CAMPANHA
Serra diz ter lido notícia de acordo nos jornais
‘O governador de São Paulo José Serra (PSDB) afirmou ontem que viu ‘pelos jornais’ a notícia do apoio dado pelo PMDB ao prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (DEM) na disputas das eleições municipais de outubro deste ano.
A afirmação foi feita no Hospital Dante Pazanezze em evento comemorativo do Dia Nacional de Combate à Hipertensão, que se realiza hoje.
O acordo fechado entre PMDB e Kassab contou com a articulação de correligionários do governador José Serra e desagradou ao ex-governador Geraldo Alckmin, que sai enfraquecido na disputa pela Prefeitura de São Paulo.
Com a atuação nos bastidores, Serra busca se tornar o nome forte de seu partido para a disputa das eleições presidenciais, em 2010.
Ontem, após medir a pressão -que estava normal (7 por 11)- e o número de batimentos cardíaco (65 por minuto), o qual considerou uma ‘pulsação de atleta’, Serra disse que não conversaria sobre política e tampouco sobre eleições municipais. ‘Se eu falar hoje de política, terei que falar sempre, e não falarei dos assuntos do dia,’ afirmou.
Questionado se a pressão arterial de Geraldo Alckmin estaria tão boa como a sua após o anúncio que fortaleceu a candidatura Kassab, o governador disse: ‘Eu li a notícia pelos jornais. Eu não vou comentar’.
Ao final da entrevista, Serra foi indagado se o apoio do PMDB a Gilberto Kassab poderia render ao partido uma participação mais efetiva no governo estadual ou o comando de alguma secretaria.
‘Só se fosse a da Saúde’, afirmou o governador em tom de brincadeira com o secretário estadual de Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata, que estava a seu lado.’
CONCENTRAÇÃO
Há concentração na mídia, diz ministro ao PT
‘Durante Conferência Nacional de Comunicação do PT, realizada ontem em Brasília, o ministro Franklin Martins (Comunicação Social) disse que há uma concentração muito grande de meios de comunicação nas mãos de algumas empresas.
‘Temos que trabalhar para diminuir a concentração que existe de meios de comunicação dos mesmos grupos, que mantêm rádios, TVs e jornais. A propriedade é totalmente cruzada e vamos ter que discutir isso, se existe uma forma para descentralizar. Não sei se existe’, disse.
Martins participou de um painel chamado ‘O governo Lula e o direito à comunicação’. O tema da conferência petista era ‘a democratização das comunicações no país e os desafios do PT para melhorar a interlocução partidária e com a sociedade.’
O ministro criticou o governo por não ter resolvido problemas enfrentados pelas rádios comunitárias.’
DEMÓCRITO DUMMAR
Morre, aos 63, presidente do grupo O Povo
‘O grupo de comunicação O Povo, um dos maiores do Ceará, informou na tarde de ontem a morte de seu presidente, Demócrito Rocha Dummar, aos 63 anos. A família dele não quis se pronunciar sobre a causa.
O principal veículo do grupo é o jornal ‘O Povo’, que neste ano completou 80 anos e que foi fundado pelo avô de Dummar, Demócrito Rocha.
Bacharel em direito, Dummar estava no jornal desde os 17 anos e, em 1985, assumiu a presidência. Em recente caderno comemorativo dos 80 anos do diário, ele declarou que havia passado por todos os setores da empresa, ‘da impressão ao novo jornalismo’.
Há algum tempo, passou a presidência-executiva do jornal para uma das filhas, Luciana Dummar, mas, ainda assim, continuava a freqüentar a Redação diariamente. Era casado havia 30 anos com Wânia Cysne Dummar e tinha outros três filhos e três enteados.
‘Era uma relação talvez única na imprensa brasileira, pois ele interagia cotidianamente não só com a chefia mas com toda a Redação’, disse o jornalista Fábio Campos, que falou como porta-voz da família.
O grupo divulgou uma nota na qual lamentou a morte: ‘A família não quer se pronunciar neste momento de dor e pede a todos que guardem na lembrança não só o jornalista que durante quase 45 anos se dedicou ao jornal ‘O Povo’, mas, acima de tudo, o homem que inspirou gerações de cearenses. E que continuará inspirando’.
Além do jornal, o grupo é formado por uma TV educativa, que tem programação própria e entrou no ar em 2007, uma emissora de rádio AM, que mantém convênio com a CBN, três emissoras de rádio FM, uma editora e a Fundação Demócrito Rocha, que atua nas áreas de educação e cultura.
Até o final da tarde de ontem, ainda não havia sido definido o local do velório e o enterro.
O governo do Ceará decretou luto oficial de três dias e, em nota, e lamentou a morte. ‘Sua história deixa um legado de luta em defesa dos direitos da sociedade e da liberdade de expressão, na construção de uma sociedade democrática e justa.’’
ELEIÇÕES NOS EUA
Comercial reacende polêmica sobre o ex-pastor de Obama
‘O Partido Republicano da Carolina do Norte reabriu a controvérsia sobre Jeremiah Wright, ex-pastor de Barack Obama, com um comercial no qual usa a associação entre os dois para dizer que o pré-candidato democrata é ‘muito radical’.
Wright foi alvo de uma polêmica há cerca de um mês, quando foram veiculados na internet trechos de sermões em que ele critica a divisão racial do país e diz que os EUA foram responsáveis pelo 11 de Setembro.
O virtual candidato republicano à Casa Branca, John McCain, recusou-se a apoiar o comercial. ‘Esse tipo de campanha é inaceitável. Eles [o partido local] não estão me ouvindo porque estão fora da realidade’, disse.
O próprio reverendo, porém, ajudou a devolver as atenções ao tema com uma entrevista à rede PBS sobre Obama. ‘Quiseram me retratar como um fanático’, afirmou, reiterando que nunca ouviu o democrata repetir nenhum de seus comentários polêmicos. ‘Ele é um político, eu sou um pastor. Falamos para audiências diferentes. Ele diz o que tem que dizer como político.’
Carolina do Norte e Indiana terão primárias no próximo dia 6 de junho.
Com agências internacionais’
SÍRIA
Ação israelense na Síria detona guerra de informações
‘Um dia depois da acusação do governo americano de que a Síria construía com ajuda norte-coreana um reator nuclear, destruído em setembro por Israel, continuavam ontem contraditórias e confusas as informações sobre as verdadeiras intenções da ditadura síria.
Washington afirmara anteontem que o reator se tornaria operacional ‘dentro de semanas ou meses’ quando jatos israelenses o destruíram no ano passado. A misteriosa operação provocou em Damasco reação tardia, sem que o governo israelense abertamente a assumisse ou comemorasse.
Os altos funcionários da inteligência americana que trouxeram o assunto à tona afirmaram anteontem que tinham ‘elevada confiança’ na informação de que Pyongyang havia auxiliado a Síria no projeto.
Mas também disseram, insiste a Associated Press, que não estavam tão certos de que os sírios obteriam plutônio (a matéria-prima da bomba atômica), já que as instalações bombardeadas não contavam com dispositivos de reprocessamento de urânio utilizado.
Dois especialistas ouvidos ontem pela agência Reuters, David Albright e Paul Brannan, do Instituto pela Ciência e Segurança Internacional, enfatizaram a ausência desses aparelhos de reprocessamento e disseram que isso enfraquece a versão de que o reator se destinava a fins militares.
Afirmaram ainda que os Estados Unidos não tinham informações sobre quem forneceria à Síria o urânio enriquecido para operar a unidade, o que levanta dúvidas sobre a própria viabilidade do projeto.
Síria e El Baradei
Em Viena, o diretor-geral da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), Mohamed el Baradei, ‘deplorou’ que o governo americano não tenha compartilhado com seus especialistas as informações divulgadas pela mídia.
Também criticou Israel por ter destruído as instalações antes que seu organismo, o braço da ONU para a não-proliferação, pudesse inspecioná-las.
Na Síria, um informante anônimo acusou Washington de ‘procurar desinformar o Congresso’ e acusou o Pentágono de ter fornecido a Israel ajuda para o bombardeio.
O ditador Bashar Assad, em entrevista a um jornal do Qatar, reafirma a versão de que a área bombardeada abrigava instalações militares convencionais. Foi irônico ao afirmar que ‘construir um reator no meio do deserto, sem defesa antiaérea e exposto às fotos de satélites’, seria uma ingenuidade.
Na sede da ONU, em Nova York, o embaixador sírio, Bashar Jaafari, disse que seu país ‘não tem nada a esconder’ e afirmou que continuará a cooperar com a AIEA.
Como se procurasse minimizar o jogo internacional de pressões e declarações, o negociador americano para as questões nucleares da Coréia do Norte, Christopher Hill, disse que a cooperação nuclear do regime de Pyongyang com a Síria ‘já é coisa do passado’.
Mas a Coréia do Sul, preocupada com a nuclearização da península Coreana, exortou a Coréia do Norte a cumprir o compromisso de explicitar suas atividades nucleares. Kim Sook, negociador nuclear em Seul, disse acreditar na venda clandestina de tecnologia norte-coreana ao governo sírio.
Em Paris, a porta-voz da diplomacia francesa, Pascale Andreani, disse que ‘a construção clandestina de um reator nuclear seria uma falta grave daquele país diante das leis de não-proliferação’.
Com agências internacionais’
ZIMBÁBUE
Polícia prende 300 opositores e observadores das eleições
‘A polícia do Zimbábue prendeu ontem cerca de 300 pessoas na sede do partido opositor Movimento pela Mudança Democrática (MDC) e no escritório de uma organização civil que observou as eleições gerais de março último.
O MDC e a Rede de Apoio às Eleições do Zimbábue (Zesn) afirmam que os policiais também apreenderam computadores e documentos relativos à contagem independente dos votos, que indica a derrota do ditador Robert Mugabe nas urnas.
Quase um mês após a votação, em 29 de março, o governo ainda não divulgou os resultados oficiais da eleição presidencial e pediu a recontagem dos votos parlamentares, após perder a maioria histórica no Congresso. O MDC diz que a demora equivale a um golpe de Estado.
Relatos de testemunhas dão conta de que de 200 a 250 policiais da tropa de choque participaram da ação.
Segundo a polícia, os detidos são suspeitos de envolvimento em crimes em áreas rurais do país.
Com agências internacionais’
TELES
Oi fecha compra da BrT por R$ 5,86 bi
‘A operadora de telefonia Oi anunciou ontem o fechamento da compra da Brasil Telecom, por R$ 5,863 bilhões. Com isso, a antiga Telemar se tornará um dos maiores grupos empresariais brasileiros, com receita anual de R$ 29,3 bilhões (a soma das operadoras em 2007).
A operação financeira total, incluindo o valor a ser pago aos acionistas minoritários, ultrapassará R$ 12 bilhões. Isso sem incluir os recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), de R$ 2,569 bilhões, para a reestruturação acionária da Oi.
O negócio foi fechado sem amparo legal. A compra da BrT depende de mudanças no PGO (Plano Geral de Outorgas), que estabeleceu as regras do mercado após a privatização, em 1998. Também serão necessárias as autorizações da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
Enquanto isso não acontece, as duas companhias permanecerão atuando separadas. O presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco, que estará à frente da nova operadora, espera mudanças no PGO num prazo de até três meses: ‘As mudanças já estão maduras. Esperamos agora ventos positivos e fumaça branca saindo das chaminés’.
A compra da BrT pela Oi era esperada desde dezembro, quando as negociações se intensificaram. Mas rumores sobre o assunto circulavam havia cerca de dois anos. O resultado será a criação de uma grande tele nacional, projeto estimulado por boa parte do alto escalão do governo federal.
Os analistas consideram que as chances de impedimento legal para o negócio são remotas. Assim, a telefonia brasileira assistirá a uma disputa entre três grupos: a Oi, a espanhola Telefónica e o grupo mexicano América Móvil, de Carlos Slim, dono da Claro e da Embratel.
O negócio foi fechado na tarde de ontem. Foi uma negociação em duas etapas. Na primeira, os grupos Andrade Gutierrez e La Fonte (de Carlos Jereissati) compraram as participações do Citigroup, do Opportunity e da GP Investimentos na Oi (Telemar). Na segunda etapa, a Oi comprou o controle da BrT -que, por sua vez, também passou por reestruturação societária, com a saída do Citigroup e do Opportunity.
Para que essa engenharia se concretizasse, Opportunity, Citigroup e fundos de pensão desataram o nó societário da BrT -umas das disputas mais ferozes entre companhias brasileiras. A Telemar pagará R$ 315 milhões para eliminar as pendências judiciais relativas à disputa do controle acionário.
A operação financeira total compreende os R$ 5,8 bilhões pagos pela Oi para a compra do controle da BrT, R$ 3,5 bilhões ofertados num instrumento chamado ‘tag along’ (que estende aos minoritários 80% do valor pago) e R$ 3 bilhões na oferta pública voluntária para os minoritários com ações preferenciais (sem direito a voto).
Em entrevista concedida ontem à noite, Falco disse esperar reação: ‘Acho que eles [os concorrentes] vão tentar impedir o negócio. Mas o fato é que o Brasil tomou a decisão de não ter duas plataformas [no setor de telecomunicações], e sim três’.
Segundo ele, o mundo assiste a um processo de intensa concentração no mercado de telecomunicações. Os grandes grupos passaram a atuar em diversos segmentos: telefonia fixa, celular, acesso à internet e transmissão de dados. E citou o exemplo dos EUA, onde, depois de muitas fusões e aquisições, restaram três grandes: AT&T, Qwest e Verizon.
Para competir com os gigantes internacionais Telefónica e América Móvil, a Oi tentará conquistar mercados no exterior. A meta é atrair 30 milhões de clientes estrangeiros em cinco anos. Falco mira América Latina, Europa e África.
Segundo ele, para competir no país com os grupos espanhol e mexicano, a Oi precisará de escala e se tornar uma operadora global. Exemplo: mesmo no Brasil, a nova Oi larga na terceira posição no bilionário mercado de telefonia celular, com 17,9% dos clientes. A Claro tem 25% e a Telefónica detém 56,7%, incluindo a operação da TIM no Brasil (o grupo espanhol comprou participação no controle da Telecom Italia, dona da TIM) -as duas atuam de forma independente).
Do ponto de vista financeiro, a Oi nasce com receita anual de R$ 29,3 bilhões, contra R$ 41,5 bilhões do grupo Telefónica (incluindo TIM), e supera a Claro (R$ 20,5 bilhões). Os números são de 2007.
Mas, na comparação internacional, o quadro muda: a Oi, que não tem negócios lá fora, mantém os R$ 29,3 bilhões. Já os espanhóis tiveram receitas de R$ 240,1 bilhões, contra R$ 81,3 bilhões do grupo mexicano, sempre levando em conta os resultados do ano passado.’
Janaina Lage
BNDES dá R$ 2,57 bi para reestruturação
‘O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) informou ontem que o apoio do banco à operação de criação da nova tele soma R$ 2,569 bilhões na reestruturação societária da Telemar Participações, controladora da Oi. Os recursos do banco não estão incluídos na oferta feita para a compra da Brasil Telecom, de R$ 5,86 bilhões.
Na prática, a participação do banco não se dará por meio de financiamento tradicional, mas através de uma intrincada operação de compra de ações envolvendo recursos da carteira da BNDESPar, o braço financeiro do banco de fomento. O BNDES já era acionista da Telemar Participações desde 1999, ano em que ela foi criada após a privatização da Telebrás.
Ao final do processo de reestruturação, o banco vai reduzir sua participação de 25% para 16,89%. O modelo da operação garante direito a veto. Sem o aval da BNDESPar, a empresa não poderá, por exemplo, realizar operações que coloquem em risco a estabilidade do controle. Além disso, o banco poderá interferir em questões relacionadas a fusões, cisões e reestruturações societárias.
Em caso de venda do controle, a BNDESPar terá direito de preferência na compra e direito irrestrito de venda conjunta (negociar suas ações pelo mesmo preço do controlador), o que até então não era previsto. O acordo de acionistas prevê que Oi e Brasil Telecom deverão manter, por três anos, o mesmo número de postos de trabalho registrados em 1º de fevereiro de 2008.
Sem dinheiro do FAT
‘A reestruturação societária será decisiva para a consolidação de duas operadoras, a Oi e a Brasil Telecom, que resultará na criação de um grupo com escala eficiente, estratégia empresarial alinhada, com capacidade de crescimento e porte para competir internacionalmente no setor de telecomunicações’, afirmou o presidente do banco, Luciano Coutinho.
O banco ressaltou que não usará recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) por se tratar de uma operação de renda variável. ‘Esse apoio em nada comprometerá a capacidade de crédito do BNDES para novos projetos de investimento em infra-estrutura e na indústria’, disse Coutinho.
A reestruturação envolve a saída de três acionistas da holding: Asseca (GP Investimentos), Lexpart (Citibank e Opportunity) e Alutrens (Banco do Brasil e seguradoras privadas). Além disso, haverá uma cisão parcial da Telemar Participações para que a participação na Contax, empresa de atendimento, seja separada em uma nova companhia.
A BNDESPar vai subscrever R$ 1,239 bilhão em ações preferenciais resgatáveis emitidas pela Telemar Participações. De posse dos recursos do BNDES, a holding comprará as participações da Lexpart e da Alutrens (10,275% e 10% do capital, respectivamente). Além disso, a BNDESPar comprará títulos no valor de R$ 1,33 bilhão emitidos pela AG Telecom (grupo Andrade Gutierrez) e pela LF TEL (grupo La Fonte).’
Papéis das duas teles movimentam pregão da Bolsa
‘A operação de aquisição da Brasil Telecom pelo grupo de telefonia Oi (antiga Telemar) movimentou suas ações na Bovespa, com altas e baixas expressivas. No topo dos ganhos ontem apareceu a ação ordinária da Brasil Telecom Participações, com valorização de 6,76% e 684 negócios. A ação ON da Brasil Telecom -com poucos negócios, apenas 11 ontem- disparou 25%. A ação Telemar Norte Leste ON subiu 4,76%. As ações ON atraíram investidores devido à expectativa do ‘tag along’ -regra do mercado segundo a qual os direitos do controlador se estendem aos minoritários quando há a venda da companhia. A Brasil Telecom PN caiu 8,49%.’
Simone Cunha
Compra eleva concentração em três segmentos
‘A compra da BrT pela Oi vai elevar a concentração de forma preocupante em apenas três segmentos, mas os mais importantes para o futuro da telefonia, segundo pesquisa da Fundação Getulio Vargas e análises de especialistas no setor.
O estudo, encomendado pela Oi, analisou o mercado regional em oito segmentos da telefonia e concluiu que a preocupação concorrencial se restringe a internet discada, banda larga e dados corporativos. Os outros cinco ‘ficariam como estão’, segundo Marcio Couto, um dos responsáveis pela pesquisa e ex-superintendente-executivo da Anatel.
Apesar de a nova Oi ter mais de 50% do mercado em praticamente todos os segmentos, a análise considera que não haverá concentração porque a participação permanece igual à atual na maioria dos segmentos e regiões (veja quadro).
É o que ocorre, por exemplo, na telefonia fixa. Segundo a pesquisa, a Oi tem hoje 88% do mercado na região 1 (RJ, MG, ES, BA, SE, AL, PB, PE, RN, CE, PI, MA, PA, AM, AP e RR), situação que permanece igual após a compra. A BrT também ficará, depois do negócio, com os mesmos 86% na região 2 (DF, RS, SC, PR, MT, MS, GO, TO, RO, AC).
‘O fato de os números estarem altos em alguns locais é porque já eram altos. A operação entre as duas empresas não altera nada’, diz Couto.
O ex-presidente da Anatel Elifas Gurgel diz que as conclusões do estudo são equivocadas por igualarem a importância da telefonia fixa -que vem perdendo receita- e da internet -o futuro das comunicações, na avaliação dele. ‘É preciso que a gente enxergue um pouco à frente, não só o que existe hoje, em grande maioria a telefonia fixa. No cerne da questão, na comunicação por IP [internet], isso [a compra da BrT pela Oi] é um verdadeiro desastre.’
Couto diz que a concentração se deve principalmente ao iG, comprado pela BrT e com presença nacional. ‘No caso da internet discada, o tamanho do novo provedor pode ser prejudicial à concorrência.’
Segundo a consultoria Teleco, a banda larga foi o único serviço que teve aumento de participação na receita das operadoras entre 2006 e 2007, passando de 16% para 18,1%.
A Oi, segundo o resultado de 2007, cresceu 8,6% acima do esperado em banda larga. A receita na área de dados foi de R$ 367 milhões (R$ 206 milhões com o Velox), do total de R$ 25,15 bilhões.
Já a telefonia fixa reduz receita e pode perder a liderança sobre o retorno para o serviço móvel neste ano, diz a Teleco.
‘Está sendo propalado que o negócio não tem impacto na telefonia fixa, mas o segmento está estável há algum tempo, sem concorrência, e perdeu importância no mercado’, diz Gurgel.
Couto diz que a análise de concorrência se baseia nas restrições que a operação traz às opções do consumidor, o que não ocorre com a junção de Oi e BrT. ‘Para um usuário de telefonia fixa do Rio, por exemplo, do ponto de vista concorrencial, não altera em nada a Oi se juntar com a BrT.’
A Teleco defende que a nova empresa deve ter presença nacional para estimular outros concorrentes. ‘O que acho que o regulador tem de buscar é uma garantia de que eles vão deixar de ter uma atuação regional e passar a ter atuação nacional’, diz o presidente da Teleco, Eduardo Tude.
Regulação
Para o advogado especializado em telecomunicações da Felsberg e Associados, Guilherme Ieno Costa, pode haver impactos positivos para o consumidor em um primeiro momento, já que se criaria uma empresa com nacional em praticamente todos os segmentos, principalmente em telefonia celular. A fusão traz ganhos econômicos para as empresas, como na escala, que tem de ser repassados para a tarifa até por força do contrato de concessão.
No entanto Ieno, Gurgel e Tude dizem que a Anatel precisa tomar medidas para garantir a continuidade da competição e impedir o desaparecimento de pequenos concorrentes, principalmente no setor corporativo. ‘Existem vários instrumentos que ajudariam a garantir o nível de competição que não foram regulamentados pela Anatel ou não a contento’, diz Ieno.
Entre os exemplos estão o compartilhamento de redes (‘unbundling’), que permite o ‘aluguel’ da infra-estrutura de uma operadora por outras.
Gurgel diz que o consumidor perde se não houver regulação adequada. ‘O maior risco é o aumento de preços da banda larga’, afirma.’
Acordo simplifica composição acionária da Oi
‘A compra da BrT pela Oi foi precedida de longas e tensas negociações para a reestruturação acionária das operadoras. No fim, dois grupos de capital nacional assumiram o controle da empresa. Caso o negócio seja aprovado pelos órgãos reguladores, a nova Oi terá a seguinte composição acionária: os grupos Andrade Gutierrez e La Fonte terão, cada um, 19,34% das ações. A Fundação Atlântico (fundo de pensão dos funcionários da Oi) terá outros 11,50%. Juntos, terão o controle da companhia, com 50,18%.
O restante estará nas mãos da BNDESPar, braço financeiro do BNDES, que terá 16,86% das ações, e dos fundos de pensão de estatais, que, juntos, terão 32,96% da companhia. A maior cota de ações (12,96%) será da Previ, dos funcionários do BB. A Petros, dos funcionários da Petrobras, e a Funcef, da Caixa Econômica Federal, terão, cada uma, 10% das ações.
E os fundos ainda terão oportunidade de aumentar sua participação, caso o BNDESpar opte por vender cerca de 45% de sua participação acionária (via leilão).
O contrato prevê que duas condições sejam cumpridas. A primeira é que a Anatel aprove a aquisição em até 240 dias. Além disso, deve ocorrer oferta pública de compra de ações ordinárias da BrT em circulação no mercado. Caso isso não ocorra, o contrato será desfeito e a Telemar pagará R$ 490 milhões de multa.
A engenharia financeira do negócio teve de levar em conta o intrincado quadro societário da BrT. Do valor total de R$ 5,863 bilhões, R$ 4,982 bilhões foram pagos para a aquisição da Invitel (dona da Solpart, que, por sua vez, é a controladora da Brasil Telecom Participações). Na prática, esse dinheiro será pago aos fundos de pensão de estatais, ao Citigroup e ao Opportunity. Outros R$ 881 milhões serão pagos ao Citigroup e ao Opportunity, a título de ações de controle direito, resultado de acordo, feito no passado, pelos controladores da BrT.’
Julio Wiziack
Disputa deve começar pela telefonia móvel
‘A fusão entre a Oi e a BrT (Brasil Telecom) ainda depende da mudança do PGO (Plano Geral de Outorgas), que define as regras da competição no país, mas as mudanças já estão em curso.
Para Eduardo Tude, presidente da Teleco, consultoria especializada em telecomunicações, os três grandes grupos que disputarão o mercado -Oi-BrT, Vivo-Telefônica e Claro-Telmex- brigarão para ampliar a base de clientes, e isso resultará em queda de preços e maior oferta de serviços.
Eduardo Roche, gerente de análise da Modal Asset, acredita que, num primeiro momento, será a telefonia móvel o principal termômetro da disputa. ‘A Oi chega em São Paulo em junho desse ano com um modelo de negócio que não subsidia os aparelhos’, diz Roche.
O plano da Oi que permite falar R$ 10 e ganhar R$ 100 em ligações para celulares da Oi e telefones fixos locais é um exemplo de como o consumidor poderá ter vantagens, obrigando Claro, Vivo e TIM a reverem sua estratégia, hoje focada na venda de celulares subsidiados.
‘Haverá uma onda de promoções, que, na prática, derrubará o custo por minuto de cada cliente, levando a um aumento do uso dos celulares,’ diz Tude. ‘Hoje essa estratégia ainda é discreta.’
Os números do primeiro trimestre de 2008 antecipam o novo cenário. Segundo a Teleco, a Oi foi a companhia que mais cresceu em novos clientes -1,3 milhão, contra os 326 mil que obteve no mesmo período de 2007.
No quarto trimestre do ano passado, o tempo médio mensal gasto por assinante foi de 76 minutos, índice que subiu para 92 minutos no primeiro trimestre de 2008.’ Folha de S. Paulo
Presidente da OI diz que CVM pediu fato relevante antecipado
‘O presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco, disse que a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) pediu à empresa que enviasse o fato relevante da compra da Brasil Telecom no meio da tarde de ontem, com as Bolsas de Valores abertas -o que é inusual. Segundo ele, o pedido foi feito diante das informações que já circulavam no mercado e na imprensa.’
Projeto de lei deixa tele operar TV a cabo
‘A permissão de fusões e incorporações entre concessionárias de telefonia fixa atende a um dos pedidos das teles. Outro, o de liberdade para a transmissão de conteúdo audiovisual por meio de TV a cabo, está sendo tratado no Congresso e depende da costura de um acordo político para vigorar. O projeto de lei 29, que está em discussão na Câmara, acaba com as restrições impostas pela Lei do Cabo (8.977/95) e libera o mercado.
O projeto tem votação marcada para a próxima quarta-feira, na Comissão de Ciência e Tecnologia. Se aprovado, poderá ou não ir a plenário. Depois, segue para votação no Senado.
Hoje, as teles só podem oferecer TV por assinatura sem restrições por meio de satélite (DTH) ou microondas (MMDS). A Lei do Cabo define que TV por assinatura por meio de cabo (fios) é uma concessão de serviço público e que só pode ser prestada por empresas que tenham capital majoritariamente nacional (limite de 30% para participação estrangeira).
Essas duas restrições, quando combinadas, criam problemas para as teles.
Uma empresa não pode ter duas concessões de serviço público em uma mesma região. Isso impede que teles com capital nacional operem TV a cabo. No caso da Telefônica, de capital espanhol, a restrição é dupla.
O projeto de lei 29 acaba com esses impedimentos. A restrição ao capital estrangeiro permanece apenas na produção de conteúdo e no ‘empacotamento’ (montagem de pacotes de canais). Atualmente, as teles já estão no mercado de TV por assinatura, mas querem usar melhor sua rede de fios instalados para prestar esse serviço.
A Embratel, hoje do grupo mexicano Telmex, é acionista do sistema de TV a cabo Net Serviços, mas não pode ter o controle sobre as ações com direito a voto -que permanece com as Organizações Globo. A Telefônica já oferece o serviço por meio de satélite e microondas.
Em outubro do ano passado, após ter negado duas vezes o pedido da Oi, a Anatel resolveu dar permissão para que a empresa opere TV a cabo em Minas Gerais. Para permitir a operação do serviço, a agência reguladora resolveu interpretar a legislação da seguinte forma: quando não houver outros interessados em operar TV a cabo em uma determinada região, o serviço pode ser oferecido por uma concessionária de telefonia fixa.’
Paulo Peixoto e Humberto Medina
Costa diz que foi ‘espectador’ do acordo
‘O ministro das Comunicações, Hélio Costa, afirmou ontem que o governo não teve nenhuma interferência na fusão da Oi com a BrT (Brasil Telecom), mas ficou ‘satisfeito’ com o resultado final do negócio, que, segundo ele, vai proporcionar ganhos econômicos para o consumidor brasileiro.
Costa disse que o papel do governo foi de ‘espectador’. Ele disse que não vê dificuldades para que a fusão seja aprovada pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).
‘O governo até agora teve participação de espectador nesse processo de entendimento comercial entre duas grandes empresas, embora tenha a participação de fundos de pensão, que são capitais públicos. O governo não fez nenhuma interferência a favor ou contra essa fusão’, afirmou.
Segundo Costa, ‘o mais importante é que o Brasil agora tem competitividade internacional’. Disse que o Brasil poderá concorrer no mercado de telecomunicações na América do Sul, chegar à África, ter espaços na competir na Ásia ‘e até na Europa, se quiserem’, já que agora formam uma grande empresa de capital nacional.
Do ponto de vista do mercado interno, Costa afirmou que a fusão vai proporcionar preços mais competitivos, com ganhos para os usuários. ‘Vejo essa união como muito proveitosa do ponto de vista econômico.’
Costa disse acreditar em uma tramitação tranqüila do processo de fusão porque existe disposição da Anatel de estudar a proposta e apresentar as mudanças no Plano Geral de Outorgas, que vai permitir a fusão.
‘Nossa proposta, principalmente do ministério, é analisar a fusão da Oi com a BrT com como uma grande empresa que vai melhorar a condição de ofertas de serviços em telecomunicações para o usuário.’
Anatel
A compra da BrT pela Oi ainda precisa ser aprovada pela Anatel para se efetivar na prática. A agência reguladora, no entanto, terá que propor oficialmente mudanças na legislação para permitir o negócio. Na forma atual, a regulamentação do setor impede que uma concessionária de telefonia fixa compre outra. Ontem, a agência informou ainda não ter sido notificada oficialmente do acordo.
No início de fevereiro, o Ministério das Comunicações recomendou à Anatel que acabasse com as restrições legais a esse tipo de operação. A agência já sinalizou que pretende acatar as recomendações e propor as mudanças pedidas pelo ministério. Antes do governo, as próprias empresas já haviam feito o mesmo pedido.
O impedimento para que a Oi compre a BrT está em documento chamado PGO (Plano Geral de Outorgas). Esse plano é definido por meio de decreto e divide o país em áreas de concessão -em cada área atua uma empresa. Pelo texto do decreto, uma empresa não pode transferir a sua concessão para outra, que atue em área diferente.
Apesar de o PGO ser um decreto e, em tese, depender apenas da vontade do presidente da República para ser alterado, a Lei Geral de Telecomunicações (9.472/97) estabelece que, antes da edição do decreto, a Anatel precisa ser ouvida e fazer sugestões.
A área técnica da agência está trabalhando na minuta da proposta, que ainda terá que ser aprovada pelo conselho diretor. Após a aprovação da minuta, haverá um período de consulta pública (cerca de 30 dias). A agência receberá, analisará e responderá contribuições que forem feitas. Depois, disso, irá elaborar uma versão final do documento e encaminhará às Comunicações.
A venda da BrT também terá de avaliada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que ontem não quis se manifestar.
Além da alteração para permitir a compra de uma concessionária pela outra, o Ministério das Comunicações também recomendou à Anatel que revisse todas as ‘restrições regulatórias’ que impedem que uma mesma empresa ofereça pacotes convergentes, ou de múltiplos serviços (voz fixa, voz móvel, dados e TV paga). Ou seja, o pedido abre caminho para alterações também nas regras da telefonia móvel.
A Telefônica, por exemplo, está impedida por normas da Anatel de participar do controle acionário da TIM, por já ser acionista controladora da Vivo. O grupo espanhol comprou participação no controle da Telecom Italia (dona da TIM), na Europa, mas não pode receber dividendos nem participar das operações da TIM no Brasil.
A Anatel já informou que irá analisar as mudanças de forma separada.’
Teles não acreditam em compartilhamento de redes como contrapartida para fusão
‘A Abrafix (Associação Brasileira das Concessionárias de Telefonia Fixa Comutada), que reúne as principais teles do país, não acredita que o compartilhamento de redes possa ser uma contrapartida à fusão de empresas, como sugeriu o Ministério das Comunicações.
De acordo com a avaliação da associação, caso empresas menores queiram entrar no mercado usando a rede já instalada das grandes operadoras, terão que ter subsídio. ‘Se forem pagar o valor correto para remunerar os investimentos que já foram feitos, vai ser difícil novas empresas entrarem’, afirmou José Fernandes Pauletti, presidente da entidade.
Para ele, a universalização do acesso à internet em banda larga é um bom objetivo, mas também vai precisar de subsídio do governo, porque não pode ser imposto como obrigação contratual às empresas. ‘Os mercados rentáveis já estão atendidos. Se o governo quiser massificar, vai ter que dar incentivo.’
No texto colocado em consulta pública para atualizar as políticas públicas, o ministério afirma que devem ser estabelecidos ‘claros limites ou contrapartidas aos processos de fusões e aquisições entre as atuais prestadoras’. Apesar de não especificar quais, o ministério dá a entender que um dos caminhos poderia ser o compartilhamento de redes para favorecer o surgimento de prestadoras de pequeno e médio porte.
‘Compartilhamento é uma coisa diferente, que independe de fusões e aquisições. Compartilhamento já existe, é só uma questão de preço.’ Além da consulta, o ministério publicou na quinta portaria orientando a Anatel na regulamentação do setor. Um dos itens é ‘estabelecer modelo de competição que favoreça o compartilhamento de redes, entre diferentes serviços e prestadoras’.’
DE MENOR
Documento falso de ‘BBB’ tira propaganda de cerveja do ar
‘A guerra das cervejas respingou na ex-’BBB’ Jaqueline Khury. Denunciada pela AmBev, a Kaiser tirou do ar um comercial com a modelo depois de recomendação do Conar alertando que ela é menor de 25 anos -idade mínima exigida para que uma pessoa participe de comercial de bebida alcoólica. A cervejaria afirma que Jaqueline apresentou xerox da carteira de habilitação autenticada com o ano de nascimento de 1982.
A data correta seria 1984, segundo Leila, mãe da ex-’BBB’, e o advogado dela, Erico Duarte. Quem falsifica documentos públicos está sujeito a processo cuja pena pode chegar a cinco anos de prisão.
O advogado de Jaqueline diz que ela ‘entregou o documento original. De onde vem esta cópia, quem tem que explicar é a agência de propaganda’. A Fisher América diz que a cópia foi entregue pela agência de modelos Mega. ‘Não sabíamos que o documento era falso. Ela [Jaqueline] foi enxotada da agência’, diz Eli Hadid, da Mega.’
LIVROS
‘Moby Dick’ ataca em nova tradução
‘Chamai-me Ismael. Podem me chamar de Ishmael. Meu nome é Ishmael. Como você traduziria a frase inicial (Call me Ishmael) do clássico ‘Moby Dick’, de Melville? Isso não é um detalhe qualquer. Para a revista ‘American Book Review’, é a expressão inicial mais famosa da história da literatura.
Na nova versão que chega às livrarias, é ‘Trate-me por Ishmael’. A expressão defendida pela tradutora Irene Hirsch estará consagrada na edição mais completa da obra já lançada no Brasil. Com 656 páginas, é a primeira a reproduzir a edição crítica da Northwestern-Newberry (2001), que incorporou trechos e notas dos originais de Melville, negligenciados desde a primeira versão (1851). A última grande tradução no Brasil data dos anos 70, pela Abril Cultural. E o lançamento ganha importância já que, aqui, a obra foi popularizada sobretudo em versões resumidas.
Além de trazer a íntegra, a publicação que chega às livrarias traz um glossário de termos náuticos (o que é uma bitácula? uma toleteira? selha? mastaréu?), bibliografia, a relação das edições já lançadas no país (a primeira é de 1935) e fortuna crítica. Também é possível acompanhar em um mapa onde se passam os episódios que marcaram (e levaram ao seu naufrágio) a nau multiétnica comandada pelo obcecado capitão Ahab, empenhado em abater Moby Dick, o ‘Leviatã’, cachalote que se tornou assassino ‘sem razão’.
Cânone da literatura americana (tardio, só virou clássico mais de 50 anos depois do lançamento), o texto permite diversas leituras. A dimensão épica e o estatuto shakespeareano (assumido) são apenas algumas das suas facetas.
Entre as diferentes interpretações, a que talvez tenha popularizado o livro é a que o lê como um clássico da literatura de aventura, um marco do gênero. ‘É o maior livro marítimo já escrito’, afirma D.H. Lawrence. A obra de Melville também antecipa Joseph Conrad, o que é natural, já que o autor de ‘O Coração das Trevas’ foi marinheiro exatamente como o autor de ‘Moby Dick’. E a obra de Melville inaugura a mitologia moderna que passou por Julio Verne, de ‘20 Mil Léguas Submarinas’, e desembocou em ‘Tubarão’, de Spielberg, peixe enlouquecido que é um dos principais filhotes de Moby, também furiosamente empenhado em afundar o barco de um capitão ‘monomaníaco’ (a expressão é de D.H. Lawrence).
A base da obra teriam sido relatos dos marinheiros da famosa ilha de Nantucket (nordeste dos EUA, de onde parte de barco o personagem de ‘A Narrativa de Arthur Gordon Pym’, de Edgar Allan Poe). Os caçadores de baleias reais sobreviveram na primeira metade do século 19 a um naufrágio causado pela fúria inexplicável e inesperada de um cachalote. Teriam superado no mar uma jornada que terminou em canibalismo (a história foi contada por Nathaniel Philbrick no livro ‘No Coração do Mar’). Também pode ter surgido da história da baleia Mocha Dick, que assustava os pescadores da ilha chilena de Mocha no século 19 (a história teria sido lida por Melville).
Para o co-tradutor Alexandre Barbosa de Souza, no entanto, a aventura não é o principal, e ele procurou propositalmente na edição ressaltar a força do texto em detrimento da mitologia ou da iconografia que consagrou o cetáceo. O livro é resultado de um trabalho que vem sendo desenvolvido por ele e pela tradutora Irene Hirsch desde 2003.’
Ivo Barroso
Clássico de Melville virou um ‘Ulisses’ americano
‘Este livro, hoje considerado dos dez maiores romances da literatura mundial, esteve longe das badalações da crítica ao ser lançado em 1851. O autor, Herman Melville, publicara antes cinco novelas que lhe acenaram com certa notoriedade, embora o rotulassem como ‘narrador de aventuras de embarcadiço’, sobre aspectos da vida nativa dos mares do Sul. A publicação de ‘Moby Dick’, no entanto, iria coincidir com um período de expansão da literatura americana e, inserindo-se nela, Melville elaborou um projeto que pretendia não a simples narrativa aventurosa de uma caça de baleias, mas algo capaz de guindá-lo à posição de ‘Shakespeare do romance americano’.
O livro, tratado numa linguagem multivalente e não raro poética, abrangeria questões religiosas, políticas, comportamentais, étnicas etc., debatendo-se num ‘maelström’ com as grandes forças antagônicas do Bem e do Mal. A crítica oficial, de ambos os lados do Atlântico, não se comoveu com a narrativa, e Melville amargou uma quarentena que o levou a desistir da literatura.
Espírito de pioneirismo
O ‘revival’ ocorreu quando a obra começou a ser identificada com o espírito de pioneirismo dos americanos e as qualidades de seu estilo assemelhadas às técnicas do romance moderno, por sua ambição de conciliar elementos díspares, mesclar gêneros híbridos, apelar para conhecimentos enciclopédicos marginais, utilizar vários registros de linguagem de acordo com a formação cultural de seus personagens.
Hoje, a crítica americana rotula ‘Moby Dick’ como ‘o grande clássico’ e ‘nosso maior romance’, estudado nas escolas e universidades ao lado das mais importantes obras literárias produzidas na América. Tornou-se além disso um prato feito para os novos admiradores da corrente psicanalítica, que passaram a lhe atribuir complexos, recalques e traumas, esmiuçados em dezenas e dezenas de livros que hoje engrossam seu miliardário baú bibliográfico. A literatura norte-americana precisava de um ‘Ulisses’. E foi a chance. Mas como reage o leitor de hoje diante de um ‘must’ que está na obrigação de ler? Certamente afeito ao espírito de concisão de nossos dias, achará grande parte do livro enfadonha e pulará sem remorso algumas páginas de prolixa embromação. Mas logo se recuperará com a chegada de Ahab, em que identificará o papel do mocinho da novela.
Termos náuticos
Impossível não se render ao estilo de Melville com seu vocabulário detalhista de termos náuticos e as empolgantes descrições das noites e tempestades marinhas. O famoso sermão do padre Mapple, sobre a história de Jonas, será, em sua memória recente, contraponteado pelo ‘It ain’t necessarily so’, na voz de Sportin’ Life. Os minuciosos capítulos sobre a vida, acasalamento e procriação das baleias lhe darão algo que pensar. Acostumado a ver ‘de perto’ esses animais, no Animal Planet e no National Geographic, dificilmente acreditará no monstro encarnado na figura da baleia branca.
A imagem do vingativo Ahab será turbada pela lembrança do Greenpeace mostrando os canhões-arpoadores dos baleeiros modernos e corpos de baleias e filhotes sendo escarnados no convés de pesqueiros japoneses. Mas alguns anos depois, ele voltará a ler a história completa, guardando a distância necessária.
Ilustrações e realismo
Já o leitor veterano, que (sem ser Ahab) ‘se amarra’ na baleia branca e já passou pelas traduções anteriores (Monteiro Lobato, Berenice Xavier e Péricles Eugênio da Silva Ramos), este irá encontrar na atual edição da Cosac Naify a ‘viagem’ com que sempre sonhou. Desde a capa (dura) em que uma onda varre na areia os nomes de Moby Dick e de Melville, seguindo-se ilustrações de época que lhe dão o realismo do ‘décor’, até a paginação que imita o ajoujo das ondas -tudo nela foi cuidado com um intuito de superação.
Um glossário ilustrado de termos náuticos, ampla bibliografia (inclusive em português) e os três artigos críticos fundamentais (Evert Duyckinck, D. H. Lawrence e F. O. Mathiessen) completam a edição. Os tradutores procuraram dar ao texto descritivo a fluência e propriedade que se esperam de uma grande tradução. Infelizmente o mesmo resultado não se vê nas falas, em que a tentativa de imitar certas deformações orais quase sempre resulta incongruente.
IVO BARROSO é poeta, crítico e tradutor.
MOBY DICK
Autor: Herman Melville
Tradução: Irene Hirsch e Alexandre Barbosa de Souza
Editora: Cosac Naify
Quanto: R$ 99 (656 págs.)
Avaliação: bom
NA INTERNET
www.folha.com.br/00081161
leia trecho do livro’
Luiz Fernando Vianna
Zuenir Ventura revê 68 olhando para o presente
‘Em 1988, Zuenir Ventura publicou ‘1968 – O Ano que Não Terminou’, que já chegou à marca de 400 mil exemplares vendidos. Em 2008, o jornalista lança uma edição revisada de seu best-seller com ‘1968 – O Que Fizemos de Nós’, livro que não pretende ocupar a nova data redonda apenas com mais um balanço do que aconteceu há quatro décadas.
Ao rever o primeiro ‘1968’, Zuenir concebeu um segundo em que buscasse, segundo ele, ‘continuidades e rupturas’ entre a quase mítica ‘geração de 68’ e jovens de hoje.
‘Não há hoje ‘a’ geração. Há tribos, galeras, turmas. Por isso, achei que a estrutura não devia ter uma ordem rígida. É mais fragmentada’, diz ele, 76, referindo-se à primeira metade do livro, em que faz pequenas reportagens para retratar os tempos atuais e pô-los em contraste com 68 -na segunda, entrevista nomes importantes da época falando de ontem e hoje.
‘Quis corrigir um pouco essa má vontade que a gente tem com a nova geração. Também era assim em 68, mas os jovens eram muito agressivos e respondiam: ‘não confie em ninguém com mais de 30 anos’. O João Batista Ferreira, ex-padre que era um dos poucos com mais de 30 em quem os jovens confiavam e que hoje é psicanalista de jovens, diz que há um 68 dentro de 2008 e nos conclama a ter um olhar mais generoso.
Precisamos lavar os olhos e tentar entender o que eles são, o que eles querem’, afirma.
Narcisismo
Zuenir foi a campo, então, e procurou entender o culto ao corpo dos dias de hoje, da obsessão pela magreza aos piercings, como mostra o capítulo ‘Viva o Corpo Brasileiro’.
Mas o investimento maior está nas 30 páginas de ‘Sexo, Drogas e Rave’. Ele relata, com doses de humor e espanto, sua ida a uma grande festa embalada a música eletrônica e ecstasy, e elege as raves como emblema da juventude atual.
‘Você encontra nesse tipo de festa o que eu chamo de busca meio agônica do paroxismo; ou seja, da vertigem, da voragem, do risco. Ao mesmo tempo em que é uma coisa coletiva, as pessoas ficam muito ensimesmadas, mais preocupadas com elas do que com os outros. Há um narcisismo’, diz.
Ele, no entanto, não aponta no livro nenhum dedo condenatório para esses jovens e vê seu comportamento como quase natural, já que os projetos coletivos, especialmente os políticos, não fascinam mais.
Utopia ingênua
Dos desdobramentos positivos de 68, Zuenir Ventura destaca vários no livro, como o maior respeito às preferências sexuais e aos direitos da mulher, e o fortalecimento dos movimentos negro e gay. Na ala negativa, estão a violência (‘acreditava-se numa violência edificante, pedagógica, o que dava a você o direito de ser violento, mas não ao outro, e hoje sabemos que toda violência gera violência’) e as drogas. ‘Havia uma certa utopia ingênua ao achar que as drogas poderiam ser um instrumento de abertura das consciências.
Mas essa realidade se mostrou perversa. No fundo, há uma multinacional das drogas que gera mortes. É uma tragédia deste século que herdamos do anterior’, diz ele.
Entrevistas
A segunda parte do livro tem sete entrevistas (veja trechos nesta página). Começa com Heloisa Buarque de Hollanda, crítica literária que sediou o Réveillon que abria ‘O Ano que Não Terminou’, e termina com José Dirceu, líder estudantil preso em 68, libertado graças ao seqüestro do embaixador americano em 69 -do qual participaram Franklin Martins e Fernando Gabeira, também entrevistados- e que teve o mandato de deputado federal cassado em 2005 sob suspeita de comandar o mensalão.
César Benjamim, preso por cinco anos durante a ditadura militar e hoje um cientista político dissidente do PT, conta uma história que, embora não inédita, é pouco conhecida: Lula teria jantado e ‘derrubado três litros de uísque’ com Alberico Souza Cruz dias depois do debate com Fernando Collor, no segundo turno da eleição presidencial de 1989. Alberico era satanizado pelos petistas por ter sido o principal responsável pela edição (favorável a Collor) do debate exibido nos telejornais da TV Globo. ‘Não vou brigar com a Globo, não é, Cesinha?’, teria dito o hoje presidente da República.
Na entrevista de Caetano Veloso, está, para Zuenir, a frase que resume melhor a possibilidade de um ‘novo 68’: ‘Para ser [uma coisa] parecida com aquilo, tem de ser muito diferente daquilo’. Agora lançados numa caixa, os livros deverão ser vendidos separadamente em breve.
1968 – O QUE FIZEMOS DE NÓS
Autor: Zuenir Ventura
Editora: Planeta
Quanto: R$ 75 (224 págs.; caixa inclui ‘1968, O Ano que Não Terminou’, 286 págs.)’
POESIA
‘Inimigo Rumor’: revista do barulho
‘LADO A lado na estante, as magras cem páginas do primeiro número da ‘Inimigo Rumor’ -revista de poesia contemporânea concebida, há dez anos, por um editor carioca (Jorge Viveiros de Castro, da 7Letras) e dois poetas (Carlito Azevedo e Júlio Castañon Guimarães)- e o alentado volume comemorativo recém-lançado, o vigésimo, parecem não se conhecer.
Ao longo de sua primeira década, o projeto gráfico se sofisticou, o conselho editorial encorpou e sofreu variações (tendo, hoje, à frente, além de Carlito Azevedo, Augusto Massi e Marcos Siscar, entre outros) e novas editoras associaram-se à iniciativa (a portuguesa Cotovia, que já se foi, e a Cosac Naify). Mas, basta correr os olhos pelos índices do número de estréia e do mais recente para constatar que, em seus sete fôlegos, raros em publicações do gênero, a idéia original de uma revista que discutisse poesia sem o peso institucional da academia ou partidarização estética e sectarismo amadureceu sem se desfigurar.
Na variedade de gêneros dos textos que recolhe (poemas, mas também entrevistas, ensaios, traduções), no arco amplo dos autores apresentados, novíssimos (brasileiros, mas não apenas) recebendo espaço generoso, ao lado de clássicos, modernos ou não, de várias tradições, recuperados em perspectiva pouco trivial, ‘Inimigo Rumor’ equilibra uma vocação por abrir frentes que não se reduz a inventário museológico ou ecletismo de bazar (ainda que o gosto de abrir a revista sem saber o que se vai encontrar lembre o da descoberta imprevista num mercado de pulgas) com a disposição firme de levar a sério o aspecto sedicioso da linguagem poética.
A polêmica não é, em absoluto, o graal da revista, mas uma decorrência natural, sempre à espreita, quando se justapõem concepções de crítica e de poesia tão diversas. A voz da portuguesa Adília Lopes, rente às epifanias do cotidiano e à multiplicação de máscaras, colide com a poesia de jogo e espanto com uma linguagem móvel, aquém do uso, em Ghérasim Luca. O legado das vanguardas, presente em poemas de Hans Arp ou na tradução da prosa elaboradíssima da ‘Crise do Verso’, de Mallarmé, dialoga com a provocação contemporânea de Alfredo Prior, artista plástico e escritor argentino.
A partir deste território ampliado, textos como o de Leonardo Martinelli resenhando seis títulos de poesia recém-lançados (Régis Bonvicino, Josely Vianna Batista, Angélica Freitas, Marília Garcia, Ricardo Domeneck, Fabrício Corsaletti) ou o longo ensaio ‘Hagiografias’, em que Flora Süssekind discute o persistente fundamento biográfico e cultual que entorna a recepção das obras de Cacaso, Leminski e Ana Cristina Cesar, ganham em densidade e ressonância e a poesia nova pode, quem sabe, encontrar leitores e críticos menos entorpecidos e silenciosos.
INIMIGO RUMOR: REVISTA DE POESIA Nº20
Editora: Cosac Naify/7Letras
Quanto: R$ 33
Avaliação: ótimo
Lançamento: terça, às 20h, no Bar Balcão (r. Melo Alves, 150, tel. 0/xx/11/3063-6091)’
TELEVISÃO
TVs dos EUA buscam sucessos no exterior
‘O grande sucesso das versões norte-americanas de seriados estrangeiros, como o colombiano ‘Betty, a Feia’ e o inglês ‘The Office’, vem levando os canais dos EUA a buscar novas fórmulas para TV no exterior.
Dentre os 50 pilotos -os episódios iniciais especiais, de onde derivam as séries, quando bem-sucedidos- que disputam espaço na atual temporada dos canais ABC, Fox e CBS, dez são baseados em produções estrangeiras. No ano passado, foram apenas oito, entre 112 pilotos.
Entre eles, estão versões de produções como o drama israelense ‘Mythological Ex’, sobre uma mulher que corre atrás de seus ex-namorados após uma vidente lhe dizer que ela já havia encontrado o homem de sua vida; e ‘Good Behavior’, uma comédia dramática neozelandesa sobre uma família de ladrões que tenta largar o crime.
‘Estamos abrindo nossas portas para o mundo todo, não estamos olhando em apenas um lugar em busca de idéias. Quis trabalhar com parceiros estrangeiros porque o mercado externo está incrivelmente rico atualmente’, disse Ben Silverman, vice-presidente da NBC Entertainment e do Universal Media Studios, em entrevista ao jornal ‘Los Angeles Times’.
‘Essas negociações também fazem sentido porque nossos parceiros estrangeiros investem nos seriados’, completou.
Das 12 séries que a rede de Silverman estréia neste ano, duas são adaptações do exterior: ‘Kath & Kim’, a mais longeva série cômica da Austrália, sobre uma mãe divorciada e sua filha, e o drama canadense ‘The Listener’, sobre um paramédico que lê mentes.
A grande maioria das adaptações, até por questões de proximidade cultural e de língua, vem do Reino Unido -dos dez pilotos que estrearão na atual temporada, oito são do país.
Ainda assim, as séries sofrem grandes modificações e adaptações para o mercado norte-americano.
‘Nos reality shows e jogos de auditório o formato tende a ser o mesmo, mas as séries requerem adaptações para cada mercado. Elas são um coquetel de perfeitas proporções e cada ingrediente -o texto, a direção, o elenco- pode acabar com a mistura’, disse Silverman.’
Programa busca mecânico ‘júnior’
‘Fórmulas devidamente aprovadas pela audiência, ‘CSI’ e ‘Law & Order’ deram crias (com ‘filiais’ em NY, Miami, divisão de crimes sexuais etc.). Por que não fazer o mesmo com um reality show de sucesso, ‘American Chopper’?
Foi com uma argumentação mais ou menos assim que os produtores de ‘Hard Shine’ devem ter convencido os executivos do canal Turbo a bancar a série, que só faz trocar as motos turbinadas de ‘Chopper’ por uma oficina de carros antigos do sul californiano.
A estrela do programa é Jimmy Shine, mecânico conceituado que deseja transmitir sua experiência a um pupilo -e mete na cabeça a idéia de que isso rende uma atração televisiva. Cinco jovens adultos (três marmanjos, duas moças) se candidatam ao posto e disputarão suas atenções por 150 dias. Ao fim, só um será escolhido.
Na corrida estão uma artista, um ex-detento e uma fanática por carros, para ficar nos perfis mais notáveis. O primeiro desafio é montar de cabo a rabo, em um mês, um bólido do qual só se tem a carcaça.
Nos momentos iniciais, expressão séria, tom de voz desafiador, Shine capricha no clichê: ‘It’s my way or the highway’ (algo como ‘faça do meu jeito, ou rua!’). Fiquemos com a segunda… HARD SHINE
Quando: hoje, às 18h
Onde: no People & Arts’
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