O presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, celebra a imprensa independente do país como uma grande conquista de seus anos no poder, mas a boa relação entre autoridades e jornalistas pode estar com os dias contados. Diante da extensiva cobertura sobre as manifestações em apoio a um juiz suspenso no início do ano, o governo afirmou que algumas emissoras de TV estão destruindo a estabilidade nacional.
O presidente da Suprema Corte do país, Iftikhar Mohammed Chaudhry, foi suspenso pelo governo sob acusação vaga de abuso de autoridade. Críticos afirmam que o real objetivo, entretanto, era calar a voz independente. Aos poucos, começaram a surgir manifestações públicas em apoio ao juiz, o que parece vir irritando Musharraf.
Parem a cobertura
O governo enviou cartas a canais de TV no sábado (2/6) pedindo que não fossem exibidos programas que ‘encorajassem’ a violência ou promovessem um ‘comportamento anti-Estado’. Também foi solicitado que os canais não transmitissem calúnias contra o judiciário e a integridade das forças armadas do Paquistão. Segundo representantes das emissoras, foram recebidas mensagens verbais ainda mais claras: parem com a cobertura ao vivo das passeatas por Chaudhry.
O resultado foi imediato. Enquanto a passeata de sábado batia recorde de participantes, com cerca de 60 mil pessoas, os canais televisivos não fizeram a cobertura ao vivo. No lugar, descreveram verbalmente a manifestação enquanto ela acontecia, usando imagens de arquivo.
A Associação de Transmissores Paquistaneses, formada por TVs privadas, classificou as restrições do governo de um ‘ataque ao fundamental e constitucional direito de expressão’. ‘O governo deveria mostrar tolerância e deveria ser capaz de aceitar críticas em nome do interesse nacional’, afirmou o grupo.
Código de conduta
A gota d´água para a irritação governamental parece ter sido um seminário, em 26/5, sobre independência no judiciário. Com a presença de Chaudhry, o evento se tornou um verdadeiro comício político contra o presidente – com ampla cobertura televisiva ao vivo.
Na sexta-feira (1/6), o governo local na capital, Islamabad, determinou uma proibição de reuniões de mais de cinco pessoas pelos próximos dois meses. Ao mesmo tempo, as emissoras receberam as mensagens pedindo a diminuição da cobertura sobre o apoio ao juiz afastado.
As autoridades negam que estejam tentando censurar a mídia. Segundo o ministro da Informação, Mohammed Ali Durrani, o governo acredita em uma imprensa livre e apenas solicitou que a mídia respeite seu código de conduta. Informações de Paul Alexander [AP, 3/6/07].