Outro dia comemorei ao meu jeito mais um ano da conquista de 1970, do tri tão sonhado e da festa que se seguiu.
Ao meu jeito comemorei em forma de meditação e lembranças aquela conquista. Sentei-me a pensar no meu grande amigo Admildo Chirol que se foi cedo. Um quase irmão. Preparador físico que deu pernas e fôlego ao time excepcional de Pelé e cia.
Pensei também na velha redação do Jornal do Brasil da Avenida Rio Branco, no Rio, onde escrevemos os melhores capítulos do instante épico vivido no Estádio Azteca, Cidade do México. Eu e o time que comandei com orgulho na retaguarda enquanto meu amigo Oldemário Touguinhó liderava a brava turma no México. Éramos os responsáveis pelo Departamento de Esportes, um ninho de cobras.
Como um campeão
Vivi muitas alegrias nesta vida. E uma delas foi o tri de 70. Conheci a Comissão Técnica de perto em razão de ter, como repórter, feito a cobertura do Botafogo em 67 e 68, época do bi-bi – bicampeonato da Taça Guabara e do Carioca. Convivi e fiz amizade com Jairzinho, Paulo César Caju, Gerson, Leônidas e tantos outros que defenderam a camisa da Seleção. O médico Lídio Toledo, Chirol e o técnico Zagallo eram da Comissão.
Jairzinho, músculos em explosão, a se transformar no nosso artilheiro. Gerson a dar passes de 40, 50 metros com aquela perna esquerda abençoada. A servir fregueses ilustres, como Tostão, o próprio Jair e Pelé, que, segundo mestre Armando Nogueira, se não nascesse gente, nasceria bola.
Da sacada do prédio do JB, vi passar os carros de bombeiros carregando os nossos campeões do mundo, furando vagarosamente a multidão que se acotovelava enlouquecida.
Um momento de emoção: o Dr. Lídio me vê na sacada e avisa aos demais. Eis que todos se viram para mim a acenar. Chirol aos pulos. Zagallo a mandar beijos. Eu, pobre mortal, a me sentir também um campeão mundial.
Naquela mesma noite, o JB distribuiu uma edição extra que, segundo Hélio Fernandes, da Tribuna de Imprensa, ‘vendeu mais do que arroz de terceira’.
Página dupla
Revelo a vocês um segredo: eu e o diagramador Laerte Moraes Gomes tínhamos que desenhar duas capas para a edição, uma com o Brasil campeão, outra com a Itália. Só fizemos uma. Falei para o Laerte: ‘só vou desenhar uma capa, porque o Brasil não perde de jeito nenhum’. ‘Você é doido?’ – perguntou-me Laerte. ‘Doido varrido. Não há como perder’ – respondi. E hoje reconheço: eu era doido mesmo e não melhorei nem um pouco.
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Recebo do Laerte a seguinte observação:
‘Muito bonito. E muito obrigado.
Agora, corrige a tempo a história das capas. Não foram só as capas. Foram também as páginas centrais que tínhamos que fazer, uma para o Brasil, que fizemos brilhantemente, e outra para a Itália, que de comum acordo resolvemos não fazer. No domingo, momentos antes do jogo decisivo, o Alberto Dines (diretor de redação) chega pra você e pergunta: `Cadê a página dupla da Itália?´ Olhamos um para o outro. Você falou `Está pronta, né Laerte?´ – eu concordei. E o Dines: `Como é que eu não vi na oficina, só vi a do Brasil?´ E você: `O Leizer, chefe da oficina, deve ter escondido´. Ele foi embora desconfiado. E nós começamos a rir. talvez da nossa própria irresponsabilidade.
Um a zero, um a um. Meu Deus, estamos fritos! Final 4 a 1. Ufa!’
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Jornalista