Friday, 29 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Diploma(dos) da cozinha

Não, excelentíssimo senhor ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, não deveríamos ser comparados a cozinheiros, mas talvez a algum produto comercializado nas feiras livres. ‘Quem quer ser jornalista?’, ‘Vamos comprar, freguesa, que a notícia tá fresquinha’.

Concordo, excelentíssimo, quando o senhor afirma que ‘a formação específica em cursos de Jornalismo não é meio idôneo para evitar eventuais riscos à coletividade ou danos a terceiros’. Acrescento a isso que nenhum curso de ensino superior o é e que tampouco a finalidade de um curso de Jornalismo seja essa. Jornalismo é uma ciência!

Um dos pioneiros a reconhecer tal fato foi o teórico alemão Otto Groth, ao revelar, na primeira metade do século 20, que o exercício diário do jornalismo exige uma metodologia científica no desenvolvimento de uma reportagem, passos que se repercutem independente da sociedade e da sua cultura específica.

Para o jornalista e teórico José Marques de Melo, o jornalismo pode ser definido como ‘ciência que estuda o processo de transmissão oportuna de informações da atualidade, através dos veículos de difusão coletiva’. Portanto, uma formação básica é fundamental para o exercício do jornalismo.

Caráter, retidão e ética

Mas quem irá questionar a legitimidade da decisão judicial? Eu, estudante de Jornalismo do último semestre que um dia acreditou ser essa profissão o caminho para termos um mundo melhor, uma sociedade mais justa e digna? Eu, que estudei para ser aprovada em um curso de Jornalismo de uma universidade pública, gratuita e de qualidade? Para quê? Tudo utopia: nem o curso de Jornalismo nem a universidade com essas adjetivações existem. Talvez os meios ditos ‘legais’ devessem se preocupar com esse assunto: educação. Ainda mais quando o referido ministro afirma que ‘o fato de um jornalista ser graduado não significa mais qualidade aos profissionais da área’. Qual o escopo de uma universidade? Pelo visto, nos cursos de Direito, tão exigentes e idôneos, estão ensinando a fazer comida.

A decisão do STF foi um golpe, sim, mas não apenas para os estudantes de Jornalismo ou jornalistas por formação, mas principalmente para a sociedade brasileira. Que jornalismo teremos? Qual jornalismo queremos? Por que e para que ser jornalista? Qual sentido dessa ‘profissão’? Que liberdade de imprensa é essa que cala os próprios jornalistas? Meio adequado é a justiça, esse sim, é isento de erros ou danos. Pela lógica do ministro Cezar Peluso, teremos agora a garantia de um jornalismo sem deficiência de caráter, retidão e ética. A mim, só restam dúvidas…

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Estudante, Juazeiro, BA