Você tem um blog? Se responder que não, pelo menos vai dizer que já visitou ou visita regularmente um. Blog era definido, inicialmente, como uma espécie de diário íntimo na internet. No entanto, com o passar do tempo, evoluiu e se tornou mais do que um espaço onde se escreve coisas íntimas. Pelo contrário, acabou se tornando um meio democrático onde qualquer pessoa pode expor suas opiniões sobre os mais variados assuntos. Blog vem do inglês weblog, cuja abreviação foi popularizada.
Estima-se que existam hoje mais de 10 milhões de diários virtuais espalhados pelo mundo. Cada um com suas particularidades. Uns são dedicados a apenas falar de música, outros de política. O blog virou febre e se tornou uma grande oportunidade para pessoas anônimas compartilharem com o mundo os seus pontos de vista. Mas, não são apenas os anônimos que usufruem dos blogs. Personalidades da música, literatura, teatro, TV e jornalismo também mantêm diários virtuais. Sim, há muitos jornalistas blogueiros expondo suas opiniões no espaço virtual. Soa estranho, já que esses profissionais, naturalmente, têm mais facilidade de opinar nos meios tradicionais. Mas é fato.
Uma tendência fundamental
Jornalistas veteranos, como Ricardo Noblat e Josias de Souza, por exemplo, escrevem diariamente em seus blogs. Mesmo assim, não está acontecendo necessariamente um êxodo de jornalistas para a internet. Muitos continuam trabalhando nas redações das mídias tradicionais. ‘A web tem sido muito procurada por jornalistas que querem trabalhar com mais liberdade, sem a imposição da relação comercial dos veículos comerciais. A internet é o veículo mais democrático de comunicação onde todo mundo pode escrever o que pensa e o que quer. Porém, os jornalistas, no uso desse meio, não estão livres de cumprir o código de ética, e jamais abandonar o compromisso social inerente à profissão’, analisa o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Amazonas (SJP/AM), Cezar Wanderley.
O que leva um jornalista a criar um blog? Liberdade? Talvez. A jornalista Betsy Bell, que escreveu uma coluna sobre política amazonense em três jornais impressos, por exemplo, migrou para a internet e publicava diariamente notas para o blog da Bell. Era como a sua coluna diária, só que no espaço virtual e com mais recursos. ‘Acho que o blog é a mídia mais contemporânea do momento. Nele, além do espaço democrático, o sistema ainda é multimídia podendo incluir textos, fotos, áudio e vídeo. Ainda não acho um fenômeno, uma vez que pouco dá para lucrar com o mesmo, mas é uma tendência fundamental e será mais ainda em pouquíssimo tempo’, afirmou.
Indagada sobre a diferença entre suas colunas nos jornais impressos e seu blog, ela não hesitou em afirmar que manteve a mesma linguagem nos dois espaços: frases curtas com pitadas de humor, porém, com mais liberdade de publicação. ‘Nos jornais, as notas eram constantemente censuradas, o que não acontecia no blog’, relatou.
Censor de si próprio?
O professor Rogério Christofoletti, doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP) ressalta que o blog não é sinônimo de liberdade. ‘Não vejo os blogs como a salvaguarda da independência ou da liberdade de expressão. Ver assim é uma certa ilusão. Eles também podem estar seriamente comprometidos editorial ou financeiramente. Basta ver, por exemplo, blogs ligados a grandes portais que só indicam blogs do mesmo portal e não apontam para outras direções discordantes ou dissonantes’, diz.
Nem só de conteúdo jornalístico vive um diário virtual mantido por jornalista. O blog ‘Palavras’, do jornalista Raphael Alves, une fotografia com literatura. Um casamento que deu certo e vem fazendo sucesso. Cada poema é ilustrado por uma fotografia de sua autoria. ‘O meu blog é o espaço para eu dizer o que penso, o que vejo e o que sinto sobre meu dia-a-dia. Mantenho-o porque gosto da interação que ele me proporciona junto ao leitor’, conta. Em relação ao principal motivo de um jornalista manter um blog ele diz: ‘Censura há nas redações, assessorias, no dia-a-dia, em todo canto. É velada, mas existe. O blog é um caminho, uma válvula de escape. Porém, há outra questão com a qual o jornalista deve se ocupar. Ele é ou não censor de si próprio? Às vezes, o comunicador exerce a censura sobre suas próprias idéias e, neste caso, não há blog, site, ou outra ferramenta de expressão que dê jeito’, filosofa o repórter fotográfico do jornal Diário do Amazonas, que recentemente foi premiado no III Concurso de Fotografia Next-Photo, de São Paulo.
Um mercado para o futuro?
O jornalista Ricardo Noblat é um dos mais famosos a manter um blog. Depois de deixar o jornal Correio Braziliense, não dar certo no jornal baiano A Tarde e sua coluna semanal no jornal carioca O Dia durar apenas dois meses, Noblat decidiu entrar de vez no universo blogueiro e tentar viver disso. Para ele, deu certo, e atualmente seu blog está hospedado no site do jornal O Globo. Juntamente com o exemplo dele, nasceu um possível mercado de trabalho para o futuro. Digamos que ainda é cedo para pensar nisso, mas há quem acredite que isso já é uma realidade.
‘O blog, na verdade, já é um mercado. Claro que vai crescer mais. No entanto, já emprega muita gente. Veja o blog do ex-ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu. Ele escreve, mas não está sozinho, há uma equipe que produz, edita e fotografa. O jornalista Raimundo Holanda, do Blog do Holanda, também. Outro dia, ele contratou um repórter para fazer uma entrevista para o blog. Então, os espaços estão se ampliando, sim’, analisa o presidente do SJP/AM Cezar Wanderlei. Mas alerta: ‘Nesses casos, os jornalistas voltam a ser empregados e precisam estar atentos para não ter desrespeitados seus direitos’, diz.
Há exemplos, mas, por ser uma mídia muito nova, a internet não é um campo seguro em dois sentidos – como mercado de trabalho e como fonte de pesquisa –, pois há muita informação e pouca credibilidade. Logo após o boom da internet no Brasil, os grandes portais contrataram muitos jornalistas das redações tradicionais com a promessa de salários altos. Porém, quando a febre esfriou, a maioria estava no olho da rua. ‘Um possível mercado de trabalho para o futuro? Pode ser, mas qualquer coisa que se diga agora é pura especulação’, diz com uma boa dose de desconfiança o professor Rogério Christofoletti. Só o tempo dirá.
Endereço de alguns blogs
Ricardo Noblat – Escreve sobre os bastidores da política brasileira; também escreve sobre economia e cultura (oglobo.oglobo.com/pais/noblat/);
Josias de Souza – No seu blog são publicados textos sobre a política brasileira (josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br);
Reinaldo Azevedo – Idem (veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/);
Raimundo Holanda – Seu blog trata sobre a política amazonense (www.blogdoholanda.com.br);
Raphael Alves – Mantém blog literário com poemas ilustrados com fotografias, ambos de sua autoria (htp://palavrasetceteras.blogspot.com);
Rosana Hermann – A jornalista escreve sobre tudo. Aliás, o slogan do blog já diz que sua autora é ‘especialista em generalidades’ (queridoleitor.zip.net/).
Segundo o artigo científico do professor doutor Rogério Christofoletti, que desenvolveu em parceria com a universitária Ana Paula França Laux, ‘Blogs Jornalísticos e Credibilidade: Cinco Casos Brasileiros’, os blogs que mais postaram textos no mês de novembro de 2006 (época do desenvolvimento da pesquisa) foram o de Noblat (817), Reinaldo Azevedo (510) e Querido Leitor (325); o blog que mais recebeu comentários também foi o de Noblat (42.431), equivalente a 1.414,36 comentários por dia.
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Estudante de Jornalismo, Manaus, AM