VEJA
Christiane Samarco
Conselho de Ética vai avaliar denúncia de que Renan recebia de empreiteira
‘O presidente do Senado e do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), corre o risco de ser processado pelo Conselho de Ética e ainda pode acabar convocado a depor na CPI da Navalha – que os senadores planejam criar na semana que vem. Reportagem da revista Veja que circula neste fim de semana mostra que a empreiteira Mendes Júnior custeava despesas pessoais do presidente do Senado, no valor de pelo menos R$ 16,5 mil. Diante dessa revelação, Renan divulgou nota oficial negando ter recebido qualquer ‘recurso ilícito ou clandestino’ de empresa ou empresário. Afirmou ainda que jamais teve nenhuma despesa pessoal ou de familiares custeada por terceiros. Também em nota, a Mendes Júnior informou que ‘não existe, nem nunca existiu, qualquer participação’ da empreiteira nesses pagamentos.
A situação do presidente do Senado já vai ser analisada na primeira reunião do Conselho de Ética, na quarta-feira. A convocação do conselho foi feita ontem à tarde pelo corregedor da Casa, Romeu Tuma (DEM-SP).
‘Ninguém está livre de ser investigado diante de uma acusação concreta, nem mesmo o presidente do Senado’, afirmou o senador Jefferson Péres (PDT-AM), ao lembrar do processo contra o ex-presidente e agora deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), que acabou renunciando ao mandato de senador.
Para Péres, que integra o Conselho de Ética, a nota oficial divulgada por Renan não foi suficiente. Segundo ele, restou um ‘ponto obscuro’ que precisa ser esclarecido. Ele se referia ao fato de o funcionário da empreiteira Mendes Júnior Cláudio Gontijo ter confirmado à revista Veja que fazia pagamentos para Renan à ex-jornalista Mônica Veloso, que tem uma filha com o senador.
‘Ele precisa confirmar se fazia pagamentos por intermédio do Gontijo e o porquê do uso do intermediário’, observou Péres. ‘Se remanescer qualquer dúvida, o Conselho de Ética ou uma CPI estarão obrigados, compelidos a investigar.’ Ele quer aguardar nova manifestação do presidente do Senado, para avaliar se caberá ou não a investigação.
O senador Demóstenes Torres (DEM-GO), outro integrante do Conselho de Ética, também achou insuficiente a nota de Renan. ‘É uma resposta do presidente, mas só uma investigação cabal pode responder a esta e a outras questões.’
A despeito do risco de processo no conselho, tanto o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO), como a líder petista Ideli Salvatti (SC), pregaram cautela ontem. ‘Até que se prove a denúncia, documental e materialmente, a pessoa é inocente’, afirmou Raupp, ao defender a tese de que é preciso ‘dar alguns dias para que as coisas se esclareçam, porque está tudo muito confuso’. Na mesma linha, Ideli disse que o assunto deve ser tratado ‘com todo o cuidado e com base na presunção de inocência’, até que as provas sejam apresentadas.
VARA DE FAMÍLIA
A nota oficial de Renan só foi divulgada pouco antes das 18 horas, depois de uma audiência de conciliação entre Renan e Mônica, na Vara de Família do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que teve cerca de três horas de duração. Segundo um amigo do senador alagoano, Renan é autor e não réu do processo, que corre em segredo de Justiça, por envolver sua filha de apenas três anos de idade. Esse amigo acrescenta que o objetivo do processo é o reconhecimento da paternidade e a fixação da pensão alimentícia da menina.
FRASES
Demóstenes Torres
Senador do PMDB-GO
‘Vamos investigar esta e outras denúncias, para ver se existe ou não promiscuidade nas relações. Investigar é do jogo democrático’
Jefferson Peres
Senador do PDT-AM
‘Se remanescer qualquer dúvida, o Conselho de Ética ou uma CPI estarão obrigados, compelidos a investigar’’
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Lobista pagaria pensão da filha, aluguel de apartamento e flat para senador
‘A ligação que mais complica o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) hoje não é com a Construtora Gautama, mas com um lobista ligado à Mendes Júnior, uma das maiores construtoras do País. A informação, revelada ontem pela revista Veja, dá detalhes de um pacote de benefícios ao senador supostamente oferecidos por Cláudio Gontijo, assessor da Diretoria de Desenvolvimento de Tecnologia da empreiteira há 15 anos. Em jogo, estaria a defesa dos interesses da empresa junto ao governo.
O lobista teria custeado, de janeiro de 2004 a dezembro de 2006, R$ 12 mil mensais de pensão para um filha do senador, hoje de 3 anos, com a jornalista Mônica Veloso. Além disso, até março passado, Gontijo teria financiado o aluguel de um apartamento de quatro quartos, em uma área nobre de Brasília, ao custo mensal de R$ 4,5 mil. A jornalista, até recentemente, morava no imóvel, cujo fiador é o próprio Gontijo.
Segundo o relato, Mônica ia todos os meses ao escritório da Mendes Júnior em Brasília, na Asa Sul, onde recebia um envelope timbrado, com as suas iniciais e os dados de Gontijo. Dentro, havia uma quantia de R$ 16,5 mil – o aluguel do apartamento e a pensão da filha. As duas ainda tinham seguranças pagos pelo lobista. Por fim, Gontijo teria colocado à disposição de Renan o flat de número 2.018, no hotel Blue Tree.
Na eleição, havia mais auxílio. Segundo a reportagem, o funcionário da construtora ajudou nas campanhas eleitorais de Renan e colaborou – extra-oficialmente – nas candidaturas de seu filho, Renan Calheiros Filho (eleito prefeito de Murici), e de seu irmão, Robson Calheiros (suplente de vereador), em 2004. Outro aliado, o médico José Wanderley, hoje vice do governador Teotônio Vilela Filho (PSDB-AL), também teria recebido doações eleitorais.
A revista informa, ainda, que o dono da Guatama, Zuleido Veras, financiou a campanha frustrada de Renan ao governo de Alagoas, em 1990. Naquele ano, eles teriam se tornado amigos, a ponto de o dono da empresa investigada pela Operação Navalha freqüentar a residência oficial do presidente do Senado.
REAÇÃO
À revista, a Mendes Júnior garantiu que a relação com Renan é ‘questão pessoal’ de Gontijo, alegando que nunca soube de pagamentos. ‘Ele é meu amigo, nada mais’, respondeu Gontijo, por sua vez, ao saber que as informações viriam à tona. ‘Parei de ir à casa dele desde que ele virou presidente do Senado para evitar problemas.’
Gontijo confirma a entrega do envelope à jornalista, mas garante que os recursos não eram dele nem da empresa: ‘Só posso dizer que não era meu.’ Renan, que ganha salário de R$ 16.512,09 – após o último reajuste dado aos parlamentares -, alegou que o dinheiro era dele mesmo. Para reunir os R$ 16,5 mil, recorreria a ‘rendimentos agropecuários’.’
Luciana Nunes Leal
Empreiteira ajudou campanhas em AL e RN
‘A Empreiteira Mendes Júnior, que tem contrato de R$ 60 milhões para obras no porto de Maceió, administrado pela estatal Companhia Docas do Rio Grande do Norte, colaborou com as campanhas eleitorais nos dois Estados, no ano passado.
O governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB), aliado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), recebeu R$ 100 mil. O vice de Teotônio, José Wanderley Neto é, além de companheiro de partido, um dos mais próximos aliados de Renan em Alagoas.
O senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), que perdeu a disputa pelo governo do Rio Grande do Norte, foi contemplado com R$ 200 mil.
O total de doações da Mendes Júnior nas eleições de 2006 foi de R$ 803 mil. O DEM, então PFL, recebeu a maior fatia: R$ 250 mil.
O governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), recebeu R$ 175 mil da Mendes Junior. O senador Renato Casagrande (PSB-RS) obteve R$ 75 mil.
Os dados foram informados pelos partidos e candidatos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A prestação de contas registra ainda uma doação em serviços de R$ 3 mil da empreiteira para a campanha do governador mineiro Aécio Neves (PSDB).
Em nota encaminhada ao Estado, a Mendes Júnior não quis informar os critérios para a distribuição de doações eleitorais e partidárias. ‘A empresa exerceu um direito legal e não pretende debater esse assunto. Todas as doações foram transparentes e legais, feitas para quem a empresa achou que deveria doar’, diz o texto.
Sobre o empreendimento no porto de Maceió, a assessoria da empresa comentou que é ‘natural’ a existência de contratos de uma construtora do porte da Mendes Júnior com estatais. O diretor-adjunto do porto de Maceió é Clóvis Pereira Calheiros, primo do senador Renan Calheiros.
Em março deste ano, ele foi responsável pela organização do Encontro Nacional de Entidades Portuárias e Hidroviárias, realizado em Maceió, com a presença de 14 empresas. ‘Será uma ocasião propícia para traçar diretrizes e fazer reivindicações junto ao governo federal’, disse Clóvis à imprensa especializada, na época, ao comentar o encontro.’
VENEZUELA
Chávez confisca equipamentos da RCTV e põe tanques nas ruas
‘EFE E AFP, CARACAS – A Suprema Corte da Venezuela determinou ontem que o equipamento de transmissão e infra-estrutura usados pela emissora privada RCTV precisam estar disponíveis para a TV controlada pelo Estado que a substituirá na segunda-feira. O presidente Hugo Chávez rejeitou renovar a concessão da RCTV, que vence à meia-noite de amanhã. Forte esquema de segurança começou a ser adotado ontem em Caracas e outras cidades.
A Suprema Corte anunciou em seu site que a comissão de telecomunicações da Venezuela será responsável pelo equipamento da Radio Caracas Televisão, incluindo antenas, enquanto o tribunal revê o apelo da emissora contra a decisão de Chávez.
O gerente-geral da RCTV, Marcel Granier, declarou que a decisão do tribunal foi fruto de ‘intensa pressão do governo sobre os magistrados’ para garantir o fechamento da mais antiga TV do país, que tem 53 anos.
Chávez defendeu ontem novamente sua decisão de não renovar a concessão da RCTV. ‘Dificilmente há no mundo um país com maior liberdade de expressão do que este’, afirmou Chávez, usando uniforme militar, na base de Barcelona, a leste de Caracas. ‘No entanto, alguns continuam me tratando como o tirano do Caribe’, acrescentou, em discurso no qual advertiu que a ‘oligarquia está tentando criar um mal-estar nas Forças Armadas’. Durante o ato, foram exibidos os novos caças Sukhoi que a Venezuela comprou da Rússia no ano passado.
Chávez tem dito que decidiu não renovar a concessão da RCTV, alegando que a emissora defende os interesses de uma elite. Ele usará a freqüência de VHF para uma nova TV, que definiu como de serviço público. O presidente disse que há planos para sabotar o novo sinal. ‘Eles tentarão nos enfrentar, mas nós estamos preparados para fazer o que for preciso’, declarou.
A rede privada pediu ontem a Chávez que reconsidere a medida, qualificando-a como ‘arbitrária e contrária à lei’. Em um comunicado, a RCTV – a mais antiga TV do país, com 53 anos – disse que a decisão de não renovar a licença de transmissão foi ‘uma decisão política que atenta, como nenhuma outra, contra os direitos humanos’. No entanto, a rede informou que seus engenheiros se preparavam para cumprir as ordens do governo e pediu aos que a apóiam que não caiam nas provocações e mantenham o caráter pacífico das manifestações.
Pela manhã, centenas de estudantes se concentraram diante de várias universidades de Caracas para protestar contra o fechamento da RCTV, enquanto tanques e dezenas de veículos blindados tomavam posição nas ruas e estradas da capital, em uma demonstração de força. Segundo pesquisas, entre 70% e 80% dos venezuelanos são contra a retirada do ar da RCTV por considerá-la arbitrária. A decisão também tem sido criticada por várias organizações internacionais de defesa da liberdade de expressão.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos pediu ontem ao governo Chávez que proteja a liberdade de expressão como parte do pluralismo de uma sociedade democrática.’
CENSURA & BIOGRAFIAS
Editoras já rejeitam novas biografias
‘Biógrafos tarimbados condenaram a atitude de Roberto Carlos e também a da editora Planeta em não levar o caso adiante. ‘Se possível, a questão deveria chegar até o Tribunal de Haia’, ironiza Fernando Morais, oito biografias no currículo e prestes a terminar mais uma, já intitulada ‘O Mago’, sobre o escritor Paulo Coelho e que deverá ser lançada no segundo semestre. ‘Acho ruim fazer acordo logo no início de um processo, pois, à medida que o caso vai subindo de instância, mais independente espera-se que seja o encarregado de julgar.’
Para Morais, o importante é o biógrafo saber o limite da invasão de privacidade. ‘No caso das três questões levantadas por Roberto Carlos, são assuntos que foram compartilhados por outras pessoas, portanto, de caráter público.’ A necessidade de se conseguir autorização do biografado ou seu representante também não agrada aos escritores. ‘Sou contra biografias autorizadas, porque elas exigem que o autor submeta o original ao biografado ou à família deste para que seus advogados dêem palpites’, comenta Ruy Castro. ‘No meu caso, que só trabalho com biografados já falecidos, procuro manter uma relação de confiança e colaboração com as famílias, mas sem nenhum compromisso. O que sairá no livro será de responsabilidade minha. Eventualmente pode dar zebra, como no caso do Garrincha, ainda mais se a família do biografado se deixa enredar por advogados mal-intencionados.’
Lira Neto tem uma posição semelhante. ‘As histórias que sejam relevantes para a compreensão da trajetória e da personalidade do biografado têm de, necessariamente, entrar numa boa biografia’, observa ele, autor de ‘Maysa – Só Numa Multidão de Amores’ (Globo), que será lançada na segunda-feira, às 19 horas, na Livraria da Vila da Alameda Lorena. ‘Cabe ao biógrafo saber distinguir isso da bisbilhotice gratuita e, em especial, do boato ou da calúnia.’ Em caso de informações com diversas versões, o ideal é publicar todas, ensina Morais que, na biografia de Paulo Coelho, vai contar cenas de drogas, sexo, bruxaria. ‘Estou há um ano no processo de escrita, pois se trata de uma vida complicada, mas acertei com Paulo de ele não ler os originais e confiar em mim.’ U.B.
O acordo que interrompeu a produção e a divulgação de Roberto Carlos em Detalhes (Planeta), biografia não autorizada de Paulo Cesar de Araújo, já repercute de forma danosa no mercado: editores e biógrafos puxaram a rédea e são agora mais cautelosos na produção de qualquer trabalho do gênero. ‘Antes, os trabalhos já eram lidos por advogados, mas, agora, têm de ser com mais rigor’, comenta Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras. ‘Já recusamos várias biografias’, admite Luciana Villas-Boas, da Record. ‘Impôs-se um cerceamento para se adivinhar o que é de interesse público e o que é invasão de privacidade’, completa Paulo Roberto Pires, falando em nome do grupo Ediouro, Agir e Nova Fronteira.
Na verdade, segundo relato geral, o patrulhamento já acontecia, mas jamais tivera tamanha grandeza como a conquistada pela obra sobre Roberto Carlos que, alegando que sua privacidade havia sido invadida em trechos que faziam referências à morte de sua mulher, Maria Rita, ao acidente que feriu sua perna na infância e às conquistas amorosas. A queixa foi acatada pelo juiz Tércio Pires que, no dia 27 de abril, comandou um acordo entre representantes da Planeta e do cantor, evitando, assim, a abertura do processo.
‘Embora não tenha lido o livro, tenho a impressão de que ele não atenta à moral ou à conduta de Roberto Carlos’, comenta Paulo Rocco, que preside também o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). ‘Quando nos tornamos pessoas públicas, é quase impossível manter a privacidade.’ Mesmo assim, o assunto foi tema de uma reunião da entidade na semana retrasada, que já iniciou a negociação, no Congresso Nacional, para modificar a causa principal do problema.
‘A origem de tudo está no novo Código Civil, promulgado em 1988’, explica Roberto Feith, da editora Objetiva. Segundo ele, até então, a questão do direito de imagem e da sociedade ter acesso à sua história estavam regulamentadas na Constituição e nas Leis de Direito Autoral. ‘Não era necessária uma legislação adicional, o que acabou acontecendo com o novo código, mais especificamente no artigo 20.’
Diz o texto do artigo que ‘a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais’. Um parágrafo único acrescenta que, em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes. ‘E esse direito é estendido até a quarta geração do artista’, detalha Feith.
Com isso, segundo o editor, a lei oferece uma dúbia interpretação, o que deixa a decisão para o juiz encarregado da questão. ‘E isso impede o direito que o cidadão tem de conhecer sua história’, acrescenta Luciana Villas-Boas, lembrando que a Record já perdeu muito dinheiro em questões decididas na Justiça. ‘Recentemente, um juiz decretou o bloqueio de R$ 268 mil da conta da editora por causa de um pequeno detalhe que julgou improcedente em um livro editado pela Record’, conta ela, que não revela o nome da obra por estar o caso ainda em julgamento.
Luiz Schwarcz também se lembra de ter investido muito no caso aberto pelas filhas do ex-jogador Garrincha, que processaram a editora por danos morais e materiais por causa da biografia Estrela Solitária – Um Brasileiro Chamado Garrincha, de Ruy Castro. ‘Foi uma disputa que durou 11 anos e nos custou muito, financeiramente’, conta o editor, lembrando que, nos Estados Unidos, a legislação não determina herança de direitos, ou seja, a partir da morte do artista, sua vida pode ser livremente retratada, desde que respeitada a verdade.
Como as ‘pessoas agora se preocupam com uma frase, uma vírgula’, no entender de Luciana, as editoras adotaram uma atitude mais rigorosa na edição de biografias não autorizadas. ‘Já recusamos diversas propostas’, conta ela. ‘O excesso de cuidado vai certamente inibir novas edições’, adiciona Paulo Roberto Pires, que considera o caso Roberto Carlos um marco negativo na história do mercado editorial brasileiro. ‘Conseguiu ser pior que o caso da biografia do Garrincha.’
Na verdade, a dubiedade da legislação atinge outras áreas culturais. Roberto Feith conta que um documentário para cinema sobre Getúlio Vargas já foi arquivado por problemas de liberação com os herdeiros. ‘O que está em jogo é um direito mais amplo da sociedade como um todo’, afirma Paulo Rocco. ‘Pessoa nenhuma pode ser denegrida ou desrespeitada, mas temos de iniciar imediatamente um debate sobre até onde vai a privacidade de uma pessoa e onde começa o direito da sociedade à informação que tenha o caráter público.’’
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‘Importante é saber o limite da privacidade’
‘Biógrafos tarimbados condenaram a atitude de Roberto Carlos e também a da editora Planeta em não levar o caso adiante. ‘Se possível, a questão deveria chegar até o Tribunal de Haia’, ironiza Fernando Morais, oito biografias no currículo e prestes a terminar mais uma, já intitulada ‘O Mago’, sobre o escritor Paulo Coelho e que deverá ser lançada no segundo semestre. ‘Acho ruim fazer acordo logo no início de um processo, pois, à medida que o caso vai subindo de instância, mais independente espera-se que seja o encarregado de julgar.’
Para Morais, o importante é o biógrafo saber o limite da invasão de privacidade. ‘No caso das três questões levantadas por Roberto Carlos, são assuntos que foram compartilhados por outras pessoas, portanto, de caráter público.’ A necessidade de se conseguir autorização do biografado ou seu representante também não agrada aos escritores. ‘Sou contra biografias autorizadas, porque elas exigem que o autor submeta o original ao biografado ou à família deste para que seus advogados dêem palpites’, comenta Ruy Castro. ‘No meu caso, que só trabalho com biografados já falecidos, procuro manter uma relação de confiança e colaboração com as famílias, mas sem nenhum compromisso. O que sairá no livro será de responsabilidade minha. Eventualmente pode dar zebra, como no caso do Garrincha, ainda mais se a família do biografado se deixa enredar por advogados mal-intencionados.’
Lira Neto tem uma posição semelhante. ‘As histórias que sejam relevantes para a compreensão da trajetória e da personalidade do biografado têm de, necessariamente, entrar numa boa biografia’, observa ele, autor de ‘Maysa – Só Numa Multidão de Amores’ (Globo), que será lançada na segunda-feira, às 19 horas, na Livraria da Vila da Alameda Lorena. ‘Cabe ao biógrafo saber distinguir isso da bisbilhotice gratuita e, em especial, do boato ou da calúnia.’ Em caso de informações com diversas versões, o ideal é publicar todas, ensina Morais que, na biografia de Paulo Coelho, vai contar cenas de drogas, sexo, bruxaria. ‘Estou há um ano no processo de escrita, pois se trata de uma vida complicada, mas acertei com Paulo de ele não ler os originais e confiar em mim.’’
Jotabê Medeiros
RC canta Tom Jobim, Gardel e Ary Barroso
‘Nas primeiras filas, os colegas da música popular hispânica vieram prestar tributo. Reconhecidos pelo público, abraçam-se na frente de flashes o ator e cantor venezuelano José Luiz Rodríguez (conhecido como El Puma) e o cantor mexicano Marco Antonio Solís (conhecido como El Buki). Muitas câmeras para a gravação de um DVD, uma grua que passeia pelos camarotes, dezenas de fotógrafos. A platéia torna-se mais alvoroçada. ‘No te olvidamos, Roberto!’, grita uma senhora lá dos camarotes.
Depois do tradicional popurri de sua orquestra, às 20h30 da quinta-feira entra enfim no palco do Ziff Ballet Opera House, em Miami, o cantor brasileiro Roberto Carlos, após quase 10 anos de ausência do cenário internacional. Ele inicia o show com Emociones e segue com repertório totalmente dedicado aos hispânicos da platéia, que parecem maioria – colombianos, chilenos, argentinos, mexicanos, cubanos.
Seguem-se Cama y Mesa, Detalles, Desahogo, Mujer Pequeña, Mi Cacharrito. RC acompanha as letras no teleprompter, mas quase nunca erra. Repete as piadas que diz nos shows no Brasil, agora transcritas para o espanhol. Quando canta O Calhambeque, em português, a parte da platéia composta de brasileiros inicia uma espécie de grito de emancipação, que prossegue duranteInsensatez (Jobim) e Aquarela do Brasil (Ary Barroso).
Na parte ‘picante’ do show, alterna canções de motel (Propuesta, Côncavo y Convexo) com a versão de Um Gato em la Oscuridad. Para a mais safada dessa fase, ele retorna ao português: Cavalgada. Depois, uma interpretação cortante de El Día en Que me Quieras (Gardel/Le Pera) .
‘Hey, hey, hey, Roberto é nosso rei!’. O coro inicia-se timidamente e logo toma toda a audiência. RC começa sua missa funk com Amigo, em espanhol, e Jesus Cristo. Nessa altura, as fãs já tomaram todas as primeiras filas, engalfinhado-se por rosas. Ele ainda volta para dois bis: Amada Amante e Yo Solo Quiero (Un Millón de Amigos).’
TELEVISÃO
SBT ainda é vice
‘Os números referentes ao mês de abril, em território nacional, do dito share (termo que designa a participação de audiência de cada emissora dentro do universo de aparelhos ligados) ainda mantêm o SBT à frente da Record. É fato que a diferença diminuiu um bocado nos últimos dois anos, mas, para quem se sustenta no slogan ‘a caminho da liderança’, como ocorre com a Record, convém observar que a rede ainda não tem condições de cantar vitória nem na vice-liderança.
Conforme os dados do Ibope antecipados pela agência de notícias de TV Canal 1, a Globo teve, em abril, 55,5% de participação entre o total de ligados. O SBT vem a seguir, com 18,2%. A Record, em terceiro, tem 15,4% de share, ante 5,6% da Band e 3,0% da RedeTV!.
O entusiasmo da Record se dá em razão de seus índices na Grande São Paulo, praça de peso essencial ao mercado publicitário e onde a emissora de Edir Macedo já chegou à vice-liderança.
Mas, desde março, quando lançou nova programação, o SBT tem conseguido acionar algum freio sobre o processo de queda livre em que se encontrava desde o fim do ano passado.
DNA
Os atores Flávio Migliaccio e Malu Valle já trabalharam juntos em Senhora do Destino e agora repetem a dose em Sete Pecados, próxima novela das 7 da Globo, de Walcyr Carrasco. A família é composta também por Max Fercondini, Gabriela Duarte e Nívea Stelmann.
Entre-linhas
Escoltado por Luciana Gimenez, Marcelo Carvalho deu de cara com Silvio Santos em Los Angeles, por obra do evento de screenings de TV que lá acontece. E relata que o dono do SBT comentou a parceria da RedeTV! com a Buena Vista em Donas de Casa Desesperadas e elogiou a iniciativa de gravar na Argentina, como o SBT fez em Chiquititas.
Como Marcos Mendonça deixa a presidência da Fundação Padre Anchieta em duas semanas, cheira a casca de banana o contrato recém-assinado pela TV Cultura com a produtora Cellcast, expert em faturar bem com o gênero telessorteios.
Assim, Paulo Markun assume a Cultura em junho, tendo de engolir um ano de contrato com a Cellcast, responsável por um programa que estréia segunda-feira, o Sumo TV, que promete R$ 20 mil em prêmios aos melhores vídeos enviados pelo público.
Paraíso Tropical enfim seduziu a massa: a novela da Globo rendeu 47 pontos a semana toda na Grande São Paulo.
Viola, Minha Viola, de Inezita Barroso na Cultura, comemora 27 anos amanhã, às 9 horas, com as irmãs Galvão, que participaram do primeiro programa.
O canal Vh1 está com o sinal aberto a partir de hoje até o dia 10 de junho para todos os assinantes da NET Digital.
O Multishow foi líder em audiência entre os canais de TV paga no horário nobre, de janeiro a abril, entre o público de 18 a 34 anos. Nesse período, o BBB esquentou o ibope do canal.’
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