Friday, 29 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Imprensa britânica exagera na dose da cobertura

Nas últimas duas semanas, a imprensa britânica tem sido monotemática: só se fala em Madeleine McCann. A menininha de apenas quatro anos de idade que desapareceu durante as férias da família em Portugal virou a grande obsessão da mídia do Reino Unido. Jornais estampam fotografias de Maddie, como é carinhosamente chamada, nas primeiras páginas quase que diariamente, e canais de notícias exibem incessantes boletins informativos diretamente do local do desaparecimento.

Ainda que o público, em um primeiro momento, tenha demonstrado interesse significativo no caso e apoio aos pais da menina, Kate e Gerry McCann, a imprensa parece ter exagerado na dose. ‘[A cobertura] é absurdamente exagerada e não serve aos interesses da família ou sequer ajuda a fazer justiça’, escreveu o comentarista Simon Jenkins no Guardian de sexta-feira (18/5). ‘Sugerir que esta não é uma boa maneira de encontrar uma criança perdida é claramente cuspir contra o vento. Os jornalistas podem ter cozinhado tanto o caso McCann que ele acabou queimado’.

Comoção nacional

Fato é que a imprensa britânica tende a se envolver mais do que a objetividade jornalística manda em tragédias nacionais. Assim foi com a morte da princesa Diana, em 1997. Quando há crianças envolvidas, a situação tende a se intensificar ainda mais. O assassinato de duas meninas de 10 anos, em 2002, produziu muitas semanas de comoção.

O desaparecimento de Madeleine McCann parece, entretanto, ter criado uma verdadeira histeria coletiva da mídia, com jornais e emissoras de TV enviando grandes equipes para a pequena cidade portuguesa de Praia da Luz. Qualquer fio de informação, seja fato ou boato, é noticiado instantaneamente.

Celebridades, entre atores, cantores, jogadores de futebol e políticos, também entraram na dança: oferecem dinheiro para que a família continue a busca por Maddie, opinam diante das câmeras sobre o que pode ter acontecido à pequena menina, analisam se a polícia portuguesa cometeu erros.

Cobertura saturada

‘O perigo disso é que a cobertura fica tão saturada que se torna contra-produtiva’, sentencia Max Clifford, mais conhecido agente de celebridades da Inglaterra. ‘Não é que as pessoas não se solidarizam, é que elas começam a cansar da história quando não há notícias novas’.

Falando a uma estação de rádio na semana passada, o ex-político e hoje comentarista do Times Matthew Parris expressou aversão à onda de ‘doação’, seja de dinheiro ou de opinião, principalmente por parte dos políticos do país. Mais do que crítica, ele recebeu apoio do público.

‘Eu acredito que a maioria das pessoas está cansada desta agitação alimentada pela mídia’, escreveu no sítio da BBC o leitor Andy Jones, em uma das cerca de 300 mensagens em resposta aos comentários de Parris. ‘Uma garotinha está desaparecida – é muito triste. Mas eu me pergunto se a percepção da mídia sobre o caso seria diferente se ela não fosse branca e de uma família branca de classe média’. Informações de Luke Baker [Reuters, 18/5/07].