o futuro de uma determinada comunidade.
Infelizmente parece que o Brasil parou no tempo, mais exatamente em 1972, e continua a brincar de preservar os seus recursos naturais. Não parece que em pleno 2009 ainda tenhamos de assistir aos discursos que pregam o crescimento e ‘desenvolvimento’ a qualquer custo. O cenário torna-se mais assombroso se pensarmos que este crescimento em detrimento da preservação não gera sequer a diminuição da desigualdade social existente no país.
É urgente e necessário refletir sobre as posturas que tomamos em relação aos nossos recursos naturais, para que possamos modificá-las enquanto é tempo.
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Oceanógrafo, Itajaí, SC