Muitos leitores escreveram para a ombudsman do Washington Post, Deborah Howell, para dizer que se sentiram ofendidos com um anúncio e uma matéria publicados pelo diário na semana passada. Por isso, ela dedicou sua coluna de domingo [10/6/07] a explicar o contexto de ambos.
O anúncio, de página inteira, foi pago Larry Flynt, publisher da revista de conteúdo adulto Hustler, e oferecia US$ 1 milhão para quem fornecesse provas documentadas de um encontro sexual ilícito com um membro do Congresso americano ou outro funcionário do alto escalão do governo.
Criminosos em destaque
Já a matéria, publicada no dia 2/6, era sobre o lançamento de um livro do casal Francis e Michele Fletcher, envolvido em um dos maiores esquemas de fraude de cartão de crédito da história recente dos EUA. O leitor Joseph Luchok acha que o diário não deveria promover criminosos.
Deborah esclarece: em geral, o Post não divulga matérias sobre ex-presidiários que publicam livros, mas, no 18º parágrafo do artigo sobre o casal, os leitores descobrem que o objetivo do texto era apresentar uma tendência literária atual de ‘ex-presos escrevendo livros de ficção’. A autora da matéria em questão, Krissah Williams, afirma ter encontrado os Fletcher através de uma editora literária. ‘O artigo foi escrito para citar um personagem local em um gênero crescente na literatura’, explica ela.
Ainda assim, alguns leitores ficaram incomodados com a abordagem da matéria, que deu a entender que não era necessário revelar partes negativas da história do casal – como o período em que Francis e Michele ficaram na cadeia e o impacto que a prisão teve sobre sua família e filhos.
Política de anúncios
Em relação ao anúncio, um representante de Flynt informou que ele pagou US$ 106 mil pela publicação na versão impressa do Post. Muitos leitores escreveram para dizer que se sentiram ofendidos. Em 1998, Flynt publicou um anúncio semelhante durante o escândalo envolvendo o então presidente Bill Clinton. Segundo o publisher Bo Jones, ‘a política do jornal é aceitar anúncios, mesmo discordando deles, desde que não contenham declarações falsas ou ofereçam produtos ou serviços ilegais’.
Após Deborah entrar em contato com a empresa de Flynt, ele justificou sua atitude em uma declaração, informando que, ‘em época de eleições, é necessário sermos cautelosos para eleger alguém que irá dizer a verdade’. ‘Minha intenção não foi expor a vida sexual de ninguém. Mas, se alguém assume uma posição política, o público deve saber se ele está dizendo a verdade’, alegou o empresário. Deborah não aprovou o anúncio, mas, segundo a política do diário, Flynt tinha todo o direito de publicá-lo.