O escritor e jornalista Gay Talese, principal representante do jornalismo literário nos Estados Unidos, encantou algumas dezenas de jornalistas na entrevista coletiva realizada na quinta-feira (2/7) durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Ele demorou 40 minutos para responder a primeira de cinco perguntas, sobre como realiza pesquisas para seus livros.
Talese contou como decidiu viajar para Pequim, em 1999, após assistir na televisão a um jogo de futebol feminino entre as seleções dos Estados Unidos e da China, no qual uma jogadora chinesa cometeu uma falha e provocou a derrota do seu time. Ele entendeu que aquela jovem representava o espírito chinês da perseverança, e tentou obter o apoio de alguma revista ou jornal para o projeto de entrevistar a jovem. Mas ninguém se interessou, porque, afinal, ponderou, a imprensa não se interessa por perdedores.
Ele acabou viajando por conta própria, e durante dez dias viu sua história evoluir para um dos contos que compõem seu livro intitulado Vida de Escritor, com lançamento no Brasil marcado para sexta-feira (3) durante a Flip.
Recomendação preciosa
Durante mais de uma hora, tempo que levou para explicar apenas como escrevera esse conto, ele ofereceu algumas lições de jornalismo que andam esquecidas há pelo menos uma década. Nesse texto, ele reproduz o que colheu em depoimentos da mãe e da avó da atleta, e compõe uma bela história sobre três gerações de mulheres chinesas.
Uma de suas lições aos jornalistas: vá até o lugar da notícia, apresente-se, de preferência de uma forma agradável e elegante, e não terceirize a tarefa de recolher as histórias. Você não sabe o que vai encontrar no local do acontecimento. Então, tem que estar lá.
E a última e mais preciosa recomendação, que anda esquecida nas redações: jornalismo não é feito de competitividade, mas de qualidade.