O 32º Batalhão da Polícia Militar de Uberlândia anunciou a prisão de um cavalheiro por porte ilegal de arma. Corretíssimo — mas a própria PM fez questão de informar que o cavalheiro preso é pai de um famoso artista.
E o que é que tem a ver o filho com a prisão do pai? Nada — rigorosamente nada. A PM, portanto, não deveria ter divulgado a informação. E a imprensa, menos ainda: ninguém pode ser punido apenas porque algum parente cometeu um crime, ou uma irregularidade.
É claro que, para a imprensa, a tentação é grande: a prisão do sr. Fulano de Tal não é notícia, ou pelo menos não é notícia importante, mas a prisão do sr. Fulano de Tal, irmão do ator Sicrano, ou do futebolista Beltrano, isso dá mais de uma coluna. Mas a ética tem de ser maior que a tentação: o crime e a pena são individuais, não coletivos.
Há ocasiões em que o parentesco é importante. Quando, por exemplo, o criminoso tenta uma ‘carteirada’. Ou quando, como ocorreu há alguns anos, o filho de um parlamentar atropelou uma pessoa e o pai, dentro do carro, nada fez para evitar que ele fugisse. Cabe ao jornalista, examinando caso a caso, verificar quando o parentesco é importante e quando é apenas um veículo para esquentar a notícia. Às vezes é difícil; muitas vezes vamos errar. Mas o importante é não errar de propósito.
Números
A notícia saiu num grande portal de internet: ‘O Brasil pode economizar US$ 15 bilhões por ano, em gastos com a importação de 7 bilhões de litros de óleo diesel, se promover a mistura de óleo vegetal ao mineral, na proporção inicial de 2%, evoluindo para 5% em dois anos’.
Que beleza! Analisemos os números: se, deixando de importar 7 bilhões de litros de diesel, economizamos US$ 15 bilhões, isso significa que cada litro de óleo custa mais de dois dólares no mercado mundial. Seis reais o litro! E isso é preço de refinaria: ainda é preciso somar transporte, distribuição, lucro, etc. Qual o preço do diesel no posto?
O problema dos números continua sério: a imprensa publica dados muitas vezes sem sentido. O leitor recebe a informação errada. E o empresário perde a confiança no veículo — um problema especialmente importante quando pensamos em quem é que vai botar os anúncios.
Rindo
Um exemplo engraçado de como, muitas vezes, a imprensa lida com números: num importante jornal do Norte, saiu que os preços no Ceasa locais são ‘100% menores’. Traduzindo: estão dando tudo de graça!
Muitos jornalistas pensam que, como um produto que aumenta 100% passa a custar o dobro, se o preço cair à metade, é 100% menor. Porém, como nos explicaria qualquer banqueiro, dividir não é a mesma coisa que multiplicar. E os banqueiros costumam ganhar melhor do que nós.
Rindo 2
No mesmo jornal, informa-se que uma categoria ‘sofreu perdas salariais de 104%’. Ou seja, estão pagando para trabalhar! Certamente o companheiro coleguinha gostaria de dizer que, para repor as perdas salariais, a categoria precisaria de um aumento de 104%, não é mesmo?
Chutômetro
Este colunista esteve pessoalmente envolvido nas eleições da Fiesp; seu escritório, Brickmann&Associados Comunicação, trabalhou como consultor da campanha vitoriosa do candidato Paulo Skaf. Por isso não fará qualquer comentário sobre as notícias a respeito da campanha e da eleição.
Mas uma coisa precisa ser ressaltada: órgãos respeitáveis de imprensa informaram que a campanha teve custo de ‘x’, ‘dois x’, ‘três x’ milhões de reais. Tudo bem: cabe à imprensa investigar o custo de uma eleição (e, se não tem informações oficiais, deve mesmo garimpá-las). O problema é que, em todos os casos, sem exceção, as estimativas nunca foram acompanhadas dos cálculos que as embasaram. Por que estimar uma campanha em dois milhões de reais, ou três? Quais foram os custos calculados? Onde é que se gastou o dinheiro que a imprensa estimou?
Sem a base de cálculo, a estimativa tem outro nome: passa a chamar-se ‘chute’.
******
Diretor da Brickmann&Associados Comunicação; e-mail: carlos@brickmann.com.br