O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, atacou duramente a imprensa em discurso para a agência de notícias Reuters, esta semana. De saída de Downing Street após 10 anos no cargo, Blair não fez questão de suavizar as críticas, chegando a dizer que a mídia opera hoje como uma ‘besta selvagem’. Segundo ele, as notícias estão cada vez mais fragmentadas, e isso faz com que empresas de comunicação lutem com unhas e dentes por sua parcela em meio a um ‘mercado retraído’.
Segundo Blair, esta agressividade se tornou um problema para o jornalismo. A mídia criou uma espécie de ‘jornalismo de impacto’ onde a verdade e o equilíbrio viraram fatores secundários diante do desejo incontrolável de vender jornais e conquistar a atenção de telespectadores. Esta competição acirrada acaba apenas ‘arruinando a reputação das pessoas’ e derrubando a qualidade do jornalismo, afirmou o premiê.
Relação estragada
Blair defendeu a idéia de que a relação da imprensa com os políticos no Reino Unido está ‘danificada’ e precisa de conserto. Para ele, a distinção entre notícia e opinião se tornou tão obscura que é raro encontrar um jornal que reporte precisamente o que um político falou em público. E isso, completou, é algo frustrante, já que hoje os políticos têm que agir imediatamente para desmentir falsas acusações antes que elas sejam tomadas por fatos.
O estrago causado por este comportamento agressivo da mídia enfraquece a moral dos serviços públicos e a confiança nos políticos e na nação, afirmou Blair. Além disso, ressaltou ele, cria um clima de medo em que as pessoas públicas não ousam criticar a cultura sensacionalista da mídia por temer uma reação ofensiva e prejudicial.
Revisão na regulação
O premiê, que deixará o cargo no dia 27 deste mês, admitiu que as medidas tomadas no início de seu governo na tentativa de ‘satisfazer’ a mídia podem ter contribuído para o problema. Ele afirmou ter tentado dialogar com a imprensa, através de informes oficiais, entrevistas coletivas freqüentes e do Freedom of Information Act – lei que estabelece o direito à liberdade de informação. Mas, no fim, completou ele, ‘nada disso foi proveitoso, não porque estas coisas não são corretas, mas porque elas não atingem a questão central – que é como a política é noticiada’.
Blair defendeu que o sistema regulatório existente, em que veículos impressos e televisivos respondem a diferentes órgãos e diferentes regras, precisa ser revisado. Segundo ele, a internet conseguiu apagar a divisão que existia entre jornais e TV. Informações da BBC News [12/6/07] e de Patrick Wintour [The Guardian, 13/6/07].