Uma batalha política vem sendo travada no ciberespaço russo. Partidos de oposição – que vão de democratas liberais a ultranacionalistas – e a mídia independente do país alegam que hackers estão invadindo seus sítios. Embora não ofereçam provas concretas, todos acusam o Kremlin de ser o responsável pelos ataques, no que seria uma tentativa de prejudicar a última fonte informativa ainda não bloqueada pela censura comum à mídia da Rússia.
As vítimas afirmam que o objetivo é intimidar a oposição, diante das eleições parlamentares marcadas para dezembro, e das eleições presidenciais, em março do próximo ano. Segundo elas, os hackers usam uma vasta rede online de computadores infectados com vírus – com a qual os usuários nem imaginam estar envolvidos – que apaga ou paralisa determinados sítios.
Alguns especialistas políticos concordam que é possível que o governo esteja por trás disto. Stanislav Belkovsky, analista político conhecido por ter ligações com insiders do governo, afirmou que um aliado do presidente Vladimir Putin estaria liderando os ciberataques. Segundo ele, o Kremlin estaria incomodado por não ser capaz de controlar o conteúdo político na internet. O governo, no entanto, nega qualquer envolvimento, lembrando que hackers poderiam ter facilmente usado endereços de IP – que identificam os computadores – registrados em escritórios governamentais.
Caso semelhante
Os ataques assemelham-se aos ocorridos em abril e maio na Estônia, durante um período de protestos violentos por parte de descendentes russos contra a decisão de demolir um monumento de guerra da era soviética, na capital Tallinn. Os alvos foram sítios do governo, de empresas e de veículos de mídia, e o ataque envolvia uma rede de computadores que tentava se conectar a um determinado sítio ao mesmo tempo, sobrecarregando o servidor e impedindo o acesso a ele. Segundo autoridades da Estônia, os hackers estariam ligados a endereços de IP do Kremlin.
Especialistas alegam que este tipo de ataque é difícil de ser evitado, pois o servidor não tem como distinguir entre acesso legítimo ou de hackers. ‘Não importa se o sítio é protegido. As pessoas não estão invadindo o sítio, elas estão apenas o acessando’, explica Hari Balakrishnan, professor de ciências da computação do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
Sem filtros
Serviços de segurança do governo russo são, há muito tempo, suspeitos de envolvimento com hackers. Em 1999, um hacker em Moscou invadiu computadores do Departamento de Defesa dos EUA por mais de um ano, copiando códigos secretos de sistemas de monitoramento de mísseis. Também neste episódio, o Kremlin negou envolvimento.
A Rússia não filtra ou bloqueia sítios de internet, por isso a rede desempenha um papel crítico no país, sendo a única forma de mídia de massa sobre a qual o governo não tem controle. O Kremlin, seja direta ou indiretamente, é proprietário das três maiores redes nacionais de TV, de estações de rádio, agências de notícias e publicações impressas. Informações de Mansur Mirovalev [Associated Press, 1/7/07].