Teve início esta semana o julgamento de 18 acusados de participação no assassinato do jornalista Hrant Dink, cidadão turco de origem armênia. Editor do jornal bilíngue Agos, ele foi morto a tiros em frente a seu escritório, em 19/1. Um dia após o crime, o adolescente turco Ogun Samast foi preso e acusado pelo assassinato. Segundo as autoridades do país, Samast confessou o crime, alegando que havia se irritado com as colunas de Dink sobre a História armênia e por isso foi a Istambul matá-lo.
A audiência de 12 horas, na segunda-feira (2/7), ocorreu a portas fechadas, pois o jovem acusado de ter atirado no jornalista é menor de idade. Segundo Bahri Belen, um dos advogados da família Dink, o tribunal afirmou que ampliaria a investigação. Após esta primeira audiência, o julgamento será retomado em 1º de outubro. As acusações foram mantidas contra todos os 18 réus, mas apenas oito deles permanecerão sob custódia.
Crime planejado
A acusação alega que o assassinato de Dink teria sido um crime de ódio altamente planejado por uma rede formada por turcos ultranacionalistas com a ajuda de autoridades do país. Pouco tempo após o crime, foram divulgadas imagens que mostravam o principal suspeito do caso posando com policiais – que foram demitidos após o incidente. ‘A gangue não é formada apenas por estes suspeitos’, afirmou Fethiye Cetin, um dos advogados da família do jornalista, sobre os 18 réus. ‘Há algo muito mais planejado e organizado [por trás]’, acusou.
Críticos dizem que as autoridades turcas foram falhas em não investigar a fundo alegações sobre a existência de um plano para matar Dink. O advogado de um dos principais suspeitos afirmou que seu cliente e o atirador foram ‘manipulados por certas forças por causa de seus sentimentos patrióticos’. Não se tem conhecimento de nenhuma prova concreta, entretanto, de que policiais ou funcionários do governo tenham ligação direta com o crime.
Tabu
Dink procurava estimular a reconciliação entre a Turquia e a Armênia, mas foi processado, com base no controverso artigo 301 do código penal turco, que proíbe ‘insultos à identidade turca’, por seus comentários sobre os assassinatos em massa de armênios no início do século 20. Nacionalistas radicais utilizam este artigo para levar à justiça pessoas com voz pública que tentam abordar o assunto, considerado tabu. O escritor Orhan Pamuk, Nobel de Literatura, foi um dos processados na Turquia.
O veredicto do julgamento sobre a morte de Dink tem grande importância para a situação da liberdade de expressão no país. O assassinato do jornalista levou a manifestações internacionais de condenação e a um acalorado debate sobre liberdade de expressão. Dink era odiado por ultranacionalistas por classificar, em seus comentários, o massacre de armênios por turcos otomanos em 1915 de ‘genocídio’. Informações da AP [3/7/07] e de Sabrina Tavernise [The New York Times, 3/7/07].