Os principais assuntos que abriram a primeira semana deste mês, evidenciaram críticas e situações amplamente abordadas por este Observatório, demais veículos e pessoas que refletem sobre a produção jornalística e midiática.
Grande parte dos leitores, como nos diz Carlos Eduardo Lins da Silva, ombudsman da Folha de S.Paulo em sua coluna de domingo (9/11), ficaram frustrados ao abrirem o jornal pela manhã de quarta-feira e depararem com uma notícia que já sabiam havia pelo menos um mês: Obama era o favorito e liderava a eleição americana. Eleição na qual o pleito havia sido definido por volta das 2 horas da madrugada daquele mesmo dia, ou seja, o leitor esperava ver no jornal o desfecho desta situação e não, de certa forma, uma incógnita.
Este fato e outros, como as manchetes de segunda (10/11) sobre Felipe Massa, deixam evidente que o jornalismo impresso não consegue repensar sua função de ser arauto do factual e adaptar-se à nova ordem social na qual a televisão e a internet, acima de tudo esta, cumprem muito melhor a função.
‘Euforia’ e ‘oba-oba’
Isto não significa que o jornal não deva mais trazer, sui generis, a notícia, o fato, o noticiário quente. Muito pelo contrário, o jornal impresso deve saber fazer uma distinção clara entre o que é notícia, partindo de seu significado de novidade. Um fato relevante de extrema importância que aconteceu às 10 horas da manhã não será mais notícia/novidade se estampado nos principais impressos nacionais no dia seguinte, pois, certamente, já terá corrido o país por outros meios de comunicação.
Em casos como este, o jornal, devido a todas as suas particularidades, chega, aos leitores muito tempo depois da notícia e acaba sendo irrelevante – não só por dizer o que já se sabia, mas por não trazer ou esclarecer o leitor a respeito de novas informações do fato em questão.
Jornais e editores ainda não compreenderam que o quase-verbo ‘sair no jornal’ já não atribui àquele determinado acontecimento o status único de verdade. Não é preciso que uma notícia seja veiculada em qualquer periódico para ela ser ou tomar o corpo de veracidade. O jornal, porém, no imaginário social, detém uma grande parcela de credibilidade associada à sua ligação com o ‘real’, com o ‘presente’, assim como documental, que é deixado totalmente de lado em casos semelhantes ao exemplo citado acima.
Nestas situações, o leitor e o jornal sairiam ganhando se o periódico explorasse justamente a sua deficiência, que é a ‘notícia fria’, explorando nesta uma análise mais profunda que abordasse os diversos vieses e pontos presentes na mesma. Assim como passada a ‘onda Obama’, Folha e Estado publicaram análises e colunas em que a ‘euforia’ deu lugar à reflexão e à análise desprovida do ‘oba-oba’ que esteve presente, principalmente no dia da eleição do candidato.
Potencial de análise e comunicação
Nenhum veículo de comunicação desfruta de mais espaço/credibilidade que o jornal impresso. Este fator possibilita-lhe publicar matérias mais extensas e com análises mais profundas e elaboradas, pois na televisão e rádio isto é praticamente impensável e resume-se a comentariozinhos superficiais de âncoras e apresentadores. A internet ainda é muito fragmentada e dividida entre a diversidade de opções. Enquanto o que impossibilita um determinado blog, portal, site etc. de publicar opiniões diversas que não satisfaçam seu ‘público’ fiel, a Word Wide Web configura-se, para o internauta, muito mais um espaço de auto-afirmação do que de crescimento e debate de idéias desprovidas de maniqueísmo.
Nós, leitores, comunicadores, e população em geral, esperamos o tempo em que o jornal passe a desfrutar e oferecer a seus leitores todo o seu potencial de análise e comunicação, que passa, sim, pelo noticiário mais efêmero, pelo noticiário investigativo (este uma das grandes armas e poderes do jornal impresso) e pelo noticiário ‘frio’ que opta por uma apuração mais elaborada afim de que se entenda o que está por trás da notícia que sabemos desde ontem.
******
Chefe do Setor de Comunicação da prefeitura de Várzea Paulista, SP