Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Série sobre veteranos de guerra provoca críticas

A coluna de domingo [27/1/08] do ombudsman do New York Times, Clark Hoyt, tratou de uma série investigativa sobre veteranos dos conflitos no Iraque e Afeganistão que cometeram – ou foram acusados de cometer – assassinatos após retornarem aos EUA. As reportagens foram destaque de capa em dois domingos de janeiro. Durante oito meses, uma equipe de jornalistas investigativos realizou entrevistas com os veteranos e seus familiares e fez uma extensa pesquisa nos arquivos de cortes judiciais.

A série recebeu críticas – do New York Post e de blogs conservadores – e, ainda que psiquiatras tivessem endossado o conteúdo das matérias, o jornal foi acusado de demonizar os veteranos e exagerar o problema. A primeira parte, publicada em 13/1, contava com uma fotomontagem de 24 jovens, alguns com uniforme militar, outros em uniformes de presidiário. O artigo começava com a história de Matthew Sepi, jovem de 20 anos que buscou no álcool a fuga para seus pesadelos sobre o Iraque e acabou matando um membro de uma gangue e ferindo outro com uma AK-47. Segundo a matéria, a equipe investigativa encontrou 121 casos parecidos em todo o país, muitos envolvendo ‘trauma de combate e estresse – aliado a abuso de álcool, discórdia familiar e outros problemas’. O diário trouxe exemplos terríveis de algo que o próprio Exército reconhece: um grande número de veteranos retornam do Iraque e do Afeganistão com problemas psicológicos. Uma força-tarefa do Pentágono descobriu, no ano passado, que o sistema militar de saúde mental não tinha preparação adequada para lidar com os numerosos casos de estresse.

Hoyt não concorda com as acusações sofridas pelo Times, mas reconhece o mau uso de expressões fortes como ‘rastro de morte’ para uma tendência que não pode ser ainda quantificada. Para ele, a série não deixou claro seu objetivo: tratava-se de uma questão sobre ‘os veteranos assassinos’ ou sobre ‘tragédias humanas envolvendo um sistema, que algumas vezes é falho, para tratar de almas problemáticas retornando do combate’? Além disso, apesar de muitos dos 121 casos descobertos pelo jornal estarem claramente ligados a estresse de guerra, alguns tinham motivação questionável.

Comparações

Diante da série, alguns leitores quiseram saber qual a comparação entre o índice de homicídios cometidos por veteranos e cometidos por civis. Segundo cálculo feito por blogueiros, o índice de homicídios cometidos por veteranos é menor do que o da população em geral. Hoyt procurou Martin T. Wells, professor de ciências estatísticas da Cornell University, para obter esta resposta. Segundo ele, para fazer uma comparação entre homicídios cometidos por militares e civis, seria necessário saber quantos militares no Iraque e no Afeganistão – de um total de 1,6 milhão – efetivamente estiveram em combate; e este dado o Pentágono não tem.

Lizette Alvarez e Deborah Sontag, jornalistas responsáveis pela série, e seu editor, Matthew Purdy, não concordam com a polêmica de se estabelecer comparações entre os homicídios. Para eles, a questão é irrelevante. Como o Exército não aceita pessoas com problemas mentais ou registro de homicídios, o índice com certeza é menor do que o da população em geral. Eles estipularam outra comparação, no entanto, baseada em informações encontradas na mídia. Segundo sua pesquisa, comparado aos seis anos anteriores ao conflito, o número de homicídios envolvendo militares em serviço e veteranos aumentou 89% nos seis anos desde o início da guerra. O ombudsman não acha que notícias possam servir de base para esta comparação, até porque a própria mídia americana foi acusada, nos últimos anos, de ter uma postura pessimista em relação à guerra. Apesar de todas as controvérsias, Bill Keller, editor-executivo do Times, acredita que a série, ao explorar em detalhes o estresse emocional causado pela guerra e os problemas enfrentados pelos militares, cumpre um serviço público.