[do release da editora]
Organizado pelo jornalista Fernando Molica, 50 anos de crimes mostra a trajetória ao mesmo tempo fascinante e aterradora do crime no Brasil através de uma seleção de reportagens policiais entre os anos 50 e 90. O livro é o segundo volume da ‘Coleção Jornalismo Investigativo’, uma iniciativa da Editora Record e da Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Assim como o primeiro livro da coleção – 10 reportagens que abalaram a ditadura (2005) – o objetivo deste é resgatar reportagens importantes que marcaram a imprensa brasileira e ajudar a compreender a evolução da violência do país e do próprio jornalismo.
Na escolha das matérias, Molica optou por vinte casos representativos – seja pela repercussão que tiveram, seja pelas técnicas de apuração jornalísticas –, capazes de proporcionar uma visão ampla de todo o período. A seleção procurou mostrar reportagens que, de alguma forma, traduzissem o espírito da época em que foram feitas: revelando crimes, criminosos e os próprios jornalistas.
Comentários sobre os bastidores e os contextos das investigações, produzidos pelos autores das reportagens ou por jornalistas que cobriram ou acompanharam os casos, enriquecem as reportagens. Esses textos de apoio contextualizam os fatos e contam como os profissionais conseguiram chegar a revelações importantes, que, muitas vezes, revelaram crimes, mudaram o curso de investigações e contribuíram para absolver ou condenar.
Sofisticação do crime
O livro é aberto com alguns dos artigos e reportagens de David Nasser sobre o caso Aída Cúri. O repórter transformou as páginas de O Cruzeiro, então a mais importante revista brasileira, em canhões que disparavam tiros adjetivados e implacáveis contra aqueles que ele julgava culpados pelo assassinato da estudante – morta ao ser jogada de um prédio da Avenida Atlântica. Esse jornalismo de combate, panfletário, foi sendo substituído, ao longo das décadas, por apurações mais precisas, objetivas e igualmente impactantes.
Mineirinho (1961), Cara de Cavalo (1964), Chico Picadinho (1966) e o Bandido da Luz Vermelha (1967) são personagens de um tempo que ficou para trás. Perderam espaço para os grupos de extermínio que horrorizaram as grandes cidades nos anos 70, para a corrupção e a violência policial e para o surgimento dos comandos criminosos, o crescimento do narcotráfico e o domínio territorial de favelas e bairros abandonados das periferias.
Segundo o autor, ‘mudou o crime e mudou a forma de cobertura. Em linhas gerais, poderia dizer que o crime surgia nos jornais dos anos 50 e 60 como algo isolado, como um ruído que volta e meia interrompia o funcionamento de uma sociedade supostamente sadia, equilibrada. O crime era o anormal, o criminoso era um desviante, um ‘pistoleiro louco’, como chamavam o ‘Mineirinho’. Hoje, o crime é mais sofisticado. (…) Os criminosos têm algum nível de articulação, mesmo que essa organização não seja assim tão grande. Antigamente, falava-se num crime individualizado, do criminoso X, do inimigo público número 1. Hoje, fala-se em comandos, em milícias, em articulações internacionais e mesmo em atividades criminosas de policiais, parlamentares e de alguns integrantes do judiciário. Tudo ficou mais complicado’.
O organizador
Fernando Molica nasceu em 1961 no Rio de Janeiro. Jornalista formado pela UFRJ, foi repórter nas sucursais cariocas da Folha de S. Paulo e de O Estado de S. Paulo e chefe de reportagem de O Globo. Desde 1996 é repórter especial da TV Globo. Seu primeiro romance, Notícias do Mirandão, foi um grande sucesso de crítica e vendas. É autor, ainda, de O homem que morreu três vezes e organizador do livro 10 reportagens que abalaram a ditadura.