Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Incompatibilidade de prêmio

Duas coisas evidentemente incompatíveis: política (no mau sentido da palavra) e liberdade de imprensa. Esta tem compromisso com as necessidades sociais; aquela, com interesses mesquinhos individuais ou corporativos. A política tem seus caciques, mas a liberdade de expressão não tem dono. Os jornais têm; a imprensa livre, não. A mídia está nas mãos dos políticos ou de empresários ligados à política. A liberdade de imprensa, por sua natureza, pertence a toda sociedade, mas não está nas mãos de ninguém.

Não existe, portanto, imprensa livre em veículos de comunicação impulsionados por interesses políticos ou mercantilistas. Se, vez ou outra, a liberdade de imprensa parece presente, são em situações esporádicas, em determinados momentos, em certas circunstâncias. Em especial, quando não contraria o interesse de ninguém. No mais, o que impera é a liberdade dos donos. Dos manda-chuvas da mídia. E existe uma enxurrada deles Brasil afora, onde os empresários são muitos, e a liberdade, pouca.

Aqui em Alagoas não é diferente. Por isso, nos causa estranheza a notícia de que a Associação Brasileira de Imprensa concederá a comenda Barbosa Lima Sobrinho ao governador do estado, Ronaldo Lessa. Segundo os jornais locais, ‘a homenagem a Lessa é em função da sua luta em favor da liberdade de imprensa no estado’ (Primeira Edição, 22 a 28 de agosto, p. A8). Não foi esclarecido, entretanto, quais foram as batalhas que o político travou (ou vem travando) em prol da imprensa livre em Alagoas.

Méritos e motivos

O que sabemos é que Ronaldo Lessa, assim como outros tantos políticos da Terra dos Marechais, possui vínculo com a mídia político-empresarial e, conseqüentemente, nenhuma ligação com a liberdade de imprensa. A imprensa aqui é amarrada, presa aos interesses dos coronéis, caciques e manda-chuvas. Presa a Lessa está a Tribuna de Alagoas, adepta também da máxima ricuperiana do que é bom a gente fatura, o que é ruim, esconde; o que, por si só, já é incompatível com qualquer liberdade de expressão.

Liberdade arranhada pessoalmente por Ronaldo Lessa em 2001, quando proibiu os integrantes de seu governo de conceder entrevista aos veículos de comunicação do ex-presidente Fernando Collor de Mello, seu desafeto político. Dias depois, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) publicava nota de protesto contra o governador, cujos seguranças impediram de forma ostensiva o exercício da liberdade de imprensa durante evento público na Escola Fazendária. Mais uma vez, os interesses políticos se chocam, e a liberdade de imprensa passa ao largo das duas facções oponentes.

Não sabemos quais os méritos (se é que precisa existir algum) para Ronaldo Lessa ser agraciado com a comenda Barbosa Lima Sobrinho. O que há são motivos para que não receba qualquer homenagem por suposta luta em defesa da liberdade de imprensa, vez que é incompatível com sua vida política.

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Editor do Observatório Alagoano