Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O choque do oportunismo e da realidade

A reportagem concebida por uma determinada rede de televisão no domingo (28/6), sobre como se dá o trabalho infantil em Bangladesh (este, mais um país asiático assolado pela miséria econômica e social), causou repugnância em muitos telespectadores. Crianças trabalhando sob um regime integral nos mais diversos segmentos de atividades mercantis são literalmente massacradas pelo intenso ritmo da jornada laboral por elas enfrentadas.

Conforme o exposto acima, há ainda os infantes que podem se considerar um pouco mais ‘privilegiados’ em relação aos demais, como, por exemplo, os que labutam em olarias e percebem como contraprestação do empenho de sua mão-de-obra lastimavelmente 1 dólar por dia (ou cerca de 2 reais ao dia), porquanto alguns ramos econômicos sequer remuneram o serviço prestado, tal como as crianças lotadas em tecelagens e em garimpos.

Uma das razões para tanto pode ser entendida na informação proporcionada no documentário de que mais da metade da população bengalesa possui ou ainda não atingiu os quinze anos de idade. Desse modo, não restam dúvidas acerca da configuração da exploração alheia de menores impedidos de exercer o direito de ter uma infância digna como outros semelhantes espalhados ao redor do mundo.

No entanto, a essência desta divulgação, que toca os brios mais profundos do receptor da mensagem emitida, carrega em seu bojo uma conotação simples de ser percebida, qual seja proporcionar o já tão conhecido sensacionalismo, potencializando consideravelmente os índices de audiência especialmente no horário em que grande parte das pessoas está sintonizada e relaxando em frente ao aparelho televisor.

Informações utópicas

O simples fato da massificação de reportagens com o mesmo cunho (comoção em esferas como a social, principalmente), chegando a se estabelecer séries com vários episódios visando claramente a assegurar o desfecho da saga, como uma daquelas novelas que infelizmente alcança inegáveis ápices de Ibope, revela as intenções desse modelo de atração televisiva.

Na verdade, a culpa não se traduz apenas nessa atitude da mídia especializada em TV. Aquela deve ser compartilhada, se não com maior parcela, através das pessoas fiéis a esses tipos de espetáculos promovidos por seus próprios caprichos de querer perscrutar tanto coisas supérfluas quanto as de maior relevância.

Todavia, o mais conveniente seria assimilar, sim, problemas de tal calibre – a exemplo das crianças bengalesas –, engendrar ações concretas a este respeito e não densificar o questionável volume de informações utópicas que transita onde quer que paremos para buscar um verdadeiro e substancial furo de reportagem.

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Administrador de Empresas, João Pessoa, PB