Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mídia privada, independente?

A mídia privada, fazendo o papel de principal aparelho ideológico de Estado, nos faz lembrar o tempo inteiro do senso comum que faz toda a engrenagem do atual tipo de sociedade funcionar. Nada se pode mudar. Ou melhor, só a lógica do mercado e as vontades privadas podem mudar as coisas, até as nossas leis. Qualquer movimento que aponte para uma nova maneira de gerir a coisa pública e um novo meio de controle do Estado pela sociedade tem suas idéias massacradas diariamente pelos porta-vozes da ‘democracia’, da ‘independência’ e das teorias da lógica do mercado.

Como nos recentes processos políticos que ocorrem na América Latina, vários ideólogos da democracia representativa alertam para um perigo totalitário e que estariam nascendo ditadores, através do voto. Até foi dito que ‘democracia direta é totalitarismo’. Então, quem acredita nisso acha que escolhermos um presidente da República pelo voto direto é um ato autoritário?

Mais qualidade na programação

Enfim, parece que alguns preferem falar qualquer coisa para tentar impedir que uma idéia pareça legítima e que caia em debate. A mídia nada debate, sempre passa informações descontextualizadas, causando uma enorme confusão e formando uma massa acostumada a não analisar a situação, sempre esperando a assepsia dos fatos isolados ao invés de uma análise da situação. A posição da grande mídia é sempre a de escolher o que é importante a sociedade discutir, quando há interesse que a sociedade discuta. O que não interessa para o setor privado, não interessa para a mídia – por também ser formada por grandes blocos privados, algo lógico. Antes do papel de nos informar e levantar discussões, a mídia mainstream é um negócio com objetivos de lucro e tudo que uma empresa privada precisa seguir, colocando a informação em segundo plano. Infelizmente, é a lógica do mercado.

Vai ser sempre assim até termos uma mídia formada também por meios de comunicação de gestão pública, onde a informação e discussão de assuntos de interesse da sociedade seja colocada de forma não filtrada e não pasteurizada e que passe a ser esse o seu principal objetivo.

A TV Brasil ainda está longe de alcançar as reivindicações de movimentos sociais, que pedem a democratização dos meios de comunicação. Sua formação foi meio nebulosa, com um Conselho Curador ainda mais nebuloso, com vinte membros – sendo quinze escolhidos a dedo pelo presidente da República – e carecendo de clareza nos critérios adotados para a escolha. Apesar do governo não abrir mão desse controle, sem dúvida é uma das TVs com maior qualidade na programação, com conteúdo bem diversificado, ao contrário da mesmice das privadas.

Controle ideológico

A escolha do modelo de TV digital no Brasil foi um grande retrocesso. Alinhado com as grandes TVs privadas, o governo somente levou em consideração os interesses comerciais das emissoras, pois em nenhum momento foi levado em consideração o papel social da TV aberta, com a possibilidade de se ampliarem os canais abertos com uma qualidade ainda superior à que temos hoje. O governo não dialogou com a sociedade suficientemente e nos empurrou goela abaixo um modelo de TV fora de nossa realidade e com o mesmo número de canais, ao invés de até quadruplicar os canais abertos. Lamentável.

Só com meios de comunicação com gestão pública teremos uma mídia realmente democrática em que a população possa intervir no conteúdo e a busca de lucratividade não fique em primeiro plano, degradando e distorcendo a sua função. Sem contar que seria mais difícil se manter o controle ideológico que sofremos hoje nos meios de comunicação.

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Técnico em telecomunicações, Queimados, RJ