PRISÃO
Apresentador de TV é preso em Curitiba acusado de extorsão, 25/4
‘O radialista, apresentador de TV e ex-deputado estadual Ricardo Chab foi preso em Curitiba nesta sexta-feira (25/04) acusado de extorsão. O advogado Antonio Neiva de Macedo Filho, que estaria intermediando a negociação de dinheiro em troca de silêncio do apresentador sobre denúncias envolvendo a empresa de segurança Centronic, também foi preso, em flagrante, com R$ 35 mil em dinheiro, que seriam resultantes da extorsão.
Chab apresentava um programa local, ‘Na Hora do Almoço’, na tevê RIC (Rede Independência de Comunicação), canal 7 – retransmissora da Record. Já no telejornal local da noite, desta mesma sexta, a RIC informou que o contrato com Chab foi rescindido por conta do episódio. Toda a imprensa paranaense cobriu o caso ao longo do dia, com bastante destaque. Rádios, sites e telejornais exibiram imagens de Chab sendo preso, e também vídeos e áudios feitos pela Centronic, que mostram o pagamento da suposta extorsão e revelam telefonemas de negociações pelo silêncio do apresentador.
Posição da RIC
O âncora do telejornal noturno local da RIC leu nota oficial da empresa, informando que a emissora ‘se surpreendeu na manhã de hoje’ com a prisão do apresentador; que o fato aconteceu na Rádio Mais, de propriedade de Chab, em São José dos Pinhais (região metropolitana de Curitiba); que ‘o Grupo RIC repudia veementemente o ocorrido e espera apuração rigorosa’ dos fatos, e por fim, que o contrato com Ricardo Chab já está rescindido. A emissora ainda não informou quem apresentará o programa diário ‘Na Hora do Almoço’, no lugar de Chab.
Após prestar depoimento em delegacia, Chab e Neiva de Macedo foram transferidos para a cadeia do Centro de Triagem de Curitiba, onde passariam a noite de sexta para sábado. Os advogados dos dois já preparam pedido de relaxamento da prisão.
A suposta extorsão envolve a empresa Centronic, onde trabalhavam os seguranças acusados de envolvimento em um crime bastante polêmico, que mexeu com a opinião pública em outubro do ano passado: o assassinato do estudante Bruno Strobel, filho do cronista esportivo Vinícius Coelho.
Assassinato
De acordo com as investigações da polícia, e a confissão de um dos acusados, Bruno foi pego pichando o muro de uma clínica médica, cliente da Centronic, à noite. O rapaz voltava a pé para casa, após assistir a uma partida de futebol com amigos. Chegando ao local, os seguranças da Centronic surpreenderam o estudante, que então teria sido levado para a sede da própria empresa de vigilância. Lá, Bruno teria sido amordaçado e espancado.
Na tentativa de escapar da surra, o rapaz teria revelado ser filho de um jornalista famoso, e que usaria sua influência junto à imprensa para denunciar a tortura que estava sofrendo na Centronic. Diante disso, os vigias teriam decidido matá-lo. O rapaz foi assassinado a tiros e teve o corpo abandonado na Região Metropolitana de Curitiba. Dias depois, a polícia prendeu os seguranças da Centronic e apresentou o caso como elucidado. O crime teve grande repercussão. Entre outras denúncias, a Centronic foi acusada de estimular seus funcionários a praticar torturas e espancamentos.
Um dos seguranças da Centronic, Marlon Janke, confessou o crime para a polícia. Coincidentemente, o advogado que atende Janke neste caso é Neiva de Macedo, o mesmo que está preso por intermediar a extorsão de Ricardo Chab contra a Centronic.
Vereador envolvido
Outro suspeito de participar do esquema de extorsão é o presidente da Câmara de Vereadores de Colombo, vereador Onéias Ribeiro de Souza, do PT. Ele receberia participação no dinheiro arrecadado com a extorsão. O delegado Marcus Vinícius Michelotto, da delegacia de Estelionatos, que comandou as investigações e realizou a prisão de Chab e de Neiva de Macedo, disse à imprensa que deverá pedir também o indiciamento e a prisão do vereador.
Chab e Neiva de Macedo vinham sendo investigados há cerca de dez dias. Esta não teria sido a primeira extorsão contra a Centronic. Mas desta vez, o proprietário da empresa, Nilso Rodrigues de Godoes, levou o caso à polícia. A Justiça autorizou o monitoramento dos telefones dos dois suspeitos. Godoes disse à imprensa que Neiva de Macedo, em nome de Chab, havia primeiramente pedido R$ 150 mil para o apresentador ‘ficar calado’ no caso de ‘novas denúncias’ contra a Centronic. O valor foi renegociado e baixou para R$ 70 mil. Já a esta altura, a polícia acompanhava o crime. O flagrante foi feito quando a parcela de R$ 35 mil estava sendo paga a Neiva de Macedo.
Ainda de acordo com Godoes, em extorsão praticada anteriormente, e negociada pessoalmente, o advogado Neiva de Macedo e Ricardo Chab queriam R$ 1 milhão para não levar ao ar denúncias contra a Centronic. Nesta ocasião, a ‘renegociação’ teria baixado o valor para R$ 80 mil – que, de acordo com o dono da empresa de segurança, teriam sido pagos em dinheiro. Mas, há cerca de duas semanas, a dupla teria voltado a procurar a Centronic exigindo mais dinheiro, por conta de novas denúncias que teriam surgido contra a empresa.
Telefonemas
Esta segunda tentativa de extorsão foi conduzida através de telefonemas. Quem negociava pela empresa era um homem identificado como Ademir – que já trabalhou para Ricardo Chab e agora é funcionário da Centronic. Foi o próprio Ademir quem gravou as ligações. Depois da denúncia à polícia, que autorizada judicialmente, passou a monitorar os telefonemas de Chab e de Neiva Filho.
Em um dos telefonemas, Ademir reclama para Neiva de Macedo que Chab não estava aceitando baixar o valor acertado. Há uma gravação em que Ademir fala diretamente com Chab, que não fala em valores. Fica implícito que eles negociavam comissões para baixar o valor da suposta extorsão: Ademir diz que não abre mão da parte ‘do Onéias Ribeiro e do Macedo’. Chab responde que falaria com eles e depois telefonaria de volta para Ademir.
O advogado Elias Mattar Assad, que defende a Centronic no caso do assassinato do estudante Bruno, disse à imprensa que Godoes o procurou com as gravações dos telefonemas em 15/04, pedindo orientação sobre o que fazer. Assad teria recomendado que denunciasse à polícia e abrisse inquérito, ou esquecesse o caso. Mas, depois disso, o advogado ainda intermediou um encontro entre os donos da Centronic, com Chab e Neiva de Macedo.
Neste encontro, Chab teria dito, ao saber das gravações incriminadoras que Godoes afirmou possuir, que não queria ‘ficar refém’ de ninguém. Depois disso, as extorsões teriam continuado, a partir de então com acompanhamento da polícia, até resultar nas prisões. Toda a operação foi acompanhada também pelo juiz Pedro Luís Sanson Corat, da Vara de Inquéritos Policiais, e por um representante do Ministério Público.
Defesa
O advogado que representa Neiva de Macedo, Beno Brandão, disse à imprensa que só vai se pronunciar sobre o caso quando tiver acesso aos autos e declarou que que vai pedir a liberdade provisória de Macedo. Haroldo César Natter, advogado de Ricardo Chab, disse que a prisão do apresentador é uma ‘armação’, porque ele fazia matérias de cunho investigativo em seu programa de TV, e que não houve extorsão.
A imprensa investigava, ainda na noite de sexta-feira, qual a ligação do advogado Antônio Neiva de Macedo Filho com o ex-prefeito de Curitiba, ex-ministro de Esportes e atual presidente da Companhia de Habitação do Paraná, Rafael Greca de Macedo. De acordo com as primeiras informações, Neiva de Macedo seria primo de Greca e teria sido chefe de gabinete na gestão dele como prefeito de Curitiba.’
O FUTURO DO JORNAL
Associação Mundial de Jornais aponta quatro cenários para o futuro, 25/4
‘A Associação Mundial de Jornais (WAN, sigla em inglês) publicou, nesta quinta (24/04), com acesso restrito, um relatório de 2007 sobre o futuro do meio jornal. Diretores e jornalistas de oito países chegaram à conclusão de que existem quatro possíveis cenários para o jornal, como forma de evitar uma crise mundial. São eles: mídia dominante e público-alvo; mídia tradicional e público-alvo; mídia tradicional e audiência de massa; mídia dominante e audiência de massa.
‘Planejar o cenário permite aos veículos explorar muitas das incertezas do futuro, e imaginar como administrar esses itens antes que eles não se transformem em crises’, disse a WAN, no resumo do relatório, disponível em PDF.
Para o futuro, a WAN indica que será necessário ficar atento à concorrência, à audiência, às novas tecnologias e às naturais interrupções do mercado. ‘Para manter o futuro vivo, nós precisamos entender com os dois – nossos corações e mentes – o que a sociedade e nossa indústria poderão ser’.
A análise do mercado partiu de oito dos mais importantes publishers do mundo, com a representação brasileira do presidente da Associação Nacional de Jornais e diretor-presidente do Grupo RBS, Nelson Sirotsky. Internacionalmente, o relatório contou, por exemplo, com a participação do presidente do The New York Times, Janet Robinson.
A Kairos Future, de Estocolmo, promoveu a análise, junto à WAN.
Sobre a WAN
A WAN é uma organização mundial da indústria de jornais, com sede em Paris. Tem o objetivo de defender e promover a liberdade de imprensa e profissional, e os interesses do mercado de jornais do mundo todo. A organização representa 18 mil periódicos, de 102 países.’
200 ANOS
ARI lança Semana Comemorativa aos 200 Anos de Imprensa no Brasil, 25/4
‘Foi lançada, em 23/04, a Semana Comemorativa aos 200 Anos de Imprensa no Brasil. Uma série de eventos promovidos pela Associação Riograndense de Imprensa (ARI) em parceria com a Assembléia Legislativa gaúcha farão parte das celebrações, que acontecem entre 01/06 (Dia da Imprensa) e 07/06, em Porto Alegre.
A data objetiva homenagear o surgimento do primeiro jornal brasileiro, o Correio Braziliense, lançado em Londres por Hipólito José da Costa, em 1808. Entre as atrações previstas para a Semana está o fórum de debates As perguntas que não calam! Perspectivas da imprensa brasileira para os próximos anos, que contará com a participação de jornalistas de diferentes estados do país.
Blog relembra trajetória da imprensa
Em fevereiro, a ARI lançou o blog Imprensa Brasileira 200 anos. A página, idealizada pela Comissão Especial dos 200 anos do Correio Braziliense e pelo Departamento de Direitos Sociais e Imprensa Livre, foi a primeira ação comemorativa ao bicentenário da mídia nacional. Com atualizações periódicas, o blog também conta com a participação de usuários, que podem enviar artigos, notas, matérias ou imagens para os e-mails imprensalivre@ari.org.br ou ari@ari.org.br. Outras informações sobre o calendário da Semana Comemorativa aos 200 Anos de Imprensa no Brasil pelo fone (51) 3211-1555.’
COBERTURA ELEITORAL
Jornais da Rede Bom Dia criam Conselho Eleitoral para pautar equipe, 23/4
‘Os jornais da Rede Bom Dia criaram um Conselho Eleitoral cujo principal objetivo é pautar a cobertura dos quatro veículos que circulam em Rio Preto, Jundiaí, Sorocaba e Bauru, interior de São Paulo. Os editores-chefes de cada praça se reúnem mensalmente com nove pessoas de diferentes segmentos da sociedade para falar da cobertura eleitoral.
As primeiras reuniões aconteceram na semana passada. Segundo o diretor-geral da Rede Bom Dia, Flávio Pestana, a idéia era ouvir mais de perto a quem é o maior interessado na questão. ‘Não queríamos uma cobertura burocrática, como a maior parte da imprensa faz’, disse ao Comunique-se.
A escolha foi feita pelos editores dos diários com a preocupação de que os membros do Conselho não tivessem qualquer vínculo político. ‘Os editores fizeram entrevistas e selecionaram quem estava dentro do perfil. Queríamos jovens, pessoas mais velhas, umas mais cultas, outras mais simples’.
Quando as eleições estiverem mais próximas, os encontros serão semanais.’
CHINA
RSF acusa governo chinês de impedir entrada de jornalistas no Tibete, 23/4
‘A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) denuncia o impedimento de jornalistas estrangeiros de entrarem no Tibete, por parte do governo chinês, desde 14/03. Em 22/02, afirma RSF, os organizadores dos Jogos Olímpicos de Pequim teriam fechado a passagem para a capital tibetana de Lhassa, na cobertura da tocha olímpica no cume do Everest.
A organização exigiu, nesta quarta (23/04), a abertura da fronteira tibetana à imprensa internacional e pediu apoio a organizações internacionais. ‘Chamamos a União Européia e as Nações Unidas a se mobilizarem, para conseguir que Pequim deixe os correspondentes estrangeiros irem livremente ao Tibete e às regiões vizinhas’, diz em comunicado.
Campanha?
Segundo a RSF, o governo chinês, além de interromper a cobertura da imprensa internacional, está realizando uma campanha para mostrar os tibetanos como ‘terroristas’.
A organização cita que a agência oficial chinesa, a Xinhua, anunciou que as autoridades chinesas teriam encontrado armas, dinamite e receptores por satélite de 11 monastérios no Tibete, está impedindo a transmissão de rádios internacionais produzindo interferências e o acesso a sites e blogs pró-Tibete. É esse material oficial, sustenta a RSF, que está repercutindo internacionalmente, tornando a cobertura tendenciosa.’
NA JUSTIÇA
Ricardo Teixeira e CBF perdem ação de danos morais contra Juca Kfouri, 24/4
‘A Justiça do Rio de Janeiro indeferiu pedido de indenização da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do presidente da organização, Ricardo Teixeira, contra o jornalista Juca Kfouri. A ação, de danos morais, foi motivada pelo post ‘Senador da CBF’ do Blog do Juca, que informa que o senador Delcídio Amaral (PT-MS) recebeu doações da confederação.
O senador foi investigado pela Polícia Federal durante a Operação Navalha, acusado de ter pego R$ 24 mil da Construtora Gautama para alugar um avião. A CBF alegou que a nota a relaciona com a empreiteira, insinuando uma doação irregular durante a campanha de Delcídio Amaral.
O juiz Antonio Aurélio Abi-Ramia Duarte, da 4ª Vara Cível da Barra da Tijuca, julgou o pedido improcedente porque a informação não é falsa. ‘A conclusão dos fatos com base na verdade não pode ensejar dano moral algum, já que não é deflagradora de ilicitude alguma, sendo todos os fatos verdadeiros. A CBF, inclusive, não negou a doação de R$ 100 mil ao senador em questão, que foi realmente acusado de ter pego R$ 24 mil da empreiteira Gautama’, escreveu na sentença.
O magistrado destacou que Kfouri estava fazendo seu trabalho divulgando as informações. ‘Tal conduta está rigorosamente em compasso com a liberdade de imprensa, na sua mais perfeita forma. O réu exerceu sua regular atividade, aliás, é dever de todo cidadão fiscalizar as doações efetuadas para as campanhas políticas, sendo legítimo o exercício de cidadania. Não há, portanto, conduta ilícita por parte do jornalista que somente divulgou a verdade’.
O juiz também decidiu que Ricardo Teixeira não é citado na nota, então não há conduta lesiva contra sua pessoa. A CBF e seu presidente foram condenados a pagar as custas do processo. Cabe recurso à decisão.
No fim de 2007, Teixeira já tinha perdido outra ação contra Kfouri.’
JORNAL DA IMPRENÇA
Bonner no JN, 24/4
‘Meus gritos
não foram feitos
para todos os ouvidos.
(Astier Basílio in Antologia)
Bonner no JN
A considerada Simone Marques, Coordenadora de Imprensa Eletrônica da Fundação Cinema RS – Fundacine, de Porto Alegre, assistia ao Jornal Nacional quando foi surpreendida por uma chamada de matéria:
Na lista de manchetes do Jornal Nacional, William Bonner vociferou, cenho em oblíquo:
‘Aumenta o número da queda de idosos no Brasil’
Curiosa, resolvi assistir para verificar de que paradoxo se tratava, ou se, quem sabe, escutara mal. Lá pelo terceiro tomo do informativo, o apresentador e diretor-geral lascou novamente a chamada.
A notícia relatava que o número de tombos sofridos por idosos tem se multiplicado, tombos estes muitas vezes prosaicos e evitáveis. A manchete não tem nada de gramaticalmente errado, porém causam perplexidade aos ouvidos os termos antagônicos aumento-queda.
Janistraquis acredita, ó Simone, que Bonner deve ter sofrido privação de sentidos e/ou insanidade temporária, pois o ouvido dele é, comprovadamente, bom:
‘Há alguns anos, o apresentador do JN escreveu artigo n’O Globo, no qual comentava livro de Zuenir Ventura, lido pelo próprio em concorrido sarau carioca; o mestre escrevera ‘Negão havia dado…’ e tal frase, se é aceitável no papel, soa assim no discurso oral: ‘Negão aviadado’… Foi ponto pro Bonner.’
******
Puta confusão!
O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo terraço é possível divisar o horizonte sem fim das reservas indígenas para além do Lago Paranoá, pois Roldão passava os olhos na seção ‘Mundo’ do Correio Braziliense quando subitamente encostou o exemplar e escreveu ao diretor:
O jornal noticia os conflitos ocorridos na capital do Tibete nas manifestações por sua independência. Há uma foto da imagem da TV oficial de Pequim que mostra os distúrbios de rua. A legenda troca de nomes e identifica Lhasa como Gaza… Confusão com a semelhança do som das palavras e com os distúrbios na Palestina.
Janistraquis acha, ó mestre Roldão, que confundir Lhasa com Gaza não é nada; trágico mesmo é trocar suposição por supositório.
******
Máxima
Janistraquis repete mais uma vez: o pior cego é o que não se enxerga.
******
Ignorância das boas
O considerado Diego Sierra, jornalista, assessor de comunicação que também exerce ‘o ótimo vício da escrita’ no blog http://papopop.une.org.br, entre outras atividades, envia chamadinha escondida no Portal Exame, com o seguinte título:
Empresa dará passagens a quem propor o melhor nome.
Diego abominou o absurdo e inexistente tempo do verbo:
Terá sido falta de aulas de língua portuguesa nas faculdades de jornalismo?
Janistraquis acha, ó Diego, que ocorreu isso mesmo, mas não devemos esquecer aquela sesquipedal ignorância capaz de resistir a quem se propuser à mais insana luta.
******
A terra treme
Foi como uma ventania forte a ameaçar o telhado, seguida de esquisito tremor que fez tilintar os copos arrumados na prateleira da cozinha. O cachorro começou a uivar para um luar inexistente e houve comoção no galinheiro, onde o cacarejar não teve mais fim e o galo esgoelava-se num canto rouco e também interminável. No início da madrugada, o Jornal da Globo nos apresentou ao terremoto.
******
Astier Basílio
Leia no Blogstraquis a íntegra do poema cujo excerto encima esta coluna e mais outros versos do próximo livro desse jovem e inspirado vate que a Paraíba arrebatou a Pernambuco.
******
Coroa de flores
O considerado Gilson Ferreira de Oliveira, que programa os computadores do fundo de pensão da Petrobras, a Petros, no Rio de Janeiro, envia chamadinha de capa do Globo Online:
Ônibus que se acidentou no CE voltava de velório.
Gilson achou esquisito e Janistraquis seguiu o voto do relator:
‘Considerado, assim como nosso diligente leitor, também nunca tive notícia de que ônibus fosse a velório; nem que fosse nem que voltasse…’.
******
Sábias palavras
‘Mal humor ou mal-humor?’, pergunta o blog Flick-R, do Ig, com firme propósito de ensinar a língua portuguesa a seus leitores sempre sedentos de sabedoria.
Aí a considerada e paulistana Patrícia Köhler, ‘jornalista atuante, embora ainda não diplomada’, como ela mesma diz, colheu o pepino e o enviou à coluna, com o seguinte comentário:
Só com muito BEM humor pra agüentar…
Janistraquis acha, ó Patrícia, que além de ‘bem humor’, a gente também precisa, e muito, de espírito de renúncia.
******
O saudoso Talvâni
O considerado Álvaro Larangeira, jornalista gaúcho, doutor em comunicação social pela PUC do Rio Grande do Sul, envia duas legendas perpetradas pela GloboNews com a cumplicidade de um gerador de maus caracteres:
— Marco Paulo Levorin, advogado do pai e da madastra de Isabella
— Pai e madastra de Isabella passam primeira noite na prisão
‘ A palavra madrasta tem sofrido sevícias na telinha, não é mesmo?’, queixou-se o professor.
Tais episódios fizeram Janistraquis recordar a folclórica figura de Talvâni Guedes da Fonseca, repórter do Departamento de Pesquisa do Jornal do Brasil nos anos 60, o qual escreveu inesquecível matéria em que, para alegria dos colegas, repetiu por três ou quatro vezes a palavra pederastra.
Nos anos 70, era diretor do escritório de Veja no Recife e foi demitido porque escreveu num jornal da cidade, sabe-deus-por-que, um impublicável artigo em defesa da ditadura militar.
******
Ganância no ar
Deu no Meio&Mensagem Online:
Atlético Paranaense irá cobrar transmissões das rádios
Clube inova e anuncia cobrança de R$ 15 mil por jogo transmitido no Campeonato Brasileiro
Janistraquis pensou, pensou, consultou alfarrábios e meteu a colher:
‘Considerado, o jornal diz que o Atlético ‘inova’, mas não é bem assim; o clube quer apenas aumentar a renda, só isso, e recorre a um expediente jamais utilizado em qualquer parte do mundo. Basta às emissoras do Paraná passarem a transmitir somente os jogos dos concorrentes que os atleticanos param de pensar em semelhante besteira.’
******
‘Inflação’ de trânsito
A considerada Ana Maria Morau, jornalista paulistana, encontrou esta surpreendente notícia no indispensável Consultor Jurídico:
Multa cancelada
Agente de trânsito é quem deve provar a inflação
A Companhia de Trânsito de Belo Horizonte (Bhtrans) teve uma multa cancelada porque não conseguiu provar a inflação. Para o juiz Renato Luís Dresch, da 4ª Vara da Fazenda Pública de Belo Horizonte, a declaração unilateral do agente de trânsito não é suficiente para validar a aplicação da multa.
Ana Maria não fez comentários, porque o lead da matéria é mesmo de deixar a gente sem fôlego, porém Janistraquis, que aprendeu a dirigir num velho trator agrícola, suspirou e acelerou:
‘C’os diabos, considerado, c’os diabos!!! Um site de tanta excelência como o Consultor Jurídico confundir infração com inflação é falha gravíssima. Trata-se de crime hediondo contra o idioma e o responsável deveria pegar pelo menos um ano de detenção, sem contar a inflação do período…’
Leia aqui a íntegra do boletim de ocorrência.
******
Isso é jornalismo?
Fundamental informação que jazia na capa do UOL sob o chapéu ‘Celebridades’:
Ivete Sangalo é vista em restaurante no Rio.
Janistraquis franziu o ‘semblante’, como repórteres, apresentadores e narradores de TV costumam se referir à cara das pessoas:
‘Considerado, têm-se a impressão de que desaprendemos a cada dia; ora bolas, noticia-se que Ivete estava no restaurante como se a moça rodasse bolsinha nas imediações de um motel!’
Pura, puríssima verdade e aí está o caso da menina defenestrada que não nos deixa exagerar; a ‘cobertura’, principalmente a da TV, é salpicada de futilidades, desconchavos e despautérios, sem contar os erros de concordância cometidos sob chiliques, faniquitos e fricotes, o que deixou meu secretário ainda mais impaciente:
‘Surdiu até um taxista visto como ‘testemunha’ importante e ninguém percebeu que o elemento era apenas mais um louco disposto a tudo para meter o ‘semblante’ na telinha; ainda bem que ‘apareceu’ de costas…’.
******
Nota dez
Doze entre treze leitores desta coluna elegeram artigo do considerado Diogo Mainardi, o qual abriga parágrafos assim:
O Brasil macaqueou o sistema de cotas raciais dos Estados Unidos. E macaqueou tarde, num momento em que o próprio candidato negro à Casa Branca já admite aboli-lo. O Supremo Tribunal Federal está julgando a constitucionalidade das leis que instituíram as cotas raciais no Brasil. É uma chance para acabar de vez com o quilombolismo retardatário que se entrincheirou no matagal ideológico das universidades brasileiras.
Leia no Blogstraquis a íntegra do artigo que é mais uma bomba lançada pelo testilhante articulista.
******
Errei, sim!
LÍNGUA MORTA — Leitores escrevem para reclamar do latinista de plantão, a propósito do editorial da edição no 48 de Imprensa. O título mais o ‘olho’ realmente cometem crime de lesa-idioma: Vade rectro, corruptio!, clama o título. Deveria ser Vade retro, sem o c. Significa Arreda!, Sai da minha frente! ou Retira-te!, com que Jesus repele São Pedro quando este o censura por anunciar a própria condenação à morte (Marcos, 8,33).
O ‘olho’ esbugalha-se assim: Quosque tandem abutere patientiam nostram? Na verdade, a apóstrofe que abre a primeira Catilinária de Cícero é esta: Quousque tandem abutere Catilina patientia nostra?
Perplexo, Janistraquis comentou: ‘É, considerado… Latim é língua morta … Foram exumar, deu nisso …’(outubro de 1991)
Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.
(*) Paraibano, 65 anos de idade e 46 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’
CASO ISABELLA NARDONI
Percival de Souza, referência de qualidade, 22/4
‘O XIS DA QUESTÃO – De permeio com as habituais concessões à pobre lógica dos exageros sensacionalista, houve, na cobertura feita ao assassinato da menina Isabella, momentos de bom jornalismo, tanto na pauta quanto na reportagem. E entre o que de bom assistimos, elogios especiais são devidos ao experiente profissional Percival de Souza, que foi, no panorama geral da cobertura realizada pela televisão, a referência de qualidade – pela seriedade, pela coerência, pelo alto nível informativo e pela lucidez analítica das suas intervenções.
1. Entre valores e impulsos
Por tudo o que contém de insensatez, ignomínia, irracionalidade, perversidade, violência e hipocrisia, o crime que tirou a vida à menina Isabella expõe fragilidades e contradições da natureza humana que nos incomodam dramaticamente. Os valores que no século XXI organizam as convicções éticas e morais da sociedade excluem, das nossas expectativas em relação aos outros, a possibilidade de comportamentos assassinos. E a surpresa torna-se maior quando a vítima da violência é uma criança encantadora na sua inocência e na sua beleza.
Um crime com tamanho grau de hediondez testa-nos a capacidade de compreender e avaliar comportamentos humanos à luz do primado de leis democráticas. São leis que preservam, como direitos fundamentais de todos e de cada um dos cidadãos (inclusive dos criminosos), coisas como a presunção de inocência e a inviolabilidade da honra, da vida privada e da imagem. Bem como, no caso de indiciamentos e julgamentos, o direito à ampla defesa por parte dos acusados. E a aceitação de que só à Justiça é dado o poder e o direito de julgar, para condenar ou absolver.
No caso da menina Isabella, não é fácil aceitar tais balizamentos, dado que todas as evidências produzidas pela investigação policial apontam como prováveis assassinos o pai e a madrasta da menina. Com a agravante de que as evidências colhidas e divulgadas revelam, na ação de matar, lances de inconcebível malvadez.
Temos assim, de um lado, o balizamento dos valores éticos herdados da experiência humana de viver, sintetizados em direitos humanos universais, definidos e protegidos pelas leis maiores; do outro, o impulso emotivo que nos leva a irresistíveis clamores por justiça e vingança, até com exageros como aqueles a que temos assistido – exageros por parte de quem promove o cerco popular aos suspeitos e respectivas famílias, e exageros, também, por parte dos que produzem o show televisivo, em função do qual tudo se transforma em espetáculo.
São pressões antagônicas, contraditórias entre si, das quais ninguém escapa, em traumas como este.
Nem os jornalistas. Nem o jornalismo.
2. O fantasma da Escola Base…
Mas, em casos como este, além do conflito entre a crença em valores éticos e os impulsos justiceiros, os jornalistas trabalham submetidos pelo menos a mais quatro tipos de pressão, igualmente contraditórios entre si:
1) A pressão emocional das demandas sociais por informações e elucidações;
2) A pressão das lutas por audiência e receitas publicitárias, que impõe táticas nem sempre sérias às formas de pautar e noticiar, em detrimento do dever de bem informar;
3) Em especial no caso da televisão, a pressão dos formatos pré-determinados de certos programas, e do estilo dos respectivos apresentadores – valendo, como exemplo, programas como os dos senhores Datena , na Bandeirantes, e Geraldo Luís, da Rede Record.
4) A pressão das razões da consciência e dos pontos de vista individuais de quem trabalha na cobertura de dramas como o da morte de Isabella.
Quem trabalha sob tais pressões deveria preservar a capacidade de fazer escolhas ditadas pela consciência. Infelizmente, porém, em boa parte dos casos, não é isso que acontece. E neste caso Isabella, voltamos a assistir a exageros lamentáveis. Exageros em especial no que se refere à repetição doentia de cenas e falas, para preencher os vazios de informação derivados do sigilo parcial assumido pela Polícia. Exageros, também, na paranóia dos cercos feitos aos dois principais suspeitos e às suas famílias.
Ao que parece, porém, o fantasma da Escola Base pairou sobre a consciência jornalística de uma parcela dos profissionais escalados, gerando prudências e medos que fizeram bem ao trabalho realizado. Assim, pode-se dizer que a qualidade da cobertura jornalística foi, no geral, superior à feita em crimes anteriores, de densidade emotiva equivalente.
De permeio com as habituais concessões à pobre lógica dos exageros sensacionalista, houve momentos de bom jornalismo, tanto na pauta quanto na reportagem. E entre o que de bom assistimos, elogios especiais são devidos ao experiente profissional Percival de Souza. No panorama geral da cobertura feita pela televisão, e de forma mais acentuada na Record, ele foi a referência de qualidade – pela seriedade, pela coerência, pelo alto nível informativo e pela lucidez analítica das suas intervenções.
O saber especializado com que investiga, acompanha, relata e analisa os fatos e as circunstâncias do crime, fazem de Percival referência no campo em que atua. Assim foi e está sendo, mais uma vez, a sua atuação neste horripilante assassinato.
(*) Manuel Carlos Chaparro é doutor em Ciências da Comunicação e professor livre-docente (aposentado) do Departamento de Jornalismo e Editoração, na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, onde continua a orientar teses. É também jornalista, desde 1957. Com trabalhos individuais de reportagem, foi quatro vezes distinguido no Prêmio Esso de Jornalismo. No percurso acadêmico, dedicou-se ao estudo do discurso jornalístico, em projetos de pesquisa sobre gêneros jornalísticos, teoria do acontecimento e ação das fontes. Tem quatro livros publicados, sobre jornalismo. E um livro-reportagem, lançado em 2006 pela Hucitec. Foi presidente da Intercom, entre 1989-1991. É conselheiro da ABI em São Paulo e membro do Conselho de Ética da Abracom.’
Carla Soares Martin
Caso Isabella: jornalistas narram desgaste e preocupação com concorrência, 23/4
‘Vinte câmeras e uma ‘montanha’ de microfones apontados para o delegado Aldo Galiano Júnior, diretor do Departamento de Polícia Judiciária da Capital (DECAP), de São Paulo, na coletiva desta terça (22/04) sobre a morte de Isabella Nardoni. Há 24 dias, profissionais de todos os veículos – TVs, rádios, jornais e internet – cobrem o caso. Jornalistas comentaram ao Comunique-se o desgaste físico e profissional que vêm atravessando com a cobertura.
Kleber Thomaz, da Folha de S.Paulo, afirma que o caso Isabella foi o ‘mais desgastante’ que já cobriu. Para o repórter, nem o acidente da TAM nem a cratera do metrô causou tanto cansaço.
Thomaz atribuiu parte do desgaste ao sigilo em que corre o inquérito. Por causa da concorrência, existe uma pressão para conseguir informações em off. ‘Ninguém fala oficialmente’, comentou Thomaz.
O repórter Marcelo Godoy, do Estadão, tem a mesma opinião de Thomaz. ‘Como as fontes são em off, seguramos uma semana para dar uma informação sobre o caso’, afirmou.
O produtor Rafael Castro, do Jornal da Record, fala sobre a jornada de trabalho, que chega a 12 horas diárias. ‘O plantão leva à exaustão’, disse.
Para a repórter da Rádio CBN, Simone Queiróz, o cansaço é o mesmo de um longo caso como este, ao longo de seus 20 anos de profissão. Para a jornalista, o lado emocional é o mais afetado. ‘Ninguém gosta de cobrir um caso para saber como uma criança de cinco anos morreu’.
Conclusão do inquérito
Na terça, o delegado Galiano Júnior disse que a polícia terá de ouvir mais quatro pessoas para terminar a apuração do caso. Haverá, ainda, uma reconstituição da morte de Isabella.
Durante a entrevista, com a intervenção dos jornalistas para saber mais sobre o caso, disse o delegado: ‘Não podemos sobrepor o direito da imprensa, de informar, ao interesse público de elucidação dos fatos’.’
Antonio Brasil
Isabella e Cabrini fazem sucesso na TV sensacionalista, 22/4
‘Jornalismo adora os excessos e as sensações. Ainda mais quando se trata da cobertura de crimes misteriosos ou denúncias ainda mais misteriosas contra seus próprios profissionais. Sempre foi assim. É da tradição histórica do meio. Os primeiros jornais na França, Inglaterra e EUA, ainda no século XVII, já davam enorme destaque aos assassinatos violentos e macabros. Também buscavam denúncias que destruíssem a reputação ou a credibilidade de colegas ‘novidadeiros’.
E para isso, valia tudo. Mentiras e verdades se confundiam nos crimes e nas denúncias. Jornalista adora falar mal de tudo. Das pessoas, das instituições, do próprio jornalismo e ainda mais dos… jornalistas. Principalmente, daqueles profissionais que trabalham para os jornais… concorrentes.
Ou seja, adoramos o trágico, e veneramos a autoflagelação. Nenhuma outra indústria ou prática profissional se regozija tanto com o excesso de notícias ruins. Ainda mais, quando essas notícias tratam das nossas ousadias ou mazelas. Tanto faz. Sempre foi assim. O jornalismo não mudou muito. Hoje, em tempos de TV, o problema aumenta de proporção. Intensificaram-se os excessos e aprofundaram-se as sensações.
Armadilhas e heróis
Televisão consegue ampliar tudo. O que há de melhor e pior nas pessoas e no próprio meio. A cobertura de uma final de Copa do Mundo, por exemplo, é insuperável na TV. Tudo de bom. Mas a cobertura de crimes hediondos ou as armadilhas do jornalismo investigativo são terríveis para o meio televisivo.
A necessidade de buscar muitas e boas imagens confirma os tropeços e excessos. E a superficialidade da TV condena investigações mais sérias, profundas e demoradas.
Investigação jornalística na TV não se resume à busca de fatos. A necessidade de imagens, de muitas e boas imagens para provar a veracidade das notícias tende a comprometer a prática jornalística. Em busca de notícias e sensações, o jornalista faz sucesso, conquista inimigos, fortuna e acaba virando notícia.
O mal maior do jornalismo de TV é tendência ao excesso e o culto à celebridade. Pra que tanta notícia sobre quase nada? Enquanto isso, repórteres famosos se transformam em fonte de não de informações, mas de sensações, algumas boas, outras ruins. O público adora respeitar, venerar e invejar os jornalistas famosos. Os colegas adoram construir e destruir os mitos e os heróis (sic) da profissão. Sempre foi assim.
Sangue e sucesso
Por outro lado, o jornalismo na TV é atividade altamente lucrativa, mas muito perigosa. Em televisão, a busca do sucesso costuma ultrapassar a confirmação dos fatos. Tudo para aparecer na telinha. Ou como dizia uma colega norte-americana, ‘nem sempre certa, mas sempre no ar’. Em TV o mais importante é estar sempre em evidência. Falem mal, mas falem de mim. O meteórico retorno do Aqui Agora e da ‘vergonha’ do Boris Casoy confirmam a tese. Jornalismo de TV adora os excessos.
E as manchetes do noticiário confirmam a cumplicidade do público com a cobertura de exageros:
Telejornais crescem até 46% com caso Isabella
Segundo a FSP, ‘O trágico caso Isabella está fazendo a felicidade dos telejornais. A audiência desses programas cresceu até 46% na primeira quinzena deste mês em relação ao mesmo período de março…O sucesso explica em parte o investimento na cobertura. A Globo mobilizou 18 repórteres, 8 produtores e 20 cinegrafistas… A Record informa ter deslocado para a cobertura 30 repórteres e produtores e 20 cinegrafistas…Na Band, entre três e dez equipes (repórter mais cinegrafista) cobrem o caso, dependendo do noticiário, além de cinco produtores. Até o SBT priorizou Isabella. Mobilizou quatro repórteres e sete cinegrafistas.’
Mas tem mais manchetes sobre os excessos da cobertura. Seria comodismo ou falta de assunto?
Rede Globo dedica grandes espaços para o caso Isabella,
‘Caso Isabella virou novela doentia’, diz antropólogo
Show da imprensa na morte de Isabella
Mas além dos crimes misteriosos, o jornalismo também adora as denúncias:
Cabrini detido para esclarecimento em São Paulo,
Cabrini: ‘Estou sendo vítima de uma armação’
Advogados entram com pedido de relaxamento da prisão de Roberto Cabrini
Polícia chegou a Cabrini por denúncia anônima
Justiça concede habeas corpus a Cabrini
Cabrini: ‘Trabalharei com o mesmo empenho’
Sucesso do sensacionalismo
Na TV, tudo vira ‘sensação’. Nada faz muito sentido, mas o ‘muito’ é sempre bom. Ao assistir aos excessos do noticiário de TV sobre o assassinato de Isabella, temos a impressão que sabemos de tudo e que já estamos prontos para prejulgar os acusados. O excesso detesta a razão. A cobertura da TV nos dá a ‘impressão’ de que já sabemos tudo sobre tudo e todos. Privilégio do excesso sem profundidade.
TV é muito boa para nos entreter. Ela nos ajuda a sobreviver. É ótima para ‘matar o tempo’, para nos retirar da realidade. Mas a TV é péssima para nos fazer entender. Tem grandes dificuldades para explicar o desconhecido e misterioso e não consegue evitar os tais excessos que beiram sempre o ‘ridículo’.
É um show de cobertura onde o público não é poupado dos mínimos detalhes. Dos mais macabros aos mais inúteis, o objetivo é buscar a sensação, a atenção e reação do público pelos sentidos, pela sensação, pelo ‘sensacionalismo’. Centenas de profissionais com equipamentos sofisticadíssimos despendem enormes fortunas e grande quantidade de tempo no ar para não dizer nada. Preferimos as sensações às informações. Um show de excessos. Há muito tempo não vejo tanto jornalista batendo a cabeça para não dizer nada que preste. Uma cobertura macabra de um crime misterioso. Um jornalismo de TV em busca de sensações e muito sangue.
Verdade atrapalha
Mas nem sempre ‘sensacionalismo’ foi algo ruim para o jornalismo. Quando a prática da profissão ainda era bem elitista, desinteressante, burocrática e oficial, essas notícias sensacionais indicavam um bom caminho a aproximação e identificação com o público. A imprensa se reinventava pelas informações com sensações. Ênfase nas sensações.
Investia-se em um novo jornalismo para substituir o modelo anterior, muito opinativo, partidário, dogmático e chato. Criava-se um novo jornalismo mais popular, mas os riscos eram enormes. Em vez de formar, informar ou (e) doutrinar o público, a imprensa passava a oferecer um cardápio a la carte, um jornalismo ao gosto do freguês, quero dizer, do leitor. Gostam e querem sangue, muito sangue? Tudo bem. Nós também fornecemos! O problema, no entanto, é a quantidade e o equilíbrio.
Adoramos obter informações, muitas informações, todas recheadas de sensações. Por algum motivo que ainda desconhecemos, preferimos as notícias e denúncias com muitos excessos e exageros. Na TV sensacional, uma televisão ‘espreme que sai sangue’, a verdade é dispensável. Só atrapalha.
(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Atualmente, faz nova pesquisa de pós-doutorado em Antropologia no PPGAS do Museu Nacional da UFRJ sobre a ‘Construção da Imagem do Brasil no Exterior pelas agências e correspondentes internacionais’. Trabalhou na Rede Globo no Rio de Janeiro e no escritório da TV Globo em Londres. Foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. É responsável pela implantação da TV UERJ online, a primeira TV universitária brasileira com programação regular e ao vivo na Internet. Este projeto recebeu a Prêmio Luiz Beltrão da INTERCOM em 2002 e menção honrosa no Prêmio Top Com Awards de 2007. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’, ‘O Poder das Imagens’ da Editora Livraria Ciência Moderna e o recém-lançado ‘Antimanual de Jornalismo e Comunicação’ pela Editora SENAC, São Paulo. É torcedor do Flamengo e ainda adora televisão.’
MULTIMÍDIA
Correio Braziliense faz nova aposta no Jornalismo Multimídia, 23/4
‘O Correio Braziliense circulou na segunda-feira (21/04) – data em que o jornal e Brasília comemoraram 48 anos de vida – com seu novo endereço eletrônico estampado na capa: www.correiobraziliense.com.br . Recheado de novidades, o novo portal traz recursos multimídia que marcam a sua trajetória de pioneirismo no jornalismo na Capital Federal. A correspondente em Brasília, deste Jornalistas&Cia, Kátia Morais, que há semanas acompanha a movimentação intensa nos corredores do jornal e também fora deles, detalha o que o novo portal do principal jornal de Brasília passa a oferecer aos seus leitores internautas.
‘É um dos maiores investimentos da empresa’, revelou o diretor de Redação e um dos principais mentores do projeto, Josemar Gimenez, para quem o ‘Correio também está reforçando sua marca, seus valores e sua tradição de vanguarda na imprensa brasileira’. O portal entrou no ar com notícias em tempo real da cidade e acesso a todo o conteúdo impresso do jornal (exclusivo para assinantes). Além disso, conta com 12 blogs dos principais colunistas e editores do Correio, que irão tratar de temas ligados ao noticiário nacional e ao cotidiano do brasiliense. Entre eles está o de Gustavo Krieger, que segue a linha de sua coluna Nas Entrelinhas, para tratar dos bastidores da Política. Empolgado com o projeto do blog, Krieger, aliás, comprou uma câmera digital nova para utilizar áudio e vídeo com freqüência, a fim de dar dinamismo a sua cobertura. No blog de Vicente Nunes, repórter especial de Economia, haverá análises dos principais temas da macroeconomia, negócios, artigos e serviços, feitas de forma simples e direta. Já Alon Feuerwerker, editor de Política, contribuirá com notícias, análises e comentários sobre a política nacional.
O conteúdo – O Grita Geral, espaço dedicado ao leitor do Correio, também ganha a rede diariamente por meio do telejornal Correio Notícias, com 10 minutos de duração, que entra no ar às 16h30. O noticiário traz as principais notícias do Distrito Federal, além de serviços e debates. Aos domingos, será veiculado o programa Bate-Pronto, após o término da rodada de futebol do dia, incluindo os principais eventos esportivos do final de semana. Semanalmente, será exibido o Correio Debate, programa com temas ligados à política nacional. No novo portal o internauta tem acesso a podcasts com entrevistas sobre assuntos recorrentes na mídia, além de vídeos, infografias, galerias de fotos, blogs, quiz (testes de conhecimento), enquetes, fóruns, informações e guias de serviço. Haverá também um ranking das notícias mais lidas, a cobertura do campeonato de futebol e matérias especiais sobre diversos temas. Em cada matéria postada, o leitor tem a oportunidade de comentar ou mesmo de enviar um e-mail diretamente para o repórter que a produziu. De carona na interatividade, a TV Brasília, de volta ao grupo Diários Associados após sete anos, passa a exibir uma seleção especial de vídeos em sua programação no portal do Correio.
A equipe – Desde março, por cinco meses, jornalistas do grupo Associados Centro-Oeste – formado por Correio Braziliense, Aqui-DF, CorreioWeb, TV Brasília e rádios 105 FM e Planalto – participam do curso de Formação em Multimídia, treinamento da equipe cujo objetivo é inseri-la no novo formato da empresa, contemplando as áreas de produção de notícias, jornalismo impresso na era digital, radiojornalismo, telejornalismo, a evolução da estética da notícia e webjornalismo. Foram contratados exclusivamente para atuar no novo projeto 24 profissionais, entre repórteres, editores, webdesigners e programadores, que se juntaram à redação do impresso para conferir agilidade, precisão e sinergia entre as equipes.
Equipamentos – Além da capacitação profissional, a redação ganhou novas ferramentas de trabalho. Foi construído um estúdio para a gravação do telejornal Correio Notícias e para os programas Bate Pronto e Correio Debate, além de vídeos das principais notícias do dia. Também foi adquirida uma ilha de edição para a produção de imagens e vídeos. Jornalistas adquiriram filmadoras, gravadores digitais para colocarem à disposição entrevistas em áudio, transmitidas por laptops e celulares.
Projeto de nacionalização do jornal – Esse ambicioso projeto do Correio Braziliense, hoje o principal produto do grupo Diários Associados, tem um outro objetivo prioritário e que está no planejamento de tudo o que foi feito: fazer o jornal circular e ter audiência maior fora de Brasília, o que seria praticamente impossível a partir do jornal impresso. Sendo forte na web, a fronteira física cai e o jornal tem uma enorme chance de atingir um número cada vez maior de leitores e formadores de opinião, ganhando musculatura e importância na disputa com os outros grandes jornais do País. Não deixa de ser uma jogada de mestre da cúpula do Correio, que tem plena consciência da qualidade editorial e do prestígio que o jornal tem no centro do poder, fato que quer estender agora para todo o País. Se der certo, como parece que vai dar, com certeza agitará – e muito – a concorrência. E nós, quietinhos em nosso canto, vamos pagar pra ver. Melhor ainda, vamos agradecer os empregos que vierem a surgir dessa nova eventual competição.
(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’
******************
Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.