Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

RCTV mantém ritmo de trabalho quase normal

Pouco mais de uma semana após o fechamento da Rádio Caracas Televisión (RCTV) por ordem do presidente venezuelano Hugo Chávez, atores continuam gravando cenas de novelas e âncoras ainda apresentam os noticiários nos estúdios da emissora. As manifestações populares pela reabertura da TV animam e dão esperança a seus três mil funcionários. Já Chávez é categórico; alega que não voltará atrás na sua recusa em renovar a licença de funcionamento do canal.


Alguns programas ainda chegam ao público através da internet, no YouTube; por satélite, para emissoras no exterior, como a colombiana Caracol e a americana TV Venezuela; ou ainda pela emissora radiofônica Caracas Radio. Outros, no entanto, não são mais transmitidos. Ainda assim, os cinegrafistas, atores e operadores de som optaram por manter o mesmo ritmo de trabalho da maior parte da programação da RCTV, na esperança de que ela possa voltar ao ar. ‘Gosto de pensar positivo e quero acreditar que, após esta crise, voltaremos ainda mais fortes’, afirma o ator Juan Carlos Alarcon. Há funcionários não tão otimistas. ‘Não sabemos o que vai acontecer com o canal. Temos recursos para produzir por um tempo, mas isto também vai acabar’, desabafa a jornalista Virginia Escobar.


Golpe


A RCTV é a emissora privada mais antiga e a mais assistida da Venezuela. No final de maio, a Suprema Corte ordenou que todos os seus equipamentos fossem apreendidos para ser utilizados por um novo canal estatal. Chávez acusou a emissora de apoiar, em 2002, um golpe que o tirou brevemente do poder, além de violar diversas leis de telecomunicações.


A emissora negou todas as acusações. Sua vice-presidente de marketing e programação, Ines Bacalao, informou que a mudança para transmissão via cabo seria uma opção para que o canal continue a ser visto pelos venezuelanos, mas esta ainda não seria a melhor solução. Apenas 30% dos lares da Venezuela têm TV a cabo. Informações de Fabiola Sanchez [Associated Press, 6/6/07].


 


ONG em campanha contra fechamento


A organização Repórteres Sem Fronteiras, com sede em Paris, divulgou um relatório esta semana sobre o impacto do fechamento da RCTV na Venezuela. Após 53 anos no ar, o presidente Hugo Chávez decidiu não renovar a licença da emissora, que parou de funcionar no dia 27/5. A atitude recebeu críticas em diversos países, por ser uma decisão política sem precedentes na América Latina e ser considerada uma tentativa do governo para controlar o espaço para o debate público do país.


A equipe da RSF viajou à Venezuela do dia 24/5 ao 28/5 e entrevistou proprietários de empresas de comunicação, jornalistas, representante de ONGs e analistas políticos. Ela também passou o último dia de transmissão da emissora em seus estúdios. Segundo a organização, a decisão de fechar a RCTV e transferir sua freqüência para uma nova emissora estatal, a Tves, é contrária à jurisprudência estabelecida pela Organização dos Estados Americanos, a qual a Venezuela pertence.


A RSF afirmou que irá comunicar este fato ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, à Comissão Interamericana de Direitos Humanos e ao Conselho da Europa. O relatório está disponível no sítio da RSF.


 


Condoleezza Rice faz crítica a Chávez


A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, criticou o fechamento da RCTV pelo presidente venezuelano Hugo Chávez. ‘Todos reconhecem que, quando você começa a fechar emissoras de TV porque elas expressam críticas ao governo, isto é um movimento forte contra a democracia’, afirmou.


Em um encontro com membros da Organização dos Estados Americanos no Panamá, Condoleezza pediu que o grupo enviasse seu secretário-geral, José Miguel Insulza, para a Venezuela, a fim de fazer um relatório sobre o caso. ‘Liberdade de expressão, liberdade de associação e liberdade de consciência constituem o começo da justiça em todos os países. Discordar do governo não deveria ser crime em nenhum país, em especial nos países democráticos’, discursou.


A secretária afirmou que esperava que o encontro ajudasse a apoiar a liberdade de imprensa e expressão no continente americano. Na segunda-feira (4/6), vários jornais no Panamá publicaram um anúncio chamando atenção para o caso da RCTV. ‘Sem liberdade de expressão, não há liberdade, nem na Venezuela, nem em nenhum lugar do mundo’, dizia o texto. Informações da RSF [5/6/07] e de Matthew Lew [Associated Press, 4/6/07].